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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Reis cruéis se divertiam com a dor dos bobos

Quem eram os bobos da corte? Quase sempre eram loucos, anões, corcundas e outros deficientes físicos. "Às vezes até quebravam a coluna do sujeito para que ele fizesse melhor figura frente ao rei". A função era entreter os monarcas, que riam das palhaçadas e, principalmente, das deformidades físicas. Essa terrível profissão era comum no final da Idade Média, entre os séculos XIV e XVI. Não era um trabalho dos mais prestigiados. Em Rei Lear (William Shakespeare), o protagonista, destituído do poder, acaba chegando à conclusão de que ele é mais tolo do que o bobo que o acompanha.
Shakespeare usou os bobos para fazer críticas aos poderosos, aproveitando a liberdade que esses personagens tinham. Nas peças, eles acabavam falando verdades que ninguém ousava dizer.


Do Assédio ao Bullying! Bobo da corte... será que "vale a pena ver de novo" ?

O bullying em locais de trabalho (algumas vezes chamado de "Bullying Adulto") é descrito como:

“Um problema sério que muito frequentemente as pessoas pensam que seja apenas um problema ocasional entre indivíduos. Mas o bullying é mais do que um ataque ocasional de raiva ou briga. É uma intimidação regular e persistente que solapa a integridade e confiança da vítima do bully. E é frequentemente aceita ou mesmo encorajada como parte da cultura da organização".

Um exemplo tão comum: normalmente, uma alcunha (apelido) é dada a alguém por um amigo, devido a uma característica única dele. Em alguns casos, a concessão é feita por uma característica que a vítima não quer que seja chamada, tal como uma orelha grande ou forma obscura em alguma parte do corpo. Em casos extremos, gerentes podem ajudar a popularizá-la, mas isto é geralmente percebido como inofensivo ou o golpe é sutil demais para ser reconhecido. Há uma discussão sobre se é pior que a vítima conheça ou não o nome pelo qual é chamada. Todavia, uma alcunha pode por vezes tornar-se tão embaraçosa que a vítima terá que mudar de emprego.

A maior dificuldade é saber quando acontece de fato e quando não é algo que decorre do trabalho. É a sutileza que torna o assédio moral ou bullying ainda mais perverso. Pois o trabalhador não é assediado de forma clara, na frente de outros, mas muitas vezes na forma de brincadeiras cheias de sarcasmo. A principal queixa dos funcionários não é a pressão em si, mas como ela é feita, "de maneira a desqualificar, humilhar, com atos que parecem sutis, mas não são como brincadeiras e fofocas.”

A organização é diretamente afetada respondendo pelo prejuízo da sua imagem e indenização pelo dano causado ao empregado.

Do ponto de vista jurídico, o tema é novo e chegou aos tribunais de forma recente, tornando uma ramificação do Assédio. "Há cinco anos não existiam casos e hoje já há alguns nos quais se pleiteiam indenizações. Mas não existem grandes cases no direito brasileiro". Entre os casos estudados pelos juízes está o de vendedores que, obrigados a bater metas, solicitam empréstimos bancários para comprar os produtos que vendem. "Há várias decisões em primeira instância, algumas com somas bastante altas", afirmou, lembrando do caso da funcionária de uma rede de farmácias que era obrigada a arrumar diversas vezes as prateleiras de produtos, após seu gerente jogar tudo no chão, o que resultou numa indenização alta.

A imprensa internacional noticiou recentemente a advogada que aceitou acordo de indenização fora dos tribunais da empresa que ela processava com acusações de perseguição por ser mulher, intimidação e discriminação durante 18 meses, o que a deixou mentalmente abalada e incapaz para o trabalho.

O objetivo do agressor é forçar o funcionário a desistir do emprego, coro que a pessoa logo encontra na família, parceiro e amigos caso decida contar pelo que vem passando durante a jornada de trabalho. Mas o conselho de deixar o trabalho, além de não ser motivado pelas condições gerais do mercado, ainda encontra uma barreira mais resistente, a psicológica. "A pessoa fica o tempo todo querendo provar que ela não é aquilo que falam ou pensam dela".

Fonte: itseniorexecutive

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Falando com as crianças sobre pornografia na internet

É melhor tentar proteger os filhos de conteúdos explícitos, ou aceitar que eles são tão generalizados que se tornaram um fato da vida, e que requerem uma conversa especial?

NYT / Patti Thomson usa software para bloquear conteúdo adulto na internet

Os pais aprenderam a esperar e, muitas vezes, a odiar duas conversas sobre sexo com seus filhos: a primeira lição sobre "de onde vêm os bebês" e uma discussão mais delicada sobre como levar uma vida sexual saudável quando se é um jovem adulto.
Mas agora eles estão enfrentando uma terceira: a conversa sobre pornografia.
Não existe um roteiro pronto, nem um momento previsível para o diálogo. Ele pode acontecer aos 6 ou 7 anos, quando a criança talvez ainda não compreenda os mecanismos básicos do sexo. Normalmente, a conversa ocorre após um passeio acidental de uma criança pela internet, ou após a busca deliberada de um adolescente curioso em um smartphone, laptop, tablet ou um dos outros aparelhos que tornaram quase impossível crescer sem se deparar com materiais sexualmente explícitos. Até mesmo uma pequena busca no Twitter ou no Facebook revela relatos, normalmente seguido por exclamações, de estudantes mais velhos que afirmam ter visto pornografia nos computadores ou celulares de colegas de classe.

Conforme disse Elizabeth Schroeder, diretora executiva da Answer, uma organização nacional de educação sexual com sede na Universidade Rutgers: "Seu filho verá pornografia em algum momento. Isso é inevitável". Em seguida, os pais são confrontados com um novo dilema da era digital: É melhor tentar proteger os filhos de conteúdos explícitos, ou aceitar que eles são tão generalizados que se tornaram um fato da vida, e que requerem uma conversa especial?

O senso comum afirma que regras estritas sobre o tempo passado em frente a uma tela de computador e a instalação de filtros irão resolver o problema. Entretanto, em vista do número de telas, grandes ou pequenas, que preenchem uma casa comum, essas estratégias podem ser tão eficazes quanto construir um abrigo na areia enquanto a maré está subindo.

Alguns pais ensinam seus filhos a fugir de materiais explícitos, tão logo um deles apareça, enquanto outros tentam ser o mais abertos possível, filtrando os conteúdos quando as crianças são pequenas e contando com controles menos rígidos e conversas francas com os adolescentes.

"Eu me lembro de como reagi quando meus pais disseram, algo como 'Ah, não, isso é horrível!'", afirmou Chaz, consultor de software e pai de dois filhos que vive em Minneapolis. (Assim como muitos pais entrevistados para esse artigo, ele pediu para que seu sobrenome não fosse divulgado, de modo a proteger a privacidade de seus filhos.)

Ele se lembrava com clareza de como estava desesperado para olhar uma revista Playboy quando tinha 14 anos. "É o máximo da estupidez acreditar que meu filho não é assim", afirmou.

A conversa sobre pornografia que ele teve há pouco tempo com seu filho de 12 anos foi iniciada por uma fatura cobrando um aplicativo do iTunes que mostra 1001 fotos de seios.

Ao invés de ficar bravo e dar uma bronca por causa da compra, ele se sentou com seu filho, perguntou se ele e seus amigos estavam interessados nesse tipo de conteúdo e, em seguida, explicou que havia instalado em sua rede um filtro de bloqueio, o OpenDNS, para impedir que ele acessasse os piores tipos de conteúdo.

NY / Patti Thomson supervisiona o filho Kevin, de seis anos, enquanto ele usa a internet

É natural ficar curioso, ele falou para seu filho, acrescentando que, se ele planejasse olhar para conteúdos explícitos, ele deveria entrar em um site em particular, cujo acesso ele havia liberado, e que mostra fotos de mulheres nuas não muito mais picantes do que as que apareceriam na edição de roupas de banho da revista Sports Illustrated.

Após preverem que, cedo ou tarde, seus filhos iriam procurar pornografia, outros pais tentaram ensiná-los a ser, na realidade, consumidores responsáveis: eles lhes mostraram como ser discretos, apagando os históricos de navegação e evitando a instalação de malwares, e os instruíram a nunca compartilhar fotos de si mesmos ou conteúdos explícitos com outras pessoas, especialmente crianças pequenas.

(Especialistas alertam que mostrar materiais com conteúdos sexualmente explícitos para menores de idade poderia violar as leis de "proteção ao menor" em alguns estados.)

Contudo, muitos pais escolhem uma abordagem diferente. Patti Thomson, por exemplo, afirmou que acredita que seu dever como mãe é o de proteger seus cinco filhos, com idades entre 7 e 15 anos, dos conteúdos explícitos, mesmo que isso a tenha levado a gastar várias horas em frente a manuais de usuário e controles de acesso aos computadores de sua casa em Reading, Massachusetts.

"Hoje em dia, a coisa está maluca", ela afirmou, horrorizada com a quantidade de material pornográfico à disposição na internet. "Eu realmente quero protegê-los até que eles cheguem a uma idade em que consigam lidar com isso."

Quando ela descobriu que o iPodTouch que havia dado de presente aos filhos também podia ser usado para navegar na internet, ela ficou tão chateada que pegou os aparelhos de volta até que pudesse descobrir como desabilitar a conexão com a internet. Ela também ligou para a Apple para pedir que colocassem um aviso nas caixas.

Meses mais tarde, ela ficou feliz em descobrir um navegador móvel, o Mobicip – projetado para aparelhos como iPod Touch, iPhone, iPad e aparelhos com sistema operacional Android, como o Kindle Fire – que facilita a configuração rápida e bloqueia conteúdos por idade ou por categoria, como pornografia, bate-papo ou videogame.

Às vezes, os perigos se escondem onde os pais menos esperam. Jeanne Sager, que mantém um blog sobre criação de filhos, acreditou que seria seguro para sua filha Jillian, de seis anos, assistir os vídeos do "Meu Pequeno Pônei". Mas quando ela deixou a sala por um momento, ouviu algo que não parecia nem um pouco com um desenho.

Sua filha havia sido levada a um vídeo explícito ao clicar em um link relacionado, em uma lista à direita do player. Essa é uma das reclamações mais comuns entre os pais que descobrem que seus filhos foram expostos a conteúdos sexualmente explícitos na internet – que alguns cliques no YouTube podem levar a criança a um território inesperado, como um subgênero de pornografia no qual personagens de desenhos populares, como o Batman ou o Mario Bros., são dublados com uma trilha sonora alternativa e editados de forma a mostrar as personagens envolvidas em atos explícitos.

NYT / Jeanne Sager configurou um usuário para a filha om seus sites prediletos marcados como favoritos e com um bloqueio ao YouTube

Nesse caso, Sager simplesmente falou para sua filha que "Existem alguns vídeos que ela não deveria assistir", e se assegurou de que ela entendesse que não havia feito nada de errado. Mais tarde, ela configurou um usuário específico para sua filha no computador, com seus sites prediletos marcados como favoritos e com um bloqueio ao YouTube.

Entretanto, muitos pais não reagem com calma, afirmou Schroeder, da organização Answer.

Eles podem se perguntar sobre o que há de errado com seus filhos, ou se aquilo que eles viram irá traumatizá-los pela vida toda. Segundo ela, nenhuma das hipóteses está correta. O maior dano – e vergonha – potencial vem da reação dos pais.

"Se nós reagirmos bruscamente e ficarmos loucos com isso, estaremos transmitindo uma mensagem muito dura", afirmou, uma mensagem que pode fazer com que as crianças sintam que não podem fazer perguntas a seus pais sem que sejam julgadas ou punidas.

Mas, segundo os especialistas, o erro mais comum cometido pelos pais é esperar até que ocorra algum incidente para ter essa conversa.

"Isso tudo é muito mais fácil quando não é o assunto da primeira conversa sobre sexo com os pais, mas a décima, ou a vigésima", afirmou Marty Klein, um terapeuta familiar e sexual de Palo Alto, na Califórnia, que encoraja os pais a serem francos e diretos nas conversas com seus filhos.

Entretanto, uma vez que muitos pais não gastam muito tempo pensando sobre essa conversa em especial, as palavras que eles escolhem frequentemente não refletem aquilo que eles gostariam de ter dito.

Em retrospectiva, uma conversa familiar improvisada levantou questões sobre como meninos e meninas são tratados de maneira diferente.

Bonnie, uma administradora universitária da Carolina do Norte que tem um filho adolescente e duas enteadas, só notou que ela e seu marido estavam transmitindo mensagens não intencionais depois de conversar sobre o assunto, ao enfatizar a segurança e a autoproteção para as meninas e os limites para seu filho.

"Mais tarde, nós notamos como aquilo era terrivelmente sexista, ainda que de forma inconsciente", afirmou.

Dana, uma mãe divorciada de três filhos em Massachusetts, presumiu que seus filhos iriam procurar pornografia e achou que era normal que seu filho de 9 anos quisesse ver fotos de mulheres peladas. Mas quando ele tinha 13 anos, ele perguntou por que as mulheres gostavam de ser enforcadas. Então, ela percebeu que precisava explicar para ele que a pornografia não é real e que aquelas pessoas eram atores pagos. Ela a comparou com a luta livre, já que seus filhos sabiam que ela aquilo era falso.

Diferentemente de muitos pais, Dana teve uma oportunidade de ajudar seu filho a entender o que o havia incomodado, razão pela qual os terapeutas como Klein afirmam que a melhor proteção contra qualquer dano potencial é manter uma linha de comunicação aberta. "Nós não vamos voltar para os anos 1950", acrescentou, "para um mundo onde não havia aparelhos móveis e aplicativos".

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Fonte: Portal iG

terça-feira, 29 de maio de 2012

Líderes em abuso de álcool são mulheres jovens e homens de meia-idade

Intervenção antes que o excesso vire vício permitiria convívio social com o álcool, dizem especialistas

Getty Images / Álcool: nelas, consumo abusivo se concentra entre as mais jovens

Aos 13 anos, Alice virou três doses de pinga de uma vez, para parecer mais velha e descolada na frente dos amigos. Não largou mais a muleta da bebida alcoólica. Aos 56 anos, Manoel bebeu quase três litros de cachaça após perder o emprego e brigar com a mulher. Naquele porre, acredita, firmou o longo casamento com a dependência química.

Ela tão nova, ele na meia-idade. Ambos exemplificam o padrão nocivo de uso de álcool que acaba de ser detectado por uma pesquisa financiada pela Organização Mundial de Saúde. O estudo, chamado Megacity – feito nas Américas e na Europa – foi realizado no Brasil em parceria com o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). Foram ouvidos 5.037 adultos da região metropolitana de São Paulo.

Os recortes dos dados nacionais sobre dependência de álcool em homens e mulheres foram antecipados com exclusividade ao iG Saúde e revelam percursos diferentes do vício na comparação dos gêneros.

“Enquanto no sexo feminino o maior índice de uso abusivo e de dependência de álcool está na faixa-etária mais jovem (até 24 anos), no recorte masculino esta maioria apareceu mais tarde, após os 45”, afirma Camila Magalhães Silveira, autora do estudo no País e coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa).

A diferença, inesperada pelos pesquisadores, mostra uma mudança no comportamento da população dependente, já que há duas décadas a maior parte dos abusadores homens também era concentrada em uma fase mais precoce.

No passado, pontuam os especialistas, para cada cinco usuários problemáticos de álcool existia uma mulher na mesma condição. Atualmente, mostra o estudo, a razão comparativa é de 1 para 1. Elas já bebem tanto quanto eles, mas concentradas em fases distintas.

Curvas opostas

Alice, 23 anos, acumula mais de 120 meses de uso descontrolado “de toda e qualquer coisa alcoólica”, está no grupo de 6% de mulheres que antes mesmo dos 25 já apresentam problemas de saúde graves motivados pela bebida. O índice é mais do que o dobro do identificado entre as com mais de 45 anos – nesta parcela a taxa soma 2,9%.

No sexo masculino, entretanto, a curva é inversa. Os jovens com menos de 25 anos que apresentam as sequelas do consumo exagerado de cerveja, destilados e vinho somam 11,1%, contra 27,6% entre os que já completaram ou passaram dos 45 aniversários (16,5 pontos porcentuais a mais).

Em encontro recente com a reportagem, Manoel conta que sempre bebeu, mas só perdeu o controle “quando tinha família e era pra lá de maduro”. Hoje ele tem 63 anos.
A grande diferença entre as faixas etárias de homens e mulheres nas estatísticas de uso problemático de álcool tem algumas hipóteses.

A primeira explicação é fisiológica, e por si só um fator preocupante, aponta a psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) especializada em drogas, Alessandra Dihel.
“A estrutura hormonal delas é mais vulnerável ao álcool, o que faz com que seja mais precoce nelas a fragilidade diante do consumo de álcool. Para ter os mesmos danos que eles, as jovens precisam beber bem menos e por bem menos tempo.”

Outro fator apontado pela psicóloga especialista em dependência química da clínica Maia, Adriana Talarico, é o gatilho para a utilização nociva de álcool.

“No discurso dos homens, a motivação são as frustrações ao longo da vida, um declínio profissional e na produtividade, eles passam a se considerar um fardo à família, questionar as próprias conquistas”, pontua.

“Elas, por sua vez, falam da pressão para começar a vivência. A aceitação no grupo, no mercado de trabalho e também para lidar com as obrigações múltiplas que surgem desde muito cedo.”

A autora do estudo Megacity, Camila Siqueira, traz à tona outra questão: o foco da prevenção.
“É mais recente a aceitação social do uso do álcool pelas mulheres. Antes, elas não bebiam. Com isso, o foco das campanhas preventivas ficou muito centrado nos homens. As mulheres ficaram negligenciadas desta abordagem. Raros são os ginecologistas, por exemplo, que questionam se as suas pacientes bebem, fumam ou usam outras drogas.”

Perdas e ganhos

De acordo com as pesquisadoras ouvidas pela reportagem, quanto mais rápido forem feitas intervenções para evitar o comportamento abusivo, maior é a chance da pessoa afetada de mudar o curso da dependência etílica que pode comprometer o fígado, os pulmões, o coração, a fertilidade, além de aprisionar o usuário aos quadros de compulsão e depressão.

Neste sentido, a pesquisa Megacity foi pioneira também em mapear não apenas os dependentes de álcool, mas os que estão na categoria “abusadores”, fase anterior ao vício propriamente dito.

“Os usuários abusivos, por exemplo, já podem ter alterações em alguns exames clínicos provocados pela bebida, podem ter faltado muitos dias no trabalho devido à ressaca ou mudado os planos de vida por causa do álcool. Mas eles não sofrem de abstinência ou compulsão, duas características essenciais nos dependentes químicos”, explica Camila.

Se tiverem acesso ao acompanhamento terapêutico na fase de abuso – antes da transição para a dependência – estas pessoas podem até ser submetidas a um novo paradigma de tratamento para o álcool: uma relação saudável com o álcool, na qual o consumo não é totalmente banido da vida social.

“Os dependentes nunca mais podem beber, não é indicado nenhum gole. O consumo é zero. Já os abusadores, em alguns casos, podem voltar a beber socialmente”, diz a pesquisadora, lembrando que alguns chegam à etapa da dependência sem passar pelo abuso e alguns abusadores nem chegam à categoria dependente, apesar de sofrer problemas de saúde decorrentes do uso frequente da bebida.

Segundo a pesquisa, dos 6% de mulheres entre 18 e 24 anos que apresentam problemas com o álcool, 5,4% estão no padrão “abuso” e 0,6% no “dependentes”. Dos 27,6% de homens entre 45 e 54 anos computados no uso nocivo, 17,6% são abusadores e 10% estão na fase da dependência etílica.

Alice e Manuel fazem parte do segundo grupo e jamais poderão voltar a beber. Para ambos, as diferentes etapas da vida estão traçando rumo distintos à estrada da recuperação. Ela foca nas coisas que deixou de viver por causa do álcool.

“Nunca dancei uma música sem estar bêbada, não consegui terminar nenhuma faculdade, não tenho um livro de preferência porque também não consegui concentração para ler”.
Manoel, por sua vez, olha para o que deixou no caminho. “Meu filho, meu emprego, minha dignidade, minha casa, minhas conquistas, tudo ficou perdido.”

Felizmente, a disposição para seguir é compartilhada pelos dois. Alice quer saborear tudo que ainda está por vir. Manoel relembrar o gosto das vitórias que já teve.



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Fumante estuda menos. Bebedor estuda mais
Alcoolismo na Enciclopédia da Saúde

Fonte: Portal iG


segunda-feira, 28 de maio de 2012

"Paradies: Liebe" retrata solidão do turismo sexual

Diretor austríaco Ulrich Seidl mostra mulheres brancas que procuram jovens rapazes na África

Quem explora e quem é explorado na indústria do turismo sexual é a questão que aparece no filme "Paradies: Liebe" (Paraíso: Amor, na tradução), do diretor Ulrich Seidl, um retrato forte e inquietante sobre a solidão feminina e o desequilíbrio econômico na África. O longa falado em alemão está em competição no Festival de Cannes 2012 e teve sua estreia mundial na semana passada.

O diretor austríaco escolheu como tema mulheres brancas europeias na faixa dos 50 anos que passam férias no Quênia, onde conhecem os chamados "Beach Boys", homens jovens que viram seus amantes.


Foto: Divulgação"Paradies: Liebe": turismo sexual na África

Decepcionadas por relacionamentos antigos em seu país e longe de seu auge físico, as mulheres buscam satisfação sexual e a sensação de serem amadas.

Os homens, com poucas perspectivas de trabalho além da opção de vender bugigangas na praia, esperam em troca dinheiro, presentes ou até mesmo a promessa de uma vida melhor na Europa.

As mulheres sonham em encontrar alguém que as aceitem como são e seus amantes sonham em progredir. O conflito de intenções permite que o filme trace uma imagem desoladora sobre a capacidade das pessoas de se comunicar.

"Hakuna matata" ou "sem problema" pode ser a frase que os "beach boys" gostam de repetir, mas a relação de senhor e escravo cria uma atmosfera tensa na praia paradisíaca. Uma forma de colonialismo está viva ali, à medida que os jovens homens negros tentam agradar e serem pagos.

Uma imagem marcante é a de um grupo de jovens rodeando uma fileira de cadeiras de praia nas quais as mulheres tomam sol. Os homens observam atentamente a alguns metros de distância, esperando ser notados, mas eles estão separados por uma barreira de corda.

"Paradies: Liebe" é o primeiro filme de uma trilogia que Seidl demorou quatro anos para filmar. Os três longas contam histórias diferentes sobre três mulheres da mesma família.

Seidl filmou o longa sem um roteiro, confiando na capacidade de os atores improvisarem as cenas definidas de antemão.
Ele ficou um ano e meio na sala de edição antes de perceber que as três linhas do enredo não se manteriam juntas, o que o levou a optar por uma trilogia.

Fonte: Portal iG

domingo, 27 de maio de 2012

O Discurso do Rei - filme

“Se atuar é a arte de reagir, Firth e Rush engajam-se em suas reações como ninguém.”
Fazendo-se um paralelo entre professor-aluno e o papel da Escola, até que ponto a prática se sobrepõe à teoria? A formação escolar em fonoaudiologia não foi necessária a Lionel Logue para a obtenção do sucesso no que se propos, além de contar evidentemente com a dedicação do futuro rei. –Logue foi “fonoaudiólogo nada ortodoxo que tem a tarefa de ensinar Albert a expressar-se com clareza? O embate de idéias (e educações) é fundamental ao filme.”
O Discurso do Rei
The King's Speech
Inglaterra, Austrália, EUA, 2010 - 118 min.
Drama

Direção:
Tom Hooper

Roteiro:
David Seidler

Elenco:
Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Derek Jacobi, Michael Gambon,Guy Pearce, Claire Bloom, Tim Downie, Timothy Spall, Robert Portal, RichardDixon, Paul Trussell, Adrian Scarborough, Andrew Havill, Charles Armstrong,Roger Hammond

A temática do filme de superação nunca foi tãoverbal como em ODiscurso do Rei (The King's Speech, 2010). O drama,ambientado às portas da Segunda Guerra Mundial, trata da dificuldade de umlíder em executar uma de suas necessidades fundamentais: falar em público.

Albert Frederick Arthur George(1895-1952), pai da atual rainha da Inglaterra, Elizabeth II,era o segundo na linha de sucessão do Rei George V(1865-1936), depois de seu irmão Edward (1894-1972). Por ser ocaçula da Casa de Windsor, ninguém esperava que Albert assumisse o trono, o queaconteceu em 1936, quando o irmão, interessado muito mais em sua própriafelicidade do que na do império britânico, abdicou. Mas o que faz um monarcaquando, em um dos momentos mais dramáticos da história, é incapaz de transmitirsuas ordens e dirigir-se ao povo sem gaguejar?

O problema do Rei George VI, atéaqui pouco mais que um curioso rodapé histórico, vira figura central no filmede Tom Hooper, que já havia abordado um lado muito maiscinematográfico da monarquia britânica em Elizabeth.

Pelo tema sisudo e roteiro centrado em diálogos, ODiscurso do Rei daria um filme classicista, não fosse o uso extremamentecompetente da linguagem cinematográfica para ajudar a contar as aflições do reiAlbert. Hopper conta com a direção de fotografia de Danny Cohen,que enquadra seu protagonista (vivido por Colin Firth) semprenos cantos, em planos frontais, mas que beiram milimetricamente o plongée(de cima para baixo). O desequilíbrio cria uma sensação de desconforto,evidenciando o sentimento de inadequação do monarca.

A câmera funciona igualmente bem para o outrolado da moeda, Lionel Logue (Geoffrey Rush), um inadequado deoutro tipo - fonoaudiólogo nada ortodoxo que tem a tarefa de ensinar Albert aexpressar-se com clareza. O embate de idéias (e educações) é fundamental aofilme e o trabalho de Cohen, que compreende também excelentes sequências deplano e contraplano - que desfrutam do citado desequilíbrio -, participa delecom voz firme.

Alheios a tudo isso e focados em suas própriastarefas, Colin Firth e Geoffrey Rush executam seus trabalhos de maneirainspirada. O primeiro dá ao rei a inconstância física e dualidade que o papelexige. Na vida íntima, com a esposa e filhas, surge terno e fala com fluidezreservada. Quando precisa desempenhar seu papel como nobre, porém, mantém adignidade e o porte, mas gagueja de maneira dolorosa de assistir. Fica aindamais evidente a qualidade do trabalho de Firth quando o vemos durante longascenas ao lado de Geoffrey Rush. Lionel é um papel menos exigente - e Rush umator dotado de mais recursos (sua internalização na cena do ensaio da coroaçãona catedral é brilhante) -, o que poderia enterrar um trabalho menoscompetente. Se atuar é a arte de reagir, Firth e Rush engajam-se em suas reaçõescomo ninguém.

É também um alívio ver, depois de tantos HarryPotter e filmes de Tim Burton, Helena Bonham Carterdeixando de lado suas pesonagens estridentes para dedicar-se a uma mulhernormal. A atriz interpreta a esposa de Albert com interesse. O elo fraco émesmo Timothy Spall. Ainda que excelente ator (basta vê-lo em Agora ou Nuncade Mike Leigh), ele dá um peso desnecessário às aparições de WinstonChurchill. O inglês era, sim, uma figura que parecia saída de umdesenho, mas Spall se entregou às caras e bocas na oportunidade deinterpretá-lo. Ao menos sua participação é breve.

Hooper também é extremamente feliz na criação daatmosfera de ameaça vindoura da Segunda Guerra. O grande antagonista do filme éo microfone - o inimigo a ser tornado aliado -, mas o eloquente AdolfHitler também faz rápida aparição. A cena em que o Rei Albert oobserva discursando, franjinha em desalinho devido ao esforço teatral, é quasecômica. As proverbiais nuvens que prenunciam tempestades também surgem na formade uma sequência na névoa distante, em que paciente e terapeuta brigam sob umaopressiva luz difusa.

Com o intuito de colher informações para escrevero filme, David Seidler, o octogenário roteirista de ODiscurso do Rei, conta que procurou a Rainha Mãe, ElizabethBowes-Lyon (a viúva do Rei George VI, morta em 2002), algumas décadasdepois dos fatos. "Por favor, não o faça enquanto eu estiver viva. Amemória desses eventos ainda é muito dolorosa", ela escreveu devolta.
Dolorosa ou não,a história não poderia ter sido contada de maneira mais elegante em O Discurso do Rei.

Fonte: Omelete

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Blog com críticas a merenda obriga escola a mudar cardápio

Iniciativa de menina de 9 anos foi vista por mais de 1,2 milhão de pessoas e ganhou apoio de chefs renomados

 
Foto: Reprodução Post de ontem do blog Never Seconds trazia menu do dia
Uma menina escocesa de 9 anos provocou mudanças na alimentação de sua escola depois de fazer um blog que teve mais de 1 milhão de visitações e acabou rendendo um tuíte de apoio do conhecido chef Jamie Oliver. Martha Payne fotografava seus lanches com a permissão da escola e postava as fotos diariamente em seu blog "Never seconds" ("Nunca repetir o prato", em tradução adaptada), com comentários e notas sobre a comida.

Entre os aspectos avaliados pela menina, estão a qualidade da comida, a quantidade de "garfadas" em uma porção e o número de fios de cabelo encontrados. A repercussão do blog fez com que o conselho municipal de Argyll, na Escócia, se pronunciasse sobre o assunto e fizesse uma visita à escola da menina.

O cardápio da merenda, segundo ela e seu pai, Dave, também melhorou, ainda que temporariamente. "Dá para ver no blog que a comida voltou a piorar", disse ele à BBC Brasil. Pai e filha foram convidados para um encontro realizado pelo chef escocês Nick Nairn, autor de diversos livros e apresentador de programas de TV, que também terá políticos e ativistas da alimentação saudável em escolas.

Fotos 'chocantes'

A ideia de criar o blog, segundo Dave Payne, surgiu quando Martha chegou em casa comentando sobre um texto "jornalístico" que teve que fazer para um trabalho escolar. "Ela chegou dizendo que queria escrever como uma jornalista todos os dias e achamos que um blog seria a melhor ideia", conta o pai.

Desde então, a menina, que vive com a família em uma fazenda, passou a postar fotos do que comia diariamente, com comentários sobre o cardápio. "A coisa boa deste blog é que meu pai entende por que eu estou com fome quando chego em casa", disse ela em um dos posts.

As primeiras fotos de Martha, de acordo com seu pai, foram reveladoras. As refeições, sempre em porções pequenas, incluíam pizza, hambúrgueres, frituras, poucas verduras e nenhuma fruta. "Para ela, as fotos eram completamente normais. Para mim, foram chocantes, terríveis. Quase tão chocante quanto isso era o fato de que as crianças achavam aquela comida normal. Ela reclamava um pouco em casa, mas eu não dei muita atenção", disse Dave.

Pouco depois do primeiro post de Martha, ele escreveu em seu perfil de Twitter sobre o blog da filha. "Na primeira meia hora, três pessoas tinham visto o blog. No dia seguinte, eram mais de 20 mil", conta. Agora, um mês depois, o "Never seconds" já contabiliza cerca de 1,2 milhão de visitantes.

Alertado por internautas sobre o projeto, o chef Jamie Oliver chegou a mandar uma mensagem para a menina através do Twitter: "Blog chocante, mas inspirador. Continue! Com amor, Jamie".

Mudanças

O sucesso do blog colocou o governo local em uma saia justa. Em uma entrevista à BBC escocesa, uma representante do conselho municipal de Argyll afirmou que o almoço servido na escola não tinha problemas. "Ela disse que não havia nada errado com a comida e que a culpa era de Martha porque ela escolheu os alimentos errados, mas ela escolhe tudo o que pode todos os dias", afirma Payne.

"Mesmo irritados, não quisemos dar mais entrevistas e nos envolver, mas depois disso a comida melhorou na escola. Coisas que ela nunca viu começaram a aparecer no cardápio. Membros do conselho foram visitar a escola com jornalistas e a comida era muito diferente." Os estudantes também passaram, a partir daquele dia, a ter direito a porções ilimitadas de salada, frutas e pão, além da opção de se servir novamente do que quisessem.

Martha chamou o blog de "Nunca pela segunda vez" porque não era permitido que ela repetisse o prato, o que frequentemente a deixava com fome. "Pela primeira vez eu vi no almoço tomates-cereja, rabanetes, cenouras e pedaços de pepino. Eu escolhi macarrão com queijo, purê de batatas, pepino e pimentões. O macarrão com queijo é sempre bom, mas eu comeria mais. Hoje me perguntaram pela primeira vez: 'É o suficiente para você?'", escreveu a menina no dia da visita.

Fonte: Portal iG

Conheça a história de superação de Samuel Klein, fundador da Casas Bahia

Empresário, hoje com 88 anos, foi preso em campos de concentração nazistas e transformou-se em ícone da classe C no Brasil

 Foto: AE
Samuel Klein,fundador da Casas Bahia

Nascido no dia 15 de novembro de 1923, na Polônia, Samuel Klein foi testemunha de um dos capítulos mais cruéis da história da humanidade, o genocídio de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Sua história de superação está entre as mais marcantes trajetórias dos grupos empresariais brasileiros e a empresa fundada por ele, a Casas Bahia, transformou-se em ícone na comercialização de produtos para as classes de baixo poder aquisitivo.
Samuel já vendia para classe C quando grande parte das empresas desprezava esses consumidores, hoje cobiçados por todos os setores.
Preso em Auschwitz em 1944, Samuel reencontrou mais tarde em Munique, na Alemanha, seu pai e seus irmãos que conseguiram sobreviver à guerra. Com sua mulher, Ana, Samuel decidiu arriscar a sorte na América do Sul, enquanto outros irmãos emigraram para os Estados Unidos.
O empresário, que pouco pôde estudar durante a infância e juventude, fundou a Casas Bahia em 1952 em São Caetano do Sul, na região do ABC, em São Paulo. A empresa transformou-se em uma potência do varejo, especialmente após os anos da estabilização econômica, em 1994, e a ascensão da classe C durante a era Lula, que também surgiu no ABC, como líder sindical. Antes de fundar a Casas Bahia, Samuel vendia artigos para os operários que trabalhavam nas indústrias da região de charrete.
Mão de ferro
Enquanto esteve à frente da Casas Bahia, Samuel era considerado um gestor centralizador e costumava dizer que não queria sócios. A fusão com da Casas Bahia com o Ponto Frio, do Grupo Pão de Açúcar, foi liderada em 2010 por seu filho mais velho, Michael, a quem ele já havia nomeado como seu sucessor. Saul Klein, outro filho de Samuel e que também desempenhou um importante papel na gestão da varejista, decidiu sair do capital da empresa antes de concretizada a fusão da Casas Bahia com o Ponto Frio.

Na época, a fusão foi vista como mais uma “tacada de mestre” de Abilio Diniz, herdeiro e líder do Grupo Pão de Açúcar, que conseguiu convencer um dos seus mais antigos concorrentes a fechar um negócio considerado até então pouco provável.
Fonte: Portal iG

domingo, 20 de maio de 2012

John Keats em filme: 'Brilho de Uma Paixão' (BRIGHT STAR)


Flerte: o que é mais atraente no filme é o encantador processo e mútua descoberta entre os jovens enamorados John Keats (Ken Whishaw) e Fanny Brawne (Abbie Cornish). Foto: Divulgação in O Estado de São Paulo

Trailer legendado
http://youtu.be/LZ2mymWs6j4

Trilha Sonora
http://youtu.be/QNxDDtfs1mM
Música: Serenade in B-Flat K 361 - Adagio
Composição de Wolfgang Amadeus Mozart
Arranjo e Interpretação: Human Orchestra

BELEZA DE IMAGENS; BELEZA VERBAL

A trilha sonora é minimalista e assinada por Mark Bradshaw, composta de poucos acordes que nunca são invasivos, mas refletem o que parece estar acontecendo dentro da cabeça dos personagens. A diretora busca uma beleza de imagens que corresponda à beleza verbal da obra do poeta.

Keats parece estar em busca de uma musa que não apenas inspire os seus poemas, mas também os leia, compreenda e discuta. Aos poucos, Fanny é capaz de assumir essa posição.

Os dois nunca sabem, na verdade, o que fazer com o desejo carnal, que parecem sublimar em suas artes. Ela gosta de costurar, mas não apenas vestidinhos ou roupinhas simples. Fanny é o que hoje em dia se chamaria de estilista. Ela cria, obedecendo a uma necessidade de expressão muito grande presa dentro de si numa época muito conservadora.

O relacionamento entre Fanny e Keats poderia ser menos complicado não houvesse entre eles Brown (Paul Schneider, de "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford"). Melhor amigo de Keats, ele se preocupa com a obra do poeta e teme que o outro esteja desperdiçando sua genialidade com uma paixão fadada ao fracasso. O conflito entre Fanny e Brown, que também é poeta, tem ao centro as atenções de Keats.

Keats não pode se casar com Fanny porque não tem dinheiro. Por isso, seu amor é sublimado nas cartas e poemas - que, junto com uma biografia do poeta, escrita por Andrew Motion, serviram de base para o roteiro, assinado pela diretora. A paixão entre os dois poderia explodir, não fossem as amarras das convenções sociais da época.

Campion filma a história com um ritmo de tempo presente, não com um olhar do nosso presente observando o passado. Os movimentos de câmera, closes e outras imagens são um sopro de ar fresco sobre o peso do tempo que poderia cair numa história de um amor tão singelo como o de Fanny e Keats.

O que pudesse ser o empecilho para o filme - mostrar um poema sendo escrito - se torna a forma que Keats, como personagem, encontra para transpor as barreiras que limitam a sua vida, a sua paixão. Durante os créditos finais, enquanto são recitados alguns dos versos mais famosos do poeta, é fácil compreender o que seduziu a diretora a contar a sua história de amor.

sábado, 19 de maio de 2012

Como acabar com as “fábricas de desistentes”?

Alexandre Sayad

O diplomata e escritor Joaquim Nabuco, no século 19, avisava que a escravidão penetraria, silenciosa, por muito tempo na sociedade brasileira e acabaria como uma “característica nacional”. Dito e feito.

No entanto, a discussão sobre o sistema de cotas raciais ou sociais nas universidades públicas oculta uma situação bem mais profunda e complexa no cenário da educação brasileira.

Ser ou não constitucional, as ações afirmativas nunca foram unanimidade na opinião pública; isso desde os anos sessenta no governo Kennedy, nos Estados Unidos. O motivo é claríssimo a todos os lados que compõem o fervor dos debates: um sistema de cotas parte do direito de igualdade de acesso e tem o objetivo de corrigir provisoriamente uma distorção histórica (a falta desse acesso); uma realidade que levou anos para se consolidar – como previu Nabuco. É uma política que se almeja provisória.

Olhando com mais atenção, quem é o negro pobre que chega à universidade hoje?

É literalmente um sobrevivente. Alguém que persistiu e resistiu a todas as tentativas de o arrancarem à força do sistema formal de ensino – antes da universidade.

Acredito e insisto que é nele, no ensino básico, bem antes da universidade, que reside a chave para a cadeia problemática para todo o acesso e manutenção da qualidade da educação nacional.

Parafraseando o educador norte-americano Geoffrey Canada, continuamos mantendo uma vergonhosa “fábrica de desistentes” em nossa educação pública. Os números estão na casa dos 30%, 40%. A universalização do ensino vira uma pífia lorota partidária perto dessa realidade.

Não há uma pesquisa que não aponte o desinteresse do estudante como fator preponderante da evasão, seguido da necessidade de se trabalhar. O crescimento do Brasil acompanhado de distribuição de renda, em médio prazo, resolve a última.

Mas se as políticas públicas não atentarem à educação artificial, irreal, feita “de isopor” que o currículo proporciona aos seus estudantes, não há crescimento econômico que irá solucionar esses índices.

Neste momento, no Brasil, que me desculpem os economistas, o que menos importa é a universidade. Um ensino básico com capacidade de reter o jovem é capaz , por si só, de formar seres humanos autônomos capazes de girar a economia, política e cultura do Brasil. E de fazer com que negros, pobres e mulheres cheguem aos milhões à universidade sem a necessidade de cotas.

A maneira com que as políticas públicas se constroem acaba por impedir que o Estado multiplique as centenas de excelentes práticas educativas desenvolvidas por ONGs, comunidades, escolas e universidades. Há limitação em convênios, burocracia em excesso e vontade política em escassez para mudar.

Construir uma escola interessante que retenha o estudante não é perfume, mas necessidade de sobrevivência urgente.

Esse é daqueles problemas que se não dermos a devida atenção, seremos dragados por ele em curtíssimo prazo. E não haverá universidade ou cota que dê jeito nisso.

*Jornalista especializado em Direitos Humanos, colaborou com O Estado de S.Paulo e Rádio Eldorado. Coordena programas de Civic Midia, com a Universidade de Harvard

Fonte: Portal do Aprendiz

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Reflexões sobre o educar para sociedades sustentáveis

Edson Grandisoli*

Universalização não garantiu qualidade ao ensino brasileiro.

As mudanças propostas pela ONU nas últimas décadas podem ser consideradas verdadeiras revoluções no modo de pensar e agir da sociedade, e não é à toa que muitas delas, apesar de hoje serem consideradas urgentes, demorarão a se concretizar.

Em todos os documentos oficiais – em especial a partir do final da década de 1960 –, a educação tem recebido papel de destaque, como uma das principais forças de transformação rumo à construção da chamada “sociedade sustentável”. Apesar disso, as mudanças nessa área têm sido poucas, tímidas e insuficientes.

Da mesma forma que criar modelos alternativos de economia tem sido um dos grandes desafios na busca por um mundo melhor e mais equitativo, a concepção e instalação de novos modelos de educação parecem possuir o mesmo nível de complexidade.

Apesar de lentas, a educação tem passado por mudanças significativas de escopo e metodologias, partindo de uma visão elitista e utilitarista – em especial nos Séculos 17 e 18 – para uma contemporânea mais abrangente, na qual o acesso universal à educação visa a garantir a redução das desigualdades, o desenvolvimento sustentável, a paz e a democracia; proposta conhecida como “educação para todos (EPT)”(1).

As metas da Unesco nesse documento são vitais e, apesar de o Brasil já possuir a esmagadora maioria dos jovens matriculados no Ensino Fundamental I e II, não houve o mesmo progresso com relação à qualidade do ensino. A qualidade não acompanhou a quantidade. Sendo assim, hoje temos nossos jovens na escola recebendo um ensino deficitário, o que é comprovado todos os anos pelos principais índices oficiais.

O Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010(2), mostra que o índice de repetência no Ensino Fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica muito acima da média mundial (2,9%). Além disso, 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino básico.

Em um curso que recentemente tive o privilégio de participar na UMAPAZ, Angélica Berenice de Almeida, uma das professoras e organizadoras, afirmou que “todos temos a tendência de repetir os modelos com os quais fomos educados”. Considerando que a maioria das pessoas tem recebido uma formação de baixíssima qualidade, que futuros educadores podemos esperar para formar nossos filhos e netos em direção a uma sociedade mais sustentável?

Novos olhares

Tenho tido contato nos últimos anos com diferentes professores de diferentes disciplinas, em especial em São Paulo e na Amazônia mato-grossense. As queixas sobre nosso sistema de ensino atual são recorrentes e têm geralmente relação com a estrutura da escola, salários, e grau de interesse dos alunos, que reflete claramente a desconexão entre a escola e o mundo real. Tais queixas, entretanto, raramente geram mobilização ou ação e a consequência disto é a perpetuação de um sistema ineficiente, desumano e impessoal.

Para além dos problemas estruturais e financeiros, é urgente a necessidade de se repensar o currículo do ensino básico, criando-se estratégias efetivas de ensino e preparando nossos educadores para que trabalhem de forma integrada e articulada, valorizando a complexidade encontrada no mundo real.

A nova versão do zero draft para a Rio+20 (The future we want)(3) destaca em um de seus artigos (101), relacionado à educação, exatamente isso:
We agree to promote education for sustainable development beyond the end of the United Nations Decade of Education for Sustainable Development in 2014, to educate a new generation of students in the values, key disciplines and holistic, cross-disciplinary approaches essential to promoting sustainable development.

Vale lembrar que essas mudanças (que não são poucas ou simples) dependem tanto de vontade política quanto da vontade dos professores e da comunidade onde vivem.

Apesar de todas as incertezas e resistências, sou otimista, e acredito que estamos, sim, passando por um período de reavaliação rumo às mudanças necessárias na educação para sociedades sustentáveis. Poder viver e participar ativamente desse momento de reflexão e reconstrução é um privilégio e um dever de todos nós. Um dos bons exemplos disso é a forma democrática e dialógica com que as decisões para o novo Plano Decenal de Educação do Estado de Minhas Gerais (PDEEMG)(4) têm sido tomadas. Aconselho a leitura da apresentação.

Educar para decidir melhor

No dia 14 de abril, durante o lançamento de um livro sobre educação e comunicação na escola, ouvi Gilberto Dimenstein afirmar que “uma coisa que todos fazemos durante toda a vida é tomar decisões”.
Decisões (conscientes), grosso modo, são tomadas pela mobilização de diferentes habilidades (como observação, comparação, análise, dedução, etc.) em conjunto com a seleção de diferentes informações e experiências. Acredito que a escola seja o primeiro e um dos principais ambientes formais onde tais processos deveriam ser desenvolvidos e aprimorados para a vida.

Como será que a escola tem contribuído para que as pessoas tomem decisões melhores, mais conscientes e pautadas no bem-estar comum e do planeta, característica vital em uma sociedade sustentável?

Para essa reflexão em específico, sugiro a leitura do livro Nudge: o empurrão para a escolha certa(5), que coloca um contraponto interessante ao poder da educação.

Para finalizar, gostaria de compartilhar uma frase, que ouvi recentemente no I Fórum de Educação para a Sustentabilidade, dita pelo professor Ladislaw Dowbor, que na minha opinião resume de forma primorosa o papel contemporâneo da educação: “A educação deve ser uma forma de introdução ao mundo em constante transformação”.

Notas
(1) http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf.
(2) http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001899/189923por.pdf.
(3) http://rebal21.ning.com/profiles/blogs/nova-versao-do-documento-zero-draft-para-a-rio-20.
(4) http://www.almg.gov.br/opencms/export/sites/default/acompanhe/eventos/hotsites/planoEducacao/docs/joao_filocre.ppt.
(5) Thaler, R. H. & Sunstein, C. R. Nudge: o empurrão para a escolha certa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

* Edson Grandisoli é pós-graduado em Ecologia pela Universidade de São Paulo, coordenador pedagógico da Escola da Amazônia e consultor em Educação para a Sustentabilidade.
Fonte: Portal do Aprendiz

terça-feira, 15 de maio de 2012

Um Prouni para a educação básica. Por que não?

*Helena Singer

Poucas iniciativas do governo federal na educação são tão populares quanto o Programa Universidade para Todos. O Prouni tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo em instituições privadas de educação superior – integrais para estudantes com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo e parciais para estudantes de famílias com renda até duas vezes maior. Desde a sua criação, em 2004, até hoje, mais de um milhão de estudantes foram beneficiados por este programa, contribuindo para dobrar as matrículas no ensino superior ao longo da década.

Quando a ideia foi lançada, grande foi a oposição. Diziam seus críticos que a proposta serviria para repassar recursos públicos às universidades privadas ao invés de investir na expansão de vagas das universidades públicas. Hoje, com a popularidade do programa e a sua efetiva contribuição para a democratização do ensino superior, as críticas se enfraqueceram.

No entanto, ideia semelhante voltada à educação básica ainda encontra enorme resistência. Sempre que vem à tona a proposta de o governo conceder vales-educação, possibilitando aos pais de classe baixa o mesmo direito que tem os das classes média e alta de escolher a escola de seus filhos, muitos levantam a voz acusando-a de promover a precarização da escola pública.

Em sentido oposto, estes críticos propõem o crescente investimento nas redes de Estado com suas estruturas sempre centralizadas e padronizadas, desde o concurso para os profissionais até a compra da merenda, passando pela definição do currículo, compra do material didático, avaliação, etc.

Excelentes escolas sem fins lucrativos, por sua vez, que apresentam atenção individualizada, altas expectativas em relação aos estudantes, currículo flexível, professores muito dedicados, uso inteligente das novas tecnologias e visão integral do desenvolvimento humano têm enormes dificuldades de sobreviver em um país em que não chega a 10% a proporção das famílias que podem pagar mensalidades.

A qualidade da educação depende da flexibilidade no currículo e de uma avaliação qualitativa. Para isso, os projetos pedagógicos das escolas precisam ser construídos colaborativamente, envolvendo equipes escolares, famílias e outros agentes da comunidade, com base em parâmetros construídos também de forma participativa pelos governos, a partir de consultas a Conselhos, sindicatos e órgãos representativos de pais, estudantes e professores.

Os parâmetros podem ser nacionais, mas a qualidade da escola depende do envolvimento direto das equipes, dos estudantes e das famílias na sua gestão, algo que certamente se fortalece quando a família tem o direito de escolher onde matricular seus filhos e, em consequência, a escola depende desta escolha para a sua sobrevivência. Já que a educação infantil e o ensino fundamental são prioritariamente da alçada municipal, bem que um candidato a prefeito poderia promover a proposta da versão Prouni para a educação básica.

Helena Singer, socióloga com pós-doutorado em Educação, é diretora pedagógica da Associação Cidade Escola Aprendiz.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Aprendizado para a sustentabilidade

*Vilmar Sidnei Demamam Berna*
Nossa espécie tem a capacidade de adequar sua visão de mundo até que faça sentido com seus interesses e valores. A realidade é o que é, mas também inclui o que achamos e convencionamos que passará a ser, por que parte dela é matéria e parte é feita dos nossos sonhos, utopias, idéias que dão sentido à existência.

Nossos atos, comportamento, moral, ética são determinados por essas visões da realidade e, estas, são influenciadas pelas informações e pelos valores que recebemos.

A informação histórica, por exemplo, nos dá possibilidade de conhecer nossas raízes e herança, as origens das idéias que definem e dão sentido ao mundo como o conhecemos hoje e como isso influência em nossas atitudes e escolhas. Até para que compreendamos que são idéias aprendidas e que elas mudam à medida que mudamos nossas escolhas.



A idéia predominante hoje é a de que somos os donos da natureza. E ela não é nova. Também não é uma idéia européia. Muito antes dos “Descobridores” terem chegado ao ´Novo Mundo` os povos que os antecederam já tinham se encarregado de extinguir a megafauna, como a preguiça gigante. E nos demais continentes aconteceu o mesmo com o Mamute, o Tigre-dente-de-sabre e tantas outras espécies.Técnicas de caça primitivas, ainda usadas hoje, mostram como deve ter sido. Os caçadores queimavam parte dos ecossistemas obrigando os animais a fugirem até serem encurralados em lamaçais ou locais onde pudessem ser abatidos mais facilmente. O desastre ambiental devia ser enorme a cada caçada. Até aqui, não existiram mocinhos em nossas relações com a natureza. Nossa geração tem a chance de começar a mudar essa história, por que nenhuma antes de nós teve tantos recursos e conhecimentos disponíveis. Não podemos nos livrar de nossa herança biológica que nos coloca na parte da cadeia alimentar reservada aos predadores, mas isso também não significa que tenhamos que agir como pragas que consomem até se extinguirem depois de destruir tudo. Diferente das pragas, temos discernimento para escolher entre o bem e o mal.


Também não é justo, com os humanos que nos antecederam repudiarmos a herança natural e cultural que nos deixaram. Certos ou errados, graças a eles estamos aqui, hoje. E se temos mais ferramentas e tecnologias do que eles, mais compreensão e conhecimento da natureza do que eles tiveram, não se justifica continuar cometendo os mesmos erros. Nossa geração tem uma oportunidade histórica que nenhuma geração anterior à nossa teve, a de encontrar um caminho de sustentabilidade na nossa relação com a natureza.

Precisamos encarar o fato de que as máquinas que vieram facilitar a nossa vida foram também as principais responsáveis por aumentar nossa ´pegada ecológica.A destruição e o uso dos recursos naturais – que antes da Revolução Industrial se dava numa escala artesanal -, passou a se dar numa escala industrial. Nos últimos dois ou três séculos, as gerações que nos antecederam deixaram uma herança cultural e econômica importante, mas também deixaram atrás de si um rastro de destruição ambiental, miséria para a maioria e concentração de riquezas e poder para uma minoria.Talvez este seja o papel da nossa e das próximas gerações, encontrar o equilíbrio entre o direito ao progresso e ao desenvolvimento humano e a sustentabilidade da natureza, o que vai exigir uma mudança radical na forma como pensamos e fazemos as coisas. Podemos não conhecer exatamente como ser sustentáveis, mas não temos alternativas a não ser tentar, aprendendo no próprio ato de caminhar, por que a história não nos inspira com bons exemplos de sustentabilidade.

A boa noticia é que estamos mudando, e rápido. A escravidão foi abolida e hoje é considerada crime hediondo, assim como o preconceito. Na nossa relação com os animais cada vez menos a sociedade tolera maus tratos sob qualquer argumento e já existe um sentimento de que precisamos promover o bem estar deles. Os povos originais não contatados ainda são mantidos isolados, para viverem da forma que julgarem melhor. Em relação à natureza, cresce cada vez mais o conceito de sustentabilidade.

Já existe uma forte pressão mundial para que o principal indicador de progresso das nações, o PIB ( Produto Interno Bruto ), não considere apenas indicadores econômicos, mas também sociais e ambientais. Os relatórios de prestação de contas das empresas já incorporam a sustentabilidade como parte do negócio em vez ver como um custo a mais ou um obstáculo no caminho do lucro.

A má noticia é que entre as idéias – a boa intenção, as leis, as políticas, o discurso – e as boas práticas, ainda existe um enorme vazio a ser preenchido com trabalho duro de gestão, capacitação, sensibilização, treinamento, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, democratização da informação para a sustentabilidade para que as pessoas possam fazer escolhas diferentes das que nos conduziram à beira de um colapso e, principalmente, exercício de cidadania critica e consciente, por que as mudanças não acontecem por acaso nem são resultados de salvadores da pátria ou de déspotas esclarecidos.

As mudanças, numa sociedade, para serem duradouras, devem resultar da organização dessa sociedade em torno de seus direitos e no rumo do mundo melhor que deseja. E esta organização e consciência socioambiental têm crescido a cada Fórum Social Mundial, a cada Cúpula dos Povos, a cada nova ONG que é criada para lutar pelos direitos difusos, e, infelizmente, a cada grande acidente ambiental – amplamente divulgado por uma mídia cada vez mais sensível às questões socioambientais.

O anunciado colapso ambiental já está nos atingindo. Segundo alerta de 1360 cientistas, de 95 países diferentes, que durante 4 anos, de 2001 a 2005, estudaram a situação ambiental global, 60% dos ecossistemas do Planeta já foram alterados. Para ficar só num exemplo – entre tantos outros -, as águas do mar de Aral foram drenadas para a produção agrícola até seu completo esgotamento. E detalhe. Neste caso, não foi pelo Capitalismo ou pela ganância de uns poucos em enriquecer, mas foi num país de regime Comunista, resultado de um planejamento governamental, de uma técnica e uma política comprometida com uma visão de mundo onde apenas os ganhos socioeconômicos foram levados em conta em detrimento dos ambientais. O que também revela que a ciência, a política, a técnica não são neutras. E que não interessa o ‘ismo’ ideológico que uma sociedade adote; se não respeitar a capacidade de suporte da natureza vai chegar aonde os outros chegaram. Onde antes havia um mar, com navios, peixes e pescadores, agora existe um deserto.
Ignorar os alertas não livrou civilizações anteriores como a dos Faraós, dos Maias, dos povos da Ilha de Páscoa de se extinguirem após o uso intensivo dos seus recursos naturais, principalmente da água, além da capacidade de suporte da natureza.
Precisamos aprender com os próprios erros e mais ainda com os erros alheios a fim de não repeti-los indefinidamente.

Gostamos do conforto de nossas cidades e não saberíamos mais viver sem elas. Mais um motivo para encontrarmos o ponto de equilíbrio que nos permita associar desenvolvimento econômico, justiça social com a capacidade de suporte da natureza. Civilização nenhuma antes da nossa possuiu tantos recursos, conhecimento e informação, oportunidades quanto a nossa. Hoje, sabemos muito bem aonde o mau uso da natureza pode nos levar e sabemos que podemos mudar nossa história.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ), em janeiro de 1996 fundou o Jornal do Meio Ambiente e, em 2006, a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente ( www.portaldomeioambiente.org.br ). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas –

domingo, 6 de maio de 2012

Trevas ao meio-dia

Momento épico. Um daqueles atingidos pela Veja. E onde ficam os porões, caras-pálidas?

Por que a mídia nativa fecha-se em copas diante das relações entre Carlinhos Cachoeira e a revista Veja? O que a induz ao silêncio? O espírito de corpo? Não é o que acontece nos países onde o jornalismo não se confunde com o poder e em vez de servir a este serve ao seu público. Ali os órgãos midiáticos estão atentos aos deslizes deste ou daquele entre seus pares e não hesitam em denunciar a traição aos valores indispensáveis à prática do jornalismo. Trata-se de combater o mal para preservar a saúde de todos. Ou seja, a dignidade da profissão.

O Reino Unido é excelente e atualíssimo exemplo. Estabelecida com absoluta nitidez a diferença entre o sensacionalismo desvairado dos tabloides e o arraigado senso de responsabilidade da mídia tradicional, foi esta que precipitou a CPI habilitada a demolir o castelo britânico de Rupert Murdoch. Isto é, a revelar o comportamento da tropa murdoquiana com o mesmo empenho investigativo reservado à elucidação de qualquer gênero de crime. Não pode haver condão para figuras da laia do magnata midiático australiano e ele está sujeito à expulsão da ilha para o seu bunker nova-iorquino, declarado incapaz de gerir sua empresa.

O Brasil não é o Reino Unido, a gente sabe. A mídia britânica, aberta em leque, representa todas as correntes de pensamento. Aqui, terra dos herdeiros da casa-grande e da senzala, padecemos a presença maciça da mídia do pensamento único. Na hora em que vislumbram a chance, por mais remota, de algum risco, os senhores da casa-grande unem-se na mesma margem, de sorte a manter seu reduto intocado. Nada de mudanças, e que o deus da marcha da família nos abençoe. A corporação é o próprio poder, de sorte a entender liberdade de imprensa como a sua liberdade de divulgar o que bem lhe aprouver. A distorcer, a inventar, a omitir, a mentir. Neste enredo vale acentuar o desempenho da revista Veja. De puríssima marca murdoquiana.

Não que os demais não mandem às favas os princípios mais elementares do jornalismo quando lhes convém. Neste momento, haja vista, omitem a parceria Cachoeira-Policarpo Jr., diretor da sucursal de Veja em Brasília e autor de algumas das mais fantasmagóricas páginas da semanal da Editora Abril, inspiradas e adubadas pelo criminoso, quando não se entregam a alguma pena inspirada à tarefa de tomar-lhe as dores. Veja, entretanto, superou-se em uma série de situações que, em matéria de jornalismo onírico, bateram todos os recordes nacionais e levariam o espelho de Murdoch a murmurar a possibilidade da existência de alguém tão inclinado à mazela quanto ele. E até mais inclinado, quem sabe.

O jornalismo brasileiro sempre serviu à casa-grande, mesmo porque seus donos moravam e moram nela. Roberto Civita, patrão abriliano, é relativamente novo na corporação. Sua editora, fundada pelo pai Victor, nasceu em 1951 e Veja foi lançada em setembro de 1968. De todo modo, a se considerarem suas intermináveis certezas, trata-se de alguém que não se percebe como intruso, e sim como mestre desbravador, divisor de águas, pastor da grei. O sábio que ilumina o caminho. Roberto Civita não se permite dúvidas, mas um companheiro meu na Veja censurada pela ditadura o definia como inventor da lâmpada Skuromatic, aquela que produz a treva ao meio-dia.

Indiscutível é que a Veja tem assumido a dianteira na arte de ignorar princípios. A revista exibe um currículo excepcional neste campo e cabe perguntar qual seria seu momento mais torpe. Talvez aquele em que divulgou uma lista de figurões encabeçada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, apontados como donos de contas em paraísos fiscais.
Lista fornecida pelo banqueiro Daniel Dantas, especialista no assunto, conforme informação divulgada pela própria Veja. O orelhudo logo desmentiu a revista, a qual, em revide, relatou seus contatos com DD, sem deixar de declinar-lhes hora e local. A questão, como era previsível, dissolveu-se no ar do trópico. Miúda observação: Dantas conta entre seus advogados, ou contou, com Luiz Eduardo Greenhalgh e Márcio Thomaz Bastos, e este é agora defensor de Cachoeira. É o caso de dizer que nenhuma bala seria perdida?

Sim, sim, mesmo os mais eminentes criminosos merecem defesa em juízo, assim como se admite que jornalistas conversem com contraventores. Tudo depende do uso das informações recebidas. Inaceitável é o conluio. A societas sceleris. A bandidagem em comum.

Fonte: CartaCapital

sábado, 5 de maio de 2012

Arte-educação ajuda a desvendar o mundo da xilogravura

Valéria Dias, da Agência USP

Por disposição testamentária, o imóvel e o acervo do Museu serão legados à USP.Foto: Maria Cristiana Blanco

A arte-educação é uma atividade realizada em museus que ajuda a aproximar o público em geral da obra de arte. Foi pensando no uso de ações educativas em museus que a professora de artes, Maria Cristiana Blanco, desenvolveu uma proposta de arte-educação para o Museu Casa da Xilogravura, em Campos do Jordão (interior de São Paulo). De acordo com a definição apresentada no site do museu, “as xilogravuras são gravuras feitas por meio da impressão sobre o papel (ou outro suporte) de uma matriz entalhada em madeira”.

A pesquisadora propõe uma atividade de arte-educação voltada para alunos do ensino fundamental II, que atende alunos entre 12 e 15 anos, da 5ª à 9ª série. “A ideia central dessa atividade é despertar nas crianças a sensibilidade para a leitura da arte e as percepções que envolvem a leitura dessas obras, agregando conhecimento artístico a essa experiência”, explica. A proposta está descrita em sua dissertação de mestrado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, denominada Arte-Educação no Museu Casa da Xilogravura da cidade de Campos do Jordão: uma proposta poética. O trabalho teve orientação da professora Maria Christina de Souza Lima Rizzi, do Departamento de Artes Plásticas da ECA.

Para desenvolver o trabalho, Maria Cristina baseou-se na proposta triangular do ensino da arte idealizada por Ana Mae Tavares Barbosa, professora aposentada da ECA, onde a sugestão de leitura da obra é feita a partir de três ações básicas no ensino da arte: a contextualização, a leitura da obra de arte e a produção. “A proposta que eu desenvolvi destaca os aspectos ligados à produção artística das xilogravuras. É possível, também, falar sobre história da arte dando assim um caráter interdisciplinar para a atividade”, conta.

Maria Cristina utilizou quatro obras de xilogravuras existentes no museu: Sem Título (1957), de Karl Heinz Hansen, conhecido como Hansen Bahia; Sem Título (1958), de Dorothy Bastos; Medusa (1995), de Maria Bonomi; e Sem Título (2004), de Leda Campestrin. De acordo com a pesquisadora, essas quatro obras foram escolhidas pelo fato de possuírem material documentado e textos de referências, com informações sobre cada uma.

Proposta

Para cada uma dessas quatro obras foi desenvolvida uma proposta própria para leitura. No caso da obra Sem Título de Hansen Bahia, por exemplo, a pesquisadora explica que trata-se de uma das dezenove xilogravuras que compõem a série denominada Caminho das Lágrimas, que detalha imagens dos porões de um navio negreiro sob vários ângulos. Esta obra está exposta na Sala de Xilógrafos Brasileiros I, onde há também produções de artistas como Lasar Segall, Lívio Abramo, Marcelo Grassman, Oswaldo Goeldi e Gilvan Samico.

Na proposta de Maria Cristina, o arte-educador, ao chegar a esta sala, começa a trabalhar com os alunos entregando imagens de três xilogravuras (em cópias impressas, que não estão expostas no Museu), da série Caminho das Lágrimas, de Hansen Bahia, para que eles tenham um primeiro contato com a produção do autor. “Posteriormente, é solicitado que eles olhem para os outros trabalhos em exposição na sala a fim de tentar identificar alguma obra semelhante com aquela que foi entregue a eles. Na segunda etapa, o arte-educador poderá trabalhar com questões como as cores presentes na obra, a distribuição do espaço, uso ou ausência de texturas, explanações sobre como o artista desenvolveu a técnica nesta xilogravura, etc.”, explica.

Depois, já identificando Hansen Bahia como autor das cópias impressas entregues anteriormente, o arte-educador pode instigar os alunos com questões que abordam o aspecto histórico da xilogravura em exposição, como: O que está sendo representado? Que tipo de navio era aquele? Qual era a tecnologia deste tipo de navio? Eles se moviam rápido ou devagar no oceano? Os escravos viajavam em condições humanas?
Em seguida, o arte-educador mostra uma cópia impressa de um desenho do artista James Philips, de uma planta de um navio negreiro inglês do Século 18 para os alunos observarem e comentarem a situação dos escravos e as condições em que eles eram transportados. No próximo passo da proposta, o arte-educador faz a leitura de um trecho do poema Navio Negreiro (1868), de Castro Alves. Para completar a atividade são exibidas aos alunos cópias impressas com as pinturas a óleo de Navio de Escravos (1810), de Johann Rugendas, e Navio de Escravos (1840), de Joseph Turner, para que os estudantes observem as diferenças entre as diversas técnicas da arte, como pintura a óleo, desenho e xilogravura, sensibilizando-os sobre a diferença entre o aspecto das obras, com a mesma temática, feita por diferentes artistas. Para finalizar a atividade, Maria Cristina propõe uma oficina, onde as crianças poderiam “colocar a mão na massa” e produzir uma xilogravura com uma matriz a ser feita no próprio Museu.

Maria Cristina diz que ainda não testou as propostas diretamente com o público, mas pretende fazê-lo em breve. “As atividades de arte-educação propostas teriam uma duração de aproximadamente uma hora e meia”, comenta a pesquisadora, lembrando que pretende dar continuidade aos estudos do tema. E completa dizendo: “Nossa intenção é colaborar com o Museu, na tentativa de trazer o cidadão jordanense para a Casa da Xilogravura, tanto em forma de público espontâneo, visitas orientadas para os estudantes das escolas locais, assim como o próprio professor”.

Doação à USP

De acordo com informações divulgadas em seu site, o Museu Casa da Xilogravura foi inaugurado em 1987 e seu acervo conta com milhares de obras de mais de 400 xilógrafos. O Museu promove também palestras, encontros, cursos e outros eventos culturais, e oferece atelier xilográfico, oficina tipográfica e biblioteca especializada.

Por disposição testamentária do fundador, o professor Antonio Fernando Costella, o imóvel e o acervo do Museu serão legados à USP, da qual a Casa da Xilogravura já vem recebendo alguma orientação técnica.

Publicado originalmente no site Agência USP.

Fonte:Envolverde

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Escola deveria ser garagem

*Alexandre Sayad
Pensar em modelos de educação que inovem ironicamente não é uma novidade. A morte do currículo foi decretada cinicamente algumas vezes – o paradigma de não seccionar o conhecimento em áreas de conhecimento chega a ser um discurso cansativo, proferido por quem acredita em uma “educação contemporânea”.
O fato é que o mundo da educação padece por ser formado em sua maioria por pensadores, e não executores. Mudar um sistema de ensino é muito complexo; realizar experiências pontuais – construir escolas ideais - que sirvam de exemplo e instiguem mudanças maiores, não tanto. Mesmo assim educadores preferem elaborar teorias a realizar experiências e correr riscos.
Há alguns dias fui provocado por dois jovens e inteligentes documentaristas, Antonio Lovato e Raul Perez, a dar um depoimento sobre “a escola que considero ideal”. Nunca havia pensado de forma totalmente onírica e livre sobre esse tema, então coloquei minha mente para rodar antes da câmera ser ligada.
Viajei muito no Brasil e no mundo para conhecer escolas; ouvi outras tantas de amigos. Nesse meu fluxo de pensamento interno me lembrei dos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology), do Schumacher College, da Escola da Ponte, da Cidade Escola Aprendiz,de uma escola dinamarquesa relatada pelo Rubem Alves, em que estudantes aprendiam a construir uma casa e também da Oregon Episcopal School, a OPS, que me encantou.
Todos os exemplos têm elementos emcomum: ignoram o currículo, pois trabalham por projetos – teoria que data dos anos 40. E todas são idealizadas e coordenadas por educadores fora dessa cátedra.
Antes de dar a reposta cara a cara com os dois cineastas, pensei, muito centralmente, nas minhas experiências com jovens produzindo comunicação – como o Idade Mídia, do Colégio Bandeirantes.Vivências em que os estudantes se apropriam do espaço escolar e aprendem muito mais assim: quando sua expressão surge no universo do aprendizado; e quando são estimulados a acreditar na sua capacidade de realização de um projeto – no caso uma revista ou um documentário.
Mas quando comecei a falar, quis dar um passo atrás do meu sonho de escola educomunicativa para ser mais desamarrado de conceitos, e procurei achar pontos em comum a todas elas. E percebi: são experiências de e para “garagens”.
Me lembrei daquelas garagens de casas antigas, onde se acumulam bugigangas, mas há sempre uma mesa para se sentar e organizar as ideias. Portanto, cheguei a conclusão que minha escola ideal assemelha-se a uma garagem. Dessas mesmo onde as crianças têm a tentação de montar robôs com peças velhas.
Lá, o foco está na criação e inovação do estudante. O professor é um tutor que circula entre os objetos, orienta ascriações e aprende muito também. Um tablet conectado à internet seria o material básico. Os produtos lá desenvolvidos trariam um pouco de cada disciplina.
Quando terminei a entrevista, tive a estranha sensação de ter vivido essa atmosfera de garagem, na maioria das vezes, em ambientes educomunicativos. Fui induzido a pensar na comunicação novamente. Muito porque ela está no DNA do estudante antes mesmo da escolarização chegar. Este é seu ponto mais forte – joga a favor do estudante.
A garagem tem um apelo tão forte para a educação que, se nenhum projeto for capaz de brotar daquele ambiente, ainda épossível vender limonada (como fazem os norte-americanos) ou montar uma bandade rock (como faz qualquer jovem). O que, em ultima instância, são também projetos.
*Jornalista especializado em Direitos Humanos, colaborou com O Estado de S.Paulo e Rádio Eldorado. Coordena programas de Civic Midia, com a Universidade de Harvard
Fonte: Envolverde