Quem sou eu

Minha foto
"Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não será publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Relação entre professor e aluno é espelho da escola e da família

Relacionamento não depende só dos dois. Para experts, o trabalho do professor é dificultado quando não há parceria com os pais

*Thelma Torrecilha

As relações entre professor e aluno mudam ao longo da vida escolar, mas precisam do apoio dos pais
Uma relação que sempre foi marcada por extremos de admiração e afeto ou por forte antipatia parece passar por um período de grande tensão. Não são poucas as notícias pelo Brasil e pelo mundo afora que nos mostram como andam difíceis as relações entre professores e estudantes. Isso reflete o que acontece dentro e fora da escola.

Logo nos primeiros anos de vida, a criança começa a conviver com uma importante autoridade na sua educação: a professora, que mudará de cara e de nome, ano após ano, mas estará sempre presente no seu dia a dia até a fase adulta. Por isso, é fundamental construir uma convivência saudável desde cedo.

Para a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) Marilene Proença, especializada em psicologia escolar, a relação entre o aluno e o professor não depende só dos dois. O professor trabalha de acordo com os seus princípios, com aspectos individuais na relação com a classe e com a criança em sala de aula, mas vários fatores como o projeto pedagógico, a estrutura física e material, as políticas educacionais e a gestão da instituição, entre outras, influenciam esse relacionamento. “O professor é a expressão da escola na qual ele está inserido”.

Para a psicóloga, a escola também está sofrendo com o processo de adultização das crianças, fenômeno presente em toda a sociedade. Em virtude desse processo, as pessoas cobram atitudes de uma criança de três ou quatro anos como se ela tivesse cinco ou seis, e assim por diante. O segredo é tratar a criança como criança, na opinião do professor Marcos Cezar de Freitas, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência da Unifesp – Universidade Federal de São Paulo. A escola de educação infantil não deve antecipar a aquisição de conteúdos escolares nem a alfabetização. Mas, infelizmente, vigora uma ideia distorcida de que o professor só desempenha bem o seu papel quando direciona o aluno para resultados relacionados à sistematização de conhecimento.

Segundo ele, nessa etapa, o relacionamento com o professor deve estar voltado para a sensibilidade, o conhecimento do corpo e a interação, respeitando a forma própria da criança de lidar com o saber e a necessidade de afetividade. A pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), aponta na mesma direção: “A relação não flui bem se a criança não se sente acolhida. Quanto menor a criança, mais apego com a professora. É uma relação mais próxima”.

Maria Angela disse que o trabalho do professor é dificultado quando não há uma parceria com a família. Ela ressalta que o professor precisa ser firme sem ser autoritário para justificar posturas que muitas vezes destoam daquilo que a criança vivencia em casa. Alguns pais ensinam a revidar quando um colega bate. Mas, na escola, a orientação é outra. Segundo ela, normalmente quando as crianças têm dificuldade no relacionamento por questões de agressividade, o problema não está nelas: “é o espelho da própria casa e o professor não resolve isso sozinho”.

À medida em que ganham autonomia, as crianças se desligam dos professores. E, de acordo com a pedagoga, alguns problemas começam quando os alunos perdem o nome e passam a ser um número na lista de chamada. Aumentam os professores por sala e diminui o tempo de permanência deles com os estudantes. Esse distanciamento pode impedir que as dificuldades do aluno sejam percebidas, e o estudante acaba confundindo o fracasso na disciplina com o professor. A aprendizagem, em qualquer nível de ensino, precisa ser encarada como um processo individual e nem sempre o professor tem condições para favorecer isso.
* Portal iG

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"O amor está mudando"

Para a psicanalista Regina Navarro Lins, a sexualidade e a forma do brasileiro se relacionar estão passando por uma transformação: é o fim do amor romântico

Um dilema entre os desejos de estar sempre junto e de liberdade. É o que vivemos nos relacionamentos amorosos atuais, segundo a psicanalista Regina Navarro Lins. Para ela, as pessoas enfrentam cada vez mais conflitos entre as exigências de um namoro ou casamento – como monogamia e controle - e seus os desejos individuais. Ainda de acordo com a especialista em relacionamentos com quase 40 anos de experiência, a tendência é de que os envolvimentos fiquem diferentes no futuro próximo, com cada vez menos fusão do casal, exclusividade sexual e ciúmes.

Esse cenário do comportamento amoroso e sexual dos brasileiros é apresentado no livro “Cama na Rede - o que os brasileiros pensam sobre amor e sexo” (Editora BestSeller), que chega às livrarias em dezembro. Nele, Regina comenta o resultado de 50 enquetes sobre o tema feitas com leitores de seu site entre 2000 e 2009.

Foto: Celso Pupo/Fotoarena
Regina Navarro Lins: "Sexo é sexo e amor é amor"

Colunista do Delas, Regina Navarro Lins fala ao site sobre a nova forma de amar:

iG: A pesquisa apresentada no livro aponta quais grandes alterações no comportamento sexual e de relacionamento dos brasileiros?

Regina Navarro Lins: O amor romântico começa a sair de cena, felizmente. Ele é calcado na idealização do outro, na ideia de que os parceiros se completam, de que quem ama não sente desejo por mais ninguém. Hoje vivemos um momento de busca da individualidade, que não é egoísmo, e sim poder realizar desejos e projetos sem depender do outro. Antes a ordem do amor era fazer sacrifícios - e era a mulher quem fazia. Hoje a pessoa pode não estar a fim de permanecer na relação se ela não trouxer um crescimento individual. Claro que cada um escolher como viver, mas acho que a maioria não vai mais querer se fechar na relação a dois. O amor romântico de ficar grudado parece bom, mas a maioria vive mal e o sexo no casamento é uma tragédia, né?

iG: Então o amor sem a ideia de complementaridade muda o casamento como conhecemos?

Regina Navarro Lins: O casamento pode ser ótimo, mas para isso é necessário que as pessoas reformulem as suas expectativas a respeito da vida a dois. Se vocês acham que se completam, que nada mais no mundo interessa e só o outro te satisfaz, o casamento não vai funcionar bem porque não é real.

iG: Então ficar muito junto ou muito seguro é o que esfria o sexo no casamento? E há como resgatar a química na relação?

Regina Navarro Lins: É a excessiva intimidade, familiaridade. Mas o grande vilão do tesão no casamento é a exigência de exclusividade. O casamento vira uma dependência emocional entre pessoas. Se você sabe que seu marido não sai do seu pé, não larga de você, ele vira um irmão e não tem mais estímulo para desejar. O mínimo de insegurança é necessário para que o tesão continue. Tenho consultório há 37 anos e nunca vi um casamento com controle no qual as pessoas realmente estejam bem.

iG: Muita gente afirma que o ciúme faz parte do amor, 44% das pessoas na pesquisa concordam com isso. Essa é uma insegurança positiva ou negativa na relação?

Regina Navarro Lins: É maléfico. Desde que nascemos aprendemos que quem ama tem ciúme. Já cansei de ver gente que se preocupa quando o parceiro não sente ciúmes. É um cacoete, um hábito que as pessoas precisam largar, porque é muito limitador pra quem é alvo e pra quem sente.

iG: Então as relações extraconjugais podem ser aceitas em um relacionamento? Mas as pessoas não se sentem desrespeitadas ou magoadas quando isso acontece?

Regina Navarro Lins: A exigência de transar só com uma pessoa é difícil de cumprir. Temos muitos estímulos. Só que não transam com outros para não magoar, dentro de uma mentalidade moralista. É óbvio é que as relações extraconjugais acontecem em maioria porque variar é bom, todo mundo gosta.

Mas as pessoas dizem que isso acontece porque a pessoa não ama a outra. E daí vem o sofrimento atroz. Se você é amada ou desejada, o que o outro faz quando não está com você não interessa. Acho importante refletir sobre essa questão. As mentalidades têm que mudar e as pessoas precisam entender que fidelidade não é importante para ser amado, para a relação dar certo. Quem ama pode transar com outras pessoas. É uma ficção achar que as pessoas vão estar muito satisfeitas transando com a mesma pessoa por 30 anos. Quem quer comer a mesma comida, usar a mesma roupa todo dia?

iG: Em uma das perguntas apresentadas no livro, mais de 70% das pessoas dizem que sexo sem amor pode ser ótimo. A limitação para fazer sexo sem estar em um relacionamento parece ser mais moral, portanto, já que o desejo existe para a maioria?

Regina Navarro Lins: Criou-se uma ideia para as mulheres que sexo tem que estar ligado ao amor. Para homens nunca disseram isso. Podemos ter sexo ótimo amando ou com alguém que acabamos de conhecer.

Foto: Divulgação
A cama na rede - O que os brasileiros pensam sobre amor e sexo 434 páginas R$ 39,90 Editora BestSeller Editora BestSeller

iG: Mas a mulher com essa postura mais aberta de relacionamento não afasta os homens? Porque segundo o seu levantamento, 68% das pessoas dizem que eles se assustam quando elas são experientes.

Regina Navarro Lins: Sim, eles ficam temerosos. Homem não se assusta com a mulher independente financeiramente, com sucesso profissional. Ele se assusta com a mulher autônoma, liberta dos padrões de comportamento. É a mulher experiente, que não está mais presa naqueles estereótipos definidos de ser frágil, não fazer sexo no primeiro encontro.

iG: E de maneira geral a sociedade está preparada para essas mudanças, para abrir mão da exclusividade sexual com o parceiro e investir na individualidade?

Regina Navarro Lins: A sociedade não estava preparada para o divorcio na década de 50 e olha como está agora. Os casais caretas sempre existiram e fazem parte de uma minoria.
Fonte: Portal iG

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Becas e cocares, teko Arandu

*Egon Heck
O que poderia ser mais um dia normal na Universidade Federal da Grande Dourados -UFGD tornou-se um momento memorável para algumas dezenas de formandos Kaiowá Guarani, que concluíram o Curso de Licenciatura Indígena Teko Arandu. O curso é resultado de um árduo trabalho, sonhos e insônias de dezenas de professores Guarani Kaiowá e seus apoiadores. Numa bela manhã de primavera, o grande auditório da universidade, com capacidade para mais de mil pessoas, começou a ter um movimento um tanto diferente. Na sala de entrada uma rara cena em que ansiosos jovens da cor da terra e olhos puxados para o horizonte, montavam um cenário de interação de culturas e símbolos, resultado de um esforço de interculturalidade. Becas, cocares, colares, pinturas davam conta do sincretismo de um ritual celebrativo de formatura da primeira turma de do Curso de Licenciatura Kaiowá Guarani com especialidade em ciências sociais, linguagem, matemática e ciências ambientais.

Ao ver aquele belo e inusitado ambiente de alegria e cores, perguntei ao diretor do curso, professor Antônio Dari Ramos, porque a opção pelas vestimentas formais de formatura – becas, togas, faixas... Ele foi categórico ao afirmar que essa foi uma decisão dos formandos, depois de anos de discussão a esse respeito. A principal justificativa era de que, se os demais alunos da Universidade se formavam desta forma, porque eles não poderiam também. Ou seja, entendiam eles que poderia ser mais uma forma de discriminação ao invés de uma valorização da diferença.

O ritual: a interculturalidade possível e visível

O Reitor da UFGD, Damião Duque de Farias, com muita honestidade situou essa conquista importante do movimento indígena como um passo possível dentro da construção da Universidade Intercultural Indígena. Além da formatura da primeira turma, ele assinou a criação da Faculdade de Estudos Indígenas. No final pediu perdão aos indígenas pelo fato da universidade nem sempre ter conseguido responder às expectativas, direitos e demandas do movimento indígena.

A diferença pôde ser percebida pela presença de lideranças indígenas em todas as mesas constituídas na solenidade e pelo ritual religioso que abençoou o evento, trazendo energias para os 39 formandos Kaiowá Guarani. Uma nhandesi, líder religiosa, foi também paraninfa do grupo, fazendo sua fala aos formandos em guarani.
O juramento foi também feito em guarani, quando assumiram a responsabilidade com os direitos de seu povo e de suas aldeias, através de sua atuação em favor da comunidade, e da construção de uma escola com autonomia e de afirmação da identidade e vida de seu povo.

O Cocar e a toga foram se revezando no decorrer da cerimônia.

Fala Guerreira

“Sonhávamos uma universidade que atendesse as demandas dos nossos tekohá (terras tradicionais indígenas), que ouvisse e respeitasse as especificidades próprias dos professores Kaiowá Guarani e do nosso povo, através da partilha de cosmovisões, saberes e práticas diferenciadas, da construção coletiva de conhecimentos, que só acontece pelo diálogo entre as pessoas que se dispõem a construir um diálogo intercultural”, afirmou Valdelice Veron – Xamiri Nhupoty, a oradora do grupo. Após historiar o difícil, mas gratificante processo de construção do curso, até o sonho se tornar realidade, afirmou que “ainda necessitamos mais sobre a sabedoria de nossos ancestrais – teko arandu -e construir caminhos novos para enfrentar os graves desafios que nosso povo está vivendo hoje, tais como a recuperação de nossas terras tradicionais, e viabilizar uma gestão territorial Kaiowá guarani, sustentável, autônoma, de acordo com nosso modo próprio de ser e viver.” Incentivou os novos cursistas conclamando-os a não desanimarem mas a continuarem “firmes na luta, pois temos muito ainda a fazer por nosso povo e pela humanidade”. E no final de sua fala prestou “homenagem a todos os Kaiowá Guarani que tombaram na luta pela terra e aos professores que se foram”. Foi aplaudida ao fazer essa menção. Ainda está presente na memória de todos, não apenas o assassinato de seu pai, Marcos Veron, mas dos professores Jenivaldo e Rolindo(2009), no Ypo’i, e de tantas lideranças assassinadas nestas últimas décadas, desde Marçal (1983) a Teodoro (setembro de 2011).

Um pouco da História e perspectivas

O curso de Licenciatura Intercultural Kaiowa Guarani é resultado de um árduo e incansável sonho e luta dos professores desse povo, juntamente com amigos e apoiadores de várias instituições aliadas. O movimento de professores, iniciado na década de 80, e que hoje chega a quase 300 professores, teve sem dúvida atuação protagonista nesta iniciativa. O professor Levi Marques, patrono da turma, traçou esse rápido histórico, de sonho, luta e lágrimas, como afirmou irmã Anari: “Só Deus sabe quantas lágrimas foram derramadas para que esse curso saísse do sonho para a realidade.” Explicou que inicialmente a proposta do curso era de que ele se realizasse na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS. A determinada altura das negociações, não houve mais condições de diálogo com o reitor, o que levou os professores indígenas a pedirem de volta a proposta do curso. Foi então que a ideia recebeu guarida por professores e o reitor da recém fundada UFGD, em 2005.

Da primeira turma de 50 alunos que iniciaram o curso em 2006, se formaram 39. Mais de uma centena de alunos entraram nas seleções subsequentes. Hoje o principal desafio é aprofundar a interculturalidade, ou seja, como fazer dialogar os conhecimentos acadêmicos com a sabedoria tradicional. Como evitar que um se sobreponha ao outro, mas o respeite, numa complementaridade que enriqueça a todos. Conforme o diretor do curso, Dari, essa é uma preocupação permanente e recorrente, que irá exigir um grande esforço no sentido de “descolonizar” a universidade e colocá-la na dimensão do diálogo igualitário com as diferenças, no caso dos Kaiowá Guarani. Outro desafio que ele aponta é como o curso não se distanciar do diálogo com a base, mantendo um vínculo permanente com as aldeias e uma presença sempre maior, nesse espaço, dos conhecimentos e saberes tradicionais. Quanto às perspectivas ele acredita serem promissoras, devendo ir na direção de uma gestão mais participativa, num diálogo mais permanente e respostas mais concretas às demandas do povo e das comunidades.

É momento de festa, de celebração, de alegria, pela vitória e conquista, que não é apenas individual, mas das famílias, das comunidades, do povo Guarani Kaiowá. Parabéns a esse povo guerreiro e lutador. Agradecimentos sinceros foram expressos a todos aqueles que acreditaram e tornaram esse sonho realidade. Dentre os batalhadores desta proposta de curso intercultural, estão inúmeras pessoas, que foram lembradas em diversos momentos, como Antônio Brand e Adir Casaro,UCDB, Veronice (que trabalhou no Cimi), Irmã Anari/Cimi, educadora, com muitos anos de dedicação à educação escolar indígena, na aldeia Te’YKue (Caarapó), dentre muitos. Especial referência foi feito ao professor Renato Gomes Nogueira-UFGD (in memória), que abraçou a causa e com teimosia e com competente persistência conseguiu levar a proposta adiante. Em reconhecimento seu nome foi escolhido como nome da turma.
*Egon Heck é membro do Conselho Indigenista Missionário no MS

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Educação integral é fundamental para melhorar qualidade da educação, diz Unicef

Sarah Fernandes

As práticas de educação em perspectiva integral são fundamentais para melhorar a qualidade da educação. Isso porque elas articulam diferentes áreas de conhecimento, o que pode despertar mais interesse dos alunos e envolver a família na vida escolar.
A avaliação é da coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Maria de Salete Silva, que participou do Seminário Internacional de Educação Integral, promovido pela Fundação Itaú Social e pelo Unicef,(29/3/2011),em São Paulo (SP).

“A educação integral tem o ganho de não ser uma ação isolada. Ela articula mais de uma área do conhecimento e permite que a interferência do conteúdo ensinado na vida do aluno seja maior”, afirmou. “Ela não é uma solução, mas é uma estratégia fundamental para melhorar a qualidade da escola. Isso se a educação for tratada em uma perspectiva integral e não apenas em tempo integral”.

A articulação entre os projetos permite que alunos e familiares se envolvam mais com as atividades escolares, observou Maria. “As escolas precisam chamar as famílias pobres e mostrar para elas que ter acesso à educação é um direito. E acesso não é só vaga ou entrega de material. É educação de qualidade, com infraestrutura e professor motivado”.

A coordenadora ressaltou que, por essas características, a educação integral facilita o aprendizado e colabora para manter o aluno na escola. “Ela ajuda na reflexão e na convivência com outros projetos. Isso faz com que a escola seja entendida como um espaço formador”.

O número de escolas nessa modalidade deve aumentar com a aprovação do novo Plano Nacional de Educação, de acordo com a professora da Universidade Federal do Paraná, Yvelise Arco-Verde, mediadora da palestra “Educação Integral: Experiências que transformam”, que ocorreu durante o Seminário.

“O forte do Plano é pensar na universalização da escola de tempo integral com educação integral”, avaliou. “O que trabalhamos com educação integral desde Anísio Teixeira até hoje foram projetos pontuais, que terminam e não têm continuidade. Com o Plano, ela será trabalhada como política pública”.
O documento aguarda votação no Congresso Nacional desde o final ano passado.
Fonte: Portal do Aprendiz

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Pensar dói?

Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias. Gabler é o autor, entre outras obras, de Vida, o Filme (Companhia das Letras), no qual afirma que, durante décadas de bombardeio pelos meios de comunicação, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. O livro tem o significativo subtítulo: Como o entretenimento conquistou a realidade.

No texto atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.

Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.

Gabler critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.

No entanto, o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios. Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que, quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.

Pode-se acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só.

Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em outras eras.
Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração. thomaz.wood@fgv.br
Fonte: CartaCapital

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Existe preconceito contra louras no mercado de trabalho?

Apesar de a beleza contar a favor, também é motivo de discriminação, apontam estudos

Ah, tinha que ser loura.” A frase, carregada de preconceito, é frequentemente ouvida por mulheres com essa cor de cabelo, especialmente, quando cometem uma gafe. Para Elaine Martins, especialista em coaching para mulheres, no Brasil a loura tem a conotação de ser atraente sexualmente, e tem sua imagem remetida a Marilyn Monroe e outras atrizes famosas, mesmo que inconscientemente.


Foto: Danilo Chamas / Fotomontagem iG sobre SXC

Apesar de não ser uma barreira escancarada, mulheres bonitas podem ter suas chances de contratação diminuídas em até 30%, diz pesquisa

“Se a mulher assumir uma posição de gerência e não se mostrar competente para o cargo, talvez esse estereótipo de ‘loura burra’ apareça. Principalmente quando comete algum deslize”, diz Elaine.

O conferencista motivacional Gilberto Wiesel diz que esse tipo de preconceito é absurdo e que não reflete a realidade do mercado de trabalho. “Hoje em dia, o que as empresas ou organizações como um todo estão buscando são pessoas que agreguem valor aos seus negócios, indiferentemente de serem negras, brancas, louras ou morenas, baixas ou altas, gordas ou magras. Essa brincadeira é ridícula”, afirma.

Inveja

Contudo, apesar de não ser uma barreira escancarada para o preenchimento de algumas posições, mulheres bonitas podem ter suas chances de contratação diminuídas em até 30%, aponta uma pesquisa de dois economistas israelenses. O motivo é a “inveja feminina”, considerando que a área de recursos humanos é composta em sua maioria por mulheres, diz Ze’ev Shtudiner, um dos autores.

Outra pesquisa, publicada em 2010 pela Escola de Negócios da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, afirma que mulheres bonitas são discriminadas quando tentam vagas em trabalhos considerados masculinos, como mestre de obras e engenheiro mecânico.

Para Wiesel, o preconceito não é contra a cor do cabelo ou à beleza da mulher. “O que ocorre muitas vezes não é o excesso de beleza que espanta, mas sim a forma de se vestir, a forma de se apresentar. É uma questão de postura.”

A empresária do setor de logística Carolina Sedlacek diz que já ouviu comentários maldosos pelo fato de ser loura. Segundo ela, esses comentários vieram de pessoas com quem ela tinha amizade. “Eu acho que o preconceito vai além do fato de ser loura. Acho que está relacionado com o fato de ser mulher e de chamar atenção pela aparência, ou porque é bonita, ou porque está bem arrumada.”

Preconceitos à parte, outro estudo publicado em 2005, intitulado Whay Beauty Matters (Por que Beleza é Importante, em inglês), dos economistas Markus M. Mobius e Tanya S. Rosenblat, diz que as pessoas bonitas confiam mais em suas próprias habilidades em entrevistas de emprego e, portanto, têm mais sucesso do que os feios na hora de brigar por vagas que oferecem salários maiores. Segundo a pesquisa, de 15% a 20% da vantagem da beleza provém da autoconfiança.
Fonte: Portal iG


O que uma empresa pode exigir como boa aparência?

Quando é que exigências das empresas sobre roupas, maquiagens, cabelos e barbas passam a entrar na esfera pessoal do empregado?

Foto: Arquivo pessoal
Renata Serranegra pediu demissão depois que uma chefe tentou obrigá-la a usar batom vermelho

No trabalho, imagem é fundamental, e o certo e errado variam conforme o contexto. Mas até onde uma empresa pode cobrar mudanças pessoais para um funcionário? No Brasil, a desembargadora Graça Boness deu ganhou de causa ao Bradesco, numa ação movida por um funcionário pelo direito de usar barba. Na Inglaterra, uma funcionária da Harrod’s foi demitida por não usar maquiagem. Uniforme ou intromissão?

Desentendimento semelhante aconteceu com a artista plástica Renata Serranegra, 32 anos, repreendida por trabalhar de cara lavada pela gerente de uma loja onde ela trabalhou. Renata diz que não havia nenhuma regra sobre o uso de cosméticos e que nunca recebeu orientação de maquiar-se para o trabalho. Mas nem sempre as exigências são diretas.

Uma gerente sugeriu com firmeza, já tirando sua própria maquiagem da bolsa, que a vendedora passasse logo um batom bem vermelho, alegando que ela estava com “cara de doente”. Renata respondeu que preferia não usar, já que não se sentia bem de maquiagem, muito menos usando algo tão chamativo. A resposta da chefe foi que ela deveria ir “tomar um café e pensar melhor”. Ela foi e, na volta, pediu demissão.

“Ela foi grosseira. Tirou maquiagem de uma bolsinha falando para eu ir ao provador passar. Foi muito constrangedor”, afirma. “Acho conservador, ultrapassado e falta de respeito com o empregado. Não é porque a empresa te contratou que você tem que ceder em escolhas tão pessoais, como aparência. Você não pode se anular totalmente porque a empresa te paga o salário”, acredita Renata.


A especialista em direito trabalhista Cristina Buchignani, sócia do escritório Emerenciano, Baggio e Associados, lembra que os limites dessa relação são polêmicos. “Existe uma discussão se definir pontos como cabelo ou barba dos funcionários seria ofensivo ou discriminatório. A pessoa pode estar bem apresentada usando barba bem aparada ou cabelo curto e arrumado. Então a empresa não pode ofender a liberdade pessoal, e usar barba é uma decisão pessoal, por exemplo”, afirma. Segundo ela, é aceitável que a empresa exija o considerado “normal” pela sociedade para essa atividade, mas o funcionário tem que ser avisado antes da contratação. Se a exigência vem a posteriori, só é uma exigência válida se o funcionário concordar.

Questão de identidade

De acordo com Ilana Berenholc, consultora de imagem, o dress code, código de vestuário adotado pelas empresas, serve para expressar a identidade e cultura dos empregadores. “Para cada nível de formalidade existem, além das roupas e acessórios, padrões visuais de cabelo, maquiagem e cuidado pessoal que são mais adequados para cada um deles”, afirma Ilana. A empresa pode exigir adequação, mas isso deve ser informado no processo de seleção e contratação, de preferência por escrito.

Os padrões da empresa devem ser detalhados e, se possível, ilustrados, mas não podem ser discriminatórios. Por exemplo, uma empresa não pode torcer o nariz para cabelos crespos, muito menos obrigar um funcionário a alisá-los. Mas pode pedir que, lisos ou crespos, eles estejam bem apresentados em função do grau de formalidade da carreira. “É só vermos o exemplo da Michelle Obama, mais formal, e de Oprah Winfrey, que varia o penteado, mas está no mundo do entretenimento. O cabelo, liso ou crespo, deve estar limpo, bem cuidado e controlado”, afirma Ilana. Dentro deste conceito de “controlado”, no entanto, é de se imaginar que quem tem cabelos crespos sofra pressões disfarçadas como no caso de Renata e o batom vermelho.

Se algum item for de uso obrigatório, como um modelo de sapatos, um padrão de maquiagem ou algum acessório de cabelo, a empresa deve fornecê-lo ou dar uma ajuda de custo. “Normalmente, por questões trabalhistas, quando se usa a palavra obrigatório, a empresa fornece”, diz Silvana Bianchini, proprietária da Dress Code consultoria.

Casos especiais

Nem sempre a moda corporativa é democrática. Diva Salinas, 40 anos, é deficiente física e critica a falta de opções confortáveis para esse segmento. “Temos dificuldade de encontrar roupa. Só uso calça de elástico na cintura; não pode apertar nem ter zíper e quando passo da cadeira para o carro não pode cair também”, exemplifica. Malha de algodão, o tecido ideal, é informal demais para os ambientes em que ela trabalha. Sapatos são um problema também, já que os pés incham e ela precisa tomar cuidado com escaras. “Às vezes me sinto desconfortável no ambiente. Quero ser chique, me vestir de forma bem clássica, mas nem sempre querer é poder”, afirma. “Hoje é lei ter deficientes físicos no quadro de funcionários, as empresas devem se preparar”, diz Silvana Bianchini.

Foto: Arquivo pessoal
Diva Salinas, 40 anos, é deficiente física e critica a falta de opções confortáveis para esse segmento

Ilana orienta que, quem tem alguma restrição, como um problema no joelho que impede de usar salto ou alergia a maquiagem, deve comunicar o departamento de recursos humanos. “O ideal é haver opções para estes funcionários, dando diretrizes claras das alternativas aceitáveis”, afirma a consultora. Cristina afirma que, se antes da contratação houver alguma restrição, o funcionário deve ser transparente. “Se não pode usar maquiagem e sabe de antemão, ele deve informar. Mas se a pessoa já for contratada, óbvio que a empresa não pode exigir algo que vá contra a saúde da pessoa”, diz a advogada. A empresa deve seguir a mesma regra e oferecer alternativas para casos de restrições pessoais, como as religiosas.

Restrições justificadas

Outras funções que exigem desempenho físico podem ter características específicas, mas nem sempre objetivas. Recentemente, concursos para soldado da Polícia Militar do estado de São Paulo desclassificaram candidatos em função de problemas odontológicos, previstos no edital do concurso. Em alguns casos, juízes concederam aos candidatos o direito de voltar ao concurso pelo entendimento de que o problema dentário não impede a função de PM, enquanto outros negaram, alegando que os candidatos aceitaram os termos do edital na inscrição.

Há situações, por outro lado, em que certas exigências de perfil ou de aparência se justificam. Por exemplo, numa cozinha profissional, barbas só são permitidas se cobertas por um protetor. Na carreira de comissário de bordo, a altura mínima tem sua função. “É uma questão de segurança, porque alguns equipamentos de emergência encontram-se localizados nos compartimentos superiores das aeronaves e o funcionário precisa alcançá-los com facilidade”, conta a comissária de bordo Verena Valverde. “Cabelos precisam ser presos porque manuseamos alimentos, mas é uma questão de higiene”, exemplifica. Nesses casos, vale também o senso comum. De preferência, por escrito.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Por que o envelhecimento apavora as mulheres?

Sinais da idade afetam muito mais do que a aparência feminina

No livro Encare o espelho, da Editora Cultrix, Vivian Diller e Jill Muir-Sukenick abordam a questão do por que o envelhecimento pesa tanto para as mulheres. No livro entre outras considerações, é destacado o fato de que ‘Perder o aspecto jovem pesa tanto porque, para as mulheres, as mudanças visíveis no rosto e no corpo são vinculadas ao fim da vida fértil, e logo, ao senso de feminilidade..Ainda que os papéis femininos tenham se ampliado para além da procriação, estamos programadas para ter esse senso de perda”.
Primeiro, ruguinhas aqui e ali. A pele já não era tão firme e a gravidade começou uma batalha contra o corpo. Mas foram os primeiros sintomas do climatério que fizeram a psicóloga Suely Oliveira, 52 anos, prestar atenção no processo de envelhecimento. “Em 2007, comecei a sentir os calores”, conta. “Era comum estar no computador e sentir um mal estar enorme pelo calor, achando que era o clima de Recife.”

“Durante muito tempo eu escondi a minha idade, assumi depois dos 45 anos. Era tão difícil. Ser velho é uma coisa feia na sociedade”, diz. Ela quebrou mais um paradigma ao assumir os cabelos brancos. “Foi uma mudança radical, que faz parte da minha postura em relação ao envelhecimento.”
E conta que enfrentou muitos olhares de reprovação. “Não é uma eliminação da vaidade de forma alguma: cuido do cabelo, não saio de casa sem batom, lápis no olho, creme hidratante”. Mas ela confessa que, embora não se sinta menos feminina, nem sempre o olhar do outro entende assim. “Eu quero despertar a atração das pessoas, mas me senti menos olhada.”

Muito além do espelho

Mas as mudanças físicas são superficiais, e não apenas literalmente. “São apenas mudanças superficiais, que acionam mudanças muito mais profundas de ansiedade, medo e depressão”, diz Vivian Diller, autora do recém-lançado “Encare o espelho!” (Ed. Cultrix). É o momento em que a mulher se olha no espelho e vê a mãe, ou em que alguém pergunta se ela tem netos. Ou, como no caso de Suely, a aproximação da menopausa. “A questão é aprender a lidar com o sentimento de medo e desespero.”

“Focamos em permanecer jovens porque a expectativa de vida aumentou. Passamos pelo envelhecimento por muito mais tempo”, afirma Vivian. Ela e Jill Muir-Sukenick, coautora do livro, são psicólogas e ex-modelos que voltaram suas carreiras a analisar como a mudança da imagem afeta as mulheres emocionalmente. “Ainda temos poucos modelos de como viver esses anos longevos bem e desfrutar deles.” Para mulheres reconhecidamente bonitas, como modelos ou atrizes, o fardo é ainda mais pesado. “Quem investiu a autoestima em ser bonita vai certamente ter mais dificuldades conforme envelhecer.”
Para os homens, o fantasma é a perda de força, virilidade e poder. “Ainda que os papéis femininos tenham se ampliado para além da procriação, estamos programadas para ter esse senso de perda”, afirma.

O medo de ser passada para trás por alguém mais jovem, tanto no casamento quando na carreira, também é uma constante, segundo a pesquisadora Vivian. “Medo é brochante. Quando as mulheres aprenderem a desapegar da imagem do seu eu jovem e aprenderem a redefinir sua beleza, vão poder ser e parecer atraentes na sua idade”, diz. “Mais do que os maridos, as mulheres são as maiores críticas da sua própria aparência no envelhecimento.”

Envelhecer não é opcional

Com tanta pressão vinda da mídia, a indústria cosmética e de medicina estética têm um amplo mercado para novidades em tratamentos e recursos. “As pessoas chegam no consultório com uma ansiedade muito grande, procurando resultados imediatos e inalcançáveis, em função de padrões de beleza ditados”, afirma a dermatologista Carla Góes Souza Pérez, autora do livro Beleza Sustentável (Integrare Editora).

“O problema é quando a mulher tenta resgatar a beleza para compensar outras perdas pessoais”, diz dermatologista. Para ela, a fase mais cruel é entre os 40 e os 50. “Se você não se cuidou, você se dá conta que tudo mudou de repente.”
Para evitar danos irreversíveis, a empresária Mariângela Guazelli 56 anos, começou a se cuidar há dez, com tratamentos estéticos e hormonais. “Eu falo muito com o rosto, com os olhos. Achei marcas de expressão na testa que eu nunca tinha percebido”, diz. Aos 45 anos, apareceu o primeiro cabelo branco, e ela sentiu o baque quando começaram a chamá-la de “senhora”.

Focada na carreira, Mariângela diz que não é de ficar na frente do espelho caçando ruguinhas. “Porque se você procurar, vai achar”, diverte-se. “Sempre fui muito consciente. Não adianta ter 56 anos e querer aparentar 20. Eu acho que a gente tem que saber envelhecer. A maior mudança é você se aceitar como você é.” Feliz com sua aparência, ela se casou aos 45 – prova de que não é só a pele de porcelana que atrai olhares.

• Vivian Diller lembra que as mudanças exteriores para retomar a aparência jovem não são garantia de felicidade. “Nada impede totalmente o envelhecimento. Se os sinais da idade e imperfeições são vividos como falhas e defeitos das mulheres, tratamentos rápidos e cirurgias são irresistíveis, mas raramente funcionam”, afirma. A recomendação da psicóloga é aprender a cuidar, em vez de se preocupar. “Cinquenta não é no novo 15, mas 50 também não é o que costumava ser. Envelhecer é mudar e é normal”.
Livro: Encare o espelho, da Editora Cultrix, Vivian Diller e Jill Muir-Sukenick
Fonte: Portal iG

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Homem jovem e mulher madura

Em cima da seleção de 4 emails que a autora fez, destaco 2 por serem olhares diferentes quanto ao sexo mas com percepção semelhante sobre a questão em si.
*Regina Navarro Lins

"Embora a moral sexual tenha sofrido grandes transformações, os antigos tabus ainda persistem"

Selecionei quatro e-mails – de três mulheres e um homem – dos muitos que recebo comentando sobre a diferença de idade no amor:

...

3.“Precisamos acabar com os preconceitos que limitam nossas vidas, estou amando um homem mais jovem que eu e no começo tive medo do que os amigos dele fossem dizer e também de que ele tivesse vergonha de mim. Mas ele é jovem, não é imaturo, e temos vivido bem juntos. Ele está comigo porque quer, porque gosta de mim e me valoriza, não porque precisa do meu dinheiro que, aliás, não tenho.”

4. “Creio que o preconceito na união de uma mulher mais velha com um homem jovem se deva ao fato da insegurança e baixa autoestima próprias da mulher com idade além dos 40. Nessa idade ela costuma se achar velha e começa a querer valorizar demais o seu estado de espírito, se tornando às vezes extravagante com medo de ver seu grande amor roubado por garotas mais jovens. Digo isso por experiência própria, pois vivi com uma pessoa mais velha que eu e ela me sufocava, me impedia até de ir trabalhar por achar que eu tinha um caso na rua e podia deixá-la. Esse medo da perda é comum. Em todos os casos eu tive conhecimento por meio de relatos de pessoas que viveram este tipo de relacionamento.”

Diante desses relatos não é difícil imaginar os problemas que enfrenta uma mulher para se relacionar com um homem mais jovem. A repressão sexual é um conjunto de interdições, permissões, valores, regras estabelecidas pelo social para controlar o exercício da sexualidade. E não é apenas algo que vem de fora, submetendo as pessoas. As proibições e interdições externas são interiorizadas e se convertem em proibições e interdições internas, vividas sob a forma de vergonha e culpa.
A questão é que quando a repressão é bem-sucedida, já não é sentida como tal e a aceitação ou recusa por um determinado tipo de comportamento é vivido como se fosse uma escolha livre da própria pessoa. Isso acontece muitas vezes quando a mulher se recrimina por desejar um homem que, como diriam os guardiões dos “bons costumes”, tem idade para ser seu filho. O curioso é que as mesmas pessoas que consideram inadmissível a relação amorosa de uma mulher de 40 com um homem de 20 não acham nada estranho quando o homem tem 30 anos mais do que a mulher.

Embora a moral sexual tenha sofrido grandes transformações, no inconsciente os antigos tabus ainda persistem. A mulher mais velha que o homem é um deles. A partir do surgimento do sistema patriarcal, há cinco mil anos, a mulher foi considerada uma mercadoria que podia ser comprada, vendida ou trocada. Era comum um acordo comercial entre o pai de uma moça e o homem que desejasse comprá-la para ter como esposa. Sua principal função era dar ao marido o maior número possível de filhos, para que estes o ajudassem futuramente no trabalho. Como a mulher tem um período limitado de procriação, só as muito jovens podiam ter tantos filhos. Mais uma vez, na história da humanidade, os interesses econômicos condicionaram o modo de pensar das pessoas, que passaram a enxergar como verdade absoluta a necessidade de o homem ter mais idade do que a mulher.

Para Freud, o sofrimento humano tem três origens: a força superior da natureza; a fragilidade dos nossos corpos; e a inadequação das normas que regulam as relações mútuas dos indivíduos na família, no Estado e na sociedade. A doutrina de que há no sexo algo pecaminoso é totalmente inadequada, causando sofrimentos que se iniciam na infância e continuam pela vida afora. O filósofo inglês Bertrand Russel acreditava que mantendo numa prisão o amor sexual, a moral convencional concorreu para aprisionar todas as outras formas de sentimento amistoso, e para tornar os homens menos generosos, menos bondosos, mais arrogantes e mais cruéis.

Afinal, o que haverá de errado no prazer sexual se as pessoas chegarem ao trabalho na hora, obedecerem aos sinais de trânsito e não abusarem do bem-estar e da dignidade alheia? O psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa diz que uma das explicações possíveis para tanto controle da sexualidade alheia reside no fato de que, quanto mais o indivíduo amplia, aprofunda e diversifica sua vida sexual — e isso significa transgredir —, mais coragem ganha para fazer outras coisas, questionar outros valores. Começa a viver com maior vontade e decisão. Pode começar a se tornar perigoso. Ele conclui que não deve ser à toa nem por acaso que as forças repressoras de todas as épocas se voltaram tão sistemática e precisamente contra a sexualidade humana.

Hoje, com o questionamento do sistema patriarcal por homens e mulheres, começam a despontar novas formas de viver a sexualidade. Cada vez um número maior de pessoas busca o prazer por meio de relações sexuais mais livres, respeitando o próprio desejo e o modo mais satisfatório para os envolvidos sem se preocupar com os preconceitos, que afinal já deviam ter sido abolidos.
*Fonte: Portal iG



domingo, 9 de outubro de 2011

Homofobia à africana

Ministro católico de Gana quer rastrear e prender gays e lésbicas. Enriquecido, país enfrenta desigualdade e fundamentalismo cristãoEm novo sinal de como o conservadorismo moral atormenta a África, o ministro responsável pela região ocidental de Gana, Paul Evans Aidoo, pediu ao serviço de inteligência para rastrear e prender todos os gays e lésbicas.“Todos os esforços estão sendo feitos para livrar a sociedade destas pessoas”, afirmou o católico Aidoo, que também pediu aos proprietários de terra e imóveis para informar sobre pessoas suspeitas de serem homossexuais.

Aidoo parece usar como pretexto um artigo do Código Penal de Gana (de 1992), que condena “relações carnais não naturais”. Embora a Constituição garanta a não discriminação por motivos de raça, local de origem, opinião política, religião, credo ou sexo, não menciona opção sexual.

A declaração ocorre(u) no contexto dos preparativos para as eleições no país, marcadas para fevereiro próximo. A Convenção Nacional do Povo (PNC), partido de Aidoo, está no poder. Tem havido eleições regulares desde 1992, quando uma nova Constituição pôs fim a 26 anos de golpes militares e instabilidade.

Ouro e domínio europeu

Localizada no Oeste da África (Golfo da Guiné), com 11,5 milhões de habitantes, Gana é parte de uma região que sofreu, desde o Século 15, ocupações europeias. Aos portugueses, primeiros a chegar, sucederam-se holandeses. Rica em ouro, a região foi também explorada por ingleses, dinamarqueses e suecos. Em 1896, a Inglaterra assumiu seu controle, que manteve até a independência (1957). Um governo nacionalista, que contribuiu para a criação da União Africana, foi deposto em 1966, num golpe em que há suspeita de participação da CIA.

As jazidas importantes de ouro, ainda não esgotadas, e exportações de manganês, diamantes, chumbo e bauxita, fazem do país uma nação de renda média. Descobriu-se um grande campo de petróleo em 2007. A economia cresceu 14,33% em 2010 – o segundo maior índice do mundo. No entanto, há enorme desigualdade: 65% dos adultos são analfabetos e a expectativa de vida é de 60 anos.

Religiões africanas, que predominavam até a colonização, são ainda praticadas em certas regiões, mas o islamismo (15%) e o cristianismo (69%) predominam. Assim como em outras partes da África, é desta última matriz religiosa que partem as pressões homofóbicas.
* Publicado originalmente no site Outras Palavras.
Fonte: Envolverde

APRENDER PARA QUÊ?

RUBEM ALVES...
APRENDER PARA QUÊ?

Por Paloma Cotes
http://revistaepoca.globo.com/Epoca

Educador diz que a escola não leva em consideração o desejo de aprender e está longe de responder às perguntas das crianças

Rubem Alves é um crítico do sistema de ensino brasileiro. Mas suas opiniões não carregam rancor contra quem quer que seja. Para o educador e professor emérito da Unicamp, o problema da escola é que ela não leva em consideração o desejo de aprender das crianças e está respondendo às perguntas que somente os adultos acham importantes. ''Crianças fazem perguntas incríveis'', avisa. Para Alves, questionamentos como ''quem inventou as palavras?'', ou ''gato podia se chamar cavalo e cavalo se chamar gato?'', são a prova viva do interesse que todo garoto tem por conhecer o mundo. Mas essa curiosidade investigativa, que leva o aluno a estudar, está longe dos programas escolares. ''Existe uma expressão terrível na escola: grade curricular. Deve ter sido cunhada por um carcereiro'', diz. Polêmico, propõe a extinção do vestibular e sugere que o processo seletivo para as universidades aconteça através de um sorteio. Prestes a lançar mais um livro (Presente, Frases, Idéias e Sensações..., Editora Papirus), espera com a nova publicação levar ao público seus pensamentos sobre o amor e a vida. ''Nem que a obra seja lida na privada'', provoca.

Dados pessoais:
Nasceu em Dores da Boa Esperança, sul de Minas Gerais. Tem 71 anos, três filhos e cinco netas

Trajetória pessoal:
Bacharel em Teologia, doutor em Filosofia, psicanalista e professor emérito da Unicamp. ''Prefiro chamar esta lista de 'curriculum mortis'. Meu curriculum vitae você encontrará nas minhas crônicas, pensamentos, cartas''

Livros:
SÃO MAIS DE 50 TÍTULOS VOLTADOS PARA ADULTOS E CRIANÇAS

ÉPOCA - O senhor afirma que a maioria das escolas é chata? Por quê?
Rubem Alves - Não é de hoje que a escola é chata. Ela sempre foi assim e isso acontece porque as coisas são impostas às crianças. A prova de que uma criança gosta de ir à escola é se, na hora do recreio, ela está conversando com os amigos sobre as coisas que a professora ensinou. E não se vê isso. Então fica evidente que elas gostam da escola por causa da sociabilidade, dos amiguinhos, por causa do recreio. Mas elas não estão interessadas naquilo que se ensina na escola. Você acha que um adolescente, vivendo na periferia, pode ter interesse em dígrafos (grupo de duas letras usadas para representar um único fonema)? Não tem interesse nenhum. Existe outra expressão terrível: grade curricular. Já brinquei que deve ter sido cunhada por um carcereiro. A criança está vivenciando problemas que não têm nada a ver com os assuntos das aulas. Mas os professores apenas se justificam, dizendo que o programa afirma que é aquilo que se deve ensinar e acabou. Eu diria que na escola tradicional não se leva em consideração o desejo de aprender da criança. Elas expressam isso através dos questionamentos que fazem.

ÉPOCA - Quais questionamentos?
Alves - Se você reparar, as crianças fazem perguntas incríveis para conhecer melhor o mundo. Uma delas é: ''Quem inventou as palavras?''. Há outras boas: ''Gato podia chamar cavalo e cavalo chamar gato? Por que canteiro chama canteiro? Devia chamar planteiro, que é onde ficam as plantas! Por que a chuva cai aos pinguinhos e não toda de uma vez? Se na Arca de Noé havia leões, por que eles não comeram os cabritos?'' E por aí vai. Elas estão fazendo perguntas interessantes, mas as respostas não se encontram nos programas.

ÉPOCA - Por que o modelo de educação existe há tanto tempo?
Alves - Porque existe certa presunção da nossa parte, da parte dos adultos, de que as crianças não sabem nada, de que elas são vazias. E de que nós é que temos o saber.Também achamos que só nós podemos determinar o que elas têm de aprender. Isso é o que Paulo Freire denominou de educação bancária. Você vai sempre fazendo depósitos na criança. Houve um diretor de um abrigo para crianças e adolescentes em Varsóvia chamado Janusz Korczak. No abrigo dele, eram os alunos que exerciam a disciplina. E Korczak costumava dizer: ''Vocês, professores, me dizem que é muito difícil ensinar às crianças. Estou de acordo. E vocês dizem também que é muito difícil descer às crianças. Estou em desacordo. O que é muito difícil é subir ao nível de sensibilidade e de curiosidade das crianças, ficar na ponta dos pés, falar brandamente para não machucá-las''. É por isso que a escola não muda. Porque as pessoas não estão preparadas para subir ao nível das crianças.

ÉPOCA - Há salvação para esse modelo de ensino?
Alves - Eu passei por esse modelo de escola. Outros amigos meus passaram e acho que não ficamos tão atrapalhados assim (risos). Aliás, tenho memórias muito interessantes. A escola tinha muitas coisas boas e, a despeito de tudo, a gente aprende. Mas é uma perda de tempo muito grande. As escolas estão cheias de pessoas maravilhosas, mas é tanta gente que sofre, é reprovada e repete de ano que não acredito mais nesse modelo. É preciso esquecer as maneiras tradicionais de fazer escola. Estamos tão acostumados com a idéia de que a escola tem corredor, sala, campainha, que podemos até pensar em melhorar isso, mas não pensamos que a estrutura pode ser diferente.

ÉPOCA - Então, por que as escolas não mudam?
Alves - Por uma porção de fatores. Um deles é a inércia. As pessoas se acostumam a fazer sempre a mesma coisa porque aí elas não têm trabalho. Se você tiver uma escola mais solta, nunca sabe direito o que vai acontecer, você não pode preparar a lição porque sempre o aluno pode fazer uma pergunta que você não sabe. Na escola tradicional, o professor é aquele que sabe a matéria e vai para a sala de aula acreditando nisso. Mas hoje as matérias estão todas na internet. Hoje, a função do professor é ensinar o aluno a pensar e a descobrir onde ele pode encontrar a resposta para as perguntas que ele tem. Essa é uma função nova e completamente diferente do professor. Os que estão acostumados a preparar a aula até costumam usar as fichas do ano retrasado. Dificilmente vão mudar.

ÉPOCA - Como convencer um professor a se atualizar?
Alves - Acho que muitos desses profissionais estão acordando para isso simplesmente porque não estão mais agüentando o tédio. Tenho dó dos professores. Às vezes os vejo como esses guias turísticos que vão todo dia ao mesmo monumento, levando um grupo diferente e repetindo as mesmas coisas. Isso é muito chato. Nenhuma pessoa merece viver uma vida desse jeito.

ÉPOCA - O senhor afirma, como educador, que a escola precisa dar aos alunos ferramentas para entender o mundo. O que isso quer dizer na prática?
Alves - Simplificando a minha teoria, digo que o corpo carrega duas caixas: uma de ferramentas e a outra de brinquedos. O que são ferramentas? São todos os objetos usados para fazer alguma coisa. Então, ferramentas não são fins em si mesmos. E elas são importantes porque nos dão poder. Um alicate é muito mais poderoso que meu dedo. E a primeira coisa que a escola tem de perguntar é: isso que eu estou ensinando é ferramenta para quê? Segundo: o aluno quer fazer isso? Porque não adianta você dar uma ferramenta para a pessoa, um martelo e um prego, se ela quer ser pintora. A ferramenta só tem sentido se tiver uma demanda, se eu estou querendo fazer alguma coisa. Se eu estiver interessado em plantar um jardim, vou aprender sobre as plantas, esterco e fertilizantes. O professor tem de perguntar a si mesmo isso. Se não for ferramenta, ela não vai ser guardada.

ÉPOCA - Por que não é guardada?
Alves - Se todos os reitores das nossas universidades prestassem vestibular, seriam reprovados. Porque eles esqueceram. E fizeram isso porque são burros? Não. Eles fizeram isso porque são inteligentes. Porque a memória não carrega coisas que não têm função. Também seriam reprovados os professores universitários e os dos cursinhos só passariam na própria disciplina. Eu seria reprovado. Tudo foi perdido. Já a caixa dos brinquedos está cheia de objetos que não servem para nada. Não há formas de usá-los como ferramentas. Lá estão a poesia de Fernando Pessoa, as sonatas de Mozart, as telas de Monet, pores-de-sol, beijos, perfumes, coisas que apenas nos dão felicidade. Assim se resume a educação.

ÉPOCA - Mas os alunos precisam ter conhecimentos básicos em áreas como Matemática, Biologia ou Química, não?
Alves - Para quê? Para passar no vestibular? Para esquecer tudo? Quem disse que tem de aprender isso? Por que eu tenho de aprender logaritmo neperiano? Não conheço ninguém que tenha usado isso. Se por acaso eu for precisar um dia na minha vida, estudo e aprendo. Não preciso me preocupar com isso na escola. E as pessoas não se dão conta de que todo esse conteudismo é perdido. Não sobra nada. Uma amiga minha, professora de Neuroanatomia na Unicamp, dizia que os piores alunos que ela tinha eram esses que apareciam em outdoors de primeiro lugar. Porque quando ela explica anatomia, um assunto cheio de complexidades, sempre tinha um que levantava a mão e perguntava: ''Professora, qual é a resposta certa?''. Ou seja, ele não entendia que esse negócio de ter sempre uma alternativa certa não existe. No caso do médico, com um doente terminal, o que ele faz: dá morfina ou continua com a quimioterapia? Não há resposta certa. É preciso aprender isso. E essas coisas não são ensinadas.

ÉPOCA - O senhor chegou a pregar o fim do vestibular. Por quê?
Alves - Já preguei, e quando falo nisso as pessoas acham que estou brincando. Quando eu era pró-reitor de graduação da Unicamp, queria um vestibular que avaliasse a capacidade de pensar dos alunos, e não a memória. Um professor me disse: a solução mais fácil é o sorteio. Dei uma gargalhada. Mas comecei a pensar e vi que é isso mesmo. A primeira coisa do vestibular que me morde não é decidir quem entra ou não na universidade, mas a sombra sinistra que ele lança sobre tudo o que vem antes. As escolas são orientadas para o vestibular, e os pais logo de saída querem as escolas fortes para os filhos passarem no vestibular. A primeira conseqüência de ter o sorteio é que as escolas seriam livres para ensinar. Elas não precisariam preparar os alunos para o vestibular. Então, as pessoas poderiam ouvir música, ler e fazer o que quisessem. Seria a libertação das escolas para realmente ensinar. Em segundo lugar, acabariam os cursinhos. Se tiver sorteio, ninguém pode reclamar. Sorteio é sorteio. Acabaria o sofrimento psicológico dos alunos, que têm a auto-imagem destruída. Também acabaria o conflito entre pais e filhos.

ÉPOCA - Mas um vestibular por sorteio poderia ter muita injustiça?
Alves - Várias pessoas me dizem isso. Claro que poderia, mas não do tamanho da injustiça que existe no atual sistema de vestibular, que nada mais é que uma grande perda de tempo, de dinheiro, de inteligência e de conhecimento. Também me perguntam se qualquer aluno, sem o menor preparo, poderia entrar na universidade. Respondo que não. Haveria no final do ensino médio um exame no país inteiro para verificar se os alunos atingiram um ponto mínimo exigido. E não seria classificatório. Quem passasse poderia participar do sorteio. Quem fosse reprovado poderia refazer a prova depois.

ÉPOCA - É polêmico...
Alves - Não acho, não. Acho que é uma solução óbvia. É mais inteligente que o modelo que existe atualmente. E menos danosa.

ÉPOCA - Como educador, o senhor não se dedica apenas a escrever livros voltados para o tema. Também tem publicações em formato de contos, prosa e versos. Por quê?
Alves - Eu não tenho livros de teoria. Escrevo contos e faço isso brincando. Então, sinto prazer mesmo quando estou falando sobre coisas teóricas. Mas sempre abordo o tema da educação por meio de metáforas. Inclusive sob a forma de poesia. Por isso muita gente não me leva a sério. Dizem que o Rubem Alves não é cientista. Não sou mesmo. E nem quero ser. Cientistas, já temos em excesso.

ÉPOCA - E este último livro nasceu como?
Alves - Escrevo muita coisa e, no meio dessas, de algumas eu gosto mais. É como se fossem snap shots, instantâneos da alma. Neste livro, há uma série deles. Você pode abrir em qualquer lugar. Não tem argumento, não quer provar nada, não há nenhuma tese. Uma vez escrevi uma crônica sobre a função cultural das privadas. Essa palavra é considerada feia. Quando se fala numa festa, o dono da casa retruca ''o banheiro'', ''o toalete'' e, quando você chega lá, é privada. Esse nome é tão bonito, tem a ver com privacidade, com estar sozinho, onde ninguém te interrompe. Lá é lugar escolhido por muitas pessoas para ler jornal. Um lugar de erudição, de conhecimento. Então, sugeri aos artesãos que fizessem umas miniestantes para instalar na frente do ''trono''. Nelas poderia ser colocada uma série de livros. Mas livros que tenham textos curtinhos. Aí a pessoa pode aproveitar para pensar, refletir. Acho que esse meu novo livro daria muito bem para esses momentos.
Fonte: Professor Educacional

sábado, 8 de outubro de 2011

A era do pós-gênero?

*Cynara Menezes

Relatos de quem recusa as definições tradicionais de homem-mulher, hétero-homo...
O cartunista Laerte Coutinho, de 60 anos, que em 2009 decidiu passar a se vestir como mulher, usar brincos e pintar as unhas de vermelho, está dentro do banheiro masculino quando entra um velhinho. Ao se deparar com a figura de cabelos grisalhos lisos num corte chanel, saia e salto alto, em pé diante do mictório, o homem estaca. “Não se preocupe, o senhor não está no banheiro errado”, diz Laerte. E o idoso, resignado: “É, eu estou é na idade errada”.

Laerte já foi chamado de crossdresser, denominação utilizada para o homem que gosta de, ocasionalmente, usar roupas femininas como fetiche. Talvez o crossdresser mais famoso da história tenha sido o cineasta norte-americano Ed Wood, que vez por outra vestia trajes de mulher. Sentia que lhe acalmavam o espírito. Wood, encarnado no cinema pelo ator Johnny Depp no filme homônimo de Tim Burton, em 1994, era casado e, ao que tudo indica, heterossexual. Só que o cartunista acha que não é crossdresser como Wood porque não tem mais em seu armário roupas de homem. Nem uma só cueca, nada. “Foi a primeira gaveta que esvaziei”, conta.

Por outro lado, as travestis, brinca Laerte, ficariam indignadas se ele dissesse ser uma, por não ter a -exuberância que se espera delas. Drag queen ele não é, porque não se veste como mulher para fazer performances. Usa vestidos e saias todo o tempo, para desenhar, pagar contas no banco ou ir até a esquina. Transexual também não, porque não tem interesse em fazer cirurgia de mudança de sexo e nem está insatisfeito com o próprio corpo “biológico”. Bissexual, sim, com certeza. “Nomenclaturas não me interessam. A busca por uma nomenclatura é uma tentativa de enquadramento. Sou uma pessoa transgênera e gosto do termo ‘pós-gênero’”, explica o cartunista.

O fato é que não existe atualmente uma palavra para “enquadrar” Laerte.

Tampouco há resposta definitiva para a questão: quantos gêneros existem na realidade? Só homem e mulher parecem não ser mais suficientes. Desde a quinta-feira 15, os australianos terão em seus passaportes a possibilidade de optar, além dos sexos “masculino” e “feminino”, por um gênero “indeterminado”. Cabem aí todas as possibilidades de definição de Laerte, ou qualquer outra que aparecer. A própria sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) já é utilizada por alguns grupos como LGBTIQ – adicionada de “intersex” e “questioning” (“em dúvida” ou “explorando possibilidades”).

Com a mudança no passaporte, a Austrália na prática estende para todos os cidadãos o direito conquistado na Justiça em março do ano passado por Norrie May-Welby. Norrie, que nasceu homem, havia feito cirurgia de sexo para se tornar mulher, mas não se adaptou à nova condição. Recorreu à Justiça e se tornou a primeira pessoa do mundo a ser reconhecida como “genderless”, ou sem gênero específico. Após a decisão, Norrie May-Welby declarou: “Os conceitos de homem e mulher não cabem em mim, não são a realidade e, se aplicados a mim, são fictícios”. O sobrenome de Norrie, aliás, é um trocadilho com “may well be”, que em inglês significa “pode bem ser”.

Leda e os Cisnes, atribuído a Da Vinci

Para chegar à decisão, dois médicos o examinaram e concordaram que Norrie é psicológica e fisicamente andrógino. May-Welby comemorou a libertação da “gaiola do gênero” e sua história detonou uma discussão no país sobre a criação de direitos específicos para as pessoas sem gênero. Um problema prático é justamente a identificação em documentos oficiais. Para um homem transexual que fez a cirurgia de mudança de sexo, é possível em vários países mudar também os documentos. Mas o que fazer com os que não desejam ser identificados por gênero algum? “O caso de Norrie evidenciou a existência de pessoas que não desejam ter um sexo específico”, disse em dezembro John Hatzistergos, procurador-geral de New South Wales, o estado mais populoso da Austrália.

Nascida mulher, a filósofa espanhola Beatriz Preciado, autora do livro Manifiesto Contrasexual, uma provocação intelectual que pretende subverter os conceitos de gênero e sexo é, ela própria, um ser híbrido que recusa qualquer definição. Preciado não se considera nem homem nem mulher nem homossexual nem transexual. Perguntada pelo jornal catalão La Vanguardia sobre seu gênero, Beatriz respondeu: “Esta pergunta reflete uma ansiosa obsessão ocidental, a de querer reduzir a verdade do sexo a um binômio. Dedico minha vida a dinamitar esse binômio. Afirmo a multiplicidade infinita do sexo”. Segundo a filósofa, a sexualidade humana é como os idiomas: pode-se aprender vários.

Há psicólogos que concordam com Beatriz ao defender que uma coisa é o gênero e outra, completamente distinta, a atração sexual. Isso é o que torna possíveis os inúmeros casos relatados de indivíduos que fizeram cirurgia de mudança de sexo para se tornarem não heterossexuais, mas homossexuais. Explico: um homem, por exemplo, que se torna mulher não para ter relações com homens, como se poderia imaginar, mas com mulheres. Ou seja, que troca de sexo para ser gay.

Aconteceu recentemente na Itália: Alessandro Bernaroli, de 40 anos, submeteu-se a uma mudança de sexo e tornou-se Alessandra em 2009, mas ele e a esposa não tinham a intenção de se separar, queriam permanecer juntos. O mais incrível é que acabaram alvos de um divórcio à revelia pela Justiça italiana, baseado no fato de o país não permitir legalmente casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Alessandra está recorrendo no tribunal de última instância e pode ir à Corte Europeia de Direitos Humanos se o seu direito de permanecer casada não for reconhecido.



Na Itália, ao virar Alessandra, Alessandro foi obrigado a se separar da mulher
Há três anos, então aos 81, a escritora Jan Morris, que deixara de ser James através de uma cirurgia em 1972, decidiu casar novamente com sua companheira de toda a vida, Elizabeth Tuckniss. Eles tiveram cinco filhos juntos e nunca se separaram de fato, mesmo após a cirurgia. Por exigências legais, porém, haviam se divorciado logo depois de James se tornar Jan. James Morris, o primeiro jornalista a anunciar a conquista do Everest, diz, em seus relatos autobiográficos, que se transformou em Jan, mas nunca se sentiu homossexual, e sim “erroneamente equipado”. Achava que deveria ter nascido mulher e fez a cirurgia para corrigir o equívoco divino – o que não significava que quisesse abrir mão do amor de Elizabeth.


Na Austrália, a família sem gênero

“Esses casos comprovam que gênero e atração sexual podem ser coisas
separadas. É muito complicado, há pessoas que nunca se conformam em ser enquadradas em um gênero”, diz o psicólogo Anthony Bogaert, professor do Departamento de Ciências Sanitárias da Brock- University, no Canadá. “Gênero é uma construção complexa. Ser macho ou fêmea, assumir papéis mais femininos ou mais masculinos, não vai necessariamente indicar que tipo de pessoa atrairá sexualmente um indivíduo. Homens com características mais -femininas, por exemplo, ou até transexuais, não necessariamente tenderão a se relacionar com pessoas do mesmo sexo.”

Apesar das diferenças que estabelece entre gênero e orientação sexual, Bogaert considera discutíveis experiências como a do casal canadense Kattie Witterick e David Stocker, que, revelou-se ao mundo em maio, pretende manter o sexo de seu bebê, chamado apenas de Storm (tempestade), como um segredo de família. Isso significa que Storm crescerá sem gênero definido. Acossada por críticas de psicólogos, a mãe justificou-se dizendo ter tomado a decisão por causa da pressão sofrida por Jazz, seu filho mais velho, um garoto que gosta de usar tranças e sempre vestiu roupas de menina, para que “agisse como menino”.

Caso parecido aconteceu há dois anos na Suécia com o bebê “Pop”, gênero não revelado, que aos 2 anos podia escolher se queria usar vestidos femininos ou roupas de garoto. “Nós queremos que Pop cresça o mais livremente possível, queremos evitar que seja forçado/a a assumir um gênero específico ditado pelo exterior”, explicou a mãe da criança. “É cruel trazer uma criança ao mundo com uma estampa azul ou cor-de-rosa pregada na testa.”

Uma pré-escola na Suécia, a Egalia, baniu os termos “ele ou ela” para se referir aos pequenos alunos, que não são tratados como “meninos” ou “meninas”, mas como “amiguinhos”. Na brinquedoteca, a cozinha, com suas panelas e outros utensílios, supostamente “de predileção” nata das meninas, fica ao lado das peças de Lego e brinquedos de montar, normalmente “preferidos” pelos meninos, para que as crianças não tenham “barreiras mentais” e se sintam livres para escolher entre as duas brincadeiras. O sistema é chamado de “educação neutra em gênero”, mas já há quem tenha apelidado a ideia de “loucura dos gêneros”.
O ator Leo Moreira e a espanhola Beatriz (acima) rejeitam o binômio

Foto: Gustavo Lourenção

Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, da Unicamp, a antropóloga Regina Facchini vê, no entanto, alguns aspectos positivos em não se enfatizarem gêneros e fortalecer estigmas na educação de crianças. “Em termos individuais, acho impossível criar uma criança sem gênero. Mas intervir no social, na escola, e não no sujeito, pode ser interessante.” A pesquisadora lembra que, no Brasil, os parâmetros curriculares aconselham fazer o possível para não estabelecer diferenças entre gêneros. Até mesmo em coisas pequenas, mas que denotam estereótipo, como, por exemplo, dar para os garotos a função “masculina” de carregar coisas pesadas.

“Existem discussões candentes hoje em dia. Os banheiros das escolas atendem os alunos transexuais? Agora, a identidade de gênero existe. Desde o momento que a criança botou a cabeça para fora, ela vai sendo construída, a partir das expectativas criadas em torno dela pelos pais, pela sociedade. Essa é uma realidade”, diz a antropóloga. “Sem dúvida, quanto menos a escola enfatizasse gêneros, menos seria traumático para algumas crianças. Assim como também seria positivo ensinar que existem várias formas de masculino e feminino que devem ser respeitadas. O que existe na maior parte dos lugares é o oposto disso.”

Até os 7 anos, o paulista Leo Moreira Sá, caçula de nove irmãos, brincava com os amigos no quintal, todos meninos, usando um short sem camiseta. No dia que ele conta ser o mais chocante de sua vida, a mãe vestiu-o com o uniforme da escola, uma sainha com blusa. Ele reclamou: “Mas isso é roupa de menina”. Ela olhou-o profundamente nos olhos e pronunciou a frase que o marcaria dali por diante: “Você É uma menina”.

Foram anos de rebeldia, bullying e inadaptação escolar até que Leo, então Lou Moreira, entrou para as Ciências Sociais da USP e descobriu na literatura algumas respostas para suas dúvidas. Ainda assim, continuava a se sentir inadaptada. Entrou para um grupo ativista de lésbicas, mas não se sentia bem aceita por ser considerada “masculina demais”. O melhor momento para ela então foi a atuação, nos anos 1980, como baterista da banda de punk-rock As Mercenárias, look andrógino, cabelo descolorido curtíssimo e ar desafiador.
Em 1995, Lou era casada com uma garota quando viu na rua a travesti Gabriella Bionda, a Gabi. “Pensei: ‘que mulher linda’”, conta. Gabi olhou para ela e falou: “Que ‘viadinho’ bonitinho”. Foi o início da relação surpreendente entre a lésbica e o travesti, que duraria nove anos e tornaria a dupla figurinha carimbada na noite paulistana. O curioso é que houve um período que Gabi “montava” Lou para que esta parecesse mais feminina, mas, nos últimos anos, ela vem se transformando em Leo. Aos 53 anos, planeja, inclusive, fazer a cirurgia de retirada dos seios e, futuramente, de mudança de sexo.

Não que tenha decidido se pretende se relacionar amorosamente com homem, mulher ou outro gênero. “No momento, não estou me relacionando com ninguém, estou pensando só na cirurgia”, diz Leo, para quem Gabi ainda é o amor de sua vida. “A Gabi é minha alma gêmea, meu espelho invertido. Estar com aquela mulher com corpo de homem quebrou certos limites da minha sexualidade. Na cama, éramos o casal mais versátil que se possa imaginar. Hoje, desfruto de um leque muito amplo de possibilidades. Nada está fechado.”

Leo, que toma hormônios, criou barba e possui uma aparência exterior masculina, rejeita assumir a identidade de homem. Não gosta do termo “transexual”, mas prefere se nomear assim, à falta de outro. “Adoraria não precisar assumir gênero algum”, admite o ator, que integra o grupo de teatro dos Sátyros, em São Paulo, cujas montagens costumam incluir transexuais e travestis no elenco. “Vivi à margem durante muitos anos. Agora, ao contrário, essa sensação de não pertencimento ao mundo me faz feliz, sinto-me um ser humano integral, completo. Vou operar para fazer um ajuste, para me sentir mais cômodo com meu próprio corpo. Mas assumir um gênero, para quê?”

*Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Apple anuncia a morte de Steve Jobs

Autor:
www.oglobo.com.br

Por implacavel

NOVA YORK - A Apple anunciou na noite desta quarta-feira que Steve Jobs, 56 anos, morreu.O executivo havia renunciado ao cargo de diretor-executivo da companhia em agosto por problemas de doença. Em 2004, Jobs teve um câncer no pâncreas, supostamente curado, e fez um transplante de fígado em abril de 2009.
Desde que Jobs reassumira a Apple, há 13 anos, a empresa viu suas ações subirem meteoricamente, multiplicando seu valor em quase cem vezes. Recentemente, a companhia tomou temporariamente da Exxon o título de mais valiosa do mundo.

A ERA STEVE JOBS: Veja a trajetória do fundador da Apple

Jobs fundou a Apple em 1976, com o engenheiro Steve Wozniak. Juntos, lançaram um dos primeiros computadores pessoais, o Apple II. Em 1984, surgia o primeiro dos computadores Macintosh (Mac), que formariam uma das mais influentes legiões de usuários da história da tecnologia. As MacWorlds - convenções semestrais em São Francisco e Nova York onde se anun$os lançamentos da Apple - tinham na conferência de abertura de Jobs seu ponto forte. O executivo seguia um roteiro preciso: começava com as novidades mais simples e passava às mais esperadas aos poucos, aumentando o suspense até dizer a frase "and there is one more thing" ("e tem mais uma coisa", em inglês), que prenunciava o lançamento principal. Foi assim, por exemplo, que ele lançou em 2000 o Cube, um desktop quadradinho, para uma plateia boquiaberta de macmaníacos. O computador foi descontinuado, mas o fascínio pela Apple permaneceu ao longo de vários anos de lançamentos, dos iMacs ao finíssimo MacBook Air.

Uma revolução com iPod, iPhone e iPad

Mas nem tudo foram flores na presidência inicial de Jobs na Apple. Ele ficou fora da empresa entre 1985 e 1997, período em que a Apple passou por tempos difíceis. Os lucros só voltaram em 1998, depois que Jobs reassumiu a cadeira de diretor-executivo no lugar de Gil Amelio.

Embora com a chegada da internet comercial em 1995 nem todas as grandes empresas fossem capazes de acompanhar a revolução on-line que se seguiu, a Apple, sob o comando de Jobs, se reinventou e se lançou em uma nova trilha no mundo da tecnologia ao abraçar a mobilidade. Primeiro, com o iPod, em 2001, que virou sinônimo
de MP3 player; segundo, com o iPhone, em 2007, que virou de cabeça para baixo o mercado de smartphones; e terceiro, ao botar os tablets no mapa em 2010, com o iPad, o que ocasionou uma enxurrada de gadgets rivais, mas que não conseguiram lhe fazer frente até agora.

Os últimos nove anos foram particularmente lucrativos. O volume de vendas da Apple deu um salto assombroso: de US$ 5,4 bilhões em 2001 para US$ 65,2 bilhões em 2010, acumulando US$ 229 bilhões na década.


"Por liderar uma triunfal subida ao topo do mundo da tecnologia, desenvolver computadores e aparelhos que viraram a mesa do mercado e proporcionar ao seus investidores um retorno estelar, Steve Jobs é o CEO (diretor-executivo) da década", escreveu o MarketWatch.

Segundo disseram fontes ao "Wall Street Journal", Jobs continuou a se envolver com a estratégia de produtos da Apple mesmo quando estava de licença, e deve continuar a trabalhar em conjunto com Tim Cook sempre que a saúde permitir. Em março deste ano, esteve na conferência de lançamento do iPad 2, e em junho também compareceu ao evento anual de programadores da Apple. Nas duas ocasiões, Jobs estava magro e visivelmente enfraquecido.

Investidores se mostraram preocupados com o futuro da empresa. "Este foi um momento 'quando', e não um momento 'e se'", disse ao "WSJ" o diretor do fundo Thrivent, nos EUA. E Charles O' Reilly, analista da Universidade de Stanford, disse que a Apple "enfrentará um grande desafio, já que sempre foi fortíssima a influência de Jobs em sua cultura corporativa e estratégia".
Fonte: Luis Nassif Online

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Consumismo pós-moderno

Passeio socrático

* Frei Beto

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:
- "Qual dos dois modelos produz felicidade?"

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- "Não foi à aula?"

Ela respondeu: - "Não, tenho aula à tarde". Comemorei:

- "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde".

- "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..."

- "Que tanta coisa?", perguntei.

- "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: - "Que pena, a Daniela não disse: "Tenho aula de meditação!"

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! - Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!"O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno.... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.

Sobre o Autor
Frei Beto : Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, escritor e assessor de movimentos sociais, é autor de "Típicos Tipos" (A Girafa), prêmio Jabuti 2005, entre outros livros.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Número de pessoas com mais de 60 anos deve dobrar até 2050

Segundo Nações Unidas, mundo já tem 700 milhões de cidadãos na terceira idade; Dia Internacional das Pessoas Idosas foi comemorado neste sábado (01/10).

População prolonga a idade ativa

Victor Boyadjian da Rádio ONU em Nova York*

O mundo marcou neste 1º de outubro, o Dia Internacional das Pessoas Idosas.

Segundo as Nações Unidas, existem 700 milhões de pessoas com mais de 60 anos em todo o globo. A previsão é que, até 2050, este número passe de 2 bilhões, superando a quantidade de crianças no mundo.

Mudança de Padrões

Mas de acordo com especialistas, apesar de estar envelhecendo, a população mundial também está prolongando a duração da idade ativa.

Em muitos países, trabalhadores estão adiando a idade da aposentadoria, algumas vezes por necessidade, mas também há casos de opção.

Nesta entrevista à Rádio ONU, de São Paulo, a empresária Maria Tereza Tacoli, conta que abriu uma empresa de moda e decoração quando já tinha 51 anos. Hoje, aos 66 anos, ela mantém o escritório em plena atividade na própria casa.

Integração

“Eu não tenho planos de parar. Eu tenho uma única filha e sou separada. Não tenho condição de ficar sozinha, olhando para o teto ou assistindo à televisão. Eu tenho necessidade de fazer alguma coisa. E tenho um trabalho, que me permite programar melhor o horário”, explica.

Por outro lado, a mudança de perfil há traz desafios, especialmente na área da saúde como destaca à Rádio ONU, de Brasília, a coordenadora de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde no Brasil, Luísa Machado. Para ela, é preciso haver uma integração de esforços para atender ao grupo populacional que mais cresce atualmente.

“Antigamente morria-se muito por conta de doenças infecto-contagiosas. Hoje o que mais mata são as doenças crônicas. Nós precisamos de todas as políticas públicas unidas para darmos conta deste processo de envelhecimento”, argumenta.

O tema do Dia Internacional das Pessoas Idosas este ano é: “Lançamento Madri + 10: As Crescentes Oportunidades e Desafios para o Envelhecimento Global”.

Em mensagem para marcar o dia, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu a governos e comunidades de todo o mundo que façam mais para oferecer oportunidades à terceira idade.
*Apresentação: Mônica Villela Grayley.
Fonte: Rádio ONU

domingo, 2 de outubro de 2011

A celulite de Britney Spears


Celulite educativa de Britney Spears contra a mídia enganosa
Por maurobrasil

Escolas britânicas usarão fotos da cantora Britney Spears de biquíni, comparando o antes (com celulite sem retoques), e o depois (retocadas com o photoshop).
O objetivo é educativo visando aumentar a autoestima de alunos de 10 e 11 anos de idade, porque eles estão crescendo obcecados por padrões de beleza impossíveis, sob influência da mídia.

A inciativa tem o apoio da Secretária de Igualdade Britânica. Imagine se fosse a ministra Iriny Lopes (PT/ES), da Secretaria de Políticas para as Mulheres, fazendo isso no Brasil?

O PIG (*) diria que o governo estaria "censurando" o Photoshop... e que as Secretaria de Políticas para as Mulheres estaria mostrando os "defeitos" da cantora, com inveja, assim como o PIG está fazendo no episódio da propaganda de lingerie com Giselle Bündchen.

Deu na BBC Brasil:

As imagens, divulgadas pela própria cantora, mostram como sua celulite foi retocada com programas de computador e suas pernas e quadris, afinados.

O objetivo do programa educacional, que tem apoio do governo e foi criado pela organização sem fins lucrativos Media Smart, é mostrar como as fotografias em revistas e anúncios são alteradas digitalmente e criam "um grau de perfeição que é inalcançável na sociedade".

"Os jovens estão recebendo padrões impossíveis a partir das imagens com as quais eles se deparam diariamente na mídia e na publicidade e há indícios de que isso tem um impacto negativo em sua autoestima", disse a secretária de Igualdade britânica, Lynne Featherstone.

"Eu quero que as crianças percebam desde cedo que seu valor é tão maior que apenas sua aparência física."

Lingerie e diversidade

O material de ensino consiste em uma apresentação de PowerPoint mostrando fotografias publicadas em revistas famosas e em outdoors, além de instruções para os professores explicando "a influência da mídia e da publicidade na maneira como os jovens veem seu corpo".

Parte da apresentação mostra fotos de modelos e tenta estimular os alunos a pensar nos objetivos das marcas e publicações ao escolher aquelas imagens.
O material também traz campanhas que ficaram famosas por desafiar a norma, como as da grife Benetton e dos produtos Dove, mostrando diversidade cultural e "mulheres comuns".

A aula também mostra uma fotografia da atriz Keira Knightley com o busto aumentado digitalmente e imagens de anúncios de maquiagem e perfume, em que os modelos têm uma pele absolutamente perfeita.

Para terminar, a Media Smart sugere que os professores discutam com os alunos a "importância das características pessoais e valores humanos em relação à beleza física".

A organização também apresenta estatísticas que indicam que modelos e atrizes que aparecem na mídia têm cerca de 50% menos gordura que mulheres saudáveis e que seis em cada 10 adolescentes acham que seriam mais felizes se fossem mais magras.
Fonte: Luis Nassif Online