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sábado, 31 de dezembro de 2011

Mulheres da classe C investem em educação, beleza e lazer

Com aumento da renda, elas planejam melhor as finanças e apostam em itens que podem melhorar qualidade de vida da família

Qualificação profissional, educação para os filhos, beleza e lazer. Esses são os itens que ganharam espaço no orçamento familiar das mulheres de classe C. Com o crescimento do poder de compra verificado nos últimos anos e o aumento da participação no mercado formal de trabalho, elas mudaram, e muito, seus padrões de consumo, avalia Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, instituto de pesquisa especializado nas classes C e D.

“O aumento da renda formal levou as mulheres da classe C a um novo patamar, em que é possível planejar as finanças e conquistar o que antes parecia inatingível, como educação de boa qualidade tanto para elas, quanto para os filhos. E, mesmo tendo empregos formais, essas mulheres ainda complementam a renda fazendo bicos e atividades extras que permitam dar mais conforto à família”, diz Meirelles.

Renda extra

É o caso da babá Dalva Pena, 40, que vive com o filho de 21 anos e a filha, de 17. Com uma renda fixa mensal de R$ 1,7 mil, ela se considera uma profissional de ‘1001 utilidades’. “Além de trabalhar em outras casas como babá nos meus horários de folga, também recebo encomendas de doces e bolos e participo do comitê de um candidato a vereador em São Paulo”, diz.

Dalva conta que guarda praticamente todo dinheiro provenientes de suas atividades extras. Em média, ela deposita, mensalmente, R$ 400 em um fundo de renda fixa. O objetivo, diz, é assegurar o futuro da família. “Temos alguns planos, como comprar uma pequena casa para alugar ou até mesmo trocar de carro. Mas, por enquanto, não planejo usar o que tenho no fundo. A ideia é guardar”, afirma.

Apesar da preocupação em construir uma vida melhor e de reconhecerem a importância de poupar para o futuro, casos como o de Dalva ainda são poucos entre as mulheres da Classe C, que têm dificuldades em guardar dinheiro. “O conceito de poupança tem valor para essas mulheres, mas elas ainda têm muitos sonhos de consumo a serem realizados, o que dificulta bastante a criação de uma reserva”, afirma Martinelli.

Entre a vontade de consumir e a necessidade de poupar, as mulheres da classe C adotam diferentes estratégias para organizar o orçamento doméstico. A analista de projetos Paula Espíndola Teles, 29 anos, é adepta das planilhas de gastos. Com uma renda mensal de R$ 4 mil, ela sustenta a casa onde vive com sua filha de nove anos, o noivo e os sogros. Desde que o noivo e o sogro ficaram desempregados, há quase um ano, ela arca sozinha por todas as despesas da família. O rígido controle das finanças é, segundo ela, o segredo para não se endividar.
Paula Teles mantém uma planilha para organizar o orçamento familiar

“Além de colocar tudo em uma planilha, também uso meu cartão de crédito como uma ferramenta de controle dos gastos. Tenho um limite pequeno, que não ultrapassa 30% da minha renda. Sendo assim, concentro todas as minhas compras no cartão dentro desse valor. Já o dinheiro, eu guardo para emergências”, diz.

Investimento em educação

Mesmo com a responsabilidade de sustentar toda a família, Paula consegue investir em cursos de qualificação com o objetivo de impulsionar sua carreira. Ela também mudou a filha para um colégio melhor e mais caro e planeja pagar um curso de inglês para a menina a partir do ano que vem. “Abri mão de comprar muitas coisas e evito dívidas para que eu possa investir em uma vida melhor para mim e para minha filha”.

Também preocupada em evitar dívidas, a advogada Tatiana Moraes, 29 anos, controla suas finanças. Mas, ela não segue planilhas e muito menos usa o cartão de crédito. Muito pelo contrário. Para não se enrolar, ela evita parcelar suas compras e paga tudo à vista. “Eu não sou disciplinada a ponto de anotar todas as minhas despesas. Em compensação, me organizo dentro de um limite e economizo para comprar tudo à vista, com desconto. Dessa forma, consigo gastar mais hoje com itens como educação, beleza e lazer”.

Dalva, por sua vez, conta que nos últimos três anos mudou radicalmente a forma de organizar suas finanças. O primeiro passo foi escolher apenas um dos nove cartões de crédito que tinha e cancelar os outros oito. Ela conta que chegou a acumular uma dívida de mais de R$ 20 mil. “Estourava o limite de um e compensava gastando com o outro. Depois de muito esforço consegui negociar e quitar minhas dívidas. Por isso, sou bastante cuidadosa com meu dinheiro hoje”, afirma.

Para evitar problemas com cartões de crédito, o professor de Finanças do Senac São Paulo, Anísio Castelo Branco, recomenda que a consumidora não confunda crédito com renda. “Às vezes, a pessoa já tem o dinheiro para comprar o que precisa pagando à vista. Mas, a tentação de comprar a crédito e usar aquele dinheiro para coisas que não são tão importantes é grande e a mulher acaba se endividando à toa”, diz.

Castelo Branco também recomenda cuidado com as pequenas despesas do dia-a-dia e que aparentemente não comprometem o orçamento. Da ida não planejada ao salão de beleza para fazer só mais uma escova, aos acessórios “baratinhos” que são comprados aos montes, são muitos os exemplos de gastos aparentemente inofensivos que complicam as finanças no final do mês. “Aliás, uma boa ideia é estipular os gastos com beleza como custos fixos, já que as mulheres dificilmente abrem mão dos cuidados pessoais. Assim, fica mais fácil seguir um orçamento pré-estabelecido”, afirma.

Fonte: Portal iG

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Apesar de papel em levantes, mulheres árabes ainda lutam por direitos

Manifestantes femininas marcham lado a lado com homens na Primavera Árabe, mas sua participação política efetiva continua limitada

As mulheres marcham lado a lado dos homens na chamada Primavera Árabe, levantes populares no Oriente Médio e norte da África que neste ano conseguiram derrubar regimes na Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen e que mantêm pressão sobre outros governos, como o da Síria

Foto: AP/ Iemenita mostra punho com as bandeiras de Líbia, Síria, Iêmen, Tunísia e Egito. Na parte superior da mão lê-se: 'Venceremos' (27/10)

Algumas das mulheres que participaram dos levantes em seus países foram reconhecidas em premiações internacionais. No sábado, a ativista iemenita Tawakkul Karman receberá o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de duas liberianas, por sua defesa dos direitos das mulheres. Em 27 de outubro, a militante egípcia Asmaa Mahfouz e a advogada síria Razan Zeitouneh fizeram parte do grupo de cinco ativistas árabes que receberam o prestigioso Sakharov, prêmio do Parlamento Europeu que promove a liberdade de pensamento.


"Uma coisa que a Primavera Árabe fez foi remover os estereótipos sobre as mulheres árabes, porque elas realmente mostraram serem parte dos levantes e das mudanças que varrem a região", afirmou ao iG Nadya Khalife, pesquisadora de Oriente Médio e norte da África da divisão de direitos das mulheres da Human Rights Watch.

Apesar disso, Nadya reconhece que a situação geral das mulheres árabes ainda é difícil. "Quando as revoltas aconteceram na Tunísia e no Egito, ficou claro que as mulheres foram excluídas de órgãos de tomada de decisões e que sua participação nos processos de transição política é certamente baixa", disse a pesquisadora.

Exemplo disso é o Egito. Logo após a queda de Hosni Mubarak, nenhuma mulher foi nomeada pelo Conselho Supremo das Forças Armadas, que o sucedeu com a expectativa de conduzir o país na transição democrática, para um comitê encarregado de fazer emendas pontuais à Constituição. Além disso, a junta militar proibiu que mulheres encabeçassem a lista dos partidos que concorrem atualmente nas eleições legislativas para a Assembleia do Povo e o Conselho Shura (equivalente à Câmara e ao Senado, respectivamente).

"As mulheres são parte da revolução, estiveram nas ruas, em todos os lugares, morreram na Praça Tahrir. Mas agora temos uma contrarrevolução, e elas perderão mais direitos sob a junta militar e a Irmandade Muçulmana”, afirmou ao iG a escritora e feminista egípcia Nawaal el-Saadawi, de 80 anos, referindo-se ao grupo islâmico cujo Partido Liberdade e Justiça é o favorito nas eleições legislativas.

Confira abaixo a situação dos direitos das mulheres na Tunísia, Egito, Líbia, Iêmen, Síria e Arábia Saudita. O reino, que registrou apenas protestos pontuais por mudanças neste ano, anunciou em 25 de setembro que as mulheres poderão concorrer e votar nas eleições municipais a partir de 2015.

ARÁBIA SAUDITA

Foto: AFP /Mulheres sauditas saem de carro em Riad (17/06)

- Leis e casamento. A naturalidade saudita só é passada dos homens aos descendentes; assim, se uma saudita se casar com um estrangeiro, seus filhos não terão sua naturalidade. Homens são favorecidos em questões de casamento, divórcio, custódia de filhos e herança. O casamento é um contrato entre o homem e o 'guardião' da noiva e inclui dote.

- Participação política. Só ganharam direito de concorrer e votar em eleições neste ano. Mas esse direito só vigorará a partir de eleições municipais de 2014.

- Constituição: Não prevê direitos iguais e discrimina as mulheres. Há, porém, quem argumente que a discriminação em algumas situações as protege - financeiramente, por exemplo.

- Acesso à Justiça: Mulheres não podem ser advogadas ou participar do Judiciário; são representadas e julgadas por um homem; o depoimento de um homem vale pelo de duas mulheres; em alguns casos, há penas diferentes para o mesmo crime.

- Comportamentos proibidos: Jantar com homens que não sejam seus parentes, andar de táxi com um não parente, aparecer em público com a cabeça à mostra, sair do bairro sem o 'guardião' (pai ou marido), dirigir um carro ou entrar num veículo cujo motorista não seja o 'guardião', alugar um apartamento, hospedar-se sozinha em um hotel, entrar em um avião sem permissão do ‘guardião’.

- Educação: Representam 56% dos cerca de 32 mil estudantes do ensino superior; não podem estudar engenharia.

- Vestimentas: São obrigadas a se cobrir da cabeça aos pés (niqab e abaya) para garantir o comportamento moral dos homens e proteger a honra da família.

EGITO

Foto: AP /Mulheres votam no 2º turno da eleição egípcia em Nasr City, um bairro do Cairo (05/12)

- Leis e casamento: Desde 2000, podem se divorciar sem consentimento do homem, e filhos com estrangeiros conseguem nacionalidade – mas maridos estrangeiros não. À população masculina, porém, está garantido o direito de se separar sem a aprovação da mulher. A poligamia é uma prática comum: um homem pode se casar com quatro mulheres, enquanto elas só devem ter um marido. Os descendentes são registrados com o nome do pai, e não com o da mãe.

- Participação política: Podem votar e concorrer, ocupam vários cargos, mas têm influência limitada.

- Constituição: Garante direitos iguais a todos, mas o código familiar e as práticas culturais pesam mais do que a Carta no respeito a esses direitos.

- Acesso à Justiça: Teoricamente igual ao dos homens, mas o depoimento de um homem vale pelo de duas mulheres.

- Mutilação genital: Proibida desde 2008, mas as meninas ainda são submetidas ao procedimento por questões culturais. De acordo com a feminista Nawaal, mais de 90% das egípcias são mutiladas.

IÊMEN

Foto: AP/Manifestantes protestam contra presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, na capital do país, Sanaa (20/10)

- Leis e casamento: O guardião da mulher negocia seu contrato de casamento, e a maior parte das mulheres casa bem cedo pelo fato de lei não impor idade mínima para o matrimônio; herança geralmente é igual para homens e mulheres.

- Comportamentos proibidos: Não podem tirar passaporte sem a permissão do 'guardião', mas as que têm o documento podem viajar sem a permissão.

- Educação: Em áreas rurais, 30% de meninas estão na escola primária, enquanto 73% dos meninos estudam. Elas são 25% do total de estudantes universitários e cerca de 50% das universitárias estão no campo do magistério.

LÍBIA

Foto: AP/ Líbios reagem à morte do líder deposto Muamar Kadafi do lado de fora da embaixada em Londres, Reino Unido (20/10)

- Participação política: Documento de 1997 permitiu que mulheres participem de congressos e comitês populares (equivalente ao Parlamento e seus órgãos associados)

- Acesso à Justiça: Em tese têm o mesmo acesso que os homens; em geral as leis se aplicam da mesma forma, mas há exceções como adultério.

SÍRIA

Foto: AP/ Georgina Mtanious al-Jammal, mãe de Sari Saoud, menino de 9 anos que foi morto na repressão do governo sírio em Homs (01/12)

- Leis e casamento: Muitas não podem recusar casamento por pressão familiar ou medo de agressão ou estigma social; adultério é crime para ambos, mas evidências, circunstâncias e punições são mais graves pra elas.

- Constituição: São consideradas dependentes de seus maridos e filhos; grupos extremistas influenciam as decisões do governo para manter as mulheres em segundo plano.

- Acesso à Justiça: Em tese, não há barreiras legais para o acesso de uma mulher à Justiça, mas muitas deixam de prestar queixas porque nas delegacias só há homens.

- Violência contra a mulher: Algumas leis as protegem de algumas agressões, mas outras retiram os mesmos direitos alegando se tratar de crime de honra.

TUNÍSIA

Foto: Reuters/ Mulheres participam de eleição legislativa na Tunísia em 24 de outubro
- Leis e casamento: Não transfere nacionalidade para o marido estrangeiro (o contrário
acontece). Se um filho nasce no exterior e a mãe é tunisiana, a nacionalidade pode ser pedida apenas um ano antes da maioridade.

- Participação política: Em 2000, mais de 20% das conselheiras municipais eram mulheres, enquanto, em 1975, eram 1,7%.

- Constituição: Protege as mulheres de discriminação e aborda isso de forma explícita em vários artigos; elas podem controlar propriedade e renda, mas recebem heranças menores.

- Acesso à Justiça: Igual ao dos homens, em parte pela tradição de mulheres no Judiciário (a primeira juíza foi nomeada em 1968 e, em 1990, havia 24); testemunho de mulher tem mesmo peso que o do homem; hoje representam 35% dos magistrados.

- Violência contra a mulher: Violência doméstica é crime desde 1993 e crime de honra pode ser punido com prisão perpétua.

- Educação: Mais de 50% dos estudantes universitários são mulheres, e elas podem fazer o curso que quiserem.

- Emprego: Cerca de 15% das mulheres que trabalham são autônomas; elas são um quinto do setor informal.

*Fonte: "Women's Rights in the Middle East and North Africa", editado por Sameena Nazir e Leigh Tomppert e publicado pela Freedom Hous

Portal iG

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Pior discriminação é a da mulher, diz presidenta de instituição

3ª mulher à frente da principal instituição de ciência do País, a SBPC, Helena Nader admite preconceito na academia, mas aposta em mudança

À frente de uma das mais importantes associações de promoção da ciência no Brasil, a professora Helena Nader sabe que é uma exceção. Para ela, por ser mulher, sua responsabilidade no cargo de presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é ainda maior. “Meus colegas me deram a honra de estar nessa posição e como poucas mulheres chegaram até aqui, a responsabilidade é maior ainda”, diz.

Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Helena é a terceira mulher a ocupar o posto máximo da SBPC. Criada em 1948 para difundir a ciência, a associação conta com mais de 6 mil pesquisadores associados. Helena, 64 anos, faz parte do grupo desde que ainda era uma universitária, e cursava ciências biomédicas na Escola Paulista de Medicina, e se apaixonou pelas artes de ensinar e pesquisar. “Se eu tivesse que repetir a minha vida, faria tudo de novo, igualzinho”, garante.

Foto: Divulgação Terceira mulher a assumir presidência da SBPC, Helena Nader acredita que as mulheres se privam de melhorar a carreira em muitos casos

Doutora em biologia molecular pela Unifesp e pós-doutora pela University of Southern California, dos Estados Unidos, Helena também possui cadeira na Academia Brasileira de Ciências. Atuou como pró-reitora de graduação e de pesquisa da Unifesp e trabalhou como professora visitante em Chicago e Nova York (EUA), Milão e Modena (Itália).

Tanta dedicação ao trabalho, segundo ela, só foi possível graças ao apoio que recebeu do marido e às suas próprias filosofias de vida. “Algumas decisões são de foro íntimo e algumas pessoas não teriam a tranquilidade que eu tive em assumi-las. A mulher é criada dentro de uma filosofia de que é ela quem tem de fazer determinadas coisas”, pondera.

Contra cotas como políticas afirmativas de gênero, por acreditar que as mulheres têm mérito e condições suficientes para assumirem postos de chefia, Helena é otimista e acredita que o futuro será diferente. Em pouco tempo. Confira a entrevista concedida ao iG:

iG: Professora, a senhora está em uma posição rara hoje: a de uma mulher liderando um cargo importante para a ciência brasileira. Como se sente diante dessa missão?
Helena Nader: Eu tenho um orgulho muito grande de estar ocupando essa posição, Mas, apesar de as mulheres estarem cada vez mais se titulando e produzindo ciência, há um número pequeno mesmo que chega a posições de chefia. Na SBPC, eu sou a terceira. A sociedade já teve como presidente homens como Anísio Teixeira, então minha responsabilidade é grande. Fui vice durante quatro anos e me indicaram para a presidência agora. Meus colegas me deram a honra de estar nessa posição e como poucas mulheres chegaram até aqui, a responsabilidade é maior ainda.

iG: Por que a senhora acha que foi escolhida?
Helena: Desde quando comecei minha vida acadêmica, sempre lutei muito para fazer ciência de alta qualidade, com a mesma expressão e importância do que é feito em qualquer lugar do mundo. Nunca me passou pela cabeça que um dia estaria à frente dessa instituição. Fui pró-reitora de pós-graduação e de pesquisa da Unifesp e acredito que os reitores me convidaram pela minha capacidade técnica. Acho que, dessa vez, ocorreu o mesmo.

iG: A senhora acredita que ainda existe preconceito na academia e na ciência em relação à capacidade feminina?
Helena: Infelizmente, ainda existe discriminação sim. Não gosto de acreditar nisso, mas acontece. Agora, pior é própria discriminação da mulher, que se bloqueia e não se permite ser mais agressiva no sentido de almejar determinados cargos e ir à luta. Há um estigma, mas acho que isso está mudando. Qualquer mudança é lenta. Eu gostaria que fosse mais rápida.

iG: A senhora acredita que essa desigualdade de gênero na academia vai acabar em pouco tempo? O que poderia fazer para acelerar esse processo?
Helena: Evoluímos bem, mas não o suficiente. Não gostaria, de verdade, que essa aceleração ocorresse por causa de ações afirmativas. Sou totalmente a favor de ações afirmativas para a entrada do negro e do índio na universidade, porque eles foram excluídos, não tiveram o mesmo acesso à educação. Com as mulheres é diferente. Nós já estamos lá. Acho que é preciso fazer uma discussão mais ampla com sociedade, para buscarmos a essência do problema. Hoje as mulheres continuam tendo dois papéis, embora o homem já esteja sendo parceiro dentro de casa e na criação dos filhos.

iG: Como a senhora conseguiu desenvolver sua carreira e se ajustar nesses papéis?
Helena: Eu tive um marido excepcional, que dividiu tudo comigo muito bem. Ele também era pesquisador, um médico. Quando eu estava com a minha filha, minha atenção era dela. Mas ela estudava em período integral e não é todo mundo que pode fazer isso. Eu não queria que ela ficasse com babá e TV. Nosso relacionamento é incrível. Algumas decisões são de foro íntimo e algumas pessoas não teriam a tranquilidade que eu tive em assumi-las. A mulher é criada dentro de uma filosofia de que é ela quem tem de fazer determinadas coisas.

iG: A senhora recebeu muito estímulo dos seus pais para ter uma carreira consolidada?
Helena: Minha mãe só terminou o ensino básico, mas eu brinco que ela fez o curso superior comigo e com a minha irmã, porque ela sempre nos estimulou muito. Meu pai a mesma coisa. Aliás, devo ao meu pai o fato de ter continuado meu curso. Eu havia tentado uma vaga em medicina na USP e não consegui. Fui aprovada em ciências biomédicas, mas era um curso muito novo e fiquei em dúvida. Meu pai me incentivou a começar e ver o que achava. Um homem sábio, porque me apaixonei pelas aulas, pelo laboratório. Se eu tivesse que repetir a minha vida, faria tudo de novo, igualzinho. A profissão de ensinar é uma enorme responsabilidade, mas o prazer de pesquisar é único.

Fonte: Portal iG

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mulheres lideram áreas importantes do Google e Facebook

Conheça algumas das mulheres mais importantes do setor de tecnologia em todo o mundo

À frente de áreas técnicas e de negócios em grandes empresas de tecnologia, as mulheres mostraram que elas podem contribuir, e muito, para melhorar dispositivos, redes sociais e serviços de internet que, todos os anos, atendem milhões de pessoas em todo o mundo. Conheça as mulheres mais poderosas do mundo da tecnologia em 2011 na lista e na galeria de fotos abaixo:

Marissa Mayer
Idade: 36 anos
Cargo: vice-presidente de serviços de geolocalização no Google

Marissa foi a 20ª pessoa contratada para trabalhar no Google e a primeira engenheira a ser contratada, logo após a fundação da empresa em 1998. Depois de alguns anos, ela foi nomeada vice-presidente de buscas e, mais recentemente, Marissa ganhou a área de geolocalização para cuidar, considerada por analistas como a próxima grande aposta do Google.

Considerada uma das executivas de tecnologia mais bonitas, ela se autointitula “geek” e integra também um comitê de elite do Google para tomar decisões estratégicas sobre produtos. Com o lançamento do Google+, Marissa foi adicionada em mais de 50 mil círculos pelos usuários, prova de sua crescente influência no mundo de tecnologia.

Sheryl Sandberg
Idade: 41 anos
Cargo: diretora de operações do Facebook


Depois de deixar o Google em 2008, onde era vice-presidente de vendas online e de operações, Sheryl assumiu a operação do Facebook e se tornou o braço direito de Mark Zuckerberg, fundador e atual CEO da rede social. Desde a sua chegada, ela ajudou a formar a equipe de vendas de publicidade do Facebook, forma escolhida pelos executivos para tornar a rede social rentável. Além disso, ajudou no marketing - o que ajudou Zuckerberg a criar a maior comunidade de pessoas na web, com mais de 800 milhões de pessoas.

Considerada por analistas de mercado como “uma das mulheres mais poderosas do Vale do Silício”, região dos Estados Unidos que concentra a maior parte das empresas e startups de tecnologia, Sheryl também trabalha com membro do conselho de empresas como Wall Disney e Starbucks. Em 2011, ela foi nomeada como uma das 50 mulheres de negócios mais poderosas do mundo pela revista Fortune.

Katie Jacobs Stanton
Idade: 41 anos
Cargo: vice-presidente de estratégia internacional do Twitter

Desde que Katie foi contratada em julho de 2010, o Twitter se tornou mais “internacional”. A executiva abriu dois escritórios, sendo um no Japão e outro no Reino Unido, para entender melhor a demanda dos usuários de fora dos Estados Unidos, que hoje representam 70% de todas as mensagens publicadas no microblog. Em 2003, Katie começou sua carreira executiva como gerente do Google Finanças. Sete anos depois, ela se juntou à Casa Branca como diretora de participação dos cidadãos, antes de ser contratada pelo Twitter.

Para Katie, a expansão do Twitter deve acontecer nos próximos anos por meio de dispositivos móveis. A executiva já estabeleceu 200 parcerias com operadoras em 65 países, o que aumentou para 40% o número de usuários que acessam o serviço por aparelhos móveis. Um dos desafios da executiva será frear a expansão do microblog chinês Sina Weibo, que já reúne 200 milhões de usuários.

Mary McDowell
Idade: 47 anos
Cargo: vice-presidente da divisão de celulares da Nokia
Na Nokia desde 2004, mas há apenas um ano à frente da divisão de celulares, Mary assumiu o novo cargo em meio a uma crise na Nokia que, por conta de usar o defasado sistema operacional Symbian em seus smartphones, perdeu mercado para os smartphones mais modernos, como iPhone e os aparelhos com Android. Ao lado de Stephen Elop, CEO da Nokia, ela ajudou a empresa a mudar o rumo, optando por adotar o Windows Phone, da Microsoft, como plataforma principal para smartphones.

Antes de entrar na Nokia, Mary trabalhou por 17 anos na HP-Compaq, onde foi contratada em 1986 como engenheira de sistemas. Nos últimos cinco anos na companhia, ela ocupou o cargo de vice-presidente e gerente-geral do grupo de servidores. Atualmente, além de trabalhar na Nokia, Mary é membro do conselho da Autodesk.

Cynthia Breazeal
Idade: 44 anos
Cargo: diretora do grupo de robótica pessoal do Massachussets Institute of Technology (MIT)

Em sua tese de doutorado, Cynthia Breazeal, desenvolveu o robô humanóide Kismet, que se expressa de maneira semelhantes aos humanos. Professora associada do Media Lab do MIT, Cynthia se formou em Engenharia Eletrônica e de Computadores na Universidade da Califórnia (EUA).

O robô Kismet foi reconhecido pela revista Wired como um dos melhores robôs de todos os tempos, por explorar aspectos sociais e emocionais na interação com humanos. Em 2006, ela desenvolveu Leonardo. A pesquisadora já foi nomeada pela MIT como uma das 100 maiores inovadoras no mundo com menos de 35 anos.

Cher Wang
Idade: 52 anos
Cargo: fundadora e conselheira da HTC

Pela fundação da HTC, hoje a sexta maior fabricante de smartphones do mundo, Cher se tornou uma das maiores líderes da indústria de tecnologia no mundo e também uma das mulheres mais ricas de Taiwan (China). A empresa foi a primeira a lançar um aparelho com o sistema operacional Android, do Google, e também uma das pioneiras a apostar no Windows Phone, versão remodelada do sistema operacional da Microsoft.

Além de executiva bem-sucedida, Wang forma com seu marido, Wen Chi Chen, presidente da fabricante de chips VIA Technologies, um dos casais mais ricos do mundo, com fortuna estimada em US$ 3,5 bilhões pela revista Forbes.

Mitchell Baker
Idade: 53 anos
Cargo: presidente do conselho da Mozilla Foundation

Formada em Direito, Mitchell se tornou uma das mulheres mais poderosas da tecnologia por seu trabalho à frente da Fundação Mozilla, primeiro como CEO e, mais recentemente, como presidente do conselho. A fundação é responsável por desenvolver e fomentar o uso do navegador Mozilla Firefox, atualmente na terceira posição do ranking global de navegadores divulgado pela StatCounter.

Atualmente, Mitchell enfrenta o desafio de manter o Firefox como um navegador relevante para os usuários, num momento em que o Chrome, navegador do Google, cresce a passos rápidos. Em entrevista recente, ela afirmou que um dos objetivos atuais da Mozilla é melhorar seu aplicativo de navegação na web em dispositivos móveis.

http://tecnologia.ig.com.br/mulheres-lideram-areas-importantes-do-google-e-facebook/n1597394063280.html

Fonte: Portal iG

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2011, o ano do poder das mulheres-2

Em um ano igualmente equilibrado por números femininos (2 e 0) e masculinos (1 e 1), mulheres dos mais diversos países e nas mais diversas funções assumiram um ambicionado substantivo masculino (o poder) para combater um temeroso substantivo feminino (a crise). Nunca antes na história desse planeta, o Brasil teve uma presidenta, o FMI elegeu uma diretora-geral e as nações muçulmanas viram tanta contestação feminina. Na Europa, a chanceler alemã Angela Merkel se colocou à frente de uma operação para limpar a sujeira deles: gregos, italianos e espanhóis. Na Argentina, Cristina Kirchner renovou seu mandato com uma dianteira sem paralelo em mais de quatro décadas.

O Brasil bateu o recorde de ministras (uma de cada três ministros de um governo que também alcançou o ápice de 38 ministérios). Na esfera da Justiça, a ministra Eliana Calmon, do STJ, enfrentou o presidente do Supremo Tribunal Federal pelo direito de processar juízes no Conselho de Justiça. E na chefia da Polícia Civil, o Rio de Janeiro ganhou uma delegada de batom, salto alto e nome de miss: Martha Rocha. Na esteira do apagão de mão de obra, elas invadiram territórios outrora destinados exclusivamente a brasileiros: a construção civil, os estaleiros, a marinha mercante.

A história, contudo, também desfez outros mitos contumazes, como o de que o poder feminino é sensível, honesto, ponderado, tolerante. A presidenta Dilma Rousseff mostrou-se capaz de degolas sumárias de ministros e proliferaram as versões de que seus auxiliares se dividem em dois grupos: os que já ouviram palavras duras (e algumas vezes em tom elevado) e os que estão loucos para ouvi-las, tão pouco é o espaço que conseguem na agenda presidencial. Palavras duras também saíram da boca da chanceler da Alemanha na direção de gregos e italianos.

O mito da honestidade do poder feminino veio abaixo com a sucessão de primeiras-damas de municípios brasileiros denunciadas pelo Ministério Público por corrupção e outras falcatruas com o dinheiro público.

Em 2011, São Paulo viu a ascensão de uma gangue inédita -- liderada por adolescentes de rua, roubava motoristas e comerciantes de um bairro nobre da cidade. A retomada dos morros cariocas pelo poder público desnudou a influência das mulheres do tráfico.
A ficção foi em busca da realidade ao colocar duas protagonistas na novela das 9 da Globo. Uma é trabalhadora, honesta, dedicada aos filhos e fica rica num golpe de sorte ao ganhar na loteria. Representa a classe emergente do Brasil, de lares liderados por mulheres. A outra é o estereótipo da rica, preconceituosa e mentirosa – e certamente é coincidência qualquer semelhança entre ela e uma certa elite que mereceria ser punida por sua vilania.

O ano do poder feminino é a confirmação de um processo iniciado por outras gerações que acreditaram na igualdade de direitos e competências. As histórias de 2011 mostram que ele resultou num mundo menos utópico do que o sonhado pelas feministas de antigamente -- mas também que essa é uma transformação ainda distante de estar completa.

http://ultimosegundo.ig.com.br/retrospectiva/2011-o-ano-do-poder-das-mulheres/n1597390825059.html

Fonte: Portal iG

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

2011, o ano do poder das mulheres-1

...sutilezas e histórias de mulheres que ocuparam espaços em antigos territórios masculinos e despontaram no combate à crise em seus países

Dilma Rousseff toma posse como presidenta e torna-se a primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto

Depois de sair vitoriosa das urnas em 2010, com o apoio de Lula, a petista Dilma Rousseff toma posse como presidenta do Brasil. Em seu primeiro discurso depois de assumir o comando do Palácio do Planalto, ela promete não abrir espaço a compadrios, faz apelo a adversários políticos e afirma que será a presidenta de todos os brasileiros. Boa parte de sua fala, no entanto, trata da importância da chegada de uma mulher ao mais alto cargo do Executivo. Dilma agradece a “ousadia” do povo em escolhê-la para suceder a um governo comandado por um “homem do povo”. “Para além da minha pessoa, a valorização da mulher melhora nossa sociedade e valoriza a nossa democracia.”


Em um ano igualmente equilibrado por números femininos (2 e 0) e masculinos (1 e 1), mulheres dos mais diversos países e nas mais diversas funções assumiram um ambicionado substantivo masculino (o poder) para combater um temeroso substantivo feminino (a crise). Nunca antes na história desse planeta, o Brasil teve uma presidenta, o FMI elegeu uma diretora-geral e as nações muçulmanas viram tanta contestação feminina. Na Europa, a chanceler alemã Angela Merkel se colocou à frente de uma operação para limpar a sujeira deles: gregos, italianos e espanhóis. Na Argentina, Cristina Kirchner renovou seu mandato com uma dianteira sem paralelo em mais de quatro décadas.

O Brasil bateu o recorde de ministras (uma de cada três ministros de um governo que também alcançou o ápice de 38 ministérios). Na esfera da Justiça, a ministra Eliana Calmon, do STJ, enfrentou o presidente do Supremo Tribunal Federal pelo direito de processar juízes no Conselho de Justiça. E na chefia da Polícia Civil, o Rio de Janeiro ganhou uma delegada de batom, salto alto e nome de miss: Martha Rocha. Na esteira do apagão de mão de obra, elas invadiram territórios outrora destinados exclusivamente a brasileiros: a construção civil, os estaleiros, a marinha mercante.

A história, contudo, também desfez outros mitos contumazes, como o de que o poder feminino é sensível, honesto, ponderado, tolerante. A presidenta Dilma Rousseff mostrou-se capaz de degolas sumárias de ministros e proliferaram as versões de que seus auxiliares se dividem em dois grupos: os que já ouviram palavras duras (e algumas vezes em tom elevado) e os que estão loucos para ouvi-las, tão pouco é o espaço que conseguem na agenda presidencial. Palavras duras também saíram da boca da chanceler da Alemanha na direção de gregos e italianos.

O mito da honestidade do poder feminino veio abaixo com a sucessão de primeiras-damas de municípios brasileiros denunciadas pelo Ministério Público por corrupção e outras falcatruas com o dinheiro público.

Em 2011, São Paulo viu a ascensão de uma gangue inédita -- liderada por adolescentes de rua, roubava motoristas e comerciantes de um bairro nobre da cidade. A retomada dos morros cariocas pelo poder público desnudou a influência das mulheres do tráfico.
A ficção foi em busca da realidade ao colocar duas protagonistas na novela das 9 da Globo. Uma é trabalhadora, honesta, dedicada aos filhos e fica rica num golpe de sorte ao ganhar na loteria. Representa a classe emergente do Brasil, de lares liderados por mulheres. A outra é o estereótipo da rica, preconceituosa e mentirosa – e certamente é coincidência qualquer semelhança entre ela e uma certa elite que mereceria ser punida por sua vilania.

O ano do poder feminino é a confirmação de um processo iniciado por outras gerações que acreditaram na igualdade de direitos e competências. As histórias de 2011 mostram que ele resultou num mundo menos utópico do que o sonhado pelas feministas de antigamente -- mas também que essa é uma transformação ainda distante de estar completa.
http://ultimosegundo.ig.com.br/retrospectiva/2011-o-ano-do-poder-das-mulheres/n1597390825059.html

Fonte: Portal iG

domingo, 25 de dezembro de 2011

Por um Natal sem neve na TV

Quem mantém as TVs comerciais são os anunciantes. Mas, apesar disso, as emissoras poderiam ter um pouco mais de criatividade. Não há Natal na TV brasileira sem a milésima reprise do filme “Esqueceram de mim”, com neve em quase todas as cenas ou sem o indefectível “especial”, sempre com o mesmo cantor.

Por Laurindo Lalo Leal Filho, na Carta Maior*

O final de ano na TV é sempre previsível. A propaganda cresce e os programas se repetem. São filmes com muita neve, os mesmos musicais e as infalíveis resenhas jornalísticas.

A televisão no Brasil não dita apenas hábitos, costumes e valores mas também o ritmo de vida da maioria da população. Nos dias úteis com seus horários para “donas de casa”, crianças e adultos e nos fins de semana, com uma programação diferenciada, supostamente mais adaptada ao lazer.

Mas não fica ai. A TV organiza também as comemorações das efemérides ao longo do ano, das quais o ponto alto é o Natal. Com muita antecedência saltam da tela canções da época e muita propaganda, criando clima para o “espírito natalino”.

As crianças são o alvo principal da publicidade. Se já são bombardeadas com apelos de compra o ano todo, no Natal a pressão cresce.

Apresentadoras joviais e alegres conquistam a confiança dos pequenos telespectadores com seus dotes artísticos para, em seguida, atraí-los para as compras, no mais das vezes, desnecessárias. Da classe média para cima é comum ver crianças com brinquedos pouco ou nada usados, comprados apenas como resposta aos apelos publicitários.

Mas a TV não está só nas casas de quem pode comprar. Hoje ela é um bem universalizado no Brasil, advindo dai a sensação de exclusão sofrida por crianças cujas famílias estão impossibilitadas de satisfazer seus desejos. Esse desconforto resulta da crença de que o consumo é um valor em si, substituto da cidadania. Só é cidadão quem consome.

“O que singulariza a grande corporação da mídia é que ela realiza limpidamente a metamorfose da mercadoria em ideologia, do mercado em democracia, do consumismo em cidadania” diz o professor Octávio Ianni no “Príncipe Eletrônico”, artigo que se tornou referência para a discussão do papel político da comunicação nas sociedade modernas.

No Natal a metamorfose atinge o auge e segue até a virada do ano. As mercadorias ganham vida na TV e estão à disposição para satisfazer todos os nossos desejos, o mercado oferece democraticamente a todos os mesmos produtos e ao consumi-los exerceríamos nossos direitos de cidadãos. São falácias muito bem embaladas em luz, cores e sons sedutores.

As regras do jogo são essas. Quem mantém as TVs comerciais são os anunciantes. Mas, apesar disso, as emissoras poderiam ter um pouco mais de criatividade. Não há Natal na TV brasileira sem a milésima reprise do filme “Esqueceram de mim”, com neve em quase todas as cenas ou sem o indefectível “especial”, sempre com o mesmo cantor.

Dessa mesmice nem o jornalismo escapa. As chamadas resenhas de final de ano não são mais do que colagens em forma de “clips”, usadas mais para reviver sustos já sofridos pelo telespectador do que para informar. Em determinado ano, que pode ser qualquer um, o apresentador famoso abria a resenha na principal rede de TV exclamando: “um ano de arrepiar em todo o planeta. Incêndios, terremotos, furacões”. E dá-lhe imagens espetaculares que, de notícia, pouco tem.

Podia ser diferente? Claro que sim. Poderíamos ter na TV um Natal mais brasileiro e um final de ano criativo (com a publicidade mais controlada). Realizadores não faltam, o que faltam são oportunidades para mostrarem seus trabalhos. Mais de 200 deles apresentaram pilotos de programas no Festival Internacional de Televisão, realizado em novembro no Rio. Não haveria ai gente capaz de tirar a televisão da rotina desta época?

Criatividade é o que não falta na produção audiovisual brasileira. Precisamos é de ousadia para mostrá-la ao público oferecendo bens culturais capazes de enriquecê-lo espiritualmente. Ou como dizia um diretor da BBC, a melhor TV do mundo: “temos a obrigação de despertar o público para idéias e gostos culturais menos familiares, ampliando mentes e horizontes, e talvez desafiando suposições existentes acerca da vida, da moralidade e da sociedade. A televisão pode, também, elevar a qualidade de vida do telespectador, em vez de meramente puxá-lo para o rotineiro”.

Belo desafio, não? Feliz Natal.

(*) Artigo públicado originalmente na edição de dezembro da Revista do Brasil.

*Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Fonte: Carta Maior

sábado, 24 de dezembro de 2011

Contradições do Natal.Do menino Jesus ao consumismo desenfreado

*Reinaldo Canto,Reinaldo Canto escreve sobre o estresse das compras de fim de ano. Foto:José Cruz/ABr

Qual será o real símbolo do Natal? O presépio em celebração ao nascimento de Jesus Cristo ou a profusão de sacolas de compras que algumas pessoas mal conseguem carregar?

Seriam as canções tradicionais, a trilha essencial do Natal ou os jingles comerciais e as vozes dos locutores nos centros de compras anunciando mais uma oferta “imperdível”?

São questões de fácil resposta. Basta observar as lojas entupidas de pessoas entregues a busca desenfreada por produtos e quinquilharias de todos os gêneros e preços.

Graças a esse estado de coisas, as nossas cidades são testemunhas do arrefecimento nas condições do tráfego, as metrópoles sentem uma piora considerável no trânsito já caótico e os cristãos, ou melhor dizendo, consumidores, de tão ávidos, ansiosos e impacientes para se livrar da tarefa de aquisição de produtos, se tornam agressivos e muitas vezes irracionais.

Do ponto de vista da sustentabilidade, esse é um momento bastante preocupante. Difícil estabelecer qualquer critério de consumo consciente quando o que importa é preencher a lista de compras. Nesse caso os produtos são escolhidos sem muita reflexão e o fato de consumir de empresas social e ambientalmente responsáveis e até mesmo algo que seja prejudicial à própria saúde humana fica relegado a um triste segundo ou terceiro plano. Nessa hora, o que importa é, simplesmente, comprar!
Essa época do ano deveria ser propícia ao congraçamento, à paz e a harmonia entre os homens, afinal representam algumas das bases defendidas pelo Cristianismo. Ao invés disso, somos inundados por um clima estressante e até mesmo beligerante. E, ao mesmo tempo em que se escolhem os melhores presentes para entes queridos, também é preciso achar algo para aqueles “não tão queridos” para dizer o mínimo. Do cunhado insuportável à sogra ranzinza, ao colega de trabalho pouco colaborativo, todos devem ser contemplados. Afinal, as convenções têm de ser respeitadas independentemente da vontade e do comprometimento financeiro advindos dessas despesas.

Consumo Consciente do Dinheiro e do Crédito

Até mesmo aqueles que durante todo o ano buscam manter o controle de suas contas e, dessa maneira, deixar a vida financeira gozando de boa saúde, ao chegar dezembro abandonam todo esse esforço e bom senso. Pois entram em cena as “inadiáveis e urgentes” compras de Natal!

Muita gente se torna refém de uma engrenagem de consumo insana e me parece distante do próprio espírito do Natal. Alguns poderão alegar, em defesa dessa tradição, a cena dos três Reis Magos adentrando a manjedoura para deixar suas oferendas em homenagem ao nascimento do menino Jesus. Mas pelo que se conhece dessa história bíblica, isso foi só quando Ele nasceu, e não temos registro de novos regalos oferecidos pelos Reis Magos ao longo dos 33 anos de existência terrena de Jesus Cristo.

Difícil ir contra a corrente quando a própria presidenta Dilma Rousseff apelou aos brasileiros para irem às compras e dessa maneira manter o mercado aquecido.
Mas será mesmo não ser possível outro comportamento? Faltam poucos dias para o Natal, a maior parte das compras já foi realizada, mas é sempre bom lembrar que consumir conscientemente é, entre outras coisas, evitar os exageros, as compras por impulso, optar pelos produtos de empresas social e ambientalmente responsáveis e sempre que possível evitar o uso das desnecessárias embalagens.

É importante lembrar também que muitas vezes o simples encontro entre pessoas que se gostam e sinceras demonstrações de amor, carinho e amizade são suficientes para preencher o espaço de um presente.
Tenha certeza que, no longo prazo, a sustentabilidade humana no planeta depende mais do afeto entre as pessoas do que de um mercado aquecido! Que tal propor um amigo secreto?

Pelo sim ou pelo não, com ou sem presentes desejo a todos um Feliz Natal e um ótimo 2012!

Fonte:Carta Capital

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2011, o ano em que a mídia demitiu ministros. 2012, o ano da Privataria.

A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.
*Maria Inês Nassif

Em 2005, quando começaram a aparecer resultados da política de compensação de renda do governo de Luiz Inácio Lula da Silva – a melhoria na distribuição de renda e o avanço do eleitorado “lulista” nas populações mais pobres, antes facilmente capturáveis pelo voto conservador –, eles eram mensuráveis. Renda é renda, voto é voto. Isso permitia a antevisão da mudança que se prenunciava. Tinha o rosto de uma política, de pessoas que ascendiam ao mercado de consumo e da decadência das elites políticas tradicionais em redutos de votos “do atraso”. Um balanço do que foi 2011, pela profusão de caminhos e possibilidades que se abriram, torna menos óbvia a sensação de que o mundo caminha, e o Brasil caminha também, e até melhor. O país está andando com relativa desenvoltura. Não que vá chegar ao que era (no passado) o Primeiro Mundo num passe de mágicas, mas com certeza a algo melhor do que as experiências que acumulou ao longo da sua pobre história.

O perfil político do governo Dilma é mais difuso, mas não se pode negar que tenha estilo próprio, e sorte. As ofensivas da mídia tradicional contra o seu ministério permitirão a ela, no próximo ano, fazer um gabinete como credora de praticamente todos os partidos da coalizão governamental. No início do governo, os partidos tinham teoricamente poder sobre ela, uma presidenta que chegou ao Planalto sem fazer vestibular em outras eleições. Na reforma ministerial, ela passa a ter maior poder de impor nomes do que os partidos aliados, inclusive o PT. Do ponto de vista da eficiência da máquina pública – e este é o perfil da presidenta – ela ganha muito num ano em que os partidos estarão mais ocupados com as questões municipais e em que o governo federal precisa agilidade para recuperar o ritmo de crescimento e fazer as obras para a Copa do Mundo.

Sorte ou arte, o distanciamento de Dilma das denúncias contra os seus ministros, o fato de não segurar ninguém e, especialmente, seu estilo de manter o pé no acelerador das políticas públicas independentemente se o ministro da pasta é o candidato a ser derrubado pela imprensa, não a contaminaram com os malfeitos atribuídos a subalternos. Prova é a popularidade registrada no último mês do ano.

Mais sorte que arte, a reforma ministerial começa no momento em que a grande mídia, que derrubou um a um sete ministros de Dilma, se meteu na enrascada de lidar com muito pouca arte no episódio do livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Passou recibo numa denúncia fundamentada e grave. Envolve venda (ou doação) do patrimônio público, lavagem de dinheiro – e, na prática, a arrogância de um projeto político que, fundamentado na ideia de redução do Estado, incorporou como estratégia a “construção” de uma “burguesia moderna”, escolhida a dedo por uma elite iluminada, e tecida especialmente para redimir o país da velha oligarquia, mas em aliança com ela própria. Os beneficiários foram os salvadores liberais, príncipes da nova era. O livro “Cabeças de Planilha”, de Luís Nassif, e o de Amaury, são complementares. O ciclo brasileiro do neoliberalismo tucano é desvendado em dois volumes “malditos” pela grande imprensa e provado por muitas novas fortunas. Na teoria. Na prática, isso é apenas a ponta do iceberg, como disse Ribeiro Jr. no debate de ontem (20), realizado pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, no Sindicato dos Bancários: se o “Privataria” virar CPI, José Serra, família e amigos serão apenas o começo.

A “Privataria” tem muito a ver com a conjuntura e com o esporte preferido da imprensa este ano, o “ministro no alvo”. Até a edição do livro, a imprensa mantinha o seu poder de agendamento e derrubava ministros por quilo; Dilma fingia indiferença e dava a cabeça do escolhido. A grande mídia exultou de poder: depois de derrubar um presidente, nos anos 90, passou a definir gabinetes, em 2011, sem ter sido eleito e sem participar do governo de coalizão da mandatária do país. A ideologia conservadora segundo a qual a política é intrinsicamente suja, e a democracia uma obra de ignorantes, resolveu o fato de que a popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizimou a oposição institucional, em 2010, e a criação do PSD jogou as cinzas fora, terceirizando a política: a mídia assumiu, sem constrangimentos, o papel de partido político. No ano de 2011, a única oposição do país foi a mídia tradicional. As pequenas legendas de esquerda sequer fizeram barulho, por falta de condições, inclusive internas (parece que o P-SOL levou do PT apenas uma vocação atávica para dissidências internas; e o PT, ao institucionalizar-se, livrou-se um pouco dela – aliás, nem tanto, vide o último capítulo do livro do Amaury Ribeiro Jr.).

Quando a presidenta Dilma Rousseff começar a escolher seus novos ministros, e se fizer isso logo, a grande mídia ainda estará sob o impacto do contrangimento. Dilma ganhou, sem imaginar, um presente de Papai Noel. A imprensa estará muito menos disposta a comprar uma briga durante a CPI da Privataria – quer porque ela começa questionando a lisura de aliados sólidos da mídia hegemônica em 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, quer porque esse tema é uma caixinha de surpresas.

Isso não chega a ser uma crise que a democracia não tenha condições de lidar. Na CPI dos Anões do Orçamento, que atingiu o Congresso, os partidos viveram intensamente a crise e, até por instinto de sobrevivência, cortaram na própria carne (em alguns casos, com a ajuda da imprensa, jogaram fora a água da bacia com alguns inocentes junto). A CPI pode ser uma boa chance de o Brasil fazer um acerto com a história de suas elites.

E, mais do que isso, um debate sério, de fato, sobre um sistema político que mantém no poder elites decadentes e é facilmente capturado por interesses privados. Pode dar uma boa mão para o debate sobre a transparência do Estado e sobre uma verdadeira separação da política e do poder econômico. 2012 pode ser bom para a reforma política, apesar de ter eleições municipais. Pode ser o ano em que o Brasil começará a discutir a corrupção do seu sistema político como gente grande. Cansou essa brincadeira de o tema da corrupção ser usado apenas como slogan eleitoral. O Brasil já está maduro para discutir e resolver esse sério problema estrutural da vida política brasileira.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Falando francamente sobre consumo e consumismo

* Vilmar Berna*, do Portal do Meio Ambiente

Somos, por natureza, seres consumidores e estamos no topo da cadeia alimentar. Logo, consumir é nosso destino natural, o problema são os excessos. Excesso de gente, que já está demais e que continua se multiplicando globalmente, embora se reduza em diversos países e regiões. Cada boca que nasce demanda por mais recursos naturais, que não são infinitos. Mas existe um excesso ainda pior, o da desigualdade social, que permite que uns poucos possam se apropriar de mais recursos que a maioria, ou seja, não adiantará muito diminuir o excesso de gente sem também diminuir a ganância.

O mundo atual se construiu em torno da falsa ideia de que o mercado será capaz de suprir as necessidades humanas, a ponto de aceitarmos a organização da sociedade em classes sociais em função do poder de consumo. Quem pode consumir muito pertence às classes altas, os remediados, à classe média, e os pobres, às classes baixas. A reboque do conceito do poder aquisitivo surge quase que naturalmente a falsa noção de que os que têm muito são mais importantes e têm mais direitos do que os que não têm, e isto é absolutamente falso, pois somos todos iguais em dignidade e direitos. O mercado só consegue ser solução para os que têm dinheiro. Para os demais, é preciso políticas públicas.

O problema não está só no colapso ambiental, mas no colapso ético e moral que nos põe em risco enquanto humanidade e civilização muito antes de desaparecermos enquanto espécie. Se as pessoas aceitarem a ideia de uma sociedade que valoriza o dinheiro acima dos valores humanos, acumular riquezas pode se tornar um fim em si mesmo em vez de meio de vida, aliás, a própria ideia de vida pode se empobrecer a ponto de se resumir a produzir numa ponta e consumir na outra. Bem longe da ideia de viver em abundância e plenamente. Em vez de nos tornarmos mais solidários e cultivarmos bons valores e a cidadania, acabaremos valorizando muito mais o individualismo, o materialismo, a competição desmedida, a insensibilidade com os menos favorecidos.

E tudo isso baseado numa mentira, a de que se todos alcançarem os mesmos padrões de consumo dos mais ricos, será possível haver recursos naturais para todos. Fazer com que todos acreditem nesta mentira é conveniente para os que dominam e controlam os recursos e as riquezas, pois em vez de pedir por mudanças, as pessoas vão querer que tudo continue como está, na esperança de que um dia chegará a sua vez e que só não chegou ainda por que não foram capazes ou merecedores o suficiente. Não é de se admirar que seja tão difícil ser sustentável e compatibilizar progresso e meio ambiente.

Mas não é impossível. Não só outro mundo é possível como já vemos por todos os lados os sinais dessa mudança. Por mais que alguns gostem de se iludir com falsas promessas de consumo, eles percebem os sinais de esgotamento do Planeta. Um novo mundo já está nascendo do velho mundo, e o que assistimos são as dores do parto.
Precisamos é de coragem para persistir nos caminhos da mudança e valorizar escolhas diferentes das que trouxeram a humanidade à beira do colapso.

Não temos que comprar tudo o que vemos nas prateleiras. Não temos de acreditar em tudo o que se diz nas propagandas e devemos duvidar das informações tendenciosas, mentirosas, e de manipuladores. Não temos que seguir a moda e descartar um produto que ainda serve. Não precisamos de nenhum bem de consumo para amar e sermos amados, ou para sermos felizes, ou para nos sentirmos importantes e reconhecidos socialmente.
Da mesma maneira que temos a liberdade de consumir o que nosso dinheiro ou crédito a perder de vista nos permite, também temos a liberdade de recusar o consumo desperdiçador de recursos. Podemos escolher consumir criteriosamente, apenas para atender a necessidades objetivas e realmente necessárias, preferir produtos socioambientalmente responsáveis, recicláveis, que fortaleçam as cadeias produtivas locais e a criatividade de nossos trabalhadores e artesãos. Podemos consumir de maneira planejada em vez de agir por impulso. Temos o poder de dizer sim e também de dizer não. Somos nós o poder do mercado.

Não foi o consumismo que nos fez assim. Ele apenas aproveitou a oportunidade por sermos assim e encheu as lojas e prateleiras e nossos sonhos e desejos de bugigangas e objetos, que no final podem nem ser tão importantes para vivermos uma vida plena e feliz.

Os inimigos não estão fora de nós. Para resolvermos a crise socioambiental em que nos metemos, teremos de ter a coragem de admitir que somos uma parte importante do problema – e também da solução.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita, deste janeiro de 1996, a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.
Fonte: Envolverde