Quem sou eu

Minha foto
"Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não será publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....

sábado, 31 de março de 2012

Como são as tradições de casamento na cultura cigana

Vestido vermelho, "pacto de sangue" e prova de virgindade: há diferentes ritos para celebrar o matrimônio entre ciganos, com costumes típicos em cada grupo

Bronzeamento artificial, vestidos com cristais e tecidos caros e festas extravagantes para muitos convidados. “Meu Grande Casamento Cigano”, novo programa do canal por assinatura TLC (sábados, 21h00), mostra cenas de casamentos luxuosos e atuais. Mas a história das tradições dos clãs é um pouco diferente.

Com cristais e tecidos caros e festas extravagantes para muitos convidados. “Meu Grande Casamento Cigano”, novo programa do canal por assinatura TLC (sábados, 21h00), mostra cenas de casamentos luxuosos e atuais. Mas a história das tradições dos clãs é um pouco diferente.

Foto: Divulgação/"Meu Grande Casamento Cigano": tradições e extravagância no programa de televisão

De acordo com Nicolas Ramanush, presidente da Embaixada Cigana do Brasil Phralipen Romani, não é possível falar em um só casamento cigano típico. Cada grupo cultiva crenças e hábitos particulares e o casamento reflete as múltiplas facetas desta rica cultura.

Rodrigo Valenzuela, da Família Valenzuela, representante da cultura cigana em São Paulo, também explica que cada grupo tem uma tradição. “Principalmente porque eles adotam um pouco dos costumes locais da região em que estão”, conta. Com a miscigenação, alguns costumes mais tradicionais foram se adequando à cultura brasileira. Mas há casamentos que ainda resgatam a tradição cigana.

Foto: Arquivo pessoal/Jovanka e Rodrigo no casamento...

Foto: Arquivo pessoal/... e na festa: tradições variadas

“No Brasil, o grupo de ciganos predominante é representado pelos Calon, seguido pelos clãs Rom e Sinte”, afirma Nicolas. Entre os Calon, é tradição o casamento arranjado pelos pais dos jovens. “Já no clã ao qual eu pertenço, Sinte, temos a seguinte tradição: ‘sequestrar a garota’ e depois retornar para a aceitação e bênçãos dos familiares”, conta.

União entre famílias

Como o casamento Calon é planejado pelos pais do casal, é comum que os futuros noivos não se conheçam. “Desde jovens, as noivas são prometidas a seus futuros maridos”, afirma Jovanka Valenzuela, mulher de Rodrigo. O casamento é a representação oficial da união entre as famílias.

A cerimônia e a festa de casamento ciganas também são um pouco diferentes das brasileiras. Para os Calon, as festas duram três dias.
No primeiro dia, a noiva é apresentada aos familiares dos noivos, com um almoço ou jantar. No dia seguinte, ocorre a cerimônia de casamento, na religião à escolha dos noivos. “A festa começa no terceiro dia e pode durar até uma semana”, acrescenta Jovanka.

Vestido vermelho

Como ainda acontece em países como a Índia, segundo Nicolas Ramanush, é tradição a noiva vestir-se de vermelho. “A cor vermelha no vestido simboliza a paixão, o amor e a energia que a vida de casada irá demandar. Alguns clãs, aqui no Brasil e no mundo, ainda praticam esse ritual”, completa Nicolas.

Foto: Tanya Kotova/Casamento cigano na Romênia: mulheres da família preparam a noiva

Por uma influência do ritual religioso católico, outros grupos, como os Calon, adotaram os trajes na tradicional cor branca.

Outro costume antigo é exibir aos demais membros da comunidade, após a noite de núpcias, a prova da virgindade. “A noiva deita-se sob a camisa branca do noivo, que pela manhã exibe a mesma manchada de sangue”, relata Nicolas.

Os descendentes Calon também cultivam a tradição do corte no punho dos noivos. “É feito um corte no pulso esquerdo de cada um dos noivos, que juntarão os braços, simbolizando a união”, descreve Jovanka Valenzuela.


Serviço

Meu Grande Casamento Cigano
No canal por assinatura TLC (Travel & Living Channel), às segundas-feiras, 21h00.
GVT: canal 78 (HD)
SKY: canal 235 (HD)
TVA: canal 392
NET: canal 552 (HD)
Via Embratel: canal 607 (HD)
Telefônica TV Digital: canal 837 (HD)
TVN: canal 458 (HD)

Fonte: Portal iG

sexta-feira, 30 de março de 2012

Um Violinista no Telhado

Mona Dorf

O violinista é um nome, uma figura que lembra a pintura de Chagall, onde os personagens parecem flutuar entre a realidade, o sonho e o céu.

” É a possibilidade de você se equilibrar, de você fazer a arte, quando tudo está ruindo ao seu redor, o musical fala de tolerância, convivência… Até que ponto voce pode ceder em relação ao outro”, comenta Charles Möeller.

Baseado nos tradicionais contos judaicos de Sholom Aleichem, ‘Um Violinista no Telhado’ estreou na Broadway em 1964, com música de Jerry Bock e Sheldon Harnick, imortalizando canções com If I were a rich man mundo afora. Depois da bem sucedida temporada carioca, chega aso palcos paulistanos.

A reeinvenção de José Mayer

Atuar em ‘Um Violinista no Telhado’ é uma prova de fogo para qualquer ator, o personagem – o patriarca Tevye - exige um intérprete carismático, que equilibre técnica vocal e carisma. José Mayer já tinha feito antes dois musicais, um deles com Aderbal Filho, o ator tem tido há três anos aula de canto, mas sabia que havia um belo desafio pela frente: ” Obsessão é a marca do meu trabalho, mas ganhei um presente ao poder fazer esse musical, com uma companhia que prima pelo capricho, esmero, acabamento”, falando da Conteúdo Teatral, de Isser Korick e Leo Steinbruck, que produz o musical.

Parece que o ator nasceu talhado para o papel. E como canta!

José Mayer e a tradição…



A história

Tevye (José Mayer) entra em atrito com as três filhas mais velhas, Tzeitel (Rachel Rennhack), Hodel (Malu Rodrigues/Karina Mathias) e Chava (Julia Fajardo), que desafiam a tradição judaica, ao rejeitar os casamentos arranjados e adotar comportamentos “modernos” para o padrão religioso da pequena aldeia onde vivem. Ao lado da esposa Golda, (Soraya Ravenle), ele tenta conciliar os conflitos familiares.
Sem nunca perder o bom humor, Tevye lida à sua maneira com os problemas. Pensa alto, ri de si mesmo e conversas com Deus. O mais duro é driblar a esposa! A cena do sonho com a sogra que está morta, que relata para a mulher, como prenúncio de que o casamento não vai dar certo é impagável.

Além de conciliar a tradição com os novos tempos e a realidade das filhas casadoiras rebeldes, outro problema aflige a pequena comunidade de Anatevka: a hostilidade de grupos russos anti-semitas do Czar que começam a tumultuar o cotidiano das famílias. Os progroms - perseguições ás populações judaicas da Europa oriental – eram muito comuns no começo do século e duraram até as grandes guerras.

A vida em Anatevka podia ser pobre e difícil, mas era muito animada, com muita fofoca nos ghettos, música e dança. A dança da garrafa é hit da coreografia do musical e mostra a influência dos passos russos no repertório judaico.

A dança da garrafa é um tour de force para os atores/dançarinos



Entre rezas e festas tradicionais, celebrações de shabat e de casamentos, uma vitrine dos costumes judaicos

Na fictícia aldeia judaica de Anatevka, no interior da Rússia vivem moradores típicos, como o rabino, a casamenteira, o açougueiro, o mendigo e o forasteiro que chega para revolucionar os costumes seculares da aldeia.

Para vivê-los, o elenco participou de um workshop com Michel Gherman, mestre em História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, e o ator e pesquisador Claudio Erlichman.

O produtor Isser Korik, da Conteúdo Teatral, discorreu sobre o significado religioso de cada costume judaico retratado no espetáculo: “O que os mantém juntos é a tradição. Eles poderiam ter desaparecido, mas não aconteceu por causa, do amor maior à família, à tradição e aos rituais. É muito bonito falar disso num musical que é um ícône da cultura.
Charles Möeller e Isser Korich falam da riqueza do musical


Canções bem-humoradas como ‘If I Were a Rich Man’, se misturam com outras mais líricas como ‘Do you Love Me?’ e ‘Sunrise, Sunset’, um dos grandes momentos, ainda que estranhamos vê-las cantadas nas versões em português.

É que ‘Um Violinista no Telhado’ tem uma longeva trajetória ao redor do mundo, no palco e no cinema. Na época da estreia, bateu recorde de permanência, ficou quase oito anos em cartaz. Teve dez indicações ao Tony, e venceu em nove categorias. A montagem londrina de 1967 consagrou o ator israelense Chaim Topol como Tevye, personagem que ele viveu também no filme (‘Fiddler on the Roof’, 1971) e até hoje segue em turnê pelos Estados Unidos.

A coreografia original de Jerome Robbins foi recriada aqui por Janice Botelho. O cenário é de Rogério Falcão, os figurinos de Marcelo Pies.

Teatro Alfa
Temporada de 16 de março a 15 de julho
R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 – Santo Amaro
Quintas, às 21h. Sextas, às 21h30. Sábados, às 17h (a partir de abril) e 21h. Domingos, às 17h.

Fonte: Portal iG

quinta-feira, 29 de março de 2012

Livro ‘A Visita Cruel do Tempo’ une erudito e pop com elegância e criatividade

Thiago Ney

Finalmente terminei “A Visita Cruel do Tempo”, de Jennifer Egan. “Finalmente” não porque tenha demorado para ultrapassar suas 335 páginas (não levei nem três dias, o que para mim é BEM rápido, acredite), mas porque criminosamente havia demorado para começá-lo (o livro ganhou edição brasileira na segunda metade de janeiro).

“A Visita Cruel do Tempo” é um dos melhores livros que já li – me faz ter vergonha de escrever até no Twitter. Como alguém consegue construir uma narrativa de forma tão elegante, criativa, com personagens tão vivos em uma história tão bem amarrada?



Egan costura erudição com linguagem pop; contrapõe episódios melancólicos com passagens de humor preciso; vai e volta no tempo de maneira fluida, sem tropeços. Seus recursos parecem infinitos – usa até desenhos em esquema Powerpoint. O narrador aparece em primeira, em segunda e em terceira pessoas, e cada capítulo nos envolve a partir do ponto de vista de um dos personagens.

Dá para dizer que os principais são Bennie Salazar, ex-punk que montou um selo de música; e Sasha, assistente de Bennie que sofre de cleptomania. Mas tem mais: tem Lou, espécie de mentor de Bennie; tem Scotty. Jocelyn, Rhea e Alice, amigos de adolescência de Bennie; tem a assessora de imprensa Dolly e sua filha, Lulu.

Passeamos pela história desses personagens durante algumas décadas, indo e voltando, viajando de Nova York à África, passando por Nápoles.

Não é à toa que Jennifer Egan cita “Pulp Fiction”, “Os Sopranos” e “Em Busca do Tempo Perdido” como influências. “A Visita Cruel do Tempo” pode ser encarado como várias histórias que se fecham em si (como “Pulp Fiction”); seus protagonistas são assustadoramente humanos e densos (como em “Sopranos”); e (como no clássico de Proust) faz uma reflexão sobre como o tempo muda (ou não) os personagens.

Jennifer Egan ganhou o Pullitzer por este romance. A HBO já comprou os direitos para criar uma série. Desde “Um Dia” não lia um livro tão espetacular. Com a diferença que “A Visita Cruel do Tempo” é ainda melhor.

Fonte: Portal iG

quarta-feira, 28 de março de 2012

Conheça Florença de bicicleta!

Acervo pessoal

Cidade berço do renascimento italiano oferece uma excelente rede de vias para quem escolher a bicicleta como transporte

Florença figura facilmente como um dos maiores centros de arte e cultura do mundo. Berço do Renascimento italiano, com prédios de arquitetura impressionante, a capital da região italiana da Toscana também pode ser um excelente roteiro para pedalar, com ruas planas e ciclovias bem sinalizadas.

O trânsito em duas rodas é tão comum na cidade, que grande parte dos hotéis locais oferecem gratuitamente bicicletas aos seus hóspedes. Se o seu hotel não oferece este serviço, alugar uma “magrela” por lá também é bem fácil. Diversos pontos de Florença têm lojas que oferecem aluguel de bikes. A locação por 12 horas sai cerca de R$ 15.

Com mais de mil anos de existência, Florença tem vias mais antigas que o nosso Brasil. De tão antigas, são ruas estreitas e sinuosas, nada adequadas para os carros e ônibus, mas perfeitas para o trânsito de bicicletas, que circulam com desenvoltura pela atmosfera renascentista da cidade.

Ponte Vecchio é um ótimo ponto de partida para iniciar uma rota por Florença


Um bom lugar para começar a pedalar é na Ponte Vecchio, um lindo arco medieval sobre o Rio Arno, no centro da cidade. Saindo da ponte pela margem esquerda, vá em direção à Galleria degli Uffizi, um museu que guarda preciosidades como o quadro “O Nascimento de Vênus" de Botticelli.

Saindo da Uffizi, siga rumo ao Jardim Boboli usando a Via Costa San Giorgio, prossiguindo pelas vias de San Leonardo, Galileo e Michelangelo. Quando chegar novamente ao Rio Arno, acompanhe a margem até voltar novamente à ponte. Com este percurso, você terá percorrido por volta de 5km.

Além desta rota pelas ruas, você pode usar as ciclovias da cidade para fazer um percurso customizado. No site Florence Bike Pages é possível encontrar todas as vias exclusivas para bicicletas na cidade. Escolha a que mais agrada e descubra o prazer de pedalar em Florença.
Fique esperto!

• Pedalar no centro de Florença exige cuidado, já que o piso de boa parte das ruas é feito de pedras irregulares

• Janeiro e fevereiro são os únicos meses do ano não indicados para os ciclistas. O inverno castiga e a temperatura se aproxima de 0ºC

• Infelizmente, o roubo de bicicletas é bem comum em Florença. Certifique-se que a sua esteja presa ao um bom cadeado quando precisar deixá-la estacionada

• Controle sua velocidade, as ruas do centro da cidade são estreitas e sinuosas. Neste caso, pode ser difícil frear quando surgir um obstáculo

Boas pedaladas:
Localização: Itália/Florença
Horário: livre
Transporte: ônibus (confira as linhas no site do sistema de transportes local)
Fonte: Portal iG

segunda-feira, 26 de março de 2012

Barcelona "movida"

Acervo pessoal

Bela e movimentada, a orla da capital catalã é passeio obrigatório para quem não gosta de ficar parado


Foto:SergiLarripa/Wikimedia Commons

Os deques oferecem uma boa visão do Mar Mediterrâneo
Se há um lugar na Europa onde não se encontra dificuldade para correr ou caminhar é Barcelona. Primeira cidade do continente europeu a ter um plano estratégico voltado ao esporte, a capital catalã conta com locais bem equipados para exercitar as pernas e todo o corpo, como os parques de Montjuic e Collserolla.

Além deles, quem está na cidade a trabalho ou a passeio não pode deixar dar uma caminhada pela badalada orla local, com destaque para as praias Sant Sebastián e Barceloneta. Esses dois trechos e todo litoral da capital catalã são intensamente frequentados pelos turistas e moradores da cidade.

Além de admirar a bela vista do Mar Mediterrâneo, correr ou caminhar nas praias catalãs é vantajoso pela estrutura que elas oferecem. Os esportistas têm à disposição equipamentos de ginástica, bebedouros, vestiários, duchas, postos de informações e quiosques que vendem bebidas geladas.

Foto: Sergi Larripa/Wikimedia Commons

Amplos, os calçadões da orla de Barcelona são um convite a caminhada
Os calçadões à beira mar são amplos e convidativos. O único senão é que eles também são os favoritos de ciclistas e patinadores, o que exige muita atenção para não ser atropelado por algum desatento.

Praias vizinhas, Sant Sebastián e Barceloneta formam um bom percurso para quem quer caminhar por meia hora sem apertar muito o passo. Do começo da primeira até o final da segunda, você percorre cerca de 2km. Se decidir correr, gastará menos tempo, dependendo do fôlego e da empolgação. Enquanto faz esse trecho, você pode admirar grandes atrações do lugar, como as Torres de Sant Sebastián e Marenostrum, o Hotel Arts Barcelona e o Porto Olímpico.

Quem estiver com disposição, pode correr trechos mais longos. Por exemplo, partir de Sant Sebastián, passar pelas praias de Barceloneta, Nova Icária e terminar em Bogatell, totalizando 3km. O percurso pode chegar a 4 km se você incluir mais duas, Mar Bella e Nova Mar Bella. Para que costuma correr ou caminhar longas distâncias a sugestão é fazer um “bate-e-volta”, totalizando 8km. A boa forma e a saúde agradecem.
Seja qual for a rota escolhida, a melhor maneira ir até qualquer ponto da orla de Barcelona é de metrô, existem estações próximas de todas as praias.

Fonte: Portal iG

Amsterdã: uma cidade em duas rodas

Acervo pessoal

Ciclovias da cidade têm placas específicas para orientar o tráfego de bicicletas

Assim como as famosas tulipas e os canais, as bicicletas podem tranquilamente fazer parte de qualquer cartão-postal de Amsterdã. Elas estão em todo canto na cidade.
É um verdadeiro exército de “magrelas” – e isso não é uma força de expressão, não– a estimativa é que circulem mais de 700 mil delas pelas ruas da capital holandesa, representando espantosos 37% do tráfego total na cidade.

Os nativos usam as bicicletas não apenas para lazer e exercícios. É comum ver homens engravatados e mulheres empetecadas, muitas de salto alto, pedalando em direção ao trabalho. A paixão pelas bikes também não tem idade. Nos 400 km de ciclovias de Amsterdã, circulam adultos, velhos, jovens e crianças.

Com todo esse ambiente tão amigável às duas rodas, fica irresistível pedalar ao visitar à terra dos tamancos de madeira. O lugar mais indicado para fazer isso é mesmo nas ciclovias. Não é difícil encontrá-las nos principais bairros de Amsterdã, as faixas brancas que as representam são facilmente identificáveis no lado direito das ruas, assim como os desenhos de bicicleta pintados no chão.

Por cerca de 10 euros o dia, é muito fácil alugar uma fiet – apelido carinhoso que os holandeses dão as suas amadas bicicletas. O site I Amsterdam oferece uma lista dos locais que disponibilizam o serviço. Quem estiver na loja de locação pode aproveitar para comprar lá mesmo um guia que oferece mapas das ciclovias e das melhores rotas para pedalar.

Mas antes de sair pedalando, é preciso saber de uma coisa. Assim como todos nativos, os ladrões locais também adoram bicicletas. Não é brincadeira, o furto delas é infelizmente muito comum na cidade. Fique de olho e não a deixe a sua magrela dando sopa, é provável que você a perca se deixá-la sozinha sem uma boa corrente e um bom cadeado. Confira abaixo mais dicas de como circular com segurança em duas rodas pela bela capital da Holanda.
Fique esperto!

• Evite pedalar no centro da cidade, há uma quantidade enorme de carros circulando, deixando o ciclista muito apertado na sua faixa

• Se a rua tiver ciclovia, permaneça nela. É extremamente proibido circular entre os carros nesta situação

• Nem pense em pedalar nas calçadas, quando estiver nelas, desça da bike e vá andando

• Algumas ciclovias têm mão dupla, preste atenção às indicações pintadas no asfalto

• Em vários cruzamentos há sinais exclusivos para as bicicletas, fique atento a eles

• Não é recomendado parar na ciclovia, os ciclistas locais costumam andar em alta velocidade, você pode ser atingido

• Pedale defensivamente, prestando atenção nos colegas ciclistas
Boas pedaladas
Localização: Holanda/Amsterdã
Horário: livre
Transporte: transportar a bicicleta nos barcos é de graça. Já nos trens custa 6 euros

Fonte: Portal iG

domingo, 25 de março de 2012

Corra como um rei no parque mais famoso de Madri

Construído originalmente como recanto da monarquia espanhola, o Parque do Retiro é um convite à atividade física

Ao fundo o Monumento a Afonso XII/Acervo Pessoal


Foto: SXC/As aristocráticas alamedas do parque são perfeitas para uma gostosa caminhada ou corrida

O mais famoso de Madri, o Parque do Retiro exala a tradição europeia por suas belas alamedas arborizadas.

Construído originalmente como recanto da monarquia espanhola, a área verde de 118 hectares existe há mais de três séculos e hoje está aberta a quem quiser respirar um pouco de ar puro e mexer o corpo.

A mais longa de todas as rotas, que contorna a área do Retiro, tem 4,7 km. Você pode começar em qualquer uma das imponentes entradas.

Todo de ferro com detalhes em dourado, o Portão de Murilo é a indicação de ponto inicial. O percurso pode ser dobrado para quem tem fôlego para quase 10 km de corrida ou caminhada.

Para os que preferem uma trilha menor, existe a de 3 km, que explora as belezas do Retiro. Comece pela Fonte de Los Galápagos, siga pelo Passeio Salon Del Estanque e sua continuação, o Passeio de La Republica de Cuba. Neste trecho, aprecie o lindo Palácio de Cristal, à beira de um lago.

Seguindo em frente, você vai contornar a fonte de La Rosadela e entrar no Passeio Del Duque Fernán Núñes, que deve ser percorrido até o seu final.
Para terminar, vire à esquerda e volte ao ponto inicial. No caminho, não deixe de apreciar o Monumento ao rei Alfonso XII que impressiona pela suntuosidade.

Há muitas outras opções de rotas na área. Dê uma olhada no mapa disponível no site do lugar e monte uma que lhe agrada.

O Parque do Retiro também conta com postos de informações bastante úteis. Em um local bem estruturado e bonito como este, não falta estímulo para se exercitar.

Fique esperto!

• Nos fins semana, o parque fica cheio durante todo o dia. A melhor opção é correr nas primeiras horas da manhã, quando há menos público
• Nos dias da semana, no início da noite, há menos frequentadores no local. Procure as áreas mais iluminadas para evitar riscos
• Como em toda grande cidade, os batedores de carteiras e trombadinhas também frequentam parques em busca de vítimas. Evite ostentar objetos de valor e fique atento

Bons passos:

Localização: Madrid/Distrito do Retiro/Bairro Los Jeronimos
Funcionamento: 6h às 24h (verão) /6h às 22h (inverno)
Transporte: metrô (estações Atochae Retiro)/Ônibus (linhas 1, 2, 15, 19, 28, 146)
Sanitários: possui
Estacionamento: possui, na área externa do parque
Site Oficial: http://www.parquedelretiro.es

Fonte: Portal iG

quinta-feira, 22 de março de 2012

Com novas regras, CNJ impulsiona reconhecimento de paternidade

Tribunais conseguiram promover ao menos 10 mil reconhecimentos espontâneos em pouco mais de um ano, segundo Corregedoria


Foto: Arquivo pessoal/Bárbara, o marido e o filho

Bárbara Elizabete de Oliveira esperou 23 anos para ganhar um novo nome. Há um mês, ela tem mais um sobrenome, Salmoria. O nome da família do genitor está não só na assinatura de Bárbara, como sua certidão não está mais vazia no lugar do pai. Só agora, Edson Salmoria, seu pai, a reconheceu como filha. Procurado pela Justiça – e um teste de DNA depois – ele foi obrigado a registrar a filha a quem nunca deu amor ou atenção.

A história de Bárbara é a mesma do pequeno Pablo, de apenas um ano e nove meses. Até dois meses atrás, apenas o nome da mãe dele estava na certidão de nascimento. Em seu sobrenome, não havia referência ao pai, que se negou a registrá-lo. Para que o futuro do filho não fosse carregado da mesma angústia e mágoa permanentes na vida de Bárbara, Edmara Silva Santos, 25 anos, também pediu ajuda à Justiça.

Bárbara e Pablo estão muito distantes fisicamente. Ela mora em Lages, Santa Catarina. Ele, em Salvador, Bahia. Mas a história deles se repete por todo o País.

Dados do Censo Escolar 2010 mostram que, naquele ano, 5,5 milhões de alunos não declararam o nome dos pais nas escolas onde estudavam. O número é superestimado – já que muitas crianças têm o nome do pai na certidão, ele só não foi informado – e deve incluir adultos que também estudam.

Apesar da imprecisão, esse é o dado mais “confiável”, de acordo com a Corregedoria Nacional de Justiça. Por causa desses dados, o órgão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) definiu novas regras para facilitar o reconhecimento de paternidade no Brasil. O número alarmante de crianças sem o nome do pai no registro de nascimento levou a Corregedoria a desenhar um projeto para estimular tribunais de Justiça de todo o País a transformar essa realidade.

Regras mais simples

Batizado de Pai Presente, o projeto se inspirou em iniciativas individuais de tribunais. Ele facilita o cumprimento da Lei 8.560, que determinava o encaminhamento dos nomes das crianças registradas apenas com o nome da mãe aos juízes mais próximos. O processo deveria ser feito pelos registradores civis, que executavam com dificuldade a determinação de 1992. A edição de dois provimentos posteriores – o 12 e o 16 – facilitaram o processo.

O provimento nº 12 foi editado em 2010, pouco antes de o projeto ser criado. Naquela ocasião, os nomes de todos os estudantes com certidão de nascimento incompleta foram encaminhados aos tribunais de cada Estado. A proposta era que as mães deles fossem encontradas para indicar supostos pais e os juízes darem início a processos de investigação de paternidade. Agora, o processo ficou ainda mais simplificado.

Mães ou filhos maiores de idade que quiserem alterar a certidão de seus filhos ou a própria têm de procurar um cartório de registro civil – qualquer um dos 7.601 espalhados pelo País – e indicar o nome do suposto pai. Os registradores se encarregam de encaminhar nomes e contatos aos fóruns ou juízes responsáveis, que localizam e intimam os supostos pais. Se preciso, o caso será encaminhado ao Ministério Público ou à Defensoria Pública. As novas regras também permitem que os pais solicitem o reconhecimento da paternidade do filho.

As conquistas

Apesar de muitos projetos serem mais antigos do que os dois últimos provimentos da Corregedoria Nacional do CNJ, os dados sobre os reconhecimentos de paternidade já realizados pelos tribunais brasileiros são parciais. Ainda assim, são comemorados pela Corregedoria. O último levantamento feito pelo órgão mostra que 9.851 reconhecimentos espontâneos já foram realizados em 15 Estados.

Além disso, foram realizadas 10.647 audiências, feitos 1.587 exames de DNA e 7.896 investigações de paternidade propostas. . “Não temos esse controle exato, mas certamente o número é maior do que sabemos”, afirma Ricardo Chimenti, juiz auxiliar da Corregedoria Nacional. Ele conta que muitos Estados não atualizam os números e, em outros, o projeto ainda não foi colocado em prática.

“Com o provimento nº 16, acreditamos que o projeto será acelerado. Nosso próximo passo é interceder junto ao Poder Executivo para melhorar o acesso dessas pessoas a exames de DNA. Precisaríamos realizar grandes mutirões zerar a conta. Tem gente que espera por um exame há dois anos, porque não pode pagar por ele”, ressalta Chimenti. “Estamos chegando ao limite do que o Poder Judiciário pode fazer”, diz.
Entre os Estados que mantém o bando de dados do CNJ atualizado, São Paulo é o que mais conseguiu reconhecimentos: 2.812. Mas também é o que mais possuía alunos sem o nome do pai na certidão de nascimento segundo o Censo Escolar 2010, 731.637. No Paraná, em que 205.790 estudantes estavam com registro de nascimento incompleto, foram realizados 2.652 reconhecimentos espontâneos de paternidade.

O esforço feito pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) tem gerado resultados. Os dados recebidos pela Corregedoria do CNJ mostram que 1.050 reconhecimentos espontâneos do total de 9.851 do País ocorreram no Estado. Em 2010, 320.049 alunos não possuíam o nome do pai na certidão de acordo com o Censo Escolar.

Um dos Estados com mais crianças não reconhecidas pelos pais e que menos avançou no projeto é o Maranhão. Havia 450.441 alunos sem pai na certidão. Apesar dos 85 processos abertos e 324 notificações feitas por lá até agora, nenhum pai reconheceu espontaneamente seus filhos até agora.

Diminuindo traumas

Para Bárbara, o nome do pai na certidão, que ainda não ficou pronta, significa tranquilidade para a própria consciência. Durante muito tempo, ela procurou o pai, mandou mensagens em dias de aniversário, mas só ganhou indiferença. “Eu era muito rejeitada por ele e pela família dele. Sempre quis ter um pai, não era a assinatura. Eu não entendia porque ele duvidava que eu fosse filha dele, mas ajudou financeiramente minha mãe a vida toda”, conta.

Mãe de um bebê de sete meses, Bárbara percebeu ainda mais a importância de acabar com as dúvidas. Procurou o projeto Pai Responsável de Lages (SC) e pediu o reconhecimento. Segundo ela, foi tudo muito rápido. Na primeira audiência, Edson solicitou exame de DNA, que deu positivo.

“Ele foi bem frio, disse que eu o procurasse se precisasse de ajuda financeira, mas que não poderia ter contato comigo porque a mulher atual não aceitava”, conta. Ele nunca mais procurou Bárbara. “Eu fiquei mal, mas não espero mais nada”, diz.

No caso da baiana Edmara, o pai de seu filho também duvidava da paternidade de Pablo. “Esperei meu filho nascer para ver o que ele diria. Ele pediu o exame e achou que eu não correria atrás, mas fui ao tribunal. Foi tudo rápido e ele registrou na hora depois do resultado e fizemos um acordo de pensão”, conta. Ela espera que, agora, o filho tenha também carinho e atenção do pai.

A juíza Maria Helena Lordelo, responsável pelo projeto no TJBA, conta que os resultados são animadores. Desde agosto de 2011, quando o projeto começou, ocorreram cinco dias de audiências em Salvador e376 reconhecimentos foram feitos. Nas contas do CNJ, a Bahia realizou 133 reconhecimentos espontâneos e emitiu 16.436 notificações a pais e mães. Em abril, outras 60 pessoas vão participar de mais audiências.

“O que mais nos surpreendeu foi o número de adultos e jovens que nos procuraram. Eles vivem bastante incomodados por não terem o nome do pai no registro. Queremos agora o apoio de psicólogos para nos ajudar nesses processos”, conta.

Silvio Orsatto, juiz da Vara de Registros Públicos da Comarca de Lages, um dos precursores da iniciativa em Santa Catarina, conta que, no município, houve um trabalho interdisciplinar entre a área jurídica, as escolas e os gestores da saúde para criar o projeto. “Queríamos entender melhor as dimensões desse problema. À época, 17% das crianças da serra catarinense, 400 crianças por ano, ficavam sem o nome do pai. Criamos estratégias de prevenção”, diz.

Hoje, Orssato conta que a proposta do município é prevenir, não deixar nenhuma criança sem registro de paternidade. “Precisamos trabalhar a conscientização do cidadão”, afirma. Em cinco anos, o município realizou 7 mil exames de DNA gratuitos e montou um órgão, o Instituto Paternidade Responsável, para atuar com o tema. “Conseguimos implantar o atendimento nas maternidades”, conta.

Paulo Risso, presidente da Associação Nacional dos Registradores Civis (Arpen-Brasil), acredita que as mães precisam se conscientizar que, dar ao filho o nome do pai, é um direito dele.

Fonte: Portal iG

quarta-feira, 21 de março de 2012

A mulher segundo Clarice Lispector

Mestra dos detalhes, a autora é uma das mais replicadas na rede. Entenda por que as frases de Clarice se tornaram fenômeno pop

Foto: Reprodução

Clarice Lispector (1920-1977). Principais obras: A Hora da Estrela (1977) e A Paixão segundo G.H. (1964). Modernismo

“Eu era uma mulher casada. Agora sou uma mulher.”

Essa única frase resume a essência do conto “A Fuga”, de Clarice Lispector, no qual uma mulher sai de casa e, ao passar algumas horas sozinha numa praça, decide se separar do marido. Essa capacidade de fazer em poucas palavras sínteses de situações humanas complexas se tornou um prato cheio para internautas.

Os sites de mensagens inspiradoras e as redes sociais espalham e compartilham dezenas de frases atribuídas à escritora, geralmente acompanhadas de fotos e músicas românticas. Nem sempre, no entanto, as frases foram de fato retiradas dos livros, das entrevistas ou das colunas femininas que Clarice escrevia para jornais, nos quais assinava com pseudônimos, como Tereza Quadros e Helen Palmer.

Apesar de nem tudo que a gente recebe nas nossas caixas de email ou nos feeds de redes sociais ter sido de fato assinado por ela, Clarice Lispector é um sucesso nas redes. Sua fanpage no Facebook, por exemplo, tem mais de 160 mil seguidores! (Só para dar uma ideia, a do cantor Roberto Carlos tem cerca de 16 mil).

“As pessoas gostam de máximas e Clarice tinha mesmo essas frases sentenciosas. ‘A descoberta do mundo’ é cheio delas”, diz Yudith Rosembaum, professora de literatura brasileira na Universidade de São Paulo e autora, entre outros, do perfil “Metamorfoses do Mal – uma leitura de Clarice Lispector” (Edusp).
“Os textos dela tocam em aspectos importantes da condição humana, mergulham naquilo que temos de melhor e de pior no campo das relações pessoais, afetivas, sentimentais e dos valores éticos”, ressalta Nádia Battella Gotlib, professora da USP e autora de "Clarice Fotobiografia" (Imprensa Oficial).

“E ‘eu te amo’ era uma farpa, que não se podia tirar com uma pinça.’

“Ela sabe como chacoalhar com o ‘de-dentro’ da gente, abrindo novas perspectivas de sensações e de visões daquilo que nos rodeia. Clarice promove uma nova descoberta do mundo”, acredita Nádia.

De quebra, a autora ucraniana é ela própria uma imagem que remete ao mistério do feminino. “Se essa imagem de mulher bonita, charmosa, atraente, funciona como um pólo de atração para o que ela escreveu, então não há como rejeitar esses atributos físicos”, afirma Nádia Gotlib. “São uma isca para os seus textos. Mas a beleza da sua arte está acima desses traços de mulher bonita”, ressalva.

Clarice dominava o universo feminino e partia dele para falar da sua experiência de mundo. “Ela priorizou protagonistas mulheres, mas na obra da Clarice, essas mulheres ganham uma dimensão universal que toca nas entranhas do humano”, afirma Yudith.

“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.”

Muitas das personagens de Clarice estão ligadas a vida doméstica, a ambientes internos e familiares. “É uma escritora do feminino", afirma Yudith. “Mas esse feminino pode ser vivido por um homem. A importância da obra da Clarice não está só ligada ao fato dela ter falado de e para mulheres. No século 21, seus contos e romances continuam dissecando o desamparo do ser humano”, diz a professora. “É um olhar histórico da mulher aprisionada em casa, mas que tem caráter universal, mesmo fora dessas condições sócio-econômicas.”

“Confesso que até alguns anos atrás pensava que Clarice era lida mais por mulheres. Hoje acho que não. Afinal, o mergulho nas profundezas da alma humana pode feito por qualquer um”, afirma Nádia.

“O destino de uma mulher é ser mulher.”

E vale ler Clarice a conta-gotas, em frases soltas, para entender o que é a vida? “Muitos são iniciados em Clarice lendo pequenos trechos pela internet. E destes textos passam, depois, para outros textos publicados em livros”, diz Nádia. “Continua sendo o melhor modo de ler a autora.”

Mas fica o alerta: “Muitos dos textos que circulam na internet não são de Clarice.”

Inspire-se nas frase autênticas de Clarice Lispector sobre a vida, sobre ser mulher e sobre o amor

“Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante” – do conto "Felicidade Clandestina"

“O destino de uma mulher é ser mulher”, em “A hora da Estrela”

“Eu antes era uma mulher que sabia distinguir as ciosas quando as via. Mas agora cometi o erro grave de pensar”, em Um Sopro de Vida

“Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado” , do conto “Amor”

“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”, em Perto do Coração Selvagem

“A vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora”

“A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente”

“Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca” – em "A Descoberta do Mundo"

“Com todo perdão da palavra, eu sou um mistério para mim”, frase de Clarice em “Esboço para um futuro retrato”, de Olga Borelli

“Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão” - "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"

“E ‘eu te amo’ era uma farpa, que não se podia tirar com uma pinça” – "A Paixão segundo G.H".

“O maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma” - "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres"

Fonte: Portal iG

segunda-feira, 19 de março de 2012

O começo de uma nova era na relação homem e mulher

*Regina Navarro Lins

Hoje, a mulher pode não só dividir o poder econômico com o homem, como ter filhos se quiser ou quando quiser

Ao ouvir no meu consultório, num mesmo dia, dois relatos pouco habituais, me dei conta de que há algo novo acontecendo na relação homem/mulher. No primeiro caso, um engenheiro de 58 anos, separado de três casamentos, conta inconformado a sua decepção. Surpreso, assistiu a sua proposta de casamento ser recusada pela mulher com quem namora há um ano, uma advogada de 51 anos, também separada, com filhos adultos. Ela alega gostar muito de fazer sexo com ele, mas não acha justo se reprimir quando sentir desejo por outro homem. Ele insiste em reconstituir uma família e ela em ficar solteira.

O outro caso é o de uma pedagoga de 26 anos. Há quase três anos mora com o namorado, um professor universitário de 30 anos, mas faz questão de manter o apartamento, que divide com uma amiga, onde morava antes. A relação está em crise, o namorado deseja ter um filho ainda este ano e ela se recusa. Alega não querer ter filho agora, e nem ter certeza de querê-lo algum dia. O namorado entende essa atitude como falta de amor e diz que com um filho a relação dos dois ficaria mais estável e ele mais tranquilo. Mas é justamente essa estabilidade que a apavora.

O que está acontecendo? O que sempre presenciamos na vida, nos filmes e nas novelas são as mulheres desejando se casar, ter uma relação estável e segura. Além disso, só sentiriam desejo sexual pelo homem que amam, seja namorado ou marido. Sempre se acreditou que as diferenças entre o homem e a mulher incluíam a monogamia natural dela, para quem amor e sexo seriam inseparáveis. Seria da natureza do homem a infidelidade e também o hábito de tentar se esquivar de um compromisso.

Talvez seja um equívoco imaginar que esses novos anseios e comportamentos delineados nos exemplos acima façam parte de um simples processo natural e evolução e modificação dos costumes. O que vemos hoje é diferente. Vivemos nas primeiras décadas do século 21 um momento de ruptura, onde aspectos básicos das relações humanas estão sendo reformulados. Esse processo de mutação da história da humanidade não é facilmente perceptível e certamente só se tornará evidente quando concluído.

O novo assusta, nos faz sentir desprotegidos, por isso nos agarramos ao já conhecido. Estamos acostumados a usar modelos do passado no presente. Entretanto, isso se torna cada vez menos possível. O ser humano começa a se libertar das sujeições que o limitam há cinco mil anos, desde o surgimento o patriarcado – sistema de dominação do homem –, cuja história se confunde com a própria história da nossa civilização.

Temos informação de outra história anterior, muito mais longa, mas a ignoramos. Não é a nossa história. A nossa história se define e foi sustentada por dois aspectos fundamentais: o controle da fecundidade da mulher e a divisão sexual de tarefas. Trata-se de uma estrutura social nascida do poder do pai, com um rígido controle da sexualidade feminina. A ideologia patriarcal colocou em oposição homens e mulheres. Ao contrário do que se pensa, essa divisão permitiu a dominação e, dessa forma, a submissão de ambos os sexos, não só das mulheres. A elas coube o status de inferiores e aos homens de superiores.

As mulheres, durante alguns milênios, foram cúmplices na perpetuação do sistema patriarcal que as oprime, acreditando nessa inferioridade e transmitindo os mesmos valores, através das gerações, aos filhos de ambos os sexos. Os homens pagam um alto preço para manter a adequação social imposta: não podem falhar. Homens e mulheres, por milhares de anos, abriram mão de sua autonomia e liberdade, visto que esse sistema e a liberdade pessoal são antagônicos.

Há cerca de 50 anos o patriarcado começou a perder suas bases. O avanço tecnológico elimina a divisão de tarefas. O advento dos anticoncepcionais eficazes e acessíveis desferiu o golpe definitivo nesse sistema, que tem no controle da fecundidade da mulher sua principal razão de ser e, por estar calcado na natureza biológica, sempre foi considerado universal e eterno.

Hoje, a mulher pode não só dividir o poder econômico com o homem, como ter filhos se quiser ou quando quiser. Essa transformação radical se distingue do processo de evolução observado até agora. A partir daqui, não temos como avaliar as consequências. Estamos vivendo um processo de mutação, após milênios da única ideologia de que temos registro. Talvez tenhamos que aguardar várias gerações para vê-lo concluído. Mas os sinais já começam a se esboçar.

O enfraquecimento da ideologia patriarcal traz nova reflexão sobre o relacionamento entre homens e mulheres, o amor, o casamento e a sexualidade. Pressentimos a destruição de valores estabelecidos como inquestionáveis e nossas convicções íntimas mais arraigadas são abaladas. Os modelos do passado não nos dão mais respostas e nos deparamos com uma realidade ameaçadora, por não encontrarmos modelos em que nos apoiar, em tempo algum, em nenhum lugar.

Entretanto, essa pode ser a grande saída para o ser humano. Não tendo mais que se adaptar a modelos impostos de fora, as singularidades de cada um encontram novo campo de expressão. No momento em que se rompe com a moral que, durante tanto tempo e através de seus códigos, julgou e subjugou o prazer das pessoas, abre-se um espaço onde novas formas de viver, assim como novas sensações, podem ser experimentadas. Sem nos darmos conta, estamos assistindo ao fim do patriarcado e ao nascimento de uma nova era.

*Psicanalista e escritora, autora do livro “A Cama na Varanda”, entre outros.

Fonte: Portal iG

sábado, 17 de março de 2012

Sistema Educacional

*Otaviano Helene

O Brasil chegou a ser, há não muito tempo atrás, o país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. Embora essa situação tenha melhorado nos últimos anos, continuamos em uma posição muito ruim – o nono pior índice de Gini (1) entre 107 países relacionados pelo Banco Mundial – e estamos evoluindo muito lentamente. Em apenas cinco países os 10% mais pobres têm uma participação na renda nacional menor do que os 10% mais pobres no Brasil e em apenas dois países os 10% mais ricos abocanham uma fração da renda nacional maior do que no Brasil.

A renda não se concentra por um processo natural, como se nos quintais de alguns nascessem, por natureza, frondosas árvores de dinheiro e nos quintais de outros, raquíticos arbustos de moedinhas. A renda se concentra como conseqüência de políticas explícitas que incluem o próprio sistema econômico, a ausência ou não de reformas agrária e urbana democráticas, a repressão dos ou o diálogo com os movimentos sociais organizados, as alíquotas de impostos diretos e o combate ou não à sonegação, a existência ou não de impostos sobre o patrimônio, entre várias outras.
Há dois processos relacionados à educação que contribuem fortemente para a perenização da concentração de renda: a renda das pessoas depende fortemente da educação formal que receberam e a educação das crianças e jovens depende, também fortemente, de suas rendas familiares. A combinação desses dois fatores faz com que nossa política educacional seja um dos principais fatores de concentração de renda e de reprodução das desigualdades.

Um dos principais fatores responsáveis pela exclusão escolar é a renda. Por exemplo, a participação dos estudantes provenientes dos segmentos mais pobres da população cai significativamente ao longo das séries escolares e praticamente a totalidade das cerca de 30% das crianças que abandonam a escola antes do final do ensino fundamental tem origem nos segmentos mais desfavorecidos da população. Como a enorme maioria dessas crianças que deixam a escola prematuramente não freqüentou as classes de educação infantil, a educação formal oferecida a elas restringe-se aos poucos anos de escolaridade no ensino fundamental, em geral em escolas precárias, com uma permanência diária abaixo das quatro horas e com muitas “aulas vagas”. Resultado: os investimentos educacionais feitos em favor dessa terça parte das crianças, cujos valores anuais são próximos ao piso do Fundeb (2), não excederão, ao longo de toda a vida, alguns poucos milhares de reais.

No outro extremo, entre os mais ricos, a educação começa nos primeiros anos de vida e dura pelo menos duas décadas, com valores mensais de investimento que superam os mil reais, ou muito mais do que isso se forem incluídos investimentos com educação extra-escolar (cursos de línguas, atividades esportivas, aulas particulares etc.). Ao longo de toda a vida esses investimentos podem superar centenas de milhares de reais.

Portanto, as desigualdades na educação formal são enormes. E esses contingentes com enormes diferenças educacionais, ao deixarem a escola, conviverão em uma mesma sociedade. Ninguém pode ter dúvida do que acontecerá.
Em resumo, nossas terríveis desigualdades econômicas e sociais entram nas escolas pela porta da frente, com a conivência, apoio e subvenção explícita por parte das autoridades municipais, estaduais e federais, fazendo com que nosso sistema escolar trate de forma extremamente diferente os pobres e os ricos. E, evidentemente, com o apoio total das elites econômicas, para as quais as desigualdades não devem ser enfrentadas e superadas, mas, sim, os desiguais devem ser combatidos quando ameaçam incomodar.

O círculo vicioso renda educação renda se fecha uma vez que a renda de uma pessoa depende fortemente de sua educação formal, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, coisa que salta aos olhos (3). Cada ano adicional de escolaridade de um trabalhador implica em um aumento de renda da ordem de 15%, em média. Além dessa dependência da renda com relação ao número de anos de estudo, há também uma dependência em face da qualidade da educação recebida e, novamente, esta também depende fortemente da renda familiar dos estudantes.

Portanto, nosso sistema educacional é um importante instrumento a perpetuar a desigualdade, garantindo que ainda permaneceremos por longo tempo entre os países mais desiguais do mundo.

Outro aspecto perverso da desigualdade do nosso sistema educacional é o “desperdício” de pessoas. Como a desigualdade exclui das escolas enormes contingentes populacionais e grande parte dos não excluídos apresenta graves deficiências, nossas possibilidades de desenvolvimento social, cultural e do sistema de produção de bens e serviços são gravemente comprometidas, uma vez que não podemos contar com a contribuição produtiva da maioria dos nossos jovens, por mais dedicados, brilhantes e interessados que pudessem vir a ser: eles já foram descartados.

Para construirmos um país realmente republicano, precisaríamos romper com essa situação e criar um sistema educacional onde todos, independentemente da origem social e econômica, sejam tratados de forma igualitária. Escolas com infra-estruturas adequadas, professores e educadores que sejam remunerados adequadamente e instrumentos de gratuidade ativa (4) que compensem os custos induzidos pela freqüência à escola são fundamentais.

E não há nenhuma limitação real e objetiva que nos impeça de construir uma escola igualitária e democrática: se excluímos crianças e jovens prematuramente das escolas e as condenamos a uma vida adulta com más remunerações, é uma opção política ditada pelas elites, que não abrirão mão, por bem, de nenhum de seus privilégios, por mais que eles possam ser danosos para a sociedade.

Notas:
(1) O índice de Gini é um dos indicadores mais amplamente adotados para quantificar a distribuição de renda.

(2) O Fundeb, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, corresponde a um valor mínimo de investimento educacional da ordem de R$ 200 reais por mês e por estudante (valores de 2012). Estados cujos investimentos estão abaixo desse valor recebem uma complementação da União.

(3) Há exceções, obviamente, e algumas pessoas com pouca escolarização têm sucesso profissional e mesmo altas rendas. Entretanto, a regra seguida de forma majoritária é que a renda aumenta com o grau de escolarização. Por causa das poucas exceções, muitos, desatentamente, pensam que a regra inexiste ou é muito frágil; outros, às vezes por má fé, reproduzem e dão força a esse engano.

(4) Devemos lembrar que a renda per capita familiar de quase metade das crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos, segundo dados de vários PNADs, é inferior a meio salário mínimo. Se considerarmos que grande parte da renda familiar é gasta com moradia, alimentação, energia elétrica e outras despesas inescapáveis, o que resta para as outras despesas é extremamente baixo. Assim, uma simples passagem de ônibus adicional por dia, um pequeno lanche ou qualquer outra despesa associada à freqüência à escola podem estar totalmente fora do alcance familiar. Nos segmentos mais favorecidos, muitas dessas despesas podem passar despercebidas, mas, para os segmentos mais

* Otaviano Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
** Publicado originalmente no site Correio da Cidadania.
(Correio da Cidadania)

Fonte: Envolverde

quarta-feira, 14 de março de 2012

Assédio Moral

Nesta entrevista a Dra. Margarida Barreto, médica ginecologista e do Trabalho, pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social (Nexin PUC/São Paulo), explica o que é assédio moral e como o trabalhador deve procurar ajuda e alerta: “Quem é humilhado sistematicamente, pode sair das ideações suicidas e agir, rumo a morte, tirando a própria vida, por não suportar o sofrimento”.

Diesat: O que é assédio moral?
Dra. Margarida Barreto: Assediar alguém significa estabelecer um cerco e não dá trégua ao outro, humilhando, inferiorizando e desqualificando-o de forma sistemática e repetitiva. São ataques verbais e gestuais, perseguições e ameaças veladas ou explicitas; fofocas e maledicências que ao longo do tempo, vão desestabilizando emocionalmente e devastando a vida do outro.

Para a UNIÃO EUROPEIA o assédio moral é um comportamento negativo entre colegas ou entre superiores e inferiores hierárquicos, em que a vitima é objeto de ataque sistemático por longo tempo, de modo direto ou indireto, contra uma ou mais pessoas.

Já a Organização Internacional do Trabalho considera-o todas as vezes em que uma pessoa se comporta para rebaixar o outro, através de meios vingativos, cruéis, maliciosos ou humilhantes contra uma pessoa ou um grupo de trabalhadores. São críticas repetitivas e desqualificações, isolando-o do contato com o grupo e difundindo falsas informações sobre ele.

Qualquer que seja o conceito usado, no assédio há sempre um núcleo ou matriz que encontramos em todos os países, mostrando que estamos ante uma tortura psicológica nas relações interpessoais no local de trabalho, o que nos leva a considerá-la como um problema de saúde publica. Nesta matriz, encontramos algumas táticas que se repetem: isolar, ignorar, desqualificar, desmoralizar, desestabilizar, degradar as condições de trabalho e forçar a pedir demissão ou desistir do emprego, do projeto, da empresa. Resumiríamos, afirmando que em todos os casos de assédio moral encontramos:

-Repetitividade e persistência da ação
-Intencionalidade
-Temporalidade e direcionalidade
-Degradação das condições de trabalho

Os efeitos são devastadores a vida (físico/psicológico) das pessoas que são humilhadas e sofrem agressões verbais e outros atos de constrangimento, quer no âmbito publico ou privado (a portas fechadas). Aqui, a diferença está na relação de poder estabelecida, que pode ser assimétrica ou simétrica com atos de violência explícitos ou sutis.

Diesat: De que forma o trabalhador é assediado no ambiente de trabalho?
Dra. Margarida Barreto: Leymann, o primeiro estudioso do tema, a pratica do assédio moral envolve mais de 40 atos que fazem parte de um processo que ocorre ao longo do tempo, por um período de seis meses. Para ele, existe o assédio moral quando há uma relação assimétrica de poder e este, pode ser em conseqüência de uma experiência maior ou mesmo, uma maior proximidade com a alta hierarquia. Deste modo, ele catalogou quatro grandes grupos de ações: ações contra a dignidade; ações contra o exercício do trabalho; manipulação da comunicação e ações de iniqüidade.

Como exemplo de ações muito comuns aqui em nosso país, citaria: isolar dos colegas e ignorar sua presença; dar instruções confusas, sobrecarregar trabalho, bloquear o andamento do trabalho, criticar em publico, constrangendo-o ou desqualificando-o; impor horários injustificados; caluniar; disseminar fofocas e maledicências; transferir de setor sem conhecimento prévio; proibir colegas de conversar, almoçar entre tantos outros atos, contanto que reforce o lema. “Não falte para não perceberem que você não faz falta”, passando a idéia que o trabalhador é um inútil, ou que faz é tão pouco que não tem valor para a Empresa.

Diesat: Quando começaram as discussões sobre o problema?
Dra. Margarida Barreto: Na Europa, o tema foi bastante discutido por Leymann e posteriormente, Marie France Hirigoyen. Aqui no Brasil, começamos a ouvir atentamente os trabalhadores que eram humilhados em seu local de trabalho desde o inicio a partir de 1993. Sabíamos que humilhar o outro não era novo. Mas, os relatos que nos chegavam, eram freqüentes. O fato é que a intensificação das humilhações no trabalho coincide com as mudanças que ocorreram na forma de organizar o trabalho e nas políticas de gestão, nestes últimos 30 anos. Mudou o discurso e novos rótulos surgiram para velhas questões. Por exemplo, ser flexível passou a apontar um novo horizonte de expectativas no qual o trabalhador agora denominado de “colaborador”, deverá estar sempre motivado, ser dinâmico e comunicativo, aberto para os novos desafios, ter capacidade para trabalhar em grupo, ser criativo e competitivo como forma de ascender no mundo do trabalho e em especial ser dedicado a empresa e seu trabalho. O discurso é sedutor, pois a flexibilidade deve ser aceita e internalizada por todos; é uma forma de compensar a insegurança que passo aparecer a partir das demissões massivas e reestruturações constantes. Cada um deve suportar o novo desafio, a nova sobrecarga e mostrar que é capaz de se ajustar aos novos tempos. Com poucas pessoas executando mais tarefas, sob intensa pressão para produzir, não precisamos refletir muito para constatar as consequencias que isso traria no tempo: novas doenças e mais demissões. Fomos percebendo que as humilhações neste contexto, era algo que fazia parte da micropolitica de controle empresarial e que se manifestava na corrente dos gestos cotidianos. Estávamos diante de uma ferramenta de controle dos gestos, da voz, dos pensamentos e emoções. Assim, devemos avaliar as novas doenças, os novos riscos emergentes em associação as mudanças no mundo do trabalho e que foram profundas. Ressalto também que a reestruturação produtiva veio acompanhada de desregulamentações das relações de trabalho, de flexibilização dos direitos, da adoção de novas políticas de gestão quer por injuria ou pelo medo, de controle rígido e disciplinar dos trabalhadores, da colonização do imaginário, quer por política de punição aos que não alcançaram as metas ou por premiação dos “bons” na capacidade de ultrapassá-las e dá produção. É um ambiente propicio para instaurar o conflito entre colegas e a competitividade, passa a ser a regra.

Sabemos que as empresas estão mais preocupadas em aumentar seus lucros com poucos gastos que com a saúde dos seus trabalhadores. O que importa é faturar cada vez mais e o trabalhador que adoece vira peça descartável e que deve ser trocada. Então ser flexível para o capital, é ser capaz de se adaptar, em reagir ao invés de agir; em aceitar ao invés de resistir e lutar.

Porque afirmo isso? Quando o trabalhador adoece, envelhece ou questiona praticas ilícitas ou não se submete as normas que lhes são impostas, perde o valor e torna-se uma “persona non grata”, o que o obriga, freqüentemente, a deixar a empresa. O valor do trabalhador está em ser guerreiro 24 horas, não adoecer, não ter família, não ter preocupações e preferencialmente, que todo o seu pensamento e emoções, estejam direcionados ao bem estar da empresa. Logo, todo assédio tem como intencionalidade forçar o outro a desistir do emprego, pedindo a demissão ou mesmo desistindo de um projeto ou mudando de setor, de Estado.

Diesat: Existe uma categoria que apresente mais denúncias relacionadas a assédio moral?
Dra. Margarida Barreto: Hoje, é difícil você dizer qual a categoria que não tem assédio moral nas relações de trabalho. Isso porque o assedio tem como causalidade a organização do trabalho e uma cultura organizacional que mantém e reproduz a “voz” da organização, como verdade absoluta e inquestionável. Mas, poderíamos apontar as categorias em que é muito comum: saúde, educação, comunicação em especial com os jornalistas e o setor de serviços, como por exemplo, os bancários.

Diesat: Como o movimento sindical pode auxiliar trabalhadores que sofrem assédio?
Dra. Margarida Barreto: Em primeiro lugar, o dirigente deve ouvir seu companheiro. É necessário que os dirigentes compreendam e conheçam esse novo mundo do trabalho nesta nova configuração, em que os trabalhadores foram transformados em nômades do trabalho e das relações, vivendo uma sociedade sem emprego, com uma vida limítrofe e caótica, tendo que se submeter à exploração. É necessário que os dirigentes conheçam os novos riscos emergentes, reflitam a cultura empresarial, que escutem e compreendam a voz daqueles que sofrem, adoecem e morrem do/no trabalho. Se não conhecem o que acontece de fato no intra-muros, a ação se restringe a julgar ou encaminhar o trabalhador assediado para o medico ou o departamento jurídico, em atos e ações individualizadas. E as ações coletivas, ficam esquecidas.

Se não tivermos uma práxis compromissada com classe trabalhadora, poucas vitórias alcançaremos. Digo isto, pois vejo por esse Brasil, muitos “dirigentes” que sequer sabem o que ocorre dentro daquela empresa em que ele um dia, trabalhou e isso leva a atitudes de indiferença em relação à dor do outro. Falta reflexão-ação, sonhos pessoais que se mesclem com os sonhos coletivos, falta luta ativa, organização por local de trabalho, mobilização e compromisso de classe! Pensar em eliminar o assédio moral das relações laborais passa pela luta por justiça, por dignidade, por generosidade, por respeito nas relações de trabalho, por uma nova forma de organizar o trabalho em que a cultura reforce a autonomia e criatividade para pensar e fazer; que a vida daqueles que produzem riquezas, seja privilegiada em sua plenitude. Um sindicalismo “combativo” não pode defender os interesses do capital, viabilizando a existência de empresas que matam e adoecem centenas de trabalhadores anualmente, com a desculpa que está preservando o emprego. Aqui, é uma questão de defesa da vida. Não podemos sair de um sindicalismo de contestação e caminhar para um sindicalismo de “viabilização das empresas. Enquanto esse cenário persistir, assistiremos o aumento da exploração no trabalho – que é uma face da violência – a intensificação da flexibilidade, mobilidade e humilhações para produzir, sob o olhar passivo do movimento sindical

Diesat: Quais são as conseqüências na saúde destes trabalhadores?
Dra. Margarida Barreto: Quem sofre o assédio moral no trabalho, manifestará algumas reações. A primeira seria uma reação social cuja resposta corporal a ação nociva, se manifesta como isolamento social, ressentimentos, tristeza, reprodução da violência em outros espaços e até mesmo com filhos. Há aumento do uso de drogas, quebra dos laços afetivos e muitas crianças de país que sofreram violência no trabalho, tem menor desempenho na escola. Em segundo lugar, a pessoa assediada sente um mal estar que se manifesta no julgamento negativo de si, como se fosse sem valor ou mesmo um lixo.

Além das varias alterações cotidianas, devido aos pensamentos repetitivos e recorrentes, com o tempo, começam a apresentar doenças e danos psíquicos com idéias de indignidade, esquecimentos, choro freqüente e que podem caminhar para a depressão, o burn-out, a síndrome do pânico e outros transtornos da esfera mental E por ultimo, quem é humilhado sistematicamente, pode sair das ideações suicidas e agir, rumo à morte, tirando a própria vida, por não suportar o sofrimento.

Assim o assédio moral gera morte. A Marie France lembra que “Não se morre diariamente de todas as agressões, mas perde-se uma parte de si a cada noite, volta-se para casa exausto, humilhado, deprimido. É a repetição do ato que é destruidor”. Estamos diante de um risco que tem repercussões na família, desestruturando-a freqüentemente e devastando a vida daquele que sofre a violência moral ou psicológica no local de trabalho. Estamos falando de mais um risco no ambiente de trabalho, que causa danos a dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano.

Daí a necessidade de compreender essa relação capital x trabalho para atuar com compromisso de classe, pois ter saúde, ser livre e feliz, envolve a ordem do conhecimento, da razão livre, dos bons encontros, da compreensão não somente de si mesmo, mas dos outros e somente com os outros podemos transformar o mundo do trabalho e a sociedade em que vivemos.

Diesat: O que levou a doutora a pesquisar sobre o tema?
Dra. Margarida Barreto: Comecei a trabalhar no Sindicato dos Químicos ao final de 1992, logo após o término do curso de especialização em medicina do trabalho. E neste espaço passei a ouvir historias de sofrimento e compreendi desde o inicio que a dor colocada não era resultante de fraquezas individuais. Ao contrário: estava diante de guerreiros e guerreiras da produção e que após dá a vida em uma determinada empresa, sentiam-se traídos porque adoeceram ou porque questionaram a empresa e como resultado, mudava a forma da empresa de lidar com eles.

As histórias de sofrimento me atravessavam e na tentativa de ajudá-los ativamente, procurei a Psicologia Social da PUC/SP para fazer o mestrado. Lá, sistematizei uma pesquisa que resultou na escuta atenta de 2072 trabalhadores de 97 empresas do ramo químico, plástico, cosmético e farmacêutico e cujo nome da dissertação foi dado por um trabalhador que após contar sua historia, me disse: “eu vivo dentro da empresa uma jornada de humilhações”. Ele me deu o nome e a chave da compreensão dos gritos de sofrimento que escutava.
Fonte: Diesat

terça-feira, 13 de março de 2012

Templos do chá

Uma viagem pela história do chá em lojas especializadas na mágica bebida

Apreciar uma xícara de chá pode ser um ato muito mais rico e saboroso do que se imagina. Com sua história ligada à própria história das civilizações, a camellia sinensis, planta originária das florestas do Himalaia, já foi artigo mais raro – e caro – do que o próprio café no Ocidente, a ponto de seu consumo ser considerado símbolo de status e sofisticação.

Fazer uma pausa em uma loja de chá é atitude nobre, digna de paladares sofisticados

Chás pelo mundo:

http://luxo.ig.com.br/bebidasebaforadas/todas+as+combinacoes+organicas+da+bellocq/n1596824366009.html

http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2220/cha-sgourmet-vira-especialidade-em-novas-casa

http://luxo.ig.com.br/bebidasebaforadas/talentos+reunidos+na+twg+tea/n1596824352325.html

Mas somente na Londres de 1732 é que o requinte tornou-se público, com a abertura da primeira casa de chá da Europa, a Vauxhall Gardens. Mais do que marco comercial para estimular ainda mais o consumo da bebida, a iniciativa também teve seu marco histórico ao abrir espaço para a participação das mulheres na vida social fora de casa, numa época em que eram excluídas dos cafés.

Ainda hoje, fazer uma pausa em uma loja de chá é visto como atitude nobre, digna de paladares sofisticados.

Da tradicional delicatessen Fortnum & Mason, fundada em 1707, onde ainda hoje é possível encontrar uma das maiores ofertas de chás – e delicadezas associadas a ele – de Londres, à queridinha sul-americana Tealosophy, comandada pela expert Inés Berton, ao lado do hotel Alvear, em Buenos Aires na Argentina, passando pela Mariage Frères, instalada em Paris desde 1854, as lojas de chá pelo mundo se tornam templos de prazer e bem-estar, onde o tempo parece correr da forma mais serena.

Selecionamos três paradas imperdíveis ao redor do mundo – Nova York, Cingapura e São Paulo – para você saborear sua chávena e descobrir outras histórias – e sabores – sem pressa.

Acompanhe nos links acima.

Fonte: Portal iG

segunda-feira, 12 de março de 2012

Para ficar linda, ela ficou rica

Mais de 70 mil clientes entregam madeixas rebeldes todo mês à Beleza Natural, tornando Zica uma das mais bem sucedidas empresárias do setor no Brasil





Foto: Divulgação / Os cachos de Zica ficaram como ela sempre quis, e a conta bancária, como nunca imaginou

“O teu cabelo não nega, mulata.” O verso de Lamartine Babo é politicamente incorreto para os padrões de hoje, mas desde os anos 1990, Heloísa Helena Belém de Assis, a Zica, 50, não queria disfarçar seus crespos. “Nasci na Tijuca, na comunidade de Catrambi. Venho de uma família muito humilde. Comecei a trabalhar com 9 anos.” Filha do meio na fileira de 13 do pai biscateiro e da mãe lavadeira, Zica começou fazendo entregas de roupa lavada. “Sou a do meio, seis acima e seis abaixo”, se diverte.

Hoje, ela é dona da Beleza Natural, rede de salões de beleza especializada em cabelos cacheados. Zica não fala em números, nem gosta de expor seu endereço atual, um espaçoso apartamento em uma área nobre do Rio, onde mora com os filhos Junior, Jefferson e Claudineia, além da neta de quase dois anos. Mas sua rede, que começou num fundo de quintal, faturou R$ 19 milhões em 2005, último ano em que números oficiais foram divulgados. De 2005 para cá, o número de clientes dobrou – hoje são 70 mil. A rede se expandiu e onze unidades, nove no Rio, uma no Espírito Santo e outra na Bahia. Junto com a fábrica, a rede emprega 1.300 pessoas. O preço dos kits de produtos varia entre R$ 38,90 e R$ 51,50. A aplicação de Super-Relaxante, carro chefe da empresa, varia entre R$ 67,90 e R$ 87,90.

Antes de pensar em ter um negócio, Zica fez de tudo um pouco, sempre lidando com clientes. Vendeu roupas íntimas e cosméticos de porta em porta, por exemplo. Casada e já com filhos, para segurar a renda, foi babá e fazia faxina em mansões “grandiosas” no Alto da Boa Vista.

Mas tinha uma preocupação: sempre reclamou que trabalhar com público com cabelo sem tratamento não dava. E não queria perder suas características correndo para o alisamento, o que era comum. “Meu sonho era ter o cabelo balançando, sem tirar a originalidade dele. Era complicado trabalhar com o cabelo assim, volumoso e ressecado”, conta. As patroas não gostavam, mas Zica não queria alisar. “Quem queria empregar quem tinha o cabelo assim, enorme? Era grande, alto, um bolo de cabelo. As pessoas associavam a sujeira, desleixo.” Zica fez alisamentos uma vez, para nunca mais. Aos 14 anos, odiou o resultado e o cabelo que sofreu com a química pesada. “Os fios ficaram finos, quebradiços, o cabelo não crescia como tinha que crescer.” Ela cortou e voltou para o estilo “Black power”, à moda dos anos 70.

Curso de cabeleireiro

Entre uma e outra faxina, se inscreveu no curso de cabeleireiro na paróquia São Camilo de Lellis, a igreja da comunidade onde vivia. Passou um mês aprendendo a conhecer e lidar com seus fios. “Aos 21 anos, fui fazer o curso e aprendi tudo que o mercado oferecia. Queria achar solução para meu cabelo, não fui atrás para trabalhar com isso. Queria saber como era o meu fio”, conta. “Eu era fissurada nos meus cachos e me negava a passar esses produtos para alisar.”

Foto: Divulgação / Zica à frente de um de seus onze salões, que atendem 70 mil clientes por mês

Ela começou a misturar materiais em busca da fórmula perfeita, que garantisse cachinhos cheios de movimento. Conversando com fornecedores, conseguiu matéria-prima para fazer experiências, misturou cremes que já existiam no mercado, testou tudo que havia para cabelos crespos. “Levei dez anos para chegar na fórmula do Super Relaxante”, conta. “Com meu creme, o cabelo começou a pentear mais macio, a maleabilidade era melhor, passou a ficar com balanço. Mexeu com minha autoestima e com a das pessoas da comunidade”, lembra Zica. Na prática, nunca trabalhou como cabeleireira em outros salões. “No máximo cortava cabelo da minha irmã ou da minha mãe.”

Cachos com senha

O próximo passo foi abrir um salão de fundo de quintal, na Tijuca, em 1993. O único bem da família era um Fusca, que ela convenceu o marido a vender para poderem começar um negócio. “Ele sabia do meu cabelo, ele viu minha necessidade. Ele acabou vendendo o carro e abrimos o salão”. Era uma casa de dois cômodos, “de mais de 100 anos”, lembra Zica. Em pouco tempo, o boca-a-boca e a divulgação com folhetos garantiram filas na porta que viravam na esquina antes do salão abrir. A solução foi colocar um sistema de senhas (que continua até hoje), para tentar atender ao maior número possível de pessoas. A procura pelos produtos era enorme também: clientes vinham com potes de maionese e margarina para levar os xampus e condicionadores para casa.

“O salão abria às 8h da manhã e às 5h já tinha fila, com dezenas de pessoas”, conta Zica. “A gente não tinha espaço suficiente para atender essa quantidade de clientes. A essa altura, Zica já tinha chamado sócios: além do marido, vieram Rogério, irmão dela, e Leila Velez, que tinha trabalhado com Rogério no McDonald’s. “Ela tinha esse dom, e visão de como a gente tinha que crescer. Nós começamos a terceirizar a produção, patenteamos a fórmula”.

Linha de produção

“Foi um sucesso, porque o produto não existia. Todo mundo queria, nosso mercado não oferecia e também não tinha nada importado”, diz Zica. Ela ficou na operação do salão, seu marido na contabilidade e seu irmão saiu do McDonald’s para trabalhar no Beleza Natural. “Logo depois veio a Leila trazendo o marketing. Com seis meses ela entrou, porque ela tinha uma visão muito boa de como divulgar o negócio.” Eles levantaram que os clientes vinham de várias partes do Rio: Caxias, Jacarepaguá, Nova Iguaçu, Madureira, Niterói. “Vimos que estava na hora de crescer para esses lados e abrimos a primeira filial”. Em 2004, os sócios abriram a própria fábrica, a Cor Brasil Cosméticos.

Foto: Divulgação / Zica ao lado da sócia, Leila

A sócia Leila, hoje presidente da empresa, também começou cedo, aos 10 anos, fazendo entrega de roupas lavadas pela mãe e venda de cosméticos porta a porta. Aos 14 anos, entrou para o McDonald’s. Com 16, se tornou a gerente mais jovem da rede. “Precisamos até pedir uma autorização especial da matriz”, conta. Aos 19, entrou para a sociedade de Zica para trazer know-how dos empregos anteriores e criar coisas novas, que refletissem seu modo de ver o mundo – algo impossível de fazer numa empresa do porte de uma multinacional. “Acompanhei quando a Zica desenvolveu o produto, e veio muito a calhar a sociedade”, conta.

Elas instituíram uma “linha de produção” no salão, em que cada profissional se especializa em uma das sete etapas do tratamento. Fica mais rápido para a cliente mais barato para o salão. Leila migrou da faculdade de Direito para uma de administração, e daí em diante, voltou toda a carreira acadêmica para o negócio crescer. “É toda uma rede de contatos, e chances de aprender com os erros e acertos de outras empresas”, diz a sócia da Beleza Natural

A favela ficou para trás. Todo ano, as sócias viajam para a Cosmoprof, maior feira mundial de cosméticos, que acontece na Itália, para se atualizarem e sondar oportunidades no mercado. Aliás, Zica acaba de entrar em uma faculdade, onde cursa decoração. Mas confessa que já precisou matar aula para ir à feira de cosméticos.

A empresária faz questão de reproduzir oportunidades de crescimento: 70% dos funcionários são clientes da rede. “São meninas que se espelham pela minha história de vida, e vêem que podem chegar lá. Quem mais pode entender o que quer um cliente que tem o cabelo crespo?”

Fonte: Portal iG

sexta-feira, 9 de março de 2012

Mulheres de primeira classe

As brasileiras da classe C, mais do que qualquer outra, estão com a autoestima em alta, decidem as compras da família e mais

Foto: Bruno Zanardo/Fotoarena
A analista de crédito Ana Carolina Pinheiro vai ao cabeleireiro todos os meses
Qual a imagem que você tem da mulher da classe C brasileira? Se é algo como ‘fica em casa cuidando dos filhos, depende financeiramente do salário do marido e não se preocupa com o visual’, esqueça tudo e comece de novo. Pesquisas de mercado vêm desvendando o universo da nova classe média, e apontam que, mais do que em qualquer outro segmento, as mulheres são protagonistas.

Dentro deste universo, que possui renda familiar entre R$1.000,00 e R$ 4.000,00, as mulheres são as protagonistas. “Mais do que nunca, o sexo feminino acabou assumindo grande parte da responsabilidade financeira da casa. Muitas vezes é a renda principal. Este cenário deu a elas um poder de decisão de compra incrível”, diz Rita Almeida sócia da CO.R Inovação, empresa de estratégia de marketing e inovação que realiza pesquisas sobre o segmento. É ela ainda que afirma que a autoestima das mulheres da nova classe média é a maior do Brasil atualmente.

“A chamada ‘nova classe média’ detém praticamente 50% do poder de consumo no Brasil. Com um número expressivo assim o mercado corre atrás para saber quais são as preferências e as necessidades deste público”, afirma. As famílias brasileiras gastaram, em 2010, mais de R$ 2 trilhões em consumo, de acordo com estudos do Instituto Data Popular. E todos estão de olho na nova classe média. Em oito anos a participação da classe C foi de 25,77% para 41,35% do total. Ao contrário, a classe AB recuou: foi de 58,51% para 42,88%.

Autoestima nas alturas

“Quando analisamos o comportamento das mulheres que se enquadram nesta faixa de renda vemos que houve uma grande evolução. Ela passou a ser mais exigente, a buscar oportunidades de consumir coisas que antes não podia e, principalmente, a ter uma autoestima bastante elevada”, declara Andrea Beatrix, gerente-geral de marketing da rede de lojas Marisa, que tem como principal público mulheres da classe C entre 20 e 35 anos.

“Estas mulheres enxergam o corpo de forma muito tranquila. A sensualidade delas não depende de estarem muito magras ou qualquer outra ‘ditadura’ com relação à beleza feminina imposta pelos meios de comunicação e pela moda. Não significa que elas tenham pouco cuidado com o visual. Muito pelo contrário: elas cuidam muito da aparência. Gastam uma parte bastante expressiva do seu dinheiro com cosméticos, principalmente produtos para cabelo, perfume e maquiagem”, revela Rita.

A auxiliar administrativa Carolina Corts, 21, reforça as estatísticas. “Eu gasto muito com maquiagem. Gosto de me sentir bonita e de me arrumar. Queria ser um pouco mais magra, mas não faço muito esforço. Estou muito feliz com meu corpo e não fico neurótica correndo atrás de padrão de beleza”.

“Não deixo de ir à academia. É um dos investimentos que faço em mim. Acho que é importante a gente se sentir bem com nossa aparência e eu me sinto ótima com a minha”, afirma a gerente de clínica de estética Alessandra Maciel Rocha, 28.

Roupa e cabelo impecáveis

“As mulheres da classe média se preocupam muito com o que vestem e com seus cabelos. Várias pesquisas nos mostram que elas estão sempre em busca de novos produtos que possam melhorar a aparência”, afirma Rita.

“Eu vou ao cabeleireiro uma vez por mês para manter o corte. Além disso, também cuido em casa. Faço escova e hidratação sempre que eu acho necessário” conta a analista de crédito Ana Carolina Pinheiro, 22. Ela diz que, às vezes, acaba perdendo o controle de seus gastos, mas que não pensa em cortar nada que a faça se sentir mais bonita.

Com cabelos bonitos e tratados, as mulheres não descuidam do vestuário. “Antigamente as clientes da Marisa não se interessavam muito por moda e tendência, mas as coisas mudaram. Hoje temos uma preocupação intensa em oferecer a elas a oportunidade de encontrar tudo isto em nossas lojas. Se está nas novelas, por exemplo, elas vão querer”, explica Andréa.

“Uma coisa que chama bastante atenção nas nossas pesquisas é que as mulheres querem roupas e acessórios fáceis de combinar entre si. É a otimização do guarda-roupa”, aponta Rita. Carolina concorda: “quando eu compro roupas sempre procuro por conforto e também quero peças que eu possa dar uma incrementada com acessórios e usar para sair à noite”.

Nem só de blusas e calças vivem as mulheres. Outro item importante para esta parcela de mulheres que está com a autoestima bem trabalhada é a lingerie. A rede popular Marisa abriu lojas segmentadas neste setor. “Temos desde tamanhos pequenos até tamanhos bem grandes. Observamos que o nosso público não para de comprar lingerie se estiver um pouco acima do peso. O que elas procuram, principalmente, é conforto e também um produto adequado ao seu corpo e à situação que ele será usado”, diz Andréa.

Educação: vale o investimento

É preciso esclarecer que as mulheres da classe média não se preocupam apenas com a aparência. Aliás, a realidade está bem longe disso. A educação e o acesso à informação são itens de extrema importância.
“Eu trabalho todos os dias para dar uma boa educação para o meu filho. Isto vem em primeiro lugar. Acredito que assim ele vai poder ter uma vida melhor”, conta Alessandra que tem um filho de 12 anos. Ela diz que controla os gastos da família e mesmo quando o marido ficou desempregado as necessidades do filho sempre foram atendidas.
Ana Carolina que terminou a faculdade de Gestão de RH no ano passado acredita que hoje é mais fácil ter acesso a uma boa educação. “Só não estuda quem não quer mesmo. Na época dos nossos pais eles precisavam trabalhar e não tinham tempo nem dinheiro sobrando para fazer faculdade, por exemplo. Já com a nossa geração eu acho que é diferente. Meu pai sempre trabalhou para que eu e meu irmão pudéssemos estudar e ter uma vida mais estável”.

Rita Almeida ressalta que vem surgindo, aos poucos, uma mudança no setor da educação. “É claro que a mulher que tem filhos prioriza os estudos deles, mas é preciso observar que elas começam a pensar em sua própria necessidade intelectual. Muitas têm o desejo de voltar a estudar”.

Fonte: Portal iG

quarta-feira, 7 de março de 2012

Dona de R$ 2,7 bi pede que mulheres pisem no acelerador e sonhem alto

As palestras de Sheryl Sandberg se tornam virais no Youtube; ela é arma do Facebook para atrair talentos femininos e falar com o público que mais usa a rede social, as mulheres
The New York Times

Setenta e duas horas antes do grande momento do Facebook, Sheryl K Sandberg se encontrava a meio mundo de distância na companhia de Bono e do Arcebispo Desmond Tutu. Sim, Sandberg é a mão direita de Mark Zuckerberg. E, sim, se tudo correr bem, ela em breve irá valer US$ 1,6 bilhão ou cerca de R$ 2,7 bilhões. Na quarta-feira, o Facebook anunciou sua abertura de capital, um negócio que quase certamente irá torná-la uma das empresas mais valiosas do mundo.


Foto: Bloomberg via Getty Images/Sheryl Sandberg: em Davos, lutando pela causa das mulheres, enquanto o mundo todo falava da abertura de capital do Facebook

Mas Sandberg, que ajudou a transformar esta rede social no fenômeno que é hoje, tinha outras preocupações que iam além de registros de valores e métricas de campanhas publicitárias. Ela estava participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, onde seu assunto não era o Facebook e sim as mulheres.

Especificamente, como as mulheres, em sua opinião, devem assumir a responsabilidade por suas carreiras e não culpar aos homens por serem um obstáculo que possa impedi-las de crescer.

Levando em consideração que Sandberg é a Chief Operating Officer (Chefe de Operações, em tradução livre) do Facebook, e que todo mundo em Wall Street estava de olho nessa notícia na semana passada, poderíamos até pensar que ela estava focada no assunto errado. Mas Sandberg se vê como mais do que uma executiva de uma das empresas mais famosas do mundo - mais também do que alguém que em breve estará entre as poucas mulheres bilionárias do mundo. Ela se vê como um modelo para as mulheres que lidam com negócios e tecnologia. Em seus discursos, muitas vezes ela pede que as mulheres "mantenham o pé no acelerador sempre" e sonhem alto.

Sua vocação não é simplesmente orientar e capacitar pessoas. Ela é também criar estratégias de negócios. A maior parte dos 845 milhões de usuários do Facebook são mulheres. As mulheres também são os usuários mais engajados. Então Sandberg está servindo de exemplo para um público poderoso e lucrativo, bem como para os anunciantes que querem alcançar esse público alvo. Dentro da sede do Facebook em Menlo Park, Califórnia, ela é considerada uma arma não tão secreta, responsável tanto pela contratação de mulheres talentosas quanto de homens. Ela e Zuckerberg precisam dos melhores profissionais disponíveis para manter o impressionante crescimento do Facebook.

Claro que o fato de Sandberg ser boa em apresentações e ter uma ótima personalidade ajuda. Em Davos e no circuito de conferências, em aparições públicas em Washington e nas universidades, ela possui uma presença desarmante que a distingue de muitos outros executivos, homens ou mulheres.

Suas palestras se tornaram virais. No YouTube, alguns vídeos de seus discursos tiveram mais de 200.000 visitas. Alguns foram incluídos no currículo de escolas de negócios e administração de Stanford e Harvard. Resumindo, ela deixa transparecer algo que parece deixar muitas pessoas, particularmente as mulheres, um pouco maravilhadas.

Assista, abaixo, uma palestra proferida, em inglês, por Sheryl Sandberg, sobre os motivos de as empresas terem tão poucas lideranças femininas:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=18uDutylDa4
http://youtu.be/18uDutylDa4


"Existem algumas mulheres que poderiam ter se tornado o 'Justin Bieber de tecnologia', mas Sheryl é única", disse Ann Miura-Ko, professora da Faculdade de Engenharia da Universidade de Stanford e uma parceira de investimento na Floodgate, uma empresa de capital de risco de Palo Alto, Califórnia. "As mulheres jovens realmente querem ser como ela e aprender com ela."
Miura-Ko acrescentou: "Sheryl é como plutônio radioativo quando se trata de recrutar uma pessoa-chave para o Facebook."
Outras mulheres no Vale do Silício também já serviram como exemplos. Muitas, como as executivas do Google,

Foto: Bloomberg via Getty Images/Marissa Mayer, do Google: campanhas sutis para promover as lideranças femininas em suas empresas

Marissa Mayer e Susan Wojcicki, têm feito sutilmente uma campanha para promover as mulheres dentro de suas empresas. Outras - como Meg Whitman, ex-presidente do eBay, que agora administra a Hewlett-Packard, Carly Fiorina, ex-presidente da HP, e Carol Bartz, ex-presidente do Yahoo - chegaram a ter muito sucesso no setor de tecnologia.
Mas nenhuma delas abraçou a causa de promover as mulheres da mesma maneira que Sandberg.

Mesmo assim, alguns dizem que sua mensagem de sonhar alto está um pouco fora da realidade. Todo mundo concorda que ela é muito inteligente, mas ela também tem tido sorte e teve ótimos mentores ao longo do caminho. Depois de Harvard e da Escola de Administração de Harvard, ela rapidamente saiu de um cargo como economista do Banco Mundial para se tornar a chefe do gabinete de Lawrence H. Summers, então secretário do Tesouro. Depois disso, ela foi trabalhar para o Google e, em 2008, para o Facebook.

Ela é casada com Dave Goldberg, um empresário bem sucedido e presidente executivo da SurveyMonkey, que permite que as pessoas criem as suas próprias pesquisas na internet. Ela não precisa se preocupar muito com dinheiro ou em cuidar das crianças. (Ela e seu marido têm dois filhos pequenos).

Para alguns, Sandberg parece sugerir que as mulheres deveriam apenas trabalhar mais, embora não reconheça que a maioria das pessoas não tiveram todas as oportunidades que ela teve.

"Sou uma grande fã de suas realizações e acho que ela é um grande exemplo em alguns aspectos, mas eu acho que ela é excessivamente crítica das mulheres porque está quase dando a entender que elas não têm a energia e a ousadia necessárias para atingir estes objetivos", disse Sylvia Ann Hewlett, presidente do Centro de Inovação de Talentos, uma organização de pesquisa sobre as políticas da vida profissional e diretora do Programa de Gênero e Política da Universidade de Columbia.

''Eu acho que ela conseguiu traçar para si mesma um caminho muito bom mas que talvez não consiga compreender que os verdadeiros desafios não estão no fato de alguém ter filhos ou não ter ambição,'' continou Hewlett. "As mulheres são, na verdade, muito firmes em relação a suas ambições, mas elas realmente acham que outras coisas as impedem de perseguir seus objetivos profissionais, como a falta de alguém que ajude a pagar as contas enquanto elas perseguem seus sonhos."

Não há como negar que Sandberg tem sido notavelmente bem-sucedida no Facebook. Quando ela entrou para a empresa, eles tinham cerca de 70 milhões de usuários e não possuíam um modelo de negócio. Com ela na posição de COO, os lucros chegaram a US$ 1 bilhão, saídos de US$ 3,7 bilhões em receita.

Sem dúvida, ela tem deixado uma marca enorme com seus frequentes discursos para as mulheres, que se tornaram praticamente um cartão de visitas para atrair mais mulheres para o setor de tecnologia e para o Facebook. Ela recrutou pessoalmente Lori Gole, a chefe de recursos humanos, e Katie Mitnic, a chefe de marketing de plataforma e de mobile. O papel de Sandberg em manter essas trabalhadoras tem sido ainda mais crucial.

Sukhinder Singh Cassidy, que trabalhou com ela no Google, disse que o perfil de Sandberg deu ao Facebook uma vantagem no recrutamento e na retenção de talentos.
"Quando você encontra mulheres que se perguntam : 'Será que eu consigo ficar? Consigo ter filhos e mesmo assim atingir meus objetivos profissionais?' A existência de exemplos como Sheryl é muito impactante", disse Singh Cassidy, que agora administra uma startup de compras online, a Joyus.

Sandberg se recusou a ser entrevistada para este artigo. Mas em uma conversa anterior com o "The New York Times", ela mencionou ter tido o seguinte dilema com uma candidata. "Nós lhe oferecemos a vaga e eu disse: 'Nós não temos que falar sobre isso, mas caso você esteja pensando em recusar este trabalho porque você está pensando em engravidar, você não deve se preocupar com isso", disse Sandberg. Não havia necessidade, Sandberg explicou, de escolher entre ter filhos e sua carreira – pois ambos eram possíveis. "Ela assumiu o cargo e me disse que não teria aceitado se eu não tivesse tido aquela conversa com ela. Ela engravidou algumas semanas depois."
Segundo investidores e analistas, sua atenção às mulheres também gerou benefícios para o negócio de outras maneiras.

Sandberg disse que as mulheres geram 62% da atividade no Facebook, em termos de atualizações de status, mensagens e comentários. As mulheres também geram 71% da atividade das páginas de marcas do site. As mulheres têm 8% de amigos a mais no Facebook do que os homens, em média, e passam mais tempo no site. Nos primeiros dias do Facebook, as mulheres foram as primeiras a publicar fotografias, a participar de grupos e publicar comentários.

"Não é nenhum segredo que as mulheres são um segmento de mercado extremamente poderoso, que consome pela internet e toma decisões no mundo digital diariamente", disse Aileen Lee, sócio da Kleiner Perkins Caufield & Byers, a firma de capital de risco que tem investido no Facebook e em várias startups administradas por mulheres.
Parte do papel de Sandberg tem sido o de cultivar relacionamentos com grandes anunciantes procurando por novas formas de interação com os clientes online - especialmente com clientes do sexo feminino. Ela foi fundamental em conseguir anunciantes como a Procter & Gamble. Depois de várias reuniões com o Facebook, a empresa escolheu a plataforma para uma nova campanha do desodorante Secret, destinado a mulheres jovens.

"A P&G quer estar onde o povo está, e mais e mais pessoas estão gastando seu tempo em sites de redes sociais", disse Alex Tosolini, vice-presidente da unidade da e-business global da empresa. "O objetivo de nossa campanha era de inspirar as mulheres de todas as idades a ser mais destemidas."

Esta é uma mensagem que parece muito semelhante com a de Sandberg. Com ela, a venda do desodorante Secret aumentou em 9% nos primeiros seis meses de campanha e a participação do desodorante no mercado subiu para 5% em relação ao ano anterior.

Se os homens do Vale do Silício fortalecem seus vínculos em salas de conferência de capital de risco ou em passeios de bicicleta no fim de semana, Sandberg também tem um grupo alternativo para a rede de mulheres do Vale do Silício. Durante sete anos, desde que era executiva do Google, ela tem realizado jantares mensais em sua casa para um grupo de dezenas de mulheres. Entre as convidadas estiveram a feminista e escritora Gloria Steinem; Steve Ballmer, CEO da Microsoft, e o prefeito Michael R. Bloomberg, de Nova York, de acordo com três pessoas que participaram dos jantares, mas falaram com a condição de que elas não fossem identificadas em respeito à privacidade de Sandberg. Sandberg recentemente convidou a senadora Claire McCaskill do Missouri para participar como palestrante.

"Eu esperava ver um monte de mulheres usando ternos e bolsas caras e fiquei positivamente surpresa quando vi que não era nada disso", disse McCaskill. "Algumas das mulheres presentes estavam no início de suas carreiras, seus filhos estavam correndo pelo lugar, era um evento bem discreto. Ficou claro que ela é o exemplo que estas mulheres jovens estão procurando, especialmente no setor de tecnologia."

Agora, além de todos os seus cargos e títulos, Sandberg deve ganhar mais um: o de bilionária. De acordo com documentos apresentados pelo Facebook na semana passada, Sandberg ganhou quase US$ 31 milhões ano passado, incluindo um salário base, bônus e US$ 30,5 milhões em prêmios e ações. Ela possui 1,9 milhão de ações da companhia e um adicional de 39 milhões em opções de ações restritas. Se o Facebook se tornar uma empresa pública a uma avaliação de US $ 100 bilhões - o que Wall Street vê como uma possibilidade, sua participação poderá valer até US$ 1,6 bilhão. Ela irá então fazer parte do clube mulheres mais ricas da América, ficando acima de Meg Whitman (US$ 1,3 bilhão), porém abaixo de Oprah (US$ 2,7 bilhões), segundo a revista Forbes.

Muitos se perguntam se Sandberg pode ir além do Vale do Silício e migrar para o mundo da política. Esse foi a discussão do momento em Davos.

McCaskill, por exemplo, disse que Sandberg teria grandes oportunidades na política. "Mas, por enquanto," a senadora acrescentou: "ela está sendo uma grande ajuda para as mulheres no setor privado."

Fonte: Portal iG