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domingo, 15 de abril de 2012

Capital mundial do estupro: na África do Sul, uma mulher é violentada a cada 27 segundos

No país da última Copa do Mundo, uma menina tem mais chances de ser estuprada do que aprender a ler; Aids é epidemia nacional

Women For Women International

Questão cultural: 62% dos meninos com mais de 11 anos acreditam que forçar alguém a fazer sexo não é um ato de violência

A cada 27 segundos uma mulher é abusada sexualmente na África do Sul. Uma em cada três sul-africanas será violentada pelo menos uma vez na vida. Um em cada três sul-africanos irá estuprar uma mulher. Estes dados são da Rape Crisis, uma organização sem fins lucrativos (ONG) que combate a violência contra a mulher, localizada na Cidade do Cabo. A associação ainda aponta que, na maioria do casos, a violência sexual é realizada por um homem que participa do cotidiano da vítima.

Este é o caso da Eliane, 30 anos. “Conheci o meu primeiro namorado numa casa de dança, foi amor à primeira vista. Cerca de oito meses depois que nos casamos ele começou a usar drogas, beber e consequentemente a me tratar mal”. Ela conta que a violência aumentou gradativamente. “Um dia ele levou uma prostituta para casa. Eles deitaram na minha cama para ter relações sexuais e fui obrigada a participar de tudo. Depois, ele me esfaqueou e me disse que tinha de fazer isso porque era inferior. E assim continuou por muitas noites. Hoje estamos separados".

A África do Sul é a capital do estupro no mundo. Uma menina nascida no país tem mais chances de ser estuprada do que aprender a ler. Um quarto delas é abusada sexualmente antes de completar 16 anos. Este problema tem muitas raízes, segundo a Rape Crisis: machismo (62% dos meninos com mais de 11 anos acreditam que forçar alguém a fazer sexo não é um ato de violência), pobreza, desemprego, homens marginalizados, indiferença da comunidade, e mais do que tudo, a impunidade: os poucos casos que são denunciados às autoridades se perdem no descaso da polícia e acabam impunes. Nos últimos 10 anos, de 25 homens acusados de estupro no país, 24 saem livres de punição, segundo os levantamentos da entidade.

De acordo com Marieta de Vos, diretora-executiva da Mosaic Training, Service and Healing Centre for Woman, uma organização que fornece suporte às vítimas de violência doméstica e estupro, a África do Sul registra 50 mil estupros por ano e as ONG’s existentes na Cidade do Cabo protegem atualmente cerca de 25 mil pessoas, desde bebês, passando por adolescentes até idosas.

O trabalho de organizações não-governamentais é fundamental para se ter uma noção do tamanho da crise de estupros na África do Sul. Procurado pela reportagem, o órgão do governo responsável pelo tema alegou não ter dados atualizados sobre violência sexual. Segundo as estatísticas da polícia de 2007, os incidentes de estupro notificados decresceram 4,2 pontos percentuais nos seis anos anteriores. No entanto, em um ano foram registrados 52.617 estupros. Também foram registrados 9.327 casos de "atentado ao pudor" - incluindo violação anal e outros tipos de ataque sexual que não se enquadravam na definição de estupro. Em dezembro, novas estatísticas criminais referentes ao período de abril a setembro de 2007 incluíam o registro de 22.887 estupros.

Barreira cultural

Ida Jacobs, 37 anos é colaboradora da associação Labour Rights Programme Officer - Women on Farms Project, uma ONG que protege mulheres que sofrem qualquer tipo de abuso nas fazendas da África do Sul. Ela também foi vitima de violência doméstica e estupro, que muitas vezes estão relacionados. Ela conta que várias mulheres não denunciam os agressores porque geralmente existe uma dependência emocional e financeira e também por conta da falta de aceitação da família em relação ao divórcio.

Thassio Borges

“Conheci meu marido aos 17 anos e durante o namoro ele era perfeito, mas depois do casamento começou a falar alto, mas minha mãe me dizia que isso era normal, pois ele era homem e eu precisava obedecer. Até que ele começou a me bater e me obrigar a ter relações sexuais com ele. Depois de tudo ele me pedia desculpas e dizia que iria mudar, mas as cenas se repetiam. Meu corpo é todo marcado”. Ida conta ainda que após 13 casados ela pediu o divórcio, porém, não foi fácil, pois não tinha emprego, casa e muito menos apoio da família. Para superar tudo isso, ela contou com a ajuda da entidade Women on Farms.

“Há sete anos estou divorciada e sem contato com minha família, mas consegui refazer a minha vida. Hoje tenho casa, carro, trabalho e, por meio dele, oriento outras mulheres a saírem dessa condição miserável”. Mas, afirma que o abuso está cada vez pior no país, pois, infelizmente, o machismo ainda supera as leis. “A situação das mulheres que trabalham nas fazendas na África do Sul é muito parecida com a maneira com que viviam os escravos antigamente. Essas mulheres sofrem diariamente abusos físicos, psicológicos e sexuais e quando reclamam para o dono da fazenda ele diz que a fazenda não tem nada a ver com isso”, explica.

Segundo outra entidade sem fins lucrativos chamada Reach, as mulheres brancas que são vítimas de estupro também têm mais dificuldade em efetuar a denúncia. “Elas acreditam que isso só acontece com as negras e se sentem envergonhadas. No caso de violência doméstica o pensamento é o mesmo”, disse a presidente da entidade, Claudia Lopes.

Ela ainda comenta que, recentemente na África do Sul, uma mulher tentou se separar do marido, após ter sofrido violência doméstica e sexual, porém, ele não aceitou e a chamou para conversar. “Neste dia, ele levou mais alguns colegas para violentar sexualmente a mulher na frente dele e depois chamou o filho para ver também. O marido ainda introduziu uma chave de fenda na vagina da esposa, após tudo isso ele matou a esposa e o filho”, conta Claudia.

Já Sharon Kouta, diretora do UNODC VEP (United Nations Office on Drugs and Crime Victim Empowerment Programme, na sigla em inglês) - um programa do governo em parceria com a ONU para o fortalecimento dos Direitos Humanos, na província oeste da Cidade do Cabo, afirma que a razão do estupro é cultural. “As pessoas costumam dizer que a razão do estupro é droga ou álcool, mas na realidade não importa a condicão social, econômica, cor da pele, o problema é a cultura, o estupro é uma mecanismo usado para controlar e manipular”, revela.

Presidente acusado

O atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, foi acusado em 2005 (na época ele era vice-presidente de Thabo Mbeki) pela corte suprema, em Johanesburgo, de estuprar uma mulher de 31 anos, amiga da família. Zuma alegou, durante o julgamento em 2006, que praticou sexo com a mulher, mas de forma consensual. Além disso, ele sabia que a vítima era portadora do vírus HIV e não usou nenhum tipo de proteção. Zuma declarou também que tomou banho depois da relação sexual para evitar a contaminação. O caso chocou também ativistas da AIDS, que desenvolvem um árduo trabalho educativo e de prevencão no país, e ainda mais porque sua esposa é médica e era Ministra da Saúde. Entretanto, Zuma foi absolvido do caso.

A representante do setor Acting Head, do Departamento de Desenvolvimento Social da província oeste da Cidade do Cabo, Sharon Follentine, descreve como a violência contra a mulher é difícil de ser combatida quando a vítima passa também a acreditar que o estupro é natural e, por isso, não busca auxílio ou demora muito tempo, quando já há traumas profundos.

“A vítima, após danos psicológicos e emocionais, passa a acreditar que tudo isso acontece porque é destino ou porque ela fez algo errado. Ela começa a internalizar que seus pais estavam sempre discutindo, ele sempre tinha argumentos para bater na sua mãe ou estuprá-la e a vítima começa a transmitir esse pensamento para os filhos. Se por acaso os filhos vivenciarem a mesma situação da mãe ou avó começarão a achar tudo natural e o ciclo se repetirá”, comenta Follentine, que aposta nos programas educacionais e informativos em comunidades com maior índice de violência doméstica e estupro para combater as práticas.

A ONG Philisa Abafazi Bethu, que atua com a prevenção dos abusos sexuais por meio de orientação nas escolas, igrejas das periferias e favelas, concorda que a mulher precisa de mais informação e saber que existem outros meios de recomeçar a vida. “Nosso foco é mostrar para as mulheres e crianças vítimas de abuso sexual e violência doméstica que isso é errado. Elas, na maioria das vezes, nem sabem que isso não é correto, apenas tem noção que é ruim. Depois que reconhecem que o estupro é crime, a dificuldade das mães é sair de casa com filhos, aprender inglês porque muitas vezes falam outros dialetos, buscar uma casa, ofício e isso demora, mas é possível”, acrescenta Mabel Martn, representante da entidade.

Meta

Segundo dados mais otimistas da entidade All Africa House, ligada à Universidade de Cidade do Cabo, a África do Sul espera acabar com a violência contra a mulher em 2015por meio de programas sociais que o país desenvolve no momento. Entretanto, a representante da entidade Reach acredita que a situação ainda deve piorar. “Os incidentes vão ficar mais graves. Temos um grande número de drogas e álcool relacionados com estupro”, explica Claudia.

Thassio Borges


Quem concorda com Claudia é a professora da Universidade da Cidade do Cabo, Lilian Artz. “Hoje é muito complicado transformar esta meta em realidade, principalmente, quando nos deparamos com a falta dos equipamentos ou procedimentos mais simples nos hospitais públicos da África do Sul. Atualmente, a vítima de estupro espera mais de horas para fazer o exame pericial e comprovar a violência. Após isso, muitas vezes ela sai do hospital sem o kit com a medicação para prevencão do HIV”, detalha.

Ela ainda conta que quatro mulheres são assassinadas todos os dias na África do Sul vítimas de algum tipo de violência. “O governo possui metas, porém, não propõe soluções suficientes para amenizar o problema que cresce na mesma medida que aumenta o número de mulheres que contraem HIV/AIDS nestes casos”, acrescenta.

As sul-africanas vítimas de violência doméstica e estupro contam com órgãos públicos de proteção, Comissão de Direitos Humanos, outra comissão que promove a igualdade entre sexos e até mesmo várias organizações sem fins lucrativos existentes no país. É comum encontrar anúncios, folhetos e campanhas em lugares públicos ou em comerciais na televisão, rádio que reforçam o compromisso das entidades em oferecer o suporte necessário.

A lei que combate a violência doméstica e estupro existe na África do Sul desde 1998, mas a dificuldade das vítimas consiste na junção de provas e dados necessários para incriminar o agressor. De acordo com o Departamento de Polícia sul-africano, a mulher precisa, no caso de estupro, realizar o exame de DNA entre quatro e seis horas após o incidente, manter as roupas e não tomar banho, preservar a cena do crime com o maior número de detalhes possíveis, passar por um exame médico pericial, fazer uma denúncia na polícia para fornecer o máximo de informações. Existe um banco de dados de DNA, mas a polícia só consegue provas quando há quantidade suficiente de material genético (sangue, esperma e saliva, por exemplo) para análise após o estupro.

“Pela lei o estupro é considerado um ato grave e quem comete pode ficar preso até 20 anos, mas na prática isso raramente acontece e tudo aqui vira papel arquivado na gaveta”, lamenta Claudia Lopes.

Fonte: Opera Mundi

Proteja seu filho do consumismo infantil

Não é preciso isolá-lo em uma redoma para resistir aos impulsos do consumo. Negociação e diálogo são as atitudes mais recomendadas

http://www.youtube.com/watch?v=49UXEog2fI8
Cena do documentário "Criança, a Alma do Negócio"

Se a um grupo de cinco crianças fosse dada a chance de escolher entre comprar e brincar, qual seria a opção preferida? De acordo com uma cena do documentário “Criança, a Alma do Negócio”, dirigido por Estela Renner (assista ao lado), a escolha não é tão unânime como os pais podem imaginar: quatro das cinco crianças preferem a primeira opção. E não é à toa.

No início de 2010, uma pesquisa mostrou que, de 411 pais de crianças entre três e 11 anos, aproximadamente 288 admitiram ser influenciados pelos filhos na hora de comprar. De acordo com Laís Fontenelle Pereira, coordenadora de Educação do pelo Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, a publicidade voltada para o público infantil é o primeiro fator de influência neste cenário. “As crianças de hoje já nascem inseridas nesta cultura de consumo e existe uma publicidade que fala diretamente com ela, que é o principal influenciador”. Depois da publicidade, vêm as embalagens dos produtos e, em terceiro, os personagens envolvidos com o produto, sejam eles famosos ou não.

O uso deste mecanismo na publicidade é recente. O mercado enxergou na criança uma consumidora em potencial, já que ela é capaz de influenciar familiares e colegas na escola. Marcos Nisti, produtor executivo do documentário “Criança, a Alma do Negócio”, que o diga. Segundo ele, as crianças começam a consumir muito mais cedo que antes, pois a sociedade de consumo invade o mundo delas: “Hoje, no próprio ambiente dela, a criança é respeitada pelo que tem, e não pelo que é”.

Dentro de casa e dentro da escola

Segundo pesquisas, as crianças influenciam até 80% das decisões de consumo da família. Além dos estímulos consumistas que chegam a elas pela televisão e entre os colegas de escola, outro fator, segundo Nisti, colabora em grande escala: a culpa dos pais por trabalhar em tempo integral. Eles sentem que devem compensar a ausência dando tudo que os filhos pedem. Estanislau Maria de Freitas, coordenador de Comunicação do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, concorda. “Como os pais passam muito tempo fora, a criança fica em casa mais vulnerável à publicidade”, diz, ressaltando que a regulamentação sobre a publicidade brasileira é bem pouco rígida se comparada à de países como Canadá, Holanda e Noruega, entre outros.

E a televisão não é o único meio de atingir as crianças. De acordo com Laís, que também ministrará o curso “Consumismo na Infância e o Brincar: pólos que não se atraem” no Centro de Estudos Educacionais Vera Cruz (CEVEC), em São Paulo, a partir deste mês, existem ações de marketing voltadas para o público infantil por todos os lados. É o chamado “marketing 360 graus” – e ele acontece até mesmo dentro das escolas: “Recebemos cada vez mais denúncias de marketing dirigido às crianças nas escolas, disfarçado de atividade pedagógica”, alerta Laís.

As instituições de ensino não devem permitir que a publicidade invada o espaço escolar. “A escola não é shopping center: ela tem uma função social”, afirma ela. Afinal, as consequências do consumismo infantil podem ir de mal à pior, incluindo a intensificação do bullying, se as crianças forem estimuladas a pautar suas relações sociais pelo que os colegas têm ou deixam de ter. “As crianças fazem grupos e discriminam outras por não terem determinados objetos, hoje tidos como ingresso social”, conta a especialista. E é preciso desconstruir essa lógica.

Publicidade como ponto de partida

Dentro de casa as consequências da superexposição à publicidade também são significativas e os pais podem acabar endividados por não conseguirem negar os desejos dos filhos. Pensando nisso, em 2001 o atual Secretário da Fazenda do Paraná Luiz Carlos Hauly apresentou um projeto de lei com o objetivo de proibir a publicidade destinada a crianças de até 12 anos. Hauly foi influenciado pelo ímpeto consumista do filho mais novo para a apresentação do projeto: “Descobri que na legislação da maioria dos países desenvolvidos existem restrições em relação à publicidade, pois os comerciais podem destruir muito do que a família e a escola fazem pela criança”. O projeto ainda está para ser votado em plenária.

O Secretário sugere que a influência publicitária sobre as crianças, que associa o “ter” ao “poder”, se relaciona até à criminalidade. “Quando as crianças de periferia chegam por volta dos 13 anos, elas vão buscar o que lhes foi negado. Isso é um indutor de violência e marginalidade”. Para ele, a questão do consumismo infantil não é apenas responsabilidade dos pais, mas dever do Estado e da sociedade – onde também se situam as emissoras de TV. “O primeiro passo, portanto, é eliminar a publicidade voltada às crianças”, completa.

Foto: Alexandre Carvalho/ Fotoarena
Vera e os filhos mais novos: "ensinar o valor do dinheiro é difícil, mas vale a pena"


Negociação constante

Enquanto isso não acontece, os pais têm uma árdua missão: proteger os filhos do consumismo desenfreado. A empresária Vera Menezes, de 55 anos, tira a tarefa de letra desde o primeiro filho. Hoje ela é mãe de quatro e os dois mais novos já se habituaram aos combinados com a mãe. Rafael, de nove anos, sabe bem que fast-food só é permitido uma vez por semana – e olhe lá. “Eu explico porque não pode exagerar e, dentro da cota dele, ele entende e respeita”. Se deixasse, Vera acredita que ele comeria em lanchonetes todos os dias.

Pedro, de 14 anos, já se policia sozinho. Ele juntou dinheiro da própria mesada para comprar um videogame novo e dar ou vender o antigo. Vera coíbe excessos e desperdícios deixando muito claro que dinheiro não se encontra na rua e ensinando os filhos a dar uso a brinquedos substituídos por modelos mais novos. “Eles têm muita compreensão disso”, afirma. E de reutilização dos produtos também. Quando o mais velho tem uma chuteira ou outra peça em boas condições que não serve mais, ela é passada para o caçula. “Eles sabem que não precisa ter sempre uma chuteira nova, algo sem necessidade”.

Vera vê em Rafael, o filho mais novo, os reflexos do estímulo ao consumo. Mas define este querer como muito passageiro: “Ele quer tudo que vê, mas quando a gente diz “não”, ele assimila”. A mãe controla o tempo de televisão do filho. No caso de Pedro, o mais velho, a coisa muda de figura: ele é mais influenciado pela própria tribo. “Na turma dele, todo mundo costuma usar o mesmo tipo de roupa”, conta. Pedro é mais ligado às marcas do que os outros filhos: “Ele prefere ter menos roupas, mas das marcas que ele gosta”.

No ano passado, quando foi com os filhos para a Disney, Vera estipulou um valor proporcional à idade para cada um administrar. “Tudo que eles queriam tinha que estar dentro dessa cota, e todo mundo cumpria com o combinado”, explica. De acordo com Vera, o combinado acabou virando também uma brincadeira. Estabelecer acordos não é fácil, mas vale a pena. “É uma coisa que dá trabalho aos pais. Você precisa parar, sentar, conversar, gerar um significado e uma cumplicidade, e isso desde que eles são pequenos. Mas é algo para a vida inteira”, completa.

O poder do exemplo

Para Laís, o diálogo é a chave da transformação. Além dele, o exemplo é fundamental. A máxima “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” não funciona com as crianças. Segundo Estanislau, do Instituto Akatu, é preciso dar o exemplo na prática. Não adianta sair com o filho para ir ao cinema e, depois da primeira vitrine, sair da loja cheia de sacolas. “Pai e mãe também precisam estar conscientes do próprio consumo”, diz ele.

Com isso, fazer combinados com os filhos em relação às compras e limitar o número de horas na frente da televisão – assim como Vera faz – se tornam os primeiros passos para diminuir o consumo dentro de casa. Marcos sugere o estímulo ao brincar, principal fonte de inspiração para formar cidadãos melhores, mais criativos e conscientes. E saber dizer “não” aos pequenos é fundamental – sempre explicando as razões, mostrando o valor do dinheiro e resgatando o significado das datas comemorativas, geralmente usadas para incitar ainda mais o consumo.

Estanislau sugere que o melhor exercício de educação para o consumo é consumir com responsabilidade junto aos filhos. Quando pai e filho forem ao mercado, por exemplo, mostrar o quanto se paga num produto, de onde ele vem e como é feito, entre outros fatores, são boas formas de ensinar ao filho o valor daquilo. “O papel dos pais é ensinar os filhos a se relacionarem de outra maneira, que não a atual, com o mundo de consumo”, diz.
Fonte: Portal iG

sábado, 14 de abril de 2012

Conta tudo, Cachoeira

EIS A HISTÓRIA DE UM HOMEM QUE QUIS COMPRAR O BRASIL INTEIRO E QUASE CONSEGUIU
Leonardo Attuch

Interpretado por Al Pacino, Michael Corleone não tinha lá muita vocação para o crime. Parecia ser o mais frágil dos irmãos e o menos apto a suceder Don Vito Corleone, vivido por Marlon Brando, no comando da máfia. Carlos Augusto Ramos, nosso Carlos Cachoeira, era também filho de bicheiro. Desde jovem, Carlinhos sentiu na pele o peso da rejeição social. Nasceu em Anápolis, uma cidade com seus próprios complexos, tida como rota de passagem entre duas capitais – Brasília e Goiânia –, e nunca se sentiu plenamente inserido na sociedade. Era rico, mas não tinha pedigree. Portanto, nunca foi devidamente respeitado.

Eis a raiz psicológica que explica os distúrbios do nosso Poderoso Chefão. Assim como Michael Corleone, Cachoeira tentou migrar do crime para atividades legais – ou, pelo menos, menos ilícitas. E, assim como o personagem do filme, ele também fracassou, ainda que tenha diversificado seus negócios para muito além do jogo. Cachoeira era fabricante de remédios, empreiteiro, dono de shopping centers e fazendeiro. Mas, em todas as atividades empresariais em que se envolveu, utilizou métodos de quadrilha, como grampos ilegais, extorsões, chantagens e propinas.

É por isso que o Brasil está prestes a experimentar a mais emocionante de todas as CPIs. Nunca antes na história deste país um contraventor foi tão audacioso. Com complexo de grandeza, Cachoeira se julgou capaz de se infiltrar no Congresso e de colocar de joelhos governos democraticamente eleitos. Quase conseguiu. Há rumores até de que vinha organizando o maior de todos os mensalões: a mesadinha parlamentar para liberar o jogo no Brasil, com o valor de tabela de cada deputado e senador.
Seu esquema parecia perfeito. Envolvia proteção policial, retaguarda política e uma montanha de dinheiro. Mas a ambição desmedida sempre cobra seu preço. Cachoeira produziu crises no governo Lula, com os filmes de Waldomiro Diniz e Maurício Marinho, infiltrou-se no governo goiano e tentou tomar conta também do Distrito Federal. O que mais ele pretendia?

Como consolo, eis agora a oportunidade de revelar os nomes de todos aqueles que estavam no seu bolso. Diante dele, na CPI, quantos inquisidores não terão sido favorecidos por suas doações? Conte tudo, Cachoeira. Dê nome e sobrenome. E, assim como na saga do Poderoso Chefão, cite a frase de Michael Corleone. A de quanto mais alto subiu na escala social, mais podridão descobriu.

Fonte: Brasil 247

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A tragédia da emancipação feminina

Presa diversas vezes nos EUA, Emma Goldman exilou-se na Rússia em 1917 e, 20 anos depois, combateu o fascismo na Espanha. Anarquista, foi também uma ardente feminista que, apesar de algumas concepções datadas, várias vezes antecipou suas herdeiras da luta pela igualdade de gênero
* Emma Goldman


Ilustração: The New York Times / Latinstock

Vou começar com uma afirmação: deixando de lado todas as teorias políticas e econômicas, as distinções de classe e de raça, as fronteiras artificialmente traçadas entre os direitos das mulheres e os dos homens, afirmo que há um ponto no qual essas diferenças podem se encontrar e se fundir em um todo perfeito.

A paz ou a harmonia entre os sexos e os indivíduos não dependem necessariamente de um nivelamento superficial dos seres humanos nem requerem a eliminação das particularidades e dos traços individuais. O problema que temos de considerar hoje e que seria preciso resolver é o seguinte: como ser você mesmo e ainda estar em unidade com os outros, como sentir-se em profunda comunhão com todos os outros seres humanos e conservar intactas suas próprias qualidades? Esse me parece ser o terreno no qual poderiam se encontrar sem antagonismo e sem oposição a massa e o indivíduo, o verdadeiro democrata e o verdadeiro individualista, o homem e a mulher. A fórmula não deve ser “perdoar uns aos outros”, mas “compreender uns aos outros”. A frase tantas vezes citada de Madame de Staël – “Compreender tudo é perdoar tudo” – nunca me convenceu: ela cheira a confessionário. Perdoar os outros evoca a ideia de uma superioridade farisaica. Compreender o próximo basta, e essa declaração encarna, em parte, minhas ideias sobre a emancipação da mulher e seus efeitos sobre seu sexo todo.

A emancipação deveria dar à mulher a possibilidade de ser humana no sentido mais verdadeiro. Tudo o que nela reclama a afirmação de si e a atividade deveria alcançar sua expressão mais completa; todos os vestígios de séculos de submissão e escravidão deveriam ser retirados do caminho que conduz a uma liberdade maior.

Esse era o propósito original do movimento em favor da emancipação feminina. Mas os resultados obtidos até agora isolaram a mulher, despojando-a das fontes de uma felicidade que lhe é tão essencial. A emancipação externa simplesmente fez da mulher moderna um ser artificial, que lembra os produtos da arboricultura francesa, com suas árvores e arbustos fantasiosos podados em forma de pirâmides, cones, cubos etc. E é especialmente na pretendida esfera intelectual de nossa vida que podemos encontrar em grande número essas plantas femininas artificiais.

Liberdade e igualdade para as mulheres! Quantas esperanças e aspirações essas palavras despertaram quando pronunciadas pela primeira vez por alguns dos mais nobres e corajosos corações de nosso tempo. O sol, em toda sua glória e esplendor, iria nascer em um novo mundo, no qual a mulher seria livre para dirigir seu próprio destino – objetivo certamente digno do entusiasmo, da coragem, da perseverança e do esforço incessante dos pioneiros de ambos os sexos que arriscaram tudo para se colocar contra um mundo apodrecido pelo preconceito e a ignorância.

Minhas expectativas também tendem para esse fim; mas sustento que a emancipação da mulher, tal como praticada e interpretada hoje, falhou completamente. A mulher agora se vê diante da necessidade de emancipar-se da emancipação, para se libertar. Pode parecer paradoxal, mas é exatamente assim.

O que a mulher obteve com a emancipação? O direito de votar em alguns estados. Isso purificou a política, como profetizaram muitos protagonistas do sufrágio feminino? Certamente não. Aliás, há muito tempo as pessoas dotadas de um julgamento claro e sadio pararam de falar da “corrupção no campo da política” em tom de salão bem-pensante. A corrupção na política nada tem a ver com a moral ou a frouxidão moral das personalidades políticas. Sua origem é puramente material. A política reflete o mundo comercial e industrial guiado pelos seguintes lemas: “Mais vale receber do que dar”, “Compre barato e venda caro”, “Uma mão suja lava a outra”. Não há por que imaginar que a mulher provida do direito de votar venha um dia purificar a atmosfera política.

A emancipação da mulher igualou-a economicamente ao homem, ou seja, ela pode escolher uma profissão ou ocupação. Mas como sua educação física passada e presente não a dotou da força necessária para competir com o homem, ela é muitas vezes forçada a consumir toda a sua energia, esgotar sua vitalidade e tensionar demais todos os seus nervos para atingir um valor de mercado. E mesmo isso são muito poucas as que conseguem, pois é um fato reconhecido que as professoras, médicas, arquitetas ou engenheiras não são acolhidas com a mesma confiança que seus colegas do sexo masculino, e com frequência não recebem remuneração equivalente à deles. Já para as que atingem essa igualdade enganosa, é geralmente à custa de seu bem-estar físico e psíquico. Quanto à grande massa das trabalhadoras, que independência elas ganharam trocando a estreiteza de perspectivas e a falta de liberdade do lar pela estreiteza de perspectivas e a falta de liberdade da fábrica, da oficina de costura, da loja ou do escritório? Acrescente-se a isso, para muitas mulheres, o incômodo de, ao fim de uma extenuante jornada de trabalho, voltar para uma casa fria, seca, suja e nada acolhedora. Que independência gloriosa!

Não é de admirar que centenas de moças mostrem-se tão ansiosas em aceitar a primeira oferta de casamento que se apresenta, tão desgostosas e cansadas estão de sua “independência” atrás de um balcão, uma máquina de costura ou uma máquina de escrever. Elas perseguem o casamento tanto quanto as moças de classe média que aspiram livrar-se do jugo da autoridade parental. Uma independência que tem como ganho uma subsistência medíocre não é nem tão atraente nem tão ideal para que possamos esperar que as mulheres se sacrifiquem por ela. Afinal, nossa independência tão altamente cantada é apenas um método lento para adormecer e abafar a natureza feminina em seus instintos de amor e maternidade.

A estreiteza da concepção existente de independência e emancipação da mulher, o medo de amar um homem que não é seu igual do ponto de vista social, o medo de que o amor a exproprie de sua liberdade ou de sua independência, o terror de que o amor ou o gozo da maternidade atrapalhem o exercício de sua profissão, todas essas apreensões fazem da mulher moderna emancipada uma vestal à força, diante da qual a vida passa – com as grandes dores que purificam e as profundas alegrias que deleitam – sem que sua alma seja tocada ou arrebatada.

A emancipação feminina, tal como entendida pela maioria daqueles que a aceitam ou a expõem, ocupa um horizonte muito estreito para dar espaço à expansão, em plena liberdade, das emoções profundas da mulher verdadeira: amante e mãe. Embora a mulher economicamente independente ou que consegue se manter sozinha ultrapasse suas irmãs das gerações passadas no conhecimento do mundo e da natureza humana, é justo por isso que ela se ressente profundamente da ausência essencial à vida: o amor, que sozinho é capaz de enriquecer a alma humana e sem o qual a maioria das mulheres torna-se mera autômata profissional.

Qualquer movimento que vise à destruição das instituições existentes e sua substituição por algo mais avançado, ou mais perfeito, tem entre seus partidários aqueles que, teoricamente, defendem as ideias mais radicais, porém na prática da vida cotidiana não passam de filisteus médios fingindo ser respeitáveis e preocupados com a boa opinião de seus adversários. Assim é entre os socialistas e até mesmo entre os anarquistas, que dizem que “a propriedade é um roubo”, mas ficam indignados caso alguém lhes deva meia dúzia de alfinetes.

Encontram-se filisteus do mesmo gênero no movimento feminista. Jornalistas e escritores pintaram a mulher emancipada em quadros de arrepiar os cabelos do cidadão de bem e de sua morna companheira. Cada participante do movimento foi descrita como uma George Sand, em seu desprezo pela moralidade. Nada era sagrado. Emancipação feminina tornou-se sinônimo de uma vida de devassidão e luxúria, associal, arreligiosa, amoral. As defensoras dos direitos das mulheres ficaram indignadas com essa caricatura e, sem nenhum humor, colocaram toda energia em provar que não eram tão más como pintavam, muito pelo contrário. Durante o longo tempo em que a mulher gemeu sob o jugo do homem, ela não poderia ser boa nem pura. Mas agora, que é livre e independente, ela pretende mostrar como poderia ser boa e como sua influência poderia ter um efeito purificador sobre todas as instituições da sociedade!

O grandioso movimento em favor da emancipação real não encontrou em seu caminho uma grande raça de mulheres capazes de olhar a liberdade de frente. Sua visão puritana e hipócrita baniu o homem de sua vida emocional como um perturbador e um suspeito; ou conseguiu tolerá-lo apenas como um pai para os filhos, pois não era possível dispensá-lo. Felizmente, nem as mais rígidas puritanas seriam fortes o bastante para matar a aspiração inata à maternidade. Ora, a liberdade da mulher está intimamente ligada à do homem, e muitas de minhas irmãs ditas emancipadas parecem ignorar o fato de que uma criança nascida na liberdade reclama o amor e a dedicação de todos os seres humanos que a cercam, do homem e da mulher. Infelizmente, essa concepção estreita das relações humanas produziu a tragédia que vemos na vida das mulheres e homens contemporâneos.

Uma inteligência rica e uma alma nobre são geralmente atributos considerados necessários a uma personalidade nobre e bem temperada. Para a mulher moderna, esses atributos são obstáculos à plena afirmação de seu ser. Faz bem mais de um século que a antiga e bíblica fórmula do casamento “até que a morte os separe” foi denunciada como uma instituição que implica a soberania do homem sobre a mulher, a submissão absoluta desta última a seus caprichos e ordens, sua completa dependência em termos de nome e sustento. Muitas e muitas vezes, provou-se de maneira irrefutável que as velhas relações matrimoniais reduzem a mulher às funções de empregada do homem e procriadora de seus filhos. Mas ainda encontramos muitas mulheres emancipadas que preferem o casamento, com todas as suas imperfeições, ao isolamento de uma vida de celibato: vida restrita e insuportável por conta dos preconceitos morais e sociais que mutilam e amarram a natureza das mulheres.

A explicação de tal inconsistência por parte de muitas mulheres avançadas provém do fato de que elas nunca compreenderam realmente o que significa a emancipação. Elas acharam que bastava serem independentes das tiranias externas. As convenções éticas e sociais, tiranos interiores muito mais perigosos para a vida e o crescimento individual, foram deixadas para se resolverem por si próprias. E elas parecem ocupar um lugar tão considerável na mente e no coração de nossas mais ativas propagandistas feministas como na mente e no coração de nossas avós.

Pouco importa se esses tiranos interiores apresentam-se sob a forma da opinião pública ou do o-que-vai-pensar minha mãe ou minha tia – ou os vizinhos, o pai, o chefe, o conselho disciplinar… Até que a mulher aprenda a desafiar todos os rabugentos, todos os “detetives” morais, todos os carcereiros do espírito humano; até que aprenda a se manter firme em seu terreno e a insistir no exercício da liberdade, sem restrições, de ouvir a voz de sua natureza, ou seja, o chamado do maior tesouro da vida: o amor por um homem; até que o convide para o exercício do mais glorioso de seus privilégios: o direito de colocar uma criança no mundo – até então ela não pode ser chamada de emancipada.

Em um de seus livros, um romancista moderno tentou retratar a mulher ideal, bela, emancipada. Esse ideal é encarnado por uma jovem médica. Ela discorre com grande habilidade e sabedoria sobre como criar os filhos, é caridosa e fornece medicamentos gratuitos para mães pobres. Ela conversa com um amigo sobre as condições sanitárias do futuro e explica como bacilos e germes serão exterminados pelo uso de assoalhos e de paredes de pedra, eliminando-se tapetes e cortinas. Ela se veste, naturalmente, de maneira muito simples, muito prática, de preto. O rapaz, que em princípio ficara intimidado pelo conhecimento de sua amiga emancipada, aprende gradualmente a compreendê-la, e um belo dia percebe que a ama. Eles são jovens; ela é boa e bela e, embora rigidamente vestida, um colo branco imaculado e mangas delicadas suavizam seu aspecto severo. Seria de esperar que o rapaz declarasse seu amor, mas ele não é do tipo que faz bobagens românticas, claro que não. Então impõe o silêncio à voz da natureza e permanece correto. Ela, da mesma forma, continua a se mostrar exata, razoável, bem-criada. Temo que, caso eles se unissem, o jovem poderia congelar-se em vida. E confesso que não vejo nada de grandioso nessa “nova beleza”, fria como as paredes e os assoalhos com que ela sonha. Eu prefiro as baladas amorosas dos séculos românticos, Don Juan, as fugas à luz do luar, as escadas de corda, as maldições paternas, os gemidos da mãe e os comentários de vizinhos indignados, a essa correção e essa nitidez medida a régua. Se o amor não sabe como dar e receber sem restrições, então não é amor, mas uma transação que nunca deixa de considerar acima de tudo o lucro ou a perda que deve resultar da operação.

A salvação está em uma enérgica marcha em direção a um futuro mais brilhante, mais claro. O que precisamos é nos libertar das velhas tradições, dos hábitos ultrapassados, e seguir em frente. O movimento feminista só deu o primeiro passo nessa direção. Temos de esperar que ganhe força suficiente para dar o segundo. O direito ao voto e as capacidades cívicas igualitárias podem constituir uma boa reivindicação, mas a verdadeira emancipação não está nas urnas ou no tribunal. Ela começa na alma da mulher. A história nos ensina que, em qualquer época, foi por seus próprios esforços que os oprimidos realmente se livraram de seus senhores. É absolutamente necessário que as mulheres guardem esta lição: sua liberdade irá até onde for seu poder de libertar-se. É portanto mil vezes mais importante que elas comecem por sua regeneração interior, por abandonar o fardo dos preconceitos, das tradições, dos costumes. Reivindicar direitos iguais em todas as áreas da vida é bom e justo, mas ao final das contas o direito mais fundamental é o de amar e ser amado. Se a emancipação feminina parcial tiver de se transformar em uma emancipação completa e verdadeira da mulher, será com a condição de que ela jogue no lixo a noção ridícula de que ser amada, amante e mãe é sinônimo de ser escrava ou subordinada. É preciso livrar-se da absurda noção de dualismo entre os gêneros, em outras palavras, de que homem e mulher constituem dois mundos antagônicos.


A mesquinharia separa, a grandeza reúne. Sejamos grandes e generosos. Uma concepção verdadeira das relações de gênero não admite nem vencedor nem vencido – ela só reconhece uma coisa: a doação de si, ilimitada, para ser mais rico, mais assertivo, melhor. Essa é a única coisa que pode preencher o vazio e transformar a tragédia da emancipação feminina em gozo, um gozo sem limites.

* Presa diversas vezes nos EUA, Emma Goldman exilou-se na Rússia em 1917 e, 20 anos depois, combateu o fascismo na Espanha. Anarquista, foi também uma ardente feminista que, apesar de algumas concepções datadas, várias vezes antecipou suas herdeiras da luta pela igualdade de gênero.
Ilustração: The New York Times / Latinstock
Texto escrito originalmente em 1906
Fonte: Le Monde Diplomatique

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mutilação genital feminina: uma prática difícil de erradicar

*Kerry Kennedy

Kerry Kennedy

Washington, Estados Unidos, abril/2012 – “Está louca, Fauziya?”, perguntou Cecilia. “O que é isso de querer voltar para Togo?”. Cecilia Jeffrey, também natural desse país, não podia acreditar no que ouvia. Sua amiga e companheira de quarto Fauziya Kassinja lhe confessara estar disposta a parar com sua luta para ser a primeira mulher na história dos Estados Unidos a obter asilo político para evitar a mutilação genital feminina em seu país.

A fim de convencer a amiga a mudar de ideia, Cecilia lhe mostrou como seu corpo mudou para sempre quando teve suas genitais mutiladas no Togo. Mais tarde Fauziya contou que Cecilia conseguiu confrontá-la com a possibilidade de que o mesmo acontecesse com ela. “Me disse: se dá conta do que é isto e que também poderão provocar em você?”.

“Eu nunca vira algo assim. Cecilia teve praticamente extirpadas as características externas dos genitais. Não se via mais do que uma cicatriz, uma sutura, e apenas um pequeno orifício. Foram arrancados os lábios da vulva e o clitóris, e a deixaram mutilada para sempre. Fiquei horrorizada e perguntei como pode viver assim”, descreveu Fauziya. “Cecilia respondeu que sofre cada vez que vê suas genitálias mutiladas e chora, grita por dentro sua dor e se sente fraca e derrotada”, contou a amiga.

Mais de 140 milhões de meninas e mulheres sofrem, contra sua vontade, terem sua roupa de baixo tirada, serem obrigadas a abrir as pernas e terem cortadas brutalmente as partes externas das genitais com pedras afiadas, facas, tesouras, aparelho de barba ou outros cruéis instrumentos. Raramente com anestesia.

A maior parte das vítimas dessa horrenda prática sofre atrozes dores e hemorragias e em caso de gravidez têm complicações que frequentemente levam à morte. Também é comum contrair HIV/aids ou hepatite devido à utilização de instrumentos sem esterilização. As sobreviventes sofrem de estresse pós-traumático, depressão ou outros problemas psicológicos. A cada dia, oito mil meninas, com idade entre duas semanas de vida e 15 anos, correm o risco de serem vítimas de mutilações ou cortes dos genitais.

Graças aos esforços de mulheres apoiadas por organizações não governamentais, governos e as Nações Unidas estão fazendo algum progresso.

Milhares de comunidades da África e do Oriente Médio decidiram acabar com a mutilação genital feminina. Legisladores comprometidos aprovaram leis que a tornam ilegal. Graças aos esforços de muitos países africanos e da Itália, que há muito tempo é líder na luta contra essa prática, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Assembleia Geral da ONU, se conseguiu que essa luta seja uma prioridade.

Contudo, há muito por fazer. Faltam mais médicos que eduquem os pacientes sobre os prejuízos causados pelo corte genital. Segundo a ONU, as vítimas correm maior risco de recorrer a uma cesariana ou a uma episiotomia em seus partos e de sofrerem hemorragia pós-parto. Tanto a mortalidade materna quanto a infantil é mais frequente nas mães que sofreram mutilação.

É necessário que mais líderes e militantes convençam as comunidades a se comprometerem a acabar com essa prática. Líderes religiosos que pregam contra a mutilação em suas igrejas ou mesquitas provocam significativos progressos. Na verdade, há uma crença comum de que a mutilação tem uma origem religiosa, embora seja mentira que esteja citada na Bíblia ou no Alcorão.

Os profissionais da saúde devem desautorizar a prática e se recusar a realizá-la nos hospitais. Há uma preocupante tendência nas últimas décadas à “medicalização” da mutilação genital feminina.

Uma melhor cobertura dos meios de comunicação poderia ter um papel importante. Televisão, rádio, jornais e revistas, bem como as artes, incluindo música, teatro e outras expressões, têm um impacto positivo na campanha para eliminar a mutilação genital feminina.

A ilegalidade implica a desaprovação do Estado, permite que se compense as vítimas e que se responsabilize pelo crime de violência aqueles que o cometeram. É dissuasivo para quem pratica e dá legitimidade a quem busca abandonar essa prática.

Envolverde/IPS
* Kerry Kennedy é presidente do Robert F. Kennedy Center for Justice and Human Rights.

Fonte: Envolverde

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Segregação na cidade é fator de desigualdade educacional

Morar no centro da cidade ou na periferia faz diferença na hora da prova ou do exame vestibular? A distância entre casa, trabalho e escola afeta nos estudos? As escolas que se situam próximas a museus, cinemas, bibliotecas e teatros estão em vantagem quando comparadas àquelas em que os únicos equipamentos culturais são elas mesmas? A especulação imobiliária na cidade afeta os direitos educativos de crianças e jovens?

Estas e outras questões são assuntos que mobilizam Gilberto Cunha Franca, doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). O pesquisador tem se dedicado a estudos que avaliam os impactos das lógicas de ocupação da cidade e seus efeitos na satisfação dos direitos educativos. Confira a entrevista na íntegra:

Tô no Rumo – Em seus trabalhos, você tem defendido que o direito à educação vai além do direito de acessar escola. Explique melhor seu ponto de vista.
Gilberto Franca – O acesso à escola é condição básica e que não foi realmente resolvida (principalmente no caso da pré-escola e do ensino superior). A escola é locus central da educação e do acesso ao conhecimento, é pressuposto para construir uma sociedade democrática, justa e igualitária. Mas o direito a educação vai muito além. A conquista do direito a educação de fato requer transformações internas e externas ao ambiente escolar. A questão interna mais importante refere-se à condição de trabalho do professor. Externamente, passa por diminuir a segregação e a exclusão das crianças, dos jovens e de suas famílias do espaço da cidade. O local da escola, o lugar onde os estudantes e suas famílias vivem e circulam tem muita relação com a qualidade da educação e com o direito à educação. Quanto mais o estudante acessa a cidade, os equipamentos de cultura, e conhece o universo que o cerca, mais entendimento ele tem inclusive sobre a importância da aprendizagem.

Tô no Rumo – Então educação e cidade se relacionam? Há uma relação entre urbanização e direito educacional?
Gilberto Franca – A urbanização envolve a concentração de pessoas, atividades econômicas, serviços, trabalho. Ela possibilita o convívio na diversidade. Por outro lado, falar de urbanização também é falar de processos de exclusão, segregação e remoção constante de pessoas para as chamadas “frentes de expansão da cidade” – que formam as periferias, a exemplo de São Paulo. As pessoas são colocadas em lugares onde os aspectos positivos da cidade estão distantes, ou seja, são deslocadas para onde é rarefeita a diversidade, a rede de serviços e as oportunidades econômicas, culturais. E isso impacta seguramente nas desigualdades sociais e na desigualdade educacional.

Tô no Rumo – No caso de São Paulo, a cidade oferece as mesmas condições educativas para todos os jovens? Se não, quais são as diferenças ou desigualdades?
Gilberto Franca – Certamente não. São Paulo oferece condições adversas e completamente opostas para diferentes jovens. Os indicadores da Secretaria da Educação de fluxo escolar mostram que as chances de um estudante da escola pública da periferia terminar o ensino médio é duas ou três vezes menor do que a chances de um estudante de escola pública de área central da cidade. O mesmo se nota nos indicadores de desempenho. E quando se compara o fluxo e o desempenho médio da escola pública da periferia com o conjunto da escola particular da cidade, a diferença é absurda. Isso implicará em desigualdade de oportunidades no acesso à universidade e ao mercado de trabalho.

Tô no Rumo – Nessa situação, a especulação imobiliária tem a ver com a falta de direito à educação?
Gilberto Franca – O dinheiro que poderia ser destinado para educação, urbanização, cultura, é investido na especulação imobiliária, hoje, base mais importante da acumulação de riqueza no Brasil. O país paga mensalmente juros da dívida pública para bancos, fundos de investimento e pensão, que são justamente aqueles que mais investem no setor imobiliário na construção de shoppings, prédios residenciais e comerciais, imóveis com valorização altíssima. Por exemplo: no bairro de Perdizes a valorização foi de 50% em dois anos. Quem pode morar nesses lugares são as classes de renda mais elevada. Outra consequência é a manutenção de espaços vazios, pois muitas vezes nem mesmo a classe média consegue pagar essa moradia. Para a especulação imobiliária é melhor mantê-los vazios do que alugá-los por um preço mais baixo e desvalorizar seus ativos.

Tô no Rumo - Quais as consequências desse poder da especulação imobiliária para a escola?
Gilberto Franca - A consequência mais geral é a remoção e deslocamento constante das populações trabalhadoras de baixa renda. As escolas também são removidas, desde os anos 1990, e cada vez mais estão na lista de desapropriação e venda para o setor imobiliário. O prefeito Kassab, por exemplo, pretende vender um quarteirão inteiro onde há duas escolas e outros equipamentos públicos no Itaim Bibi.

Tô no Rumo - Mas as escolas que fecham em São Paulo não estão situadas em bairros ricos?
Gilberto Franca - Não exatamente, estão no eixo de valorização imobiliária. Por exemplo, a Escola Estadual Oswaldo Catalano, no Tatuapé, área que foi de moradia de operários, depois de classe média e nos anos 1990, entrou no eixo de valorização. Hoje, sofre pressão para sair dali por estar próxima a um shopping e a um metrô Tatuapé. Assim ocorreu com escolas da Lapa que foram fechadas. A escola Martim Francisco está num bairro de classe de renda mais alta, possui o metro quadrado mais caro de São Paulo. Lá, houve resistência de professores e estudantes, que eram de periferias próximas e não queriam abrir mão da escola. Como acontece em escolas de Pinheiros, Vila Madalena e Lapa, onde muitas mães e pais de alunos trabalham e trazem seus filhos para a escola do bairro do trabalho. O fechamento dessas escolas gera problemas para essas pessoas.

Tô no Rumo - Você acha que a pressão que essas escolas sofrem abre possibilidade para que o governo invista mais na periferia?
Gilberto Franca – A lógica de vender o terreno das escolas para investir na periferia fomenta a lógica da segregação, pois não entende o quanto o processo de urbanização atual está na base da desigualdade da cidade e das oportunidades. Acho a permanência dessas escolas é muito importante. As lutas pela melhoria da qualidade da educação e pela urbanização não estão separadas. As pessoas sabem o quanto sua vida pode ficar melhor quando ela consegue combinar o trabalho com a proximidade da escola, dos locais de lazer e as possibilidades de mobilidade.

Tô no Rumo – O que é possível fazer para mudar essa situação de desigualdade de falta de acesso ao direito educacional? O que um jovem pode fazer?
Gilberto Franca – Os jovens e a sociedade em geral tentam soluções. Por exemplo, a luta pelo passe livre, que foi muito forte no passado e ainda hoje resiste, é um exemplo. Circular na cidade custa caro e leva tempo, principalmente para quem mora longe. Mas, a mobilidade é fundamental e é um direito social. Há também o acesso aos cursinhos populares, geralmente procurados pelo jovem que está batalhando para melhor sua condição de vida. Mas o mais importante é que essa juventude conheça conexões que a una aos outros jovens da cidade e do país, que partilham da situação de exclusão e estão elaborando suas respostas para esse mundo desigual. Há jovens na periferia da França, que se rebelam porque são imigrantes e vivem em condições desiguais; no mundo árabe, há jovens que lutam por democracia e trabalho, em Nova York, no ocupe Wall Street, moças e rapazes se rebelam contra a concentração financeira e seu impacto restritivo nos gastos sociais. O conhecimento de que existem manifestações globais na sociedade protagonizada pela juventude alimenta a esperança de transformação.

Por Bianca Cruz e Janaína Neres
Do Blog Tô no Rumo

terça-feira, 10 de abril de 2012

Onde gênero é tudo, meninas fingem ser meninos em famílias afegãs

Ao seguir tradição de gerações, meninas são mascaradas e criadas como meninos em busca de vantagens no Afeganistão

Mehran Rafaat, de 6 anos, é como muitas meninas de sua idade. Ela gosta de ser o centro das atenções e se frustra quando as coisas não saem da sua maneira. Como as suas três irmãs mais velhas, ela está ansiosa para descobrir o mundo fora da casa da família em um bairro de classe média de Cabul, capital afegã.

Mas quando sua mãe, Azita Rafaat, membro do Parlamento do país, veste suas crianças para a escola no período da manhã, há uma diferença importante. As irmãs de Mehran colocam vestidos pretos e lenços sobre a cabeça, amarrados firmemente sobre os seus rabos de cavalo. Mas Mehran veste calça verde, camisa branca e uma gravata. Em seguida, recebe um afago de sua mãe sobre o cabelo espetado, curto e preto. Depois disso, sua filha pode sair – como um menino afegão.

Foto: The New York Times
Mehran Rafaat (E), ao lado das irmãs Benafsha e Behishta, é criada como menino

Não existem estatísticas sobre quantas meninas são mascaradas como meninos afegãos. Mas quando questionados, afegãos de várias gerações muitas vezes contam a história de uma parente, amiga, vizinha ou colega de trabalho que cresceu disfarçada como um menino.

Para quem sabe de sua existência, essas crianças são muitas vezes mencionadas não como “filha” ou “filho” nas conversas, mas como “bacha posh”, que significa literalmente “vestida como um menino” em dari.

Através de dezenas de entrevistas realizadas ao longo de vários meses, onde muitas pessoas optaram por manter o anonimato ou utilizar apenas seu primeiro nome por medo de expor suas famílias, foi possível traçar um retrato dessa uma prática que se manteve escondida de estrangeiros. Mas esse hábito atravessa classe, educação, etnia e geografia, e resistiu até mesmo a muitas guerras e governos no Afeganistão.

Razões econômicas

As famílias afegãs têm muitas razões para fingir que suas meninas são meninos, incluindo a necessidade econômica, a pressão social para ter filhos e, em alguns casos, a superstição de que isso pode levar ao nascimento de um menino de verdade.

Foto: The New York Times
Mehran é filha de Azita Rafaat, membro do Parlamento, que também foi mascarada como menino na infância

Na falta de um filho, os pais decidem criar um, geralmente cortando o cabelo de uma filha e vestindo-a com roupas típicas de homens afegãos. Não existem proibições legais ou religiosas específicas contra a prática. Na maioria dos casos, um retorno à feminilidade ocorre quando a criança entra na puberdade. Os pais quase sempre tomam essa decisão.

Em um país onde os filhos são mais valorizados, já que na cultura tribal apenas eles podem herdar a riqueza do pai e passar seu nome, as famílias sem os meninos são alvo de desprezo. Mesmo um filho inventado melhora a situação da família, pelo menos por alguns anos.

Vantagens

Um "bacha posh" também pode receber educação mais facilmente, trabalhar fora de casa e até mesmo levar as irmãs em público, permitindo liberdades que são desconhecidas para as meninas em uma sociedade que segrega rigorosamente homens e mulheres.

Para alguns, no entanto, a mudança pode ser tão desorientadora quanto libertadora, colocando essas mulheres em um limbo entre os sexos. Shukria Siddiqui, criada como menino, mas então repentinamente mergulhada em um casamento arranjado, esforçou-se para se adaptar, tropeçando na burca e tendo dificuldades para falar com outras mulheres.

A prática pode datar de muitos séculos. Nancy Dupree, uma americana de 83 anos de idade, que passou a maior parte de sua vida como historiadora no Afeganistão, disse que não tinha ouvido falar do fenômeno, mas lembrou de uma fotografia do início de 1900 pertencente à uma coleção privada de um membro da família real afegã.

Nela, mulheres vestidas como homens formavam a guarda do harém do rei Habibullah. A razão: as mulheres do harém não podiam ser protegidas por homens, que representavam uma ameaça para elas, mas não poderiam ser vigiadas por mulheres também.

"A segregação exige criatividade", disse Nancy. "Essas pessoas têm uma capacidade de enfrentamento surpreendente".

Foto: Fundação Dupree/ The New York Times
Foto histórica mostra que mulheres vestidas como homens formavam a guarda do harém do rei Habibullah

É uma crença comum entre os afegãos menos educados que a mãe pode determinar o sexo do feto, por isso ela é responsabilizada se ela dá à luz uma filha. Vários médicos afegãos e profissionais de saúde de todo o país relatam ter testemunhado o desespero das mulheres quando dão à luz filhas e que a pressão para gerar um filho alimenta a prática.

"Sim, isso não é normal para você", disse Azita Rafaat. "E eu sei que é muito difícil para você acreditar que uma mãe faria essas coisas com sua filha. Algumas coisas que acontecem no Afeganistão não são imagináveis para um povo ocidental".
*Por Jenny Nordberg
The New York Times

Fonte: Portal iG

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mulheres na Somália enfrentam a dor de ser um espólio de guerra

Em país devastado pela fome, grupos armados estupram e abusam de mulheres e meninas em seu reinado de terror no sul

A voz da menina quase sumiu quando ela narrou a tarde ensolarada em que saiu de sua cabana e viu sua melhor amiga enterrada até o pescoço na areia. Ela tinha cometido o erro de recusar-se a casar com um comandante do Al-Shabab. Agora, estava prestes a ter sua cabeça esmagada, pedra por pedra. "Você é a próxima", disse o comandante do Al-Shabab. A menina, uma frágil jovem de 17 anos de idade, vivia com seu irmão em um miserável campo de refugiados.

Foto: NYT/Vítima de estupro cobre seu rosto para não revelar sua identidade, em Mogadíscio, Somália

Vários meses depois, os homens voltaram. Cinco militantes invadiram seu barraco, a prenderam e a estupraram, segundo seu relato. Eles alegaram estar em uma jihad, ou guerra santa, e que qualquer resistência seria considerada um crime contra o Islã, punível com a morte. "Eu tenho muitos sonhos ruins sobre esses homens", disse ela, que recentemente escapou da área que o grupo controla. "Eu não sei qual é a religião deles."

A Somália tem sofrido décadas de conflitos e caos, as suas cidades estão em ruínas e o seu povo passa fome. Apenas esse ano, dezenas de milhares de somalis morreram de fome, com inúmeras outros perdidos em batalhas intermináveis. Agora, eles enfrentam outro terror generalizado: um aumento alarmante no número de estupros e abusos sexuais de mulheres e meninas.

O grupo militante Al-Shabab, que se apresenta como uma força rebelde moralmente justa e defensora do puro Islã, tem se apropriado de mulheres e meninas como espólios de guerra, estuprando em grupos e abusando delas como parte de seu reinado de terror no sul do país, segundo as vítimas, trabalhadores humanitários e funcionários da ONU. Sem dinheiro e perdendo terreno, os militantes estão forçando famílias a entregar a mão de suas meninas para casamentos arranjados que não duram mais que algumas semanas de escravidão sexual, essencialmente uma forma barata de aumentar a moral de suas tropas.

Mas não é apenas o Al-Shabab. Nos últimos meses, trabalhadores humanitários e vítimas têm culpado grupos de homens armados por atacar mulheres e meninas deslocadas pela fome que atinge a Somália, que muitas vezes caminham centenas quilômetros em busca de alimento e acabam em campos de refugiados lotados e sem lei onde militantes islâmicos, milicianos e até soldados do governo estupram, roubam e matam impunemente.


Foto: NYT/Mulher com seu bebê em campo de refugiados para deslocados pela fome na Somália em Mogadíscio

"A situação está se intensificando", disse Radhika Coomaraswamy, representante especial da ONU para Crianças e Conflitos Armados. Segundo ela, todas as fugas recentes criaram uma onda de estupros oportunistas, e "para o Shabab o casamento forçado é outro aspecto usado para controlar a população".

Nos últimos dois meses, apenas em Mogadíscio, as Nações Unidas disseram ter recebido relatos de mais de 2,5 mil atos de violência baseados no gênero, um número incomumente elevado. Como a Somália é uma zona proibida, a ONU afirmou não ser capaz de confirmar os relatos, passando a responsabilidade para organizações locais.

A Somália é um lugar profundamente tradicional, onde 98% das mulheres são sujeitas à mutilação genital, segundo pesquisas. A maioria das meninas são analfabetas e relegadas a permanecer em suas casas. Quando se aventuram fora, geralmente é para trabalhar, caminhando através dos becos cheios de entulho das cidades do país, envoltas em tecidos espessos da cabeça aos pés, carregando muitas vezes algo sobre a cabeça, sob o incessante sol equatorial.

A fome e o deslocamento das massas tornaram mulheres e meninas mais vulneráveis. Muitas comunidades somalis foram encerradas, com homens e rapazes forçados a entrar para milícias, e mulheres solteiras, com filhos a tiracolo, partindo para campos de refugiados.

Ao mesmo tempo, trabalhadores humanitários e funcionários da ONU dizem que o Al-Shabab, que está lutando contra o governo de transição para impor uma versão dura do Islã nas áreas que controla, já não pode pagar seus vários milhares de combatentes como antigamente. Ao mesmo tempo que apreende colheitas e gado, o grupo concede aos militantes "esposas temporárias" como gratificação.

Mas esses casamentos dificilmente são reais, explicou o xeque Said Mohamed Ali Farah, ex-combatente do Al-Shabab que desertou para o comando do exército do governo. "Não há clérigo, cerimônia, nada", disse, acrescentando que combatentes do Al-Shabab foram casados com meninas de até 12 anos de idade, que são usadas por contingentes inteiros e abandonadas. Se uma garota se recusar, "ela é morta por pedras ou balas".

Uma jovem acaba de ter um bebê, metade somali, metade árabe. Ela disse que foi selecionada por um comandante Al-Shabab da Somália que conhecia, levada para uma casa cheia de armas e entregue a um árabe, um dos muitos estrangeiros que lutam pelo Al-Shabab. "Ele fez o que quisesse comigo", disse ela. "Noite e dia." Ela disse que fugiu enquanto ele dormia.

O Centro Elman para a Paz e os Direitos Humanos é uma das poucas organizações somalis que ajudam vítimas de estupro. Ela é dirigida por Fartuun Adan, uma mulher cujo marido,Elman, foi morto a tiros por senhores da guerra anos atrás. Adan diz que desde que a fome começou, ela tem recebido centenas de mulheres que foram violadas e centenas mais que fugiram de casamentos forçados.

"Você não tem ideia de como é difícil para elas procurar ajuda", disse. "Não há justiça aqui, nenhuma proteção, as pessoas dizem que 'você é lixo' se foi estuprada."

Muitas vezes, as mulheres ficam feridas ou grávidas e são forçadas a procurar ajuda. Adan quer expandir seu aconselhamento e serviços médicos para vítimas de estupro e, possivelmente, abrir uma casa segura, mas isso é difícil de fazer com um orçamento de US$ 5 mil mensais, fornecido por uma pequena organização de ajuda chamada Sister Somália.

Foto: NYT/Fartuun Adan, que coordena centro Elman, uma das poucas organizações para ajudar vítimas de estupro, se reúne com mulheres nessa situação

Durona, mas não impenetrável, Adan chorou outro dia ao ouvir uma menina de 17 anos contando a história de como foi ver sua amiga ser apedrejada até a morte e depois ser estuprada por um grupo de homens. "Essas meninas me perguntam: 'Como é que eu vou casar, o que vai ser do meu futuro, o que vai acontecer comigo?' Não podemos responder a isso."

Algumas das mulheres no escritório de Adan parecem ter vindo de outro tempo. Elas chegaram com a ajuda da rede de contatos de Elman, que chega a mais longínqua região rural da Somália, onde as mulheres ainda são tratadas como bens.

Uma jovem de 18 anos, que pediu para ser chamada de senhorita Nur, um sobrenome comum no país, se casou aos dez anos. Ela era nômade e diz que até hoje nunca usou um telefone ou viu televisão.

Ela disse ter sido estuprada por dois combatentes Al-Shabab em um acampamento de pessoas deslocadas, em outubro. Segundo seu relato, os homens não se preocuparam em falar muito quando entraram em sua tenda. Eles apenas apontaram suas armas para o seu peito e proferiram três palavras: fique em silêncio.

Por Jeffrey Gettleman
N.York Times
Fonte: Portal iG

domingo, 8 de abril de 2012

Casamento infantil dificulta situação das mulheres no Iêmen

Segundo Human Rights Watch, prática prejudica acesso à educação, representa risco à saúde e potencializa chances de violência


Foto: Getty Images/ Nujood Ali, símbolo da luta contra casamento infantil no Iêmen, e sua advogada, Shada Nasser, participam de entrega de prêmios para 'mulheres do ano' em Nova York (2008)

A jovem Nujood Ali ganhou notoriedade internacional em 2008 ao tornar-se, aos 10 anos, a mulher mais nova a se divorciar no Iêmen. Casada em 2007 com um homem de 30 anos, ela foi estuprada e espancada repetidas vezes até conseguir a separação na Justiça (sob a condição de pagar o equivalente a R$ 358 ao marido) e tornar-se símbolo de um costume considerado obstáculo crucial para a vida das mulheres do país: o casamento infantil.

Um relatório da organização de direitos humanos Human Rights Watch, divulgado nesta quinta-feira, afirma que o casamento infantil prejudica o acesso das mulheres iemenitas à educação, representa riscos à sua saúde, as mantém como “cidadãs de segunda classe” e potencializa suas chances de sofrer violência.

O documento de 54 páginas compila diferentes estudos e levantamentos sobre o Iêmen e traz entrevistas com 30 mulheres que se casaram durante a infância ou adolescência e com representantes de organizações não governamentais e funcionários do Ministério da Saúde.

A pesquisa, realizada entre agosto e setembro de 2010 por Nadya Khalife, especialista da Human Rights Watch para Oriente Médio e Norte da África, afirma que o fato de a lei iemenita não prever um limite mínimo de idade para o casamento faz com que a prática seja extremamente comum mesmo entre meninas que nem chegaram à puberdade. Dados do governo do Iêmen e da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgados em 2006 indicam que cerca de 14% das mulheres do país se casam antes dos 15 anos e 52% antes dos 18.

Nos relatos ouvidos pela pesquisadora, histórias se repetem: jovens forçadas pela família a se casar, para logo depois engravidar e deixar os estudos. Algumas também relatam terem sido estupradas pelo marido ao se negar a manter relações sexuais.
Um estudo feito pelo governo em 2003 mostra que 59% das mulheres que vivem em áreas rurais e 71% das que vivem em regiões urbanas dizem ter sido agredidas fisicamente por seus maridos. Outro levantamento indica que 74,2% das mulheres que morrem no parto se casaram antes dos 20 anos – muitas vezes porque seus corpos ainda não estão totalmente preparados para a gravidez.

De acordo com a Human Rights Watch, quatro principais razões levam as famílias do Iêmen a promover o casamento infantil. No país mais pobre do Oriente Médio, as meninas podem ser vistas como um peso financeiro, e casá-las significa livrar-se de gastos. Da mesma forma, as jovens também são um bem econômico, já que o noivo deve pagar um dote (dinheiro ou presentes) a seus familiares.

Em terceiro lugar, em sociedades tradicionais como as do Iêmen, a prática pode ser encarada como uma forma de impedir que as garotas façam sexo antes do casamento, o que mancharia a reputação de toda a família. Por fim, muitas vezes as próprias jovens veem o casamento como sua única oportunidade, especialmente as que deixaram a escola muito cedo.

Primavera Árabe

Para a Human Rights Watch, o Iêmen deve estabelecer 18 anos como idade mínima para o casamento, na tentativa de melhorar as oportunidades das mulheres e proteger os direitos humanos. A campanha pelo limite de idade, que dura décadas, ficou em segundo plano em 2011, durante os dez meses de protestos pela renúncia do presidente
Ali Abdullah Saleh.

“A crise política do Iêmen deixou questões como o casamento infantil no fim da lista de prioridades”, afirmou Nadya, responsável pelo estudo. “Agora chegou a hora de movimentar essa agenda, estabelecer 18 anos como idade mínima para o casamento e garantir que as meninas e mulheres que desempenharam papel fundamental nos protestos também possam contribuir para o futuro do país”.

Foto: Reuters/Tawakkul Karman recebe cumprimentos em Sanaa, no Iêmen, após anúncio de que venceu é uma das ganhadoras do Prêmio Nobel da Paz(07/10)

A participação feminina na revolta contra Saleh foi tão marcante que, em abril, o presidente chegou a declarar que a presença de mulheres e homens lado a lado nos protestos era algo “não islâmico” - provocando ainda mais críticas. Em outubro, uma manifestação na capital Sanaa reuniu centenas de iemenitas que queimaram seus véus em protesto à violenta repressão promovida pelo governo.

“A
Primavera Árabe conseguiu remover estereótipos sobre as mulheres árabes, porque elas realmente mostraram que são parte das revoltas populares e das mudanças que estão varrendo a região”, afirmou Nadya ao iG.

No próximo sábado, a ativista iemenita
Tawakkol Karman receberá o Prêmio Nobel da Paz, ao lado de duas liberianas, por sua defesa dos direitos das mulheres. Em texto publicado em 2010, Tawakkol também defendeu o limite mínimo de idade para o casamento e rejeitou a ideia de que tal determinação iria contra a lei islâmica que rege o país.

Esse foi o argumento usado pelo Parlamento para, em 1999, abolir o limite de 15 anos, anteriormente previsto por lei. Uma década depois, a maioria dos políticos votou a favor de um limite de 17 anos, mas um grupo conservador usou um procedimento parlamentar para atrasar o projeto de lei indefinidamente, novamente citando razões religiosas.

Em seu relatório, a Human Rights Watch contesta a ideia de que agir para limitar o casamento infantil vai contra a lei islâmica, dizendo que várias nações predominantemente muçulmanas, como Egito e Iraque, adotam 18 anos como idade mínima.

Fonte: Portal iG

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Casamento à americana

Pizza, descontração e rock and roll marcaram a festa de Melissa e Todd, feita no meio-oeste americano

Foto: Arquivo pessoal:Melissa e Todd: informalidade e diversão no casamento à americana

Ao caminhar rumo ao altar, montado em uma espécie de estufa lotada de plantas, a noiva ouviu o volume da música subir. Em seguida, viu todas as madrinhas e padrinhos de preto, com colares de caveirinha e tênis All Star. Olhou para frente e viu seu noivo impecável, em um traje composto por camisa, paletó e All Star também pretos, arrematado com um chapéu do tipo usado pelos “Blue Brothers” do cinema. Ao tomar seu lugar, “I Don’t Wanna Miss a Thing”, do Aerosmith, chegou ao fim – a música foi usada à guisa de marcha nupcial. É, o casamento de Melissa Sabella e Todd Harkin não foi lá muito comum (veja galeria com mais fotos ao final da matéria).

Mas nada no relacionamento dela com o norte-americano Todd foi mesmo muito comum. Os dois se conheceram por causa de uma amiga de Melissa que morava nos Estados Unidos. Conversaram alguns meses pela internet até que a brasileira resolveu usar suas férias para ir conhecê-lo. “Brinco que foi o relacionamento mais rápido do mundo: a gente se viu pela primeira vez, se beijou pela primeira vez, foi morar junto logo no primeiro dia”, diz Melissa.

Seis meses depois, o casal pisou em terras brasileiras. “Chegamos ao Brasil em abril de 2009 e nos casamos em julho”, comenta. Mas esta primeira celebração foi menos incomum do que aquela ocorrida nos Estados Unidos. “Fizemos uma cerimônia no civil seguida de um almoço na casa da minha mãe, para umas 60 pessoas”, relembra a noiva. Naquele momento, uma festa grande não faria sentido, pois a família do marido não estava no Brasil.

A oportunidade veio no começo deste ano, quando o casal voltou ao Missouri, estado natal de Todd, e comemorou o casamento com ambas as famílias. A festa, planejada desde julho de 2010, foi toda organizada à distância, por emails e telefonemas com os fornecedores. “Pedi dicas para minhas cunhadas e sogra. Mas tudo o que elas me indicavam era de casamentos tradicionais. Não parecia muito com a gente”, diz Melissa.

Foto: Arquivo pessoal/O amor dos noivos pelo rock foi o tema do casamento

Casamento do rock

“O Todd e eu temos uma inclinação muito rock, vamos aos shows e temos muitas camisetas de banda”, conta Melissa. Assim, o que eles fizeram foi uma festa que refletisse este espírito roqueiro e divertido.
Somado ao preto do terno, cada padrinho tinha um bottom de uma banda que o casal gostava na lapela.

O noivo entrou ao som de Ramones; os padrinhos, ao som de Van Halen; as mães dos noivos, ao som de Guns’n’Roses e a noiva, de Aerosmith. “Nos Estados Unidos está começando uma onda de casamentos temáticos, e o nosso foi assim”, comenta a noiva.

“I wanna have a good time”

Dentro do espírito do tema da festa, Todd e Melissa procuraram detalhes que divertissem os convidados. “O nosso objetivo número um não era fazer uma coisa mega romântica, mas sim mega divertida para todo mundo”, diz a noiva. Ela comenta que a frase “I wanna have a good time” (eu quero me divertir, em ingês) foi o lema do casal.

“Pedimos para que as pessoas fossem de jeans, camiseta de banda e tênis All Star na festa. Ficou com um ar de festas para os amigos”, lembra Melissa. Outro detalhe ajudou a deixar o casamento com ar mais despojado: o buffet. “Nos Estados Unidos a Pizza Hut tem um serviço de buffet, a gente ligou e pediu. Afinal, não tem nada mais rock and roll do que comer pizza com os amigos”, diz a noiva.

Para deixar tudo ainda mais divertido, o casal adicionou um toque brasileiro na festa ao distribuir os famosos kits de pista. Isso não acontece por lá e os convidados ficaram surpresos. “Alguns homens falavam: ‘quero ir aos casamentos brasileiros’, e me pediam para apresentar brasileiras para eles”, brinca Melissa.

Sabores brasileiros, preço americano

Além dos apetrechos brasileiros, o casamento contou com outros detalhes da nossa cultura. Uma das madrinhas de Melissa, brasileira, levou bem-casados para distribuir na festa. “Eles não sabiam que podiam pegar, então distribui para os convidados numa cesta”, fala Melissa.

O docinho brasileiro foi aprovado, bem como o sabor do bolo: banana com recheio de chocolate, “para dar um toque tropical”. “Um dia antes fizemos um churrasco brasileiro, com cortes de carne e até tempero iguais aos do Brasil. Levamos sal grosso. Foi um evento pré-casamento”, acrescenta a noiva.

Ao todo, o casal gastou US$ 8 mil na festa, ou seja, um pouco mais do que R$ 13 mil, no câmbio da época. “Uma das razões para não termos feito a festa no Brasil foram os preços daqui, são muito altos”, diz Melissa. Outro fator da cultura norte-americana que Melissa julgou como imprescindível para o sucesso de sua festa foi a confiança no cliente. Como todos os contratos foram enviados por email e boa parte dos pagamentos foi feita pela internet, a confiança entre casal e fornecedores tinha que ser mútua.

Tornado

No dia anterior ao casamento, um fato assustou tanto noivos quanto convidados: o tornado que passou pelo estado do Missouri. A tormenta passou a menos de dez quilômetros da cidade onde o casamento aconteceria e alguns convidados – cerca de 40 – não conseguiram ir à festa por causa disso. “Graças a Deus ninguém próximo da gente se machucou, nem teve problema algum”, diz.

Mas, segundo a noiva, em vez de assustar, o fenômeno natural foi suavizado com piadas durante a festa do outro dia. “Falavam: se casamento com chuva significa sorte, com tornado quer dizer o quê? Se quando chove no casamento é dinheiro, com tornado é a mega sena!”, brinca a noiva.

http://delas.ig.com.br/noivas/cerimoniaefesta/casamento+a+americana/n1597081614461.html
O casal se conheceu por intermédio de uma amiga de Melissa que morava nos Estados Unidos

Fonte: Portal iG

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Casamento à francesa

Noivos a pé, recepção em casa, festas menores... Fotógrafo brasileiro conta como são os casamentos franceses


Foto: Leandro Lourenço/Faune, a noiva francesa: vestido, buquê e maquiagem simples e elegantes

São nove da manhã e uma noiva anda tranquilamente pela rua. O vestido dela é simples, rendado e combina com o pequeno buquê de rosas. De saltos baixos, atravessa a rua e se esconde um pouco antes de chegar perto do seu destino: o noivo está na frente do cartório, ele não pode ver o seu vestido. A cena – vestido simples, noiva chegando a pé – parece pouco glamurosa? E se estas ruas forem do centro de Paris e o cartório for um palácio?
É dessa forma simples e íntima que boa parte dos casamentos ocorre na França (veja imagens na galeria abaixo). O fotógrafo Leandro Lourenço, que já fez algumas cerimônias na França e Inglaterra, conta que as festas não costumam ter muitos convidados. “Uma festa de casamento grande na França é para 200 pessoas. Aqui no Brasil, 200 pessoas é um casamento considerado até pequeno. Já cheguei a fotografar casamento de 700 convidados aqui no Brasil”, comenta Leandro.

Há quatro anos fotógrafo de casamentos no Brasil, Lourenço trabalhou como assistente em um estúdio em Londres por um ano. Durante esse tempo, teve contato com vários tipos de festa na Inglaterra e na França. “É normal um francês contratar um londrino pra fazer algum trabalho, tudo é muito perto por lá e a imigração não dificulta para quem é europeu”, explica.

Quando foi convidado para fotografar o casamento de Faune e Sothearin, que ocorreu em agosto deste ano, Lourenço pôde analisar as maiores diferenças entre as cerimônias francesas e brasileiras. O primeiro fator marcante para o ele foi que até as fotos de casamento na França são vistas como arte. “Lá o fotógrafo tem uma conotação diferente, ele tem que ser bem mais artista”, conta. Para ele, isso acontece devido ao grande alcance que a fotografia artística tem na população.

Jogos em clima íntimo

Logo após a cerimônia no civil, que ocorre em um palácio – com convidados e um cerimonial, “como se fosse na igreja” –, os noivos costumam ir a pé até a casa onde acontecerá a recepção dos convidados. Geralmente, esta parte da festa acontece na casa dos pais de um dos noivos. Como são poucos os convidados, a família ajuda na recepção e no brunch servido no almoço.

Durante o brunch, Leandro diz que é uma tradição francesa os noivos serem “mestres de cerimônias” para entreter os seus convidados com jogos e brincadeiras. “Nesse casamento – de Faune e Sothearin – os convidados ficaram jogando Banco Imobiliário. Os convidados também podem brincar de jogo da verdade. É tudo bem descontraído”, conta.

Todo este clima de intimidade ocorre, segundo ele, porque esta parte da festa conta apenas com as pessoas mais próximas. “A noiva chama para a festa as amigas com quem conversa pelo telefone todos os dias”, comenta o fotógrafo. Mas, segundo ele, tudo é muito bem organizado e pensado, e a festa não deixa de ser chique.

http://delas.ig.com.br/noivas/cerimoniaefesta/casamento-a-francesa/n1237787886931.html
A noiva francesa se arruma antes do casamento e é clicada pelo brasileiro Leandro Lourenço - Foto: Leandro Lourenço

Noite calma

Só à noite começa a festa propriamente dita. Nesse ponto, Leandro Lourenço diz que as festas brasileiras se sobressaem. “De todos os casamentos que fotografei e dos que fui, seguramente, os de brasileiros são mais animados. Às vezes parece que o brasileiro precisa apenas de um motivo para fazer uma festa grande”, brinca Leandro.

Por outro lado, como as festas francesas são menores, os amigos e familiares fazem votos para os noivos. “É bem emocionante. Os pais falam sobre o casal. Acontece também de o melhor amigo dos noivos contar alguma história de quando eles eram mais jovens”, diz.

O fotógrafo desconversa quando perguntado sobre qual das festas é melhor. Mas deixa escapar que, nesse ambiente francês, ainda prefere um toque de brasilidade. “Acho que no casamento precisa extravasar mesmo. Teoricamente, é um momento único”, completa.





Fonte: Portal iG

Casamento Judaico

Na cerimônia judaica é comum que cada tradição tenha mais de um significado.

A chupá, espécie de tenda acima da cabeça dos noivos, simboliza que as duas almas estavam inicialmente unidas, e que seu encontro e casamento é na verdade uma reunificação. Os pais acompanham o noivo e a noiva até a chupá já que nesse dia eles são comparados a rei e rainha e devem ser escoltados por um séquito. As alianças trocadas são de ouro puro, lisas e sem gravações nem pedras preciosas, assim representam o elo perfeito e inquebrável entre o casal, após o casamento os noivos podem gravar o que quiserem nelas; a aliança deve ser colocada no dedo indicador da mão mais forte da noiva (canhota ou direita).

A cerimônia só termina quando o noivo quebra um copo com o pé, lembrando a todos que mesmo no dia de maior alegria pessoal não se deve esquecer da destruição do templo sagrado em Jerusalém. Depois que o copo é quebrado, está na hora de celebrar a alegria.

O costume da dança com cadeiras (à hora) provavelmente vem de antigos casamentos arranjados, onde os noivos só se conheciam no dia da cerimônia, como na festa homens e mulheres ficavam em espaços separados, era comum que os convidados os erguessem para que o casal se visse por cima de um muro.









Fonte:Casamenteiras

terça-feira, 3 de abril de 2012

Casamento Japonês

Hoje em dia muitos japoneses tem adotado cerimônias bastante ocidentais pra casar, mas ainda existem aqueles que preferem manter alguns costumes tradicionalmente orientais.

Um casamento japonês pode ser budista, xintoísta, cristão, ou sem qualquer elemento religioso.

Uma das cerimonias mais populares é a Shinto (caminho dos deuses) A noiva usa um quimono branco e uma peruca enfeitada com jóias e flores para trazer boa sorte. Os noivos trocam alianças, fazem oferendas aos deuses e por fim acontece a cerimônia do saquê, nela o casal toma um gole da bebida ao mesmo tempo, os recipientes devem ser colocados de volta a mesa em sincronia, assim acredita-se que um não vai morrer antes do outro.






Por Raquel Godoy
Fontes: Chabad; Worldly Wedding; IG delas
Fotos: Christophe wedding photo; Lin & Jirsa, Southern Weddings e Door 51

Fonte:Casamenteiras