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quinta-feira, 27 de março de 2014

Tatuagens marcam uma nova terceira idade


Idosos usam piercings e tatuagens como grito de liberdade na pele. Aos 82, Judith desfruta de nova vida entre baladas e jovens
 

 
Viúva há três anos, Judith Caggiano precisava aprender a sorrir e a sair de casa sozinha. Depois de cinco décadas dedicadas ao casamento, a morte do marido possessivo - mas excelente pai, ela garante - encerrou um ciclo. “Virei dona da minha própria vida aos 72 anos”, conta em entrevista ao Delas.

Como um inusitado contraste aos cabelos brancos, uma tatuagem tribal foi o desenho escolhido para marcar a fase. Na região da nuca, a “Liberdade”, como chama a primeira tatuagem, dividiria espaço, no futuro, com outras 67, que ela exibe hoje com orgulho, aos 82 anos. “Meu casamento foi maravilhoso, mas não era nada do que eu esperava. Ainda assim cumpri meu papel e criei nossos filhos”, desabafa Judith.

Mulher muito velha só fala de doença e dores. Fico com os jovens porque eles falam a minha língua, tá ligada?"


O novo visual, composto por 18 piercings, anéis em todos os dedos e um generoso decote, que certamente seria desaprovado pelo falecido marido, segundo ela, está muito longe dos hábitos que mantinha quando casada. A única peça que trouxe da antiga fase foi o saiote, uma espécie de forro que ainda usa por baixo de saias e vestidos.

Conhecida e com entrada liberada nas principais casas noturnas de Santo André, região metropolitana de São Paulo, Judith aprendeu a gostar de punk rock, reggae e samba ao lado de jovens de 19 anos. “Não tenho amigas com a minha idade, só conhecidas. Mulher muito velha só fala de doença e dores.

Fico com os jovens porque eles falam a minha língua, tá ligada?”, explica a senhora, exibindo um vasto cardápio de gírias jovens, todas coletadas nas baladas que frequenta.


No corpo, desenhos de estrelas cobrem o ombro e braço direito e representam os filhos, netos e bisnetos. Nas costas, leva uma fada e um sol durante o amanhecer. “Apresento ela como a safada. Falo tão rápido que ninguém percebe. E o sol representa o início da manhã, quando chego da balada”.

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Para Judith, a festa termina sempre às 6h30, horário que a padaria abre com a primeira fornada de pães. Ao chegar a casa, cruza com a filha mais velha Sirlei Caggiano, de 60, que assumiu já ter perdido o controle sobre as saídas da mãe. “Depois que ficou viúva, ela se libertou. Quando fala que vai viajar e passar uma semana fora, eu nunca sei se volta em três dias, uma semana ou três meses”, diz a filha.

Questionada se já sofreu preconceito pelo visual irreverente, Judith faz uma breve pausa e responde: “Se sofri, não percebi. Meu sorriso vai na frente”. Para ela, as tatuagens e os piercings não são fundamentais, mas ajudaram a expor ao mundo e aos familiares a real personalidade. Velhice e morte não ocupam o pensamento da dona de casa.




“Idade pra mim é um número e tatuagem é avanço. Morte? Sei que tenho um prazo de validade. Vou lá saber quando vou vencer, meu. Minha vida é linda.” Noel metaleiro

 
A relação entre Vitor Sanchez, de 59, e as tatuagens não começou na terceira idade, mas é um exemplo sobre o futuro dos jovens tatuados. A corriqueira pergunta “mas e quando você ficar velho?” não passou pela cabeça quando ele pisou num estúdio, aos 33 anos. Apaixonado por desenhos, Vitor iniciou sua saga com até três tatuagens por semana, entre 25 profissionais, até alcançar 94% do corpo tatuado. A dor e o longo processo de cicatrização valeram a pena para apenas ser um cara diferente na multidão.

“Foi uma febre e nunca gastei nada com isso. Eu olhava para a minha mão e pensava que no dia seguinte nasceria com outra”, conta.

Todos os desenhos são assinados por artistas, por isso, ele nunca gastou com tatuagens. O custo de todo o trabalho seria de aproximadamente R$ 80 mil, calcula. Entre a miscelânea de temas, o mais simbólico ocupa o braço esquerdo: figuras natalinas. Conhecido como o Papai Noel Tatuado na região de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, Sanchez vive a versão metaleira do bom velhinho. No final do ano, encarna o personagem em um shopping na zona norte da capital.


Ao contrário de Judith, Sanchez disse ter sofrido constrangimentos pelo visual que escolheu. “Trabalhava num escritório de publicidade e perdi o emprego por isso. Em outra ocasião, em um banco, fui acusado de fraudar um cheque. Tudo pela minha aparência”, explica. No entanto, ele acredita que o preconceito perderá força diante de tantos tatuados na sociedade.

“Vestidinho de papai noel [com as tatuagens cobertas] pais e crianças me adoram. Mas garanto que a reação não seria a mesma se meu corpo aparecesse”.

A paixão de Sanchez pelas tatuagens já conquistou seus dois filhos, de 21 e 14 anos. O mais novo promete que tatuar todo o braço quando alcançar a maioridade. Envelhecer com os desenhos é motivo de orgulho à Sanchez. “Se eu chegar aos 80 anos, como a Judith, vou ser um cara muito feliz”.

“Expressão na pele”

Para o experiente tatuador Sergio Maciel, o Leds, fundador do estúdio com o mesmo nome, na Zona Sul da capital, o número de velhinhos modernos e descolados irá aumentar.

 
“Tenho muitos clientes com mais de 60 e 70 anos, eles querem expressar liberdade. E o discurso é sempre o mesmo: queriam ter feito antes, mas esperaram por medo”. Estima-se que, entre os clientes que entram no estúdio por dia, ao menos três estão na terceira idade.


Arquivo pessoal

Anderson Lopes diz que nunca se preocupou sobre como as tatuagens ficarão na 3ª idade

Leds acredita que a sociedade conviverá com tantos idosos tatuados que o cenário passará a ser comum, e deixará de despertar olhares tortos nas ruas. “Hoje já encontramos tatuagens em todos os segmentos, médico, chefe de cozinha, modelo e dona de casa. Ela nunca determinou o caráter ou potencial de alguém, mas virou um acessório, como uma joia”.

Um exemplo da futura terceira idade tatuada é Anderson Lopes, de 31, que atua como diretor de arte e leva ao menos15tatuagens pelo corpo. E ele começou cedo. Aos 17 anos, decidiu tatuar o personagem Alex, do filme Laranja Mecânica, no braço.

“Sempre escolhi os desenhos que representam filmes, músicas ou quadrinhos que gosto. Então não dá para enjoar deles, é muito pessoal”.

Apesar de já ter sido questionado sobre envelhecer com as suas tatuagens, Lopes afirma não ter nenhuma preocupação.

“Se estão ali representam um momento da minha vida. Não vou perder tempo pensando como ficarão enrugadas. Serão ainda mais importantes porque carregam uma história.”

Agradecimentos: Naya Vital (maquiagem)

 

 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

“A chave para envelhecer bem é o autoconhecimento”, diz especialista


Com 30 anos de experiência, José Carlos Ferrigno lança livro e fala sobre o novo perfil da velhice: “O desafio maior é envelhecer em paz, sem a pressão de um ideal”

Renata Reif- iG SP

Caducou aquela ideia de que velhice é sinônimo de incapacidade. O termo “melhor idade” faz cada vez mais sentido para a sociedade contemporânea, que já entende o papel positivo dos idosos em benefício da coletividade. Autor de “Conflito e Cooperação entre Gerações” (Editora Edições Sesc SP), o psicólogo e especialista José Carlos Ferrigno explica que a experiência de vida do idoso é alimento para as novas gerações.
"Desafio maior é envelhecer em paz, sem ser pressionado por um ideal", diz José Carlos Ferrigno

 Influenciada pela situação socioeconômica, política e cultural, a relação entre gerações muda com a história. A partir dos anos 1990, os programas intergeracionais começaram a ganhar visibilidade no mundo. No Brasil, atividades culturais e trabalho voluntário integraram idosos ao convívio social, quebrando as barreiras da diferença de idade. “A riqueza cultural se dá quando há o convívio”, resume.

Apesar de a distância entre gerações não ser tão grande, o embate entre ideias novas e conservadoras ainda existe. E ele é essencial: “É o que cria a possibilidade de o mundo ser construído e reconstruído”. Confira abaixo a entrevista concedida por Ferrigno ao iG.



Getty Images
"Desafio maior é envelhecer em paz, sem ser pressionado por um ideal", diz José Carlos Ferrigno

José Carlos Ferrigno, autor de "Conflito e Cooperação Entre Gerações": a velhice não pode ser vista do ponto de vista das limitações, mas de suas potencialidades

iG: Como é a relação entre o idoso e o jovem?
José Carlos Ferrigno: O segredo é entender a fina dialética entre o velho e o novo. Afinal, um depende do outro. A transmissão dos mais velhos aos mais jovens é reelaborada para que os jovens apresentem a novidade. A esperança está sempre na inovação que as gerações vão trazendo. Na Alemanha e na Grã-Bretanha, por exemplo, as gerações trabalham lado a lado, ombro a ombro. O alvo dos programas intergeracionais não é beneficiar as relações em atividade, mas sim a comunidade. É um passo adiante.

José Carlos Ferrigno: Eles representam um norte, um ideal a ser perseguido. Não se trata mais de motivar os jovens e velhos a interagirem em atividades culturais. E sim ter o grupo intergeracional, formado e consciente de suas responsabilidades sociais, trabalhando para a comunidade. Eles têm como objetivo o desenvolvimento da amizade e da coeducação entre gerações. Isso significa que uma geração tem muito a ensinar a outras em função de suas experiências.

iG: O que uma geração pode agregar à outra?
José Carlos Ferrigno: O repasse dos mais velhos para os mais jovens tem a ver com a importância da tradição, do conhecimento, de valores éticos. Já dos jovens para os mais velhos tem a ver com novas tecnologias e com uma maior flexibilidade para lidar com questões mais polêmicas, como sexualidade e drogas.

iG: Quais são os maiores desafios da velhice hoje?
José Carlos Ferrigno: O desafio maior é envelhecer em paz, sem se sentir pressionado por um ideal, e ficar menos vulnerável à pressão de consumo. São muitos apelos por um envelhecimento saudável, mas percebe-se forte manipulação na mensagem dirigida aos idosos. Há uma indústria milionária vinculada a atividades físicas, cirurgias plásticas, cosméticos e medicamentos, que impactam fortemente a velhice.

iG: Isso significa que envelhecer bem tem mais a ver com a cabeça do que com o corpo?
José Carlos Ferrigno: A chave é o autoconhecimento e saber o que se quer para a velhice. Os budistas já diziam que não é possível desconsiderar a opinião dos outros, mas é possível minimizá-la e ganhar liberdade. Tem que haver esforço para a pessoa não ficar presa à aparência e necessitada da opinião alheia. Se a pessoa quiser malhar, tudo bem. E se ela quiser uma vida mais tranquila e parada, ela também merece respeito por sua decisão.

iG: São diferentes as velhices no Brasil?
José Carlos Ferrigno: Sim, há um contraste do ponto de vista cultural, econômico e de oportunidades. Além de pressões de ordem material, há os diferentes estilos de vida. A velhice de um trabalhador rural tem a grande vantagem do contato com a natureza mas, por outro lado, este velho pode perder experiências interessantes mais encontráveis em uma região urbana. E vice-versa. Portanto, o melhor lugar para um velho pode ser tanto a paz do interior, como a agitação das grandes cidades.

Dani Sandrini
 
José Carlos Ferrigno, autor de "Conflito e Cooperação Entre Gerações": a velhice não pode ser vista do ponto de vista das limitações, mas de suas potencialidades



Convívio intergeracional estimula construção de identidade

iG: O que modificou o perfil da velhice?
José Carlos Ferrigno: Principalmente em classes médias e altas, que têm mais acesso ao consumo, há uma nova imagem de velhice. Nota-se uma outra postura, uma vontade maior de participação na sociedade e de experimentar novidades tecnológicas. Os velhos de hoje adotam um estilo de vida que pode aproximá-los dos jovens. Mais recentemente, esses movimentos começam a tornar menos intensa a separação das gerações.

iG: O que é “ficar velho” hoje em dia?
José Carlos Ferrigno: Os velhos e jovens se vestem de modo cada vez mais parecido. A própria internet cria situações em que um jovem pode se passar por um velho ou o contrário. Mas aproximar não significa conviver bem, os desafios se mantêm. O que está em jogo é a qualidade dessa relação, que precisa de boa vontade mútua.

iG: O que os idosos podem cobrar da sociedade?
José Carlos Ferrigno: Há vários problemas e um deles é econômico. A maioria dos idosos depende do INSS e recebe de um a dois salários mínimos, o que dá cerca de R$ 1.000. A complementação do INSS, como a previdência privada ou a poupança, fica restrita à classe média. Há também a questão da saúde. Ainda não existe atendimento digno na saúde deste país. E o atendimento de convênio custa caro e também deixa a desejar.

iG: E que espaço eles, os mais velhos, poderiam ocupar?
José Carlos Ferrigno: A gente tem uma perspectiva de que os velhos podem ter um papel e uma função social que não existia antes. Isso tende a crescer nos próximos anos. É a compreensão de que o envelhecimento não determina incapacidade e incompetência significativas. Também não se pode só dourar a pílula, há uma perda sim. Porém, a velhice não pode ser vista do ponto de vista das limitações, mas de suas potencialidades.

iG: Qual o cenário ideal?
José Carlos Ferrigno: Em vez de enfatizar o diabetes, a insuficiência cardíaca, aquilo que é precário, vamos olhar a funcionalidade do sujeito. Ou seja, não é a visão da doença, e sim da pessoa. A ênfase do papel social do idoso faz com que ele passe a se valorizar, evitando o desespero, aquela sensação de que está chegando no fim da linha. Essa postura da sociedade dá autoconfiança para o idoso superar as dificuldades.

iG: O velho é mais livre hoje em dia?
José Carlos Ferrigno: Com as atividade físicas e culturais, o velho passa a ter mais liberdade e menos tempo para a família. Não é que a avó deixou de gostar dos netos, mas agora ela tem uma agenda e tem que negociar os horários. Não está mais o tempo todo à disposição para ajudar ou ser mão de obra.

iG: Como lidar com idosos mais fragilizados?
José Carlos Ferrigno: Sugiro que os filhos e netos parem para pensar em tudo aquilo que esses velhos fizeram durante a sua vida e que levaram a família a estar onde está. Isso implica no desenvolvimento de empatia e compreensão, inclusive pensando na própria velhice. A questão é perceber a necessidade do outro, dialogar e se interessar pelo outro.

iG: Quais são os conselhos práticos?
José Carlos Ferrigno: O ser humano é o único animal que faz da refeição um momento de confraternização. Mas perdemos o antigo hábito de jantar em família. Hoje tem microondas e cada um tem seu quarto, sua TV. Cada pessoa chega em um horário, esquenta a comida no micro e vai para o quarto. O diálogo diminuiu, por isso as pessoas precisam conversar mais. Os finais de semana podem ser uma oportunidade de a família se reencontrar. Folhear álbuns de família também pode ser de muito valor para recuperar a história familiar e gerar o enraizamento dos mais jovens.


sábado, 4 de janeiro de 2014

Perspectiva 2014: a nova velhice


Um dos meus maiores problemas, que se tornou mais grave ao longo dos anos, são minhas noites de insônia. Não gosto de tomar remédios para dormir. Apesar de exausta, minha mente não consegue desligar, e passo horas pensando, escrevendo, lendo e, inúmeras vezes, só consigo dormir duas ou três horas por noite.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Divulgação
Mirian Goldenberg é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de “A Bela Velhice” (Ed. Record)

Durante muitos anos tive o hábito de anotar os meus sonhos. Acordava de madrugada e escrevia tudo o que havia sonhado. Depois de registrar o sonho tentava voltar a dormir, o que não era nada fácil. Como tenho muitas noites de insônia, decidi parar de escrever durante as madrugadas.

No entanto, recentemente tive um sonho muito especial. Enquanto sonhava, dizia para mim mesma: “Este sonho eu preciso anotar, é importante para as minhas reflexões sobre as diferenças de gênero e envelhecimento”. No sonho, eu estava dando aula e dizia para os meus alunos:

“A única categoria social que inclui todo mundo é velho. Somos classificados como homem ou mulher, homo ou heterossexual, negro ou branco. Mas velho todo mundo é: hoje ou amanhã. O jovem de hoje é o velho de amanhã. Por isso, como nos movimentos libertários do século passado do tipo Black is beautiful, nós deveríamos vestir uma camiseta com as ideias: “Eu também sou velho!” ou, melhor ainda, 'Velho é lindo!'”

Fomos em passeata até Copacabana, todos nós unidos, os velhos de hoje e os velhos de amanhã, vestindo camisetas e levando cartazes com as frases: “Eu também sou velho!” e “Velho é lindo!”. Na manifestação, inspirada em Martin Luther King, fiz um discurso apaixonado:

“Eu tenho um sonho que um dia o velho será considerado lindo, e que todos nós poderemos viver em uma nação em que as pessoas não serão julgadas pelas rugas da sua pele e sim pela beleza do seu caráter. Livres, enfim! Somos livres, enfim!”.

Acordei de madrugada repetindo alegremente a frase: “Somos livres, enfim!”. E com vontade de ir para Copacabana me manifestar gritando: “Eu também sou velha!” e “Velho é lindo!”

“A beleza da velhice está exatamente na sua singularidade. E também nas pequenas e grandes escolhas que cada indivíduo faz

Uma semana depois do sonho, participei de um congresso internacional de moda no Rio de Janeiro. Nele, afirmei que o mercado continua reproduzindo as imagens dos velhos do século passado e não enxerga os “novos velhos” e as “novas velhas” que têm projetos de vida, saúde, amor, felicidade, liberdade e beleza. Convoquei o público do congresso a mudar essas representações negativas e participar da campanha “Velho é lindo” e “Velha é linda”.

Contei que muitas mulheres que tenho pesquisado, de mais de 40 anos, dizem que são ignoradas pelo mercado. Além de se sentirem invisíveis -- ou “transparentes”, como elas se percebem, pois não são mais olhadas ou elogiadas como quando eram mais jovens -- dizem que não encontram roupas adequadas para a sua idade.

Uma nutricionista de 47 anos disse:

“Sou magra e tenho um corpo bonito. Fui comprar uma calça jeans de uma marca famosa e a vendedora olhou para mim dos pés à cabeça como se dissesse: ‘Não temos roupas para velhas. Não queremos a nossa etiqueta desfilando em uma bunda de uma velha ridícula e sem noção’. Saí de lá arrasada, me sentindo uma velha ridícula”.

Outras querem se diferenciar das adolescentes, mas não querem se vestir como velhas. Uma professora de 41 anos contou:

“Não posso usar os mesmos jeans das minhas alunas. Tento encontrar um jeans que não seja colado e de cintura baixa, mas é impossível. Não quero parecer uma garotinha, mas também não quero parecer uma velha. As opções para uma mulher da minha idade são horrorosas”.

A grande dúvida é a de como se adequar à idade sem abrir mão de roupas bonitas. Elas mostram que o mercado está voltado para as mulheres jovens e magras e exclui aquelas que não se enquadram ou não aceitam essa padronização. Uma arquiteta de 56 anos afirmou:

“Sempre usei biquíni e minissaia. Agora não posso mais? Adorei quando a Betty Faria, depois de ter sido cruelmente criticada e chamada de ‘velha baranga, velha ridícula, sem noção’ por usar biquíni aos 72 anos, disse: ‘querem que eu vá à praia de burca, que eu me esconda, que eu me envergonhe de ter envelhecido?’.”

Em uma entrevista sobre a passagem do tempo, a atriz Marieta Severo, de 66 anos, disse:

“Vejo tanta gente preocupada em colocar botox na testa, eu queria poder colocar botox no cérebro. Tenho verdadeiro pavor de perder a capacidade mental, é isso o que mais me assusta quando penso na velhice. Quero ser uma atriz velha com capacidade de decorar um texto, quero ser lúcida na vida e na família”.

Como mostro nos meus livros, artigos e palestras, a “bela velhice” não é um caminho apenas para celebridades. A beleza da velhice está exatamente na sua singularidade. E também nas pequenas e grandes escolhas que cada indivíduo faz, em cada fase da vida, ao buscar concretizar o seu projeto de vida e encontrar o significado de sua existência.

De biquíni ou de maiô, minissaia ou calça jeans, salto alto ou sapatilha, o que interessa é que somos cada vez mais livres para inventar a nossa “bela velhice”. E para mostrar, aos velhos de hoje e aos velhos de amanhã que “velho está na moda!” e, mais ainda, que “velho é lindo!”.

 

 

 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Chéri


Sinopse

Léa ensina a Chéri, o mimado e inexperiente rapaz os caminhos do amor. Seis anos depois de iniciado o romance, a mãe de Chéri resolve combinar secretamente o casamento entre o seu filho e Edmée, filha de outra rica parisiense. A separação entre Léa e Chéri parece inevitável. Eles nunca pensaram quão profundas eram as raízes da sua vida de conforto e prazer e começam a perceber, talvez demasiado tarde, o que significam um para o outro...

Ficha Técnica

Realização


Interpretação


Argumento


 

Duração 92 m

Gênero Romance

Classificação M12

País Reino Unido

Ano 2009