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sábado, 28 de dezembro de 2013

A dor e a performance


As taxas de suicídio se incrementam num contexto marcado pela incerteza e perplexidade, e os mais expostos são os jovens que, tendo de construir seu percurso em espaços de alta competitividade, infelizmente sucumbem

 Joel Birman - O Estado de S. Paulo

 A intenção deste artigo é a de colocar em pauta um conjunto de questões em decorrência do suicídio do músico Champignon, da banda Charlie Brown Jr., em seguida à morte por overdose do seu colega Chorão. A esse cenário trágico deve-se acrescentar o suicídio há alguns meses, por enforcamento, do músico Peu de Souza. A história de suicídio de Champignon se complica, já que esse músico, que substituiu o colega morto, foi seguidamente hostilizado por fãs da banda como traidor por ocupar sua posição em uma nova banda. Nessa medida, a tragédia em questão se situa numa linha tênue entre a dor pela perda do amigo e as múltiplas agressões verbais sofridas da parte de seus fãs. Isso porque tais agressões, nessas circunstâncias, tiveram possivelmente o efeito de incrementar a culpa que se coloca para qualquer sujeito na experiência do luto.

 


Reprodução
‘Preto e Branco’-Man Ray (1926)

 Um primeiro comentário sobre isso é que, paralelamente, no Rio de Janeiro, nos últimos meses alguns jovens de classe média alta se suicidaram de forma violenta e inesperada, causando uma grande comoção entre amigos e familiares. Da mesma forma como Champignon se suicidou abruptamente após um jantar afável com a mulher grávida e amigos, histórias parecidas ocorreram nos suicídios dos cariocas.

Portanto, a primeira questão que se impõe é por que tantos suicídios acontecem com jovens bem-sucedidos na atualidade. Isso não quer dizer, evidentemente, que não ocorram suicídios como esses em faixas etárias outras. Porém, o fato de ocorrerem com jovens tem a potência de nos consternar particularmente, pois se trata de pessoas que tinham uma vida pela frente e muitas possibilidades de resolução dos impasses existenciais que se colocam para todos nós. Por que então esses jovens são lançados abruptamente para o gesto fatal contra si mesmos, sem reconhecerem os horizontes que ainda existiam para eles?

Para responder a isso, é necessário o reconhecimento de que se trata de um fenômeno complexo, que exige uma reflexão que lance mão de um conjunto de saberes, para que não se caia numa banalização psicologista e psicopatológica desse acontecimento limite. Com efeito, é preciso aludir não apenas à teologia e à política, como também ao arsenal das ciências humanas.

Como se sabe, os suicídios não são geralmente divulgados pela mídia. Existe uma interdição em relação a isso, pois se supõe que as narrativas de suicídios possam gerar outros, numa espécie de reação em cadeia. Além disso, essa interdição visa a proteger os familiares dos suicidas, em decorrência do estigma presente nesse tipo de ato fatal.

Contudo, não se pode esquecer que o suicídio é um ato proibido por uma longa tradição religiosa no Ocidente, pois, se Deus nos concedeu a vida, só ele teria o poder de retirá-la. O que implica dizer que, nessa tradição, o indivíduo não teria a liberdade de decidir sobre a própria vida/morte, de forma que se impõe a ele ter que suportar as angústias da existência, inventando formas de lidar com elas.

Esse imperativo religioso foi refundado com a constituição da sociedade moderna, de acordo com Foucault em Vigiar e Punir. Segundo ele, a modernidade se forjou pelo imperativo de promover a vida e afastar a sedução da morte, na medida em que a vida se transformou no campo fundamental para o exercício do poder. Com efeito, se pelo poder disciplinar e pelo biopoder a vida é promovida e a morte apenas acontece quando se torna inevitável, no poder soberano pré-moderno o soberano fazia morrer e deixava viver. Foi em decorrência disso que a modernidade foi marcada por uma intensa e disseminada medicalização do espaço social, na medida em que a saúde foi transformada num dos indicadores fundamentais da qualidade de vida da população e da riqueza do Estado-nação. Daí porque a eutanásia foi proibida em nossa tradição, interdição essa que se mantém ainda hoje, não obstante as múltiplas reações provocadas face a isso na atualidade, em decorrência dos sofrimentos de doentes terminais.

Como se pode reconhecer, a interdição do suicídio conjuga intimamente uma dimensão religiosa com uma dimensão política, de forma que a vida seria regulada pelo poder de Deus e do Estado. Não é, pois, espantoso que o suicídio seja objeto de estigma, provocando horror na população em geral e nos familiares e amigos dos suicidas. No que concerne a isso, é preciso reconhecer que se a perda de alguém que nos é próximo, seja amigo ou familiar, nos é sempre dolorosa, a morte por suicídio é trágica. Com efeito, para esses casos a pergunta que sempre se impõe é se não poderíamos ter impedido o desfecho trágico, se não ficamos cegos e surdos aos múltiplos sinais enviados pelo sujeito. Portanto, a culpa é inevitável entre aqueles que foram próximos dos sujeitos que se mataram, culpa essa que vai marcar suas vidas. Enfim, se os suicidas tiveram que fazer a transgressão limite para realizarem seu ato fatal, pelos interditos religiosos e políticos que delineiam o campo dessa experiência, os familiares e amigos se sentem igualmente responsabilizados por não terem impedido o desfecho.

É inegável que na nossa tradição o ato suicida implica uma situação limite para o sujeito, que se reconhece encontrar num beco sem saída para realizar tal ato. O que implica dizer que, para perpetrar tal transgressão, o sujeito atravessa uma profunda experiência de angústia indizível. Porém, pode-se dizer também que essa experiência se conjuga com o estatuto do individualismo moderno, na medida em que o sujeito aqui em causa não se inscreve numa totalidade social que o subsuma, como ocorria nas sociedades pré-modernas. Nessas, a morte e mesmo o suicídio se inscrevem numa gramática coletiva, ganhando assim foros de heroísmo e grandiosidade, sendo o ato de tais personagens marcados pela coragem e pelos valores éticos superiores. Não é isso que ainda vemos e podemos constatar em diversas culturas asiáticas e árabes, onde os homens-bomba e os camicases se transformam em heróis de suas comunidades, louvados pela coragem e pelos valores fundamentais que os impulsionaram para a morte.

Foi na tradição individualista moderna que o suicídio se transformou num ato maldito. Em decorrência disso, a figura do suicida se transformou na figura do anti-herói e mesmo do covarde, isto é, daquele que não teve coragem para suportar os obstáculos que a vida lhe impôs. Por isso mesmo, nessa configuração antropológica o ato suicida foi transformado num sintoma grave de perturbação psíquica, associado principalmente à experiência da melancolia, mas podendo também ser inserido em outras psicoses.

Em sua leitura do sujeito moderno, Freud procurou pensar a melancolia e o suicídio a partir da experiência do luto. Vale dizer, em face da perda de um objeto amado ou de um ideal, o sujeito vive uma experiência de luto, numa espécie de confrontação ética com a figura do morto, num acerto de contas com suas memórias face ao objeto perdido. Dessa maneira, a melancolia seria uma impossibilidade para o sujeito de aceitar a perda do objeto de amor e dele se separar, de forma a ficar identificado com a figura do morto. Enfim, o ato suicida poderia ser então um ato fatal do sujeito para arrancar de si o objeto que se perdeu, ou então continuar a ele ligado para sempre pela morte.

Contudo, toda essa discussão na atualidade assume novos aspectos cruciais, considerando-se as condições psíquicas do sujeito na contemporaneidade. Assim, face à feroz competição generalizada que existe hoje no contexto social do neoliberalismo, em que a performance se colocou como um imperativo fundamental, a promoção de si mesmo se impôs como uma marca indiscutível da subjetividade contemporânea. Superar os adversários se transformou numa moral disseminada, implicando uma aceleração das formas de viver que são correlatas da aceleração do tempo que se impõe no fluxo das mercadorias e das informações em escala global. Nesse contexto, cada indivíduo se transformou numa microempresa para promoção de si mesmo e da venda de seus produtos, sejam esses materiais ou imateriais, numa multiplicação assintótica de suas performances.

Não é por acaso que o consumo de drogas, sejam essas lícitas ou ilícitas, se transformou numa forma de vida. Com efeito, por esse consumo os indivíduos procuram promover sua performance para estar à altura da competição frenética existente no espaço social. Face a esse excesso intensivo, o sujeito fica turbinado, mas, em contrapartida, nem sempre dispõe de instrumentos simbólicos para lidar com isso. Os efeitos disso são múltiplos, nas tentativas dos sujeitos de lidarem com tais excessos. Se esses forem descarregados sobre o corpo podemos reconhecer a origem das múltiplas doenças psicossomáticas na atualidade, assim como da síndrome do pânico. Contudo, se forem descarregadas para o exterior teremos uma chave para a compreensão da multiplicação da violência e da crueldade na atualidade, assim como para a disseminação das adicções no contemporâneo, que se realizam com diversos objetos, num eixo que se polariza entre a comida e as drogas. Além disso, esse excesso intensivo pode se fazer presente como um corpo estranho para o sujeito, que perde assim suas referências identificatórias, sendo lançado em situações melancólicas.

Assim, pode-se depreender facilmente dessa cartografia como a morte nos assalta como possibilidade, de múltiplas maneiras. Isso porque o excesso como dor não pode ser transformado e metabolizado como sofrimento, pela fragilidade dos operadores simbólicos de que o sujeito dispõe. Com isso, o desamparo que é constitutivo do sujeito, segundo Freud, se transforma em desalento, pois num espaço social permeado pela competição generalizada o sujeito não pode mais contar com o outro como amigo e aliado.

Não é espantoso que as taxas de suicídio se incrementem nesse contexto, marcado pela incerteza e perplexidade. Além disso, não é inesperado que os jovens estejam mais expostos a esses processos, pois tendo que construir seus percursos no espaço de alta competitividade, muitos deles infelizmente sucumbem.
 
JOEL BIRMAN É PSICANALISTA, PROFESSOR TITULAR DO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UFRJ E PROFESSOR ADJUNTO DO INSTITUTO DE MEDICINA SOCIAL DA UERJ

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Solteiros convictos pegaram solidão e transformaram em solitude, diz psiquiatra


Homens que casam mais tarde ou simplesmente não casam são tendência, segundo especialistas, e viram público alvo, ao lado das mulheres solteiras, do mercado imobiliário. "Acho bonito, mas não sinto nenhuma falta de filhos", diz empresário de 42 anos, solteiro

Brunno Kono| iG São Paulo

Getty Images/Kevork Djansezian

George Clooney, símbolo máximo do solteiro convicto que não pensa em se casar ou ter filhos

Tido como um dos solteiros mais cobiçados de Hollywood, George Clooney, de 52 anos, já foi – e poucos devem se lembrar – casado. A relação com a atriz Talia Balsam durou quatro anos (1989-93), e desde então Clooney não subiu novamente ao altar e parece que nem deve fazê-lo. Em entrevista à revista norte-americana Esquire no início de 2012, o ator afirmou que não fala sobre casamento e filhos porque simplesmente não pensa sobre isso. A rotina do duas vezes ganhador do Oscar é diferente de praticamente todos os homens que você conhece, mas sua realidade, de solteiro convicto, não é tão distante assim e tem crescido, segundo especialistas.

 “O que tenho observado é o distanciamento cada vez maior da idade para casar. Homens estão se casando e se tornando independentes mais tarde. Muita gente tem casado em situações excepcionais ainda, como quando a mulher engravida, é casamento de urgência. Estão adiando o máximo possível e alguns optam pelo não casamento, ter parceiros estáveis, mas nada de casar, morar junto e criar família. Embora os comerciais de manteiga e peru de Natal continuem mostrando a família feliz, isso cada vez mais se comprova como uma mentira”, diz Eduardo Ferreira Santos, psiquiatra e autor do livro “Casamento: missão (quase) impossível”.

Ele aponta ainda o trabalho como um dos responsáveis. “Há uma exigência de mercado. Hoje em dia é raro encontrar uma pessoa que está 100% satisfeita com aquele emprego de 8h, com aquele salario. Quase todos nós trabalhamos à noite, fazemos curso, doutorado, mestrado em busca de uma posição na sociedade e uma posição econômica mais confortável. E aí cai no velho ditado, trabalha, trabalha, trabalha para ganhar dinheiro, ficar velho e pagar as doenças.”

Ailton Amélio da Silva, psicólogo, professor da USP e especialista em relacionamentos amorosos, vê uma tendência similar: “Tem um número crescente de pessoas que está optando por não constituir parceria fixa duradoura. Para eles o comprometer-se com alguém traz mais prejuízo do que benefício”. Não que isso seja necessariamente ruim para quem escolhe esse caminho, avalia o especialista. “Tem gente que vive bem sozinho.”

“O que a gente está percebendo é que as pessoas estão perdendo o medo da solidão e a transformando em solitude, na capacidade de viver sozinho, consigo mesmo. A família está passando para o segundo plano”, destaca o psiquiatra. “E acho que tende a aumentar. A imagem da família feliz está se deteriorando”, completa.

Thinkstock/Getty Images

"As pessoas estão perdendo o medo da solidão e a transformando em solitude", diz psiquiatra Eduardo Santos

“ESTABILIDADE É MOMENTÂNEA”

Ricardo Eirado é um exemplo do que Santos classificou como “casamento de urgência”. Quanto tinha 21 anos, o executivo e microempresário se viu em uma situação comum, porém não muita desejada quando não há planejamento: sua namorada estava grávida. “Na época eu me casei porque achei que era o correto, foi por uma questão de valores, hoje eu não faria isso”, diz.

Sete anos após o “sim”, veio o fim, e de lá para cá já são duas décadas como solteiro, “mais tempo divorciado do que casado”, brinca. O tempo como marido, no entanto, serviu para lhe mostrar que ele não iria se casar pela segunda vez. “Depois disso, procurei deixar claro em todos os relacionamentos”, comenta. Em alguns casos a escolha por não trocar mais alianças e ter filhos tornou-se um impeditivo para o andamento da relação, mas nada o fez mudar de ideia: “Descobri que não acredito em relações estáveis e duradouras dentro daquele modelo patriarcal. Não acredito em uma relação duradoura, acho que a estabilidade é momentânea, ainda que meu pai e minha mãe estejam juntos há 40, 50 anos. Não acredito que sirva para mim”.

Mas, ao contrário do que muitos pensam, estar solteiro não significa uma vida de constantes aventuras, apesar de algumas mulheres com quem o executivo se relacionou tenham sugerido uma relação aberta e colocado em cheque a monogamia. “Estou falando de mim. Não tem nada a ver com viver aventuras, eu gosto de namorar, de um relacionamento estável, agora, que esse namoro necessariamente me conduz ao casamento, aí já não sei”, relata Ricardo, que namora há um ano e oito meses, e cuja filha, de 26 anos, curiosamente, está casada: “Ela entendeu que o perfil do pai dela não é esse”.

“O CACHORRO ME FAZ PENSAR EM TER E NÃO TER FILHOS”

Eirado afirma que os amigos não estranham e que vários deles estão em situações parecidas. Um dos solteiros convictos, mas sem experiência prévia como noivo, é Flávio Moreira, de 42 anos. “Tenho períodos de união estável, mas nada de casamento formal e tradicional dentro dos moldes que as pessoas estão acostumadas”, diz o empreendedor, que vê em seu trabalho um dos motivos para nunca ter iniciado uma família. “Eu trabalho muito à noite, viajo para palestras, cursos. Não gostaria de viajar e deixar minha esposa em casa cuidando dos filhos, seria injusto com ela, contribuo para gerar o filho e depois ganho o mundo? Acho que ter filhos tem muitas coisas bonitas, mas ao mesmo tempo você tem perdas, e pensando de forma mais abrangente, não me senti motivado a tê-los.”

Ricardo também fala em “perda” e sugere que suas noites gastas em natação e outras atividades que não estão relacionadas ao trabalho poderiam ser afetadas. “Não é nada muito extremista. Por exemplo, eu dou aula na PUC-SP, sempre à noite. Não é uma profissão, vejo como um adicional. Vou nadar às 23h, chego em casa à 1h30 da manhã. Seria complicado fazer isso três vezes por semana se eu fosse casado naquele modelo tradicional.”

Diferente do amigo, Flávio diz que sempre se relacionou com mulheres, às vezes por dez, oito anos – a atual namorada está com ele há cerca de dois –, que compartilhavam da sua opinião. “Nunca houve um conflito. A relação terminava por outras razões”, conta.

Um companheiro, entretanto, já o fez pensar, ao mesmo tempo, em ter e não ter filhos. É um dogo argentino que atende pelo nome de Zero. “Sempre tive cachorro desde os 16 anos. Ele me faz pensar em ter e não ter [filhos]. O cão também te dá muito trabalho, esse tem energia, então eu passeio, escovo, dou banho, vou ao parque. Muitas vezes eu já faço isso por uma questão de rotina e sei que se não fizer ele vai roer todas as coisas aqui em casa. Por mais que, digamos, eu o trate com todo o amor possível, com uma criança é muito maior. É esse cuidado vezes dez”, explica o empreendedor.

O que pode parecer um sinal de arrependimento, entretanto, desaparece quando Moreira é questionado se chega a sentir algum tipo de remorso quando vê uma família. “Eu lido bem com isso, não sinto falta, não chego a pensar sobre o assunto. Tenho muitos amigos, gosto de sair, tenho uma vida muito ativa, pratico esportes. Não sinto falta, nada, mesmo quando vejo a situação família. Olha, acho agradável, muito bonito, mas eu não sinto nenhuma falta.”

Divulgação/Coelho da Fonseca
Até 40% dos lançamentos da Coelho da Fonseca têm como alvo os solteiros, diz diretora do grupo

DE OLHO NOS SOLTEIROS

A conta é bastante simples. Um casal geralmente significa uma moradia, seja casa ou apartamento. Dois solteiros representam dois imóveis. É de olho nessa fatia da população que tem crescido, segundo especialistas, que o mercado imobiliário tem criado opções com características específicas para o solteiro, não só o homem.

Segundo Fátima Rodrigues, diretora geral de vendas e lançamentos da Coelho da Fonseca, entre 35% e 40% dos lançamentos da empresa são voltados para o solteiro “de 28 anos até de idade mais avançada”. “Em cima de pesquisas e observando o próprio mercado, nós identificamos uma boa liquidez, uma velocidade nas vendas nesse tipo de apartamento, de acordo com a região.”

Ela conta que eles começaram a perceber este público nos últimos dois anos e que entre as especificações dos edifícios pode-se encontrar metragens reduzidas, na faixa de 50 m² a 70 m², localização próxima de centros comerciais e de metrôs e serviços como manobrista, camareira e academia. Fátima chama isso de “um novo jeito de morar”. Uma curiosidade é que os prédios em questão não possuem espaço para crianças.

Diretor geral da imobiliária Itaplan, Cyro Naufel Filho, confirma que “há muita procura” por parte das pessoas solteiras, apesar dele também incluir os mais jovens na conta, e diz que a “praticidade”, observada em comandos no apartamento por celular e ar condicionado dentro do imóvel, por exemplo, é um “conceito importante para este público”.

MAIS VIÁVEL VIVER SÓ

Além das tecnologias citadas por Fátima e Cyro, Ailton Amélio acredita que as redes sociais, de uma certa forma, ajudam a tornar “mais viável viver só”, embora ele defenda que no último caso, o efeito de ferramentas como Facebook seja apenas paliativo. “Existem produtos voltados para quem é só. Os motivos para casar diminuíram, você pode comprar a granel uma porção de coisas que vinham no pacote, mas muita gente gostaria de comprar um casamento e não consegue”, ressalta o psicólogo.

Amélio se diz preocupado com os solteiros não por opção, mas “por distorção”. “Existem pessoas com trauma, incapazes de se comprometer, tímidos demais, que gostariam de ter uma relação e não conseguem. Temo que muita gente é só devido a problemas. É um bom motivo para procurar ajuda. Quem está bem, equilibrado, não procura, não vem”, diz.

E QUEM CUIDA NA VELHICE?

Outra preocupação, esta levantada por Eduardo, é quem cuida dos solteiros na velhice, tarefa que normalmente seria atribuída aos filhos. “Percebo que o pessoal está com essa de vida auto-suficiente, mas lá na frente, quem cuida? Não vai ter filhos, não vai ter ninguém”, questiona.

Ao ouvir exatamente essa pergunta, Flávio Moreira diz não pensar no assunto: “Vou pagar meu plano de saúde para não precisar. Se eu pensar na quantidade de amizades profundas que tenho hoje, tenho certeza que os amigos cuidariam de mim se eu estivesse com meu sistema biológico falhando”.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Amarcord



 
 















Ano:1973
Direção e Roteiro:Federico Fellini


Fotografia: Giuseppe Rotunno
Musica:Nino Rota
Duração:127 min.
Locação:Rimini e Estudio Cinecittá, Roma, Itália.
Elenco: Pupella Maggio, Armando Brancia e Magali Noel
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1976.
Bodil Festival 1975, Melhor Filme Europeu.
DVD:Criterion Collection, lançado em 1998.
 
Federico Fellini deixou o mundo em 1993 e atrás de si um legado cinematográfico de 23 ótimos filmes que realizou entre 1950 e 1980.
Dos filmes que realizou destacam-se "Estrada da Vida"(1954),"As Noites de Cabíria"(1957),"La Dolce Vita"(1960),"Boccacio"(1962),"Oito e Meio(1963),"Julieta dos Espíritos(1965),Satyricon(1969),"Amarcord"(1974),"Casanova"(1976),"LaNave Va"(1983),"Ginger e Fred"(1985),"Entrevista"(1987).
 
 
Amarcord foi feito no ápice de sua carreira , na graça do ano maravilhoso que foi 1973; e é um dos filmes mais delicados, bem humorados e fantásticos onde a poesia é um registro obrigatório em todo os fotogramas de um filme.
 
O tema da película é a cotidiano da vida humana e Fellini se tornou notável por produzir películas que tratavam deste tema com soltura, leveza , humor e crítica; questionando nossa condição emocional, sexual e política.
 
Amarcord é uma palavra do dialeto Emilico-Romano que significa Me Recordo. Neste filme, o diretor retratou suas memórias autobiográficas de um período de sua adolescência através do olhar de um rapaz chamado Totti em Rimini sua viela natal beira mar, no ano de 1930 quando o Fascismo de Mussolini começava a dominar a Itália.O filme descreve de forma deslumbrada, mas não exagerada, o relacionamento do rapaz com a viela, seu mundo e personagens que ao longo do filme vão se tornando mais e mais universais.
 
Esta é a magia que Fellini sempre empregou em seus filmes e em Amarcord consegue de forma sublime; colocando o espectador em situações de contento, admiração e prazer.Fellini como ninguém soube retratar o charme das pessoas.
 
O ponto inicial da película é o adolescente descobrindo o sexo e sexualizando suas relações. O filme começa com uma cena antológica que mostra numa noite um carro estacionado chacoalhando; dentro dele o rapaz e seus amigos se masturbando. Amarcord nos coloca numa trama simples do cotidiano da vila durante um ano e vai nos revelando a vida e os eventos de seus personagens como o padre severo, a louca da praia, o louco da cidade,as irmãs solteironas, a prostituta, o principe aristrocata, o comerciante, a mulher mais bonita da cidade , a comerciante gorda e outros que a câmera sempre mostra com distânciamento e delicadeza e que dão fluência peculiar filme.Há um personagem numa bicicleta que eventualmente e sempre ao fundo, quando surge, para diante da camara e começa a falar como se fosse com alguém que estivesse atrás da câmera, o espectador, e fala sobre o tempo ou sobre uma qualidade da vila Cria-se um clima surreal confortável.
 
A fotografia nesta película com movimentos sutis e lentos; e seu distanciamento provocam a sensação onírica no filme. Amarcord é um filme que conduz o espectador num embalo do começo ao fim. A musica circense de Nino Rota é elemento fundamental.
 
Cenas como a do silêncio total em torno de um pavão na borda de uma fonte congelada abrindo a sua cauda e das pequenas barcas a noite em alto mar levando os moradores da viela excitados esperando pela passagem de um Transatlântico, apenas para acená-lo são impossíveis de se esquecer depois de assistir a este filme.
 
Fellini foi um dos grandes da sua geração e talvez um dos últimos poetas cinematográficos destes tempos racionais que vivemos.
 
A sorte, no entanto, está ai em DVD; pode-se ainda ver Amacord e outras pérolas de Fellini e sonhar, sonhar ao som de uma sanfona numa canção de Nino Rota.
 

Fonte: No escurinho do cinema

domingo, 1 de dezembro de 2013

O Leopardo - filme

"Tudo tem que mudar para continuar o mesmo".
 
 
Sinopse

O filme passa-se na Sicília, no século XIX. Um grande proprietário sofre a perda do seu poder e influência após 'Il Risorgimento', ou seja, a unificação da Itália. As classes mais elevadas tentam ignorar os movimentos nacionalistas e ele começa a ter dúvidas acerca dos seus próprios sentimentos em relação ao que o rodeia.
Ficha Técnica
Realização
Interpretação
Ator / Atriz
 
O Leopardo - uma das obras primas de Luchino Visconti

Carlos Augusto Brandão, especial para a Italiamiga
 
O Leopardo, um dos marcos da brilhante carreira do diretor italiano Luchino Visconti, está completando 40 anos: em 1963 o famoso livro II Gattopardo, de Giuseppe Tomasi Di Lampadusa, foi eternizado pelo cinema em um dos seus momentos mais importantes. Além de O Leopardo Visconti realizou outras obras importantíssimas como Rocco e seus Irmãos, Morte em Veneza, Violência e Paixão , além de Obsessão, todos incluídos entre os clássicos do cinema universal.O épico político-histórico O Leopardo resiste ao tempo e mantém intacta a sua atualidade, mostrando nos seus 205 minutos de duração fatos e acontecimentos facilmente encontráveis nos dias de hoje. O filme tem como pano de fundo a história da Sicília centrada no século 19, quando era dominada pelo ramo espanhol dos Bourbons. O Príncipe de Salina Don Fabrizio (Burt Lancaster, no papel que o consagrou) começa a perceber que a atuação de Garibaldi iria alterar de forma inexorável a estrutura de poder então dominante na Sicília e na aristocracia local. Quando acontece o desembarque na Sicília de cerca de mil voluntários garibaldinos e a ameaça se torna iminente, Tancredi (Alain Delon), sobrinho do príncipe, sussurra para ele a fórmula mágica: "se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude". Assim, ele também participa da luta pela unificação da Itália , garante a continuidade da influência da família no poder e ao mesmo tempo a sua própria sobrevivência social , casando-se com a filha (Claudia Cardinale) do latifundiário local. Era a velha aristocracia aliando-se à força ascendente da nova época: a burguesia. Visconti retrata com fidelidade os antecedentes que geraram a decadência da nobreza siciliana e sua adaptação aos novos tempos. Afinal, ele mesmo era descendente da aristocracia lombarda: sua família dominou Milão durante 170 anos, nos séculos 13 e 14. Foi nessa cidade da Lombardia que ele nasceu em 02.11.1906, filho do agente teatral Giuseppe Visconti e de Carla Erba, a herdeira dos Laboratórios Erba. No início de sua vida, só se interessava por corridas de cavalos. Mas no começo da década de 30 ele conheceu o grande diretor francês Jean Renoir ,que o convidou para ser seu assistente em vários filmes e despertou nele o interesse definitivo pelo cinema. De volta à Itália, Visconti realizou Ossessione em 1942 - baseado no romance The Postman Always Rings Twice, de James Cain , o filme é considerado o principal precursor do movimento neo-realista - dando o início real a uma carreira brilhante no cinema . Sua atividade nas artes também incluiu um grande envolvimento com a produção teatral e de óperas, muitas em espetáculos inesquecíveis com Maria Callas no Scala. O teatro e a ópera certamente tiveram uma grande influência no seu estilo cinematográfico, o que pode ser observado em muitas características de sua obra. Entre tantos trabalhos memoráveis, O Leopardo se destaca em sua filmografia por ser também uma das obras esteticamente mais bem realizadas do cinema , valorizada pela excelente direção de arte, pelos ótimos desempenhos dos atores principais e pela perfeita trilha sonora dirigida por Nino Rota . A trilha contem uma valsa inédita de Giuseppe Verdi, na cena em que o príncipe dança com Angélica, a personagem de Cláudia Cardinale.
 
 A bela fotografia de Giuseppe Rotunno (que também fotografou Amarcord e O Show deve Continuar) retrata imagens deslumbrantes da Sicília e os opulentos interiores do Palácio Gangi San Lorenzo, cenário de inúmeras seqüências do filme. O grande diretor italiano morreu em março de 1976, aos 70 anos. Seus problemas de saúde, no entanto, começaram bem antes, em 72 , quando estava filmando Ludwig. Teve um enfarte durante os trabalhos e, posteriormente, muitos aborrecimentos devido a conflitos com os produtores que reduziram o filme para uma versão comercial. Tudo isso deve ter contribuído, sem dúvida, para agravar seu estado físico, já bastante abalado. Em 80, num reconhecimento ao grande mérito do diretor lombardo, um esforço conjunto de atores e roteiristas possibilitou que a cópia completa de Ludwig, com quatro horas de duração , fosse relançada internacionalmente . Visconti não conseguiu realizar seu sonho de adaptar para as telas Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Considerado um dos livros mais difíceis de serem adaptados , a obra teve recentemente seu lançamento no cinema no filme O Tempo Redescoberto, do chileno, radicado na França, Raul Ruiz. Mas, se Visconti o tivesse filmado - ele chegou a escrever o roteiro -provavelmente nos teria brindado com mais um clássico entre os muitos de sua carreira, na qual O Leopardo é certamente um marco inesquecível.
 

sábado, 30 de novembro de 2013

"O brasileiro está procurando outras maneiras de ser homem", diz historiadora

Organizadora do livro “História dos Homens no Brasil”, Mary del Priore diz que pais estão "inaugurando uma nova faceta" da masculinidade no Brasil, mas que a sociedade como um todo ainda é machista e que o sexo masculino também acaba sendo vítima dele

Brunno Kono| iG São Paulo




Thinkstock/Getty Images

Pais estão inaugurando uma nova faceta da masculinidade no Brasil, afirma historiadora Mary del Priore

“O heroísmo dos campos de batalha migrou para o cinema e a cama. Ali, no início do Século XX, forjaram-se padrões de comportamento masculino em que a coragem e bravura eram regras. ‘Dar no couro’ também era norma. O homem viril precisava ser igualmente incansável. As falhas, sempre discretamente tratadas. (...) Entre os anos 1960 e 1990, grandes rupturas: nascia o ‘metrossexual’. Um ‘novo homem’. (...) O aumento de revistas masculinas e a proliferação de serviços para cuidar e aperfeiçoar o corpo masculino (que alteraram não só o físico, mas a cabeça de muitos). Multiplicou-se a preocupação com a ‘diversidade’. Quantos homens cabem num só?”

Ex-professora da USP e especializada em História do Brasil, Mary del Priore questiona e busca responder esta dúvida em 12 textos organizados por ela e Marcia Amantino e publicados em “História dos Homens no Brasil” (Editora Unesp).

“'Bom cabrito não berra' ou 'homem não chora' são expressões populares que demonstram que a história dos homens não foi um passeio num cenário de conquistas e atos heroicos, mas também de dores e humilhações que os condenam a sofrer calados. É a história de lutas num ambiente extremamente adverso."

Em entrevista ao iG por e-mail, a historiadora afirma que o conceito de masculinidade sofreu diversas mudanças ao longo de décadas, influenciado por acontecimentos históricos: “Não existe um, mas vários homens brasileiros, pois sua ‘masculinidade’ não é um dado natural, mas uma variável construída de acordo com diferenças de classe, educação, religião, orientação sexual e até da área geográfica onde estão situados”.

De acordo com Priore, a figura paterna está “inaugurando uma nova faceta” da masculinidade no Brasil, mas que a “sociedade como um todo” ainda é machista. “Homens aprendem com as mães que o machismo nasce em casa”, diz. Leia a entrevista:

iG: Historicamente, quem é o homem brasileiro?
Mary del Priore: Ser homem ou se tornar um, saber que comportamentos adotar de acordo com sua época, é um longo aprendizado social. Algo relacionado não só às dimensões culturais, como também à política, à economia e aos debates relacionados à identidade nacional. Não existe um, mas vários homens brasileiros, pois sua "masculinidade" não é um dado natural. É uma variável construída de acordo com as diferenças de classe, educação, religião, orientação sexual e até da área geográfica onde estão situados. Mas o que vemos hoje e mereceu nossa atenção foi o fato de que eles estão procurando "outras maneiras de ser homem". E é delas que buscamos falar.

iG: De onde surgiu a ideia de montar o livro?
Mary del Priore: O livro dá continuidade a uma coleção que faço para a editora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e que já tem outros títulos: História das Mulheres no Brasil (prêmio Jabuti 1998), História das Crianças, (prêmio Casa Grande & Senzala da Fundação Joaquim Nabuco 2000), História do Corpo, dos Esportes e agora dos Homens. Reunimos autores conhecidos por trabalhar dentro do tema e capazes de um texto agradável e informativo. Pouca gente trabalha com o assunto, preferindo escrever sobre "gênero feminino". Fomos contra a corrente e nesse aspecto, o livro é inovador e trás mil novidades.

“O nosso problema é que a maioria das mulheres não se importa em ser vista como tal (objeto sexual). E acredita que o 'fiu fiu' faz bem para a autoestima. Os homens podem mudar? Sim. Mas é preciso que as mulheres o façam antes."

iG: De que o forma o livro é inovador e que “outras maneiras de ser homem” são essas?
Mary del Priore: O capítulo sobre o homem escravo revela o passado de nossos avôs africanos, o trabalho, uniões, práticas sexuais, fugas e violências. O celibato dos padres é outro assunto novo, bem como questões polêmicas em torno de sua sexualidade: despiam a batina e brincavam de homens comuns. No mundo rural, a virilidade se construía por meio das armas e do sexo. A sífilis era o batismo de muitos. Um pai nunca anunciava o nascimento de um filho, mas de um "macho". E os filhos bastardos eram um signo de poder sexual. A introdução dos esportes e do ar livre na vida dos homens do século XIX vai lhes permitir exibir músculos, potência. O mesmo podemos dizer do homem em armas: o exército como palco para exibições sobre a força, a honra e a violência.

iG: É dito na apresentação do livro que "o Brasil continua sendo um país machista". Como mudar isso? A mudança parte da conduta do homem ou a mulher terá que brigar como já fez muitas vezes no passado?
Mary del Priore: O machismo não é especialidade brasileira e transformações da sociedade ocidental têm oferecido chances de muitas mudanças. Quanto mais se discute o tema, maior a conscientização, que vem sendo acompanhada de regras e leis. A multiplicação de delegacias da mulher, aplicações da Lei Maria da Penha, exemplos educativos na mídia, inovação nos papéis femininos são formas de buscar soluções duráveis para o patriarcalismo estrutural. O problema é que em nosso país as mulheres também são machistas: não deixam o marido lavar a roupa, nem o filho fazer a cama, se a namorada deste briga com ele é por que é p..., só gosta de ser chamada de docinho, gostosa, tudo o que for comestível, enfim. Os homens aprendem com as mães que o machismo nasce em casa. É a sociedade como um todo que é machista.

iG: Quais transformações do mundo ocidental têm oferecido chances de mudanças?
Mary del Priore: A moda, por exemplo, permitiu novas representações em torno da masculinidade. Desde o passado mais remoto os homens de elite exibiam trajes, barbas e cabelos de acordo com tendências da época. A vaidade e o culto à beleza nunca estiveram fora de suas preocupações. Da peruca com laço de fita e escarpin de saltinho à calça jeans com camiseta branca, dos veludos e cetins ao linho ou lãs inglesas, do exibicionismo barroco à severidade burguesa, a moda é um campo para explicar transformações de hábitos e maneiras masculinas de viver. O mesmo podemos dizer da música e do cinema a partir dos anos 60, que influenciaram estilos de vida e, sobretudo, mudanças no campo da sexualidade: a cena do encontro de um jovem com uma mulher mais velha – como mostrado no filme “A Primeira Noite de um Homem – expunha os riscos da virgindade e da inexperiência masculina que começava então a mudar. Transar pela "primeira vez", ir à zona, a juventude engajada na cena pública, a revolução sexual com a chegada da pílula, tudo isso revela mudanças de paradigmas. A partir dos anos 70 e 80 vemos os gays em cena e a diluição do binômio hetero/homo.

iG: Quando se fala em mudanças, campanhas como a "Chega de Fiu Fiu" são fundamentais?
Mary del Priore: Todas as campanhas que colaborem para uma valorização da mulher em outro papel que não seja o de objeto sexual é válida. Nos países desenvolvidos existem movimentos para diminuir o assédio e evitar que a imagem da mulher fique inferiorizada. Nada de revistas pornográficas ao alcance do olhar ou cartazes chamativos de lingerie, por exemplo. O nosso problema é que a maioria das mulheres não se importa em ser vista como tal. E acredita que o "fiu fiu" faz bem para a autoestima. Os homens podem mudar? Sim. Mas é preciso que as mulheres o façam antes.

iG: Em que sentido o homem brasileiro também é uma vítima? Ele é vítima da própria sociedade que projeta esta imagem do conquistador?
Mary del Priore: Sem dúvida. "Bom cabrito não berra" ou "homem não chora" são expressões populares que demonstram que a história dos homens não foi um passeio num cenário de conquistas e atos heroicos, mas também de dores e humilhações que os condenam a sofrer calados. É a história de lutas num ambiente extremamente adverso. De sobrevivência em meio às desigualdades, de conflitos e tensões.

 

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Homem também é uma vítima histórica do machismo, diz autora de "História dos Homens no Brasil"

iG: Que dores e humilhações são essas?
Mary del Priore: A aversão à homossexualidade, o horror da “cornitude” só mencionada nos sambas de Lupicínio Rodrigues (compositor brasileiro tido como criador do termo “dor de cotovelo”), a vergonha em torno do fracasso profissional ou o silêncio sobre a falta de dinheiro, as exigências de ereções permanentes e de um desempenho sexual excepcional, dúvidas quanto à fidelidade da esposa ou dos amigos, a expectativa exacerbada da família com relação ao sucesso profissional, a vergonha da doença e do envelhecimento. São dezenas de exemplos em que o sofrimento masculino vem sendo tratado com discrição e quase vergonha. Consultórios psicanalíticos estão cheios de casos em que homens procuram socorro por não saber lidar ou falar de suas limitações. O fantasma do amante, marido, profissional e pai sem arranhões ou falhas continua a incomodar e a fazer sofrer a muitos.

iG: Fizemos recentemente uma matéria sobre o “novo homem”, que deixou uma posição até então bem definida dentro da sociedade. Quem é ele para você?
Mary del Priore: Houve grande transformação anunciada, aliás, na música (Super-Homem, a Canção) de Gilberto Gil: "Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria". Onde mais se sente a mudança é na legislação sobre paternidade. Os "direitos paternos" foram substituídos por "deveres" e a autoridade, por cuidados. As novas leis esvaziaram os poderes do velho e feroz patriarca, e hoje, ao lado do pai divorciado, homossexual, viúvo, adotivo ou ausente, vamos encontrar uma nova realidade social construída cotidianamente. Na ausência de mães, cada vez mais envolvidas na vida profissional, os "pais" estão inaugurando uma nova faceta da masculinidade no País.

iG: O "novo homem" é herança de uma mudança recente ou reflexo de um consumidor que publicações voltadas para o público masculino tentam criar, uma vez que a imagem do típico machão ficou defasada?
Mary del Priore: Tudo junto, mas, também, as novas condições nas quais vivem os tais "novos homens": idade tardia para o casamento, vida de solteiro com as responsabilidades domésticas, instabilidade econômica, descoberta de que o "emprego" eterno foi trocado pelo "trabalho" intermitente, solidão nas grandes cidades, enfim, a lista é longa. A partir daí os homens se adaptaram, passaram a cozinhar, a ir ao supermercado, a levar os filhos na escola e ao pediatra, a conviver com filhos e família de outras uniões, a viver em um mundo, ele também "novo"! Aprenderam a aprender e isso é ótimo para a sociedade como um todo.


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Mary sobre o MMA: "Trata-se mais da valorização do corpo compreendido como veículo de status e poder"

iG: O último capítulo do seu livro aborda o fenômeno do MMA. Em qual homem o brasileiro se espelha? No “novo” ou no lutador?
Mary del Priore: Há de tudo e para todos. Depende do nível de educação ou da aspiração pessoal de cada um e por isso falamos sempre no plural: em masculinidades. O interessante é que ao serem introduzidos no Brasil em meados do século XIX, os esportes, até os mais violentos, vinham acompanhados da ideia de que serviam ao "desenvolvimento intelectual da mocidade". Não parece ser essa a contribuição do MMA. Por outro lado, a luta não se resume a um palco para a crueldade espetacular. Os lutadores se negam a reduzi-la à dimensão da violência. Trata-se mais da valorização do corpo compreendido como veículo de status e poder. Ou de uma forma de sociabilidade específica onde se misturam lazer, esporte e estilo de vida.

iG: O homem brasileiro possui uma identidade própria construída ao longo de séculos ou ele busca referências no exterior?
Mary del Priore: Somos mestiços de brancos, negros e índios. Aqui, diferentes culturas e saberes se integraram à sociedade brasileira. Se buscamos referencias no exterior? Sim. Modos de vestir e de comportar-se, o metrossexual, o MMA, a lista é longa. Muitos homens cabem num só. Mas, no fundo, ele é brasileiro.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Por que estamos todos mais doentes?


Sim, estamos mais doentes. Todos mergulhados num mundo em que tristeza virou depressão clínica, e que daqui a pouco um eloquente e imprescindível sentimento chamado amor passará a ser classificado de “transtorno monoerótico imaginário”. Trata-se de um mundo no qual rejeitamos a ideia de sermos normais.

Identificamos certos transtornos de forma caseira, enxergamos nossas próprias “disfunções” e nos apressamos a ir a um médico (ou a uma farmácia, nos casos mais simples) em busca de remédios, antes mesmo de serem prescritos. Invadem nossas vidas cotidianas incontáveis síndromes ligadas ao trabalho, à religião, às artes, à política – a qualquer coisa, enfim, que aparentemente nos tire da condição de “normalidade”.

Esse crescente estreitamento da noção de normalidade em nossas cabeças e o excesso de diagnóstico de doenças mentais são o principal alvo de um livro curioso, fácil e provocativo, escrito pelo psiquiatra norte-americano Dale Archer. Best-seller nos EUA como “Better than normal: how what makes you different can make you exceptional”, o livro foi recém-lançado no Brasil pela editora Sextante com o título Quem disse que é bom ser normal?.

Em oito capítulos, Archer descreve oito traços de personalidade habitualmente associados a transtornos, como a ansiedade, a personalidade histriônica e o narcisismo, e afirma que não há nada errado com essas características – podem ser meros sinônimos de alguém hiperalerta, dramático (ou carismático) e autocentrado, respectivamente. Errado mesmo, só se forem características muito exacerbadas, diz o psiquiatra.

Alívio para quem, como o signatário, é impaciente e não consegue se concentrar em uma tarefa por muito tempo. Ou para quem tem variações constantes de humor. Ou para aqueles que adoram ser o centro das atenções. Enquanto isso, a psiquiatria e a medicalização da vida dão a essas pessoas o status de portadoras de sintomas de transtornos de personalidade – déficit de atenção, bipolaridade ou similares.

“Como psiquiatra, constatei que precisava olhar de forma crítica os excessos de diagnóstico e de medicação”, escreve Archer. “Mais do que isso, sinto-me na obrigação de divulgar uma mensagem nova e libertadora sobre transtornos mentais que devolve ao lugar certo – as suas mãos – o controle de sua personalidade e de sua saúde mental”.

Para ele, o remédio tem de ser o último recurso: “As pessoas entram em um consultório e saem com uma receita médica. A psicoterapia é subestimada”.

Dr. Archer não está sozinho. Há uma “euforia da depressão”, como define o psicanalista brasileiro Jorge Forbes, para quem a serotonina ficou tão popular e íntima de nós quanto o colesterol. (Se você desembarcou agora neste planeta ou, sensatamente, caminha à margem dessa “anormalidade”, convém explicar: a falta de serotonina no seu organismo pode levar a problemas como depressão, enxaqueca e insônia, males típicos deste século).

Isso vale tanto para os EUA, foco da atenção de Archer, como para o Brasil, onde o mercado de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu mais de 60% nos últimos cinco anos. Um mercado felicíssimo como o mundo da melancolia – cerca de R$ 2 bilhões foram movimentados de um ano para cá, segundo a consultoria IMS Health.

Mal-estar coletivo

Quem disse que é bom ser normal? pode soar bem-humorado num tema de densidade e tensão especiais. Mas o assunto é sério, como atesta a polêmica gerada pela publicação, poucos meses atrás, da nova edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), pela Associação Psiquiátrica Norte-americana (APA). A APA é a mais importante e influente entidade de psiquiatria do mundo. O DSM é considerado a “bíblia da psiquiatria”.

O chamado DSM-5 desencadeou uma série de artigos e livros questionando o caráter normativo de suas classificações – para muitos fundadas justamente num vertiginoso movimento de psiquiatrização da vida cotidiana. O documento amplia ainda mais o número de doenças mentais e, por tabela, aumenta as chances de alguém ser diagnosticado com os transtornos já existentes. Também reduz o número de sintomas necessários para que um paciente se encaixe em determinado diagnóstico.

Ou seja, mais pessoas tratadas com medicamentos destinados a transtornos mentais, sorriso aberto para a indústria farmacêutica. A propósito, 70% dos experts que trabalharam para o DSM-5 tiveram, em sua carreira recente, vínculos financeiros com essa indústria.

O avanço das doenças mentais é assombroso: o mundo da psiquiatria reconhecia 182 patologias em 1968, com a publicação do DSM-2. Doze anos depois, o DSM-3 trazia 265. Agora o número de patologias mentais se eleva a 450 categorias diagnósticas.

Poderia ser o resultado do avanço da ciência e da criação de critérios específicos para descobrir enfermidades da alma. Mas, no limite, é um discurso que, segundo os psicanalistas Gilson Iannini e Antonio Teixeira, organiza a crença mercantil da associação entre demanda e produto – no caso, doença mental e arsenal terapêutico.

Para cada classificação, uma pílula com promessa de bem-estar. É uma espécie de epidemia às avessas: as pessoas, com seus desamparos e desordens, agarram-se aos males diagnosticados e se sentem aliviadas de poder descobrir o que têm. Acham o rótulo perdido. Buscam a salvação no diagnóstico oficial. Por outro lado, são classificadas, estigmatizadas e, muitas vezes, marcadas para a vida inteira.

Definições políticas

Assunto restrito ao meio psi? Num instigante dossiê sobre o assunto, publicado na revista Cult, o filósofo Vladimir Safatle mostrou que não. Escreveu o professor da USP:

“Tudo isso poderia interessar apenas a uma comunidade limitada, composta por todos aqueles profissionais designados para tratar de problemas de saúde mental (…). Mas talvez seja o caso de colocar algumas questões. Pois, e se categorias como ‘saúde’, ‘doença’, ‘normal’ e ‘patológico’, principalmente quando aplicadas ao sofrimento psíquico, não forem meros conceito de um discurso científico, mas definições carregadas de forte potência política?”.

A pensar. Um exemplo da utilidade prática desse debate para os não-especialistas é quando o assunto chega ao Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, o TDAH. Entre seus sintomas estão incapacidade de se concentrar, atitudes impulsivas e agitação constante. O que no passado não muito distante seria considerada uma travessura infantil hoje provavelmente vira motivo para ir a um médico, que não hesita em prescrever remédios à criança ou ao adolescente.

Os critérios de diagnóstico de TDAH esperam uma criança capaz de brincar calmamente e mostram-se inversamente proporcionais aos estímulos e à competitividade a que é exposta atualmente.

Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, raros são os pais que não se preocupam dia e noite em como garantir aos filhos ocupação permanente: das brincadeiras coletivas a games; de televisão a passeios, dos tablets ao inglês e à natação, qualquer coisa é necessária para evitar que a criança conheça a solidão, a pausa e o tédio.

(Num livro recente, “The distraction addiction”, Alex Pang, um professor da Califórnia, afirmou que a vontade de se distrair é um vício, uma forma de dependência).

O fato é que tem parecido equivocada a muitos a ideia de transformar toda experiência de sofrimento em uma patologia a ser tratada. Uma vida, como diz Vladimir Safatle, cada vez mais enfraquecida e incapaz de lidar com conflitos, contradições e reconfigurações necessárias. Acrescento: uma vida de busca irrefreável da felicidade, mas incapaz de olhar de frente a tristeza e a frustração inerentes à condição de estarmos vivos.

Autor: Rodrigo de Almeida
Rodrigo de Almeida é diretor de jornalismo do iG, doutor em ciência política e, nas horas vagas, leitor de filosofia, psicanálise e literatura de não-ficção.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Conheça as “Marias Purpurinas”, mulheres que elegem os gays como melhores amigos

Heleninha, personagem do livro “Sempre Amigos”, resume a atitude das meninas que preferem principalmente amigos gays e vão sempre a baladas e locais voltados ao público LGBT

Iran Giusti, do iG São Paulo

Lançado na sexta-feira (25), o livro “Sempre Amigos” (Editora Multifoco) conta a história de Eduardo, jovem gay que está descobrindo sua sexualidade. Na trama se destaca Heleninha, uma “Maria Purpurina”, ou seja, aquela menina heterossexual que se identifica muito com o universo gay.

Para Valter Rege, autor do livro, Heleninha surge para mostrar que o amor é universal e principalmente para retratar a realidade de muitas meninas que estão por aí. “Como a maioria das Marias Purpurinas, Heleninha procura se relacionar com gays pela sensibilidade que não encontra nos homens heterossexuais”.


Arquivo pessoal
Tágide Peres e o sócio Rick Hudson entre drag queens, diversão que virou negócio

É esse o caso da publicitária Amanda Santos , 22. Nascida em Sorocaba, interior de São Paulo, conta que desde sempre foi apegada aos meninos gays. “Um dos meus melhores amigos de infância é gay e lembro que quando era pequena e mal sabia que homossexualidade existia, perguntava para a minha mãe porque meu amiguinho tinha aquele ‘jeito’ e ela me respondia que era apenas porque ele era educado demais”, relembra ela, rindo.

“Eu acredito que os gays são bem mais humanos que o resto das pessoas, inclusive mais até do que eu. Eles vivem no meio de tanto preconceito da sociedade que conseguem não ser tão preconceituosos, julgam menos os outros”, descreve a publicitária, que diz não trocar uma balada gay por nada. "Eles também sabem se divertir como ninguém".


Aline Lima conta que só passou a se sentir enturmada quando conheceu o universo gay Arquivo pessoal

 O acolhimento foi também o que encantou a analista de redes sociais Aline Lima , 22, no convívio com os gays. “Sempre fui meio estranha, meu jeito não agradava muito as meninas do colégio, e andava muito sozinha. Quando mudei de colégio e fiz amizade com um gay e vários meninos, me soltei muito mais. Na faculdade meu melhor amigo, que é gay, me mostrou o universo dele e eu me encontrei”, relata ela.

Para Aline, as músicas e a liberdade são as coisas que mais a atraem. “Posso afirmar que as pessoas mais incríveis que conheci na vida são gays. Meus amigos brincam que eu atraio. Amo nos gays a sinceridade, o companheirismo, a vontade de ser feliz, de se expressar sem se importar com as outras pessoas”, declara.

Ajudando a entender o “Poder Feminino”

A brasiliense Tágide Peres, 31, é DJ e editora-chefe de um site de cultura pop voltado para o público gay. É formada em arquitetura e foi na faculdade que conheceu seu melhor amigo e atual sócio, quando se separou do marido, com quem foi casada por dez anos.

“Foi depois do divórcio que me joguei de vez no meio gay e comecei a sair intensamente. Logo nas primeiras baladas peguei amor pelo meio, e me adaptei muito fácil. Meus amigos foram e são até hoje uma grande família, me ensinaram valores e acima de tudo a não sentir uma auto-piedade característica da maioria das recém separadas. Nunca tive pessoas que me ajudaram tanto a entender meu ‘poder feminino’, e isso levantou minha moral rapidamente e me fez seguir em frente” conta Tágide.

A DJ mostra admiração ainda pelas superações do grupo. “A maioria dos gays carrega alguma história de preconceito dentro e fora de casa, e usa isso de combustível para a superação, o tempo todo sem perder a alegria de viver, mesmo com esse cenário hostil. Eu acho isso fantástico”, admite ela.

O site que edita, Babado e Confusão, veio dessa alegria que ela compartilha com os gays. Sempre desbocada, começou a escrever na internet textos sarcásticos e espontâneos, e o sucesso foi tanto que ela se juntou ao amigo, Rick Hudson, e fundou o blog. “Quando o Babado estava prestes a completar um ano, tivemos a ideia de comemorar. A festa lotou e antes de acabar o dono da casa nos propôs outra festa. Hoje temos duas festas fixas por mês, a BCQ e GIMME", conta ela.

Código de linguagem

Para a psicóloga Janaina Leslão Garcia , o comportamento das Marias Purpurinas é algo habitual. “As pessoas procuram estar entre os que as protegem, de que conhecem os códigos de linguagem. Nossa cultura é composta por grupos, sempre foi, porque não ser esse grupo o universo gay?”.

Outro fator de aproximação citado por Amanda é que nas festas gays as meninas não são abordadas de forma bruta por rapazes, o que facilita a diversão. “Prefiro curtir minha vida com meus amigos gays do que ir numa balada hétero e me sentir um corrimão, onde os caras ficam pegando... Te puxam pela mão, não te deixam passar no meio da multidão, tentam te beijar à força... acho isso uó”, relata Amanda.

E se um dia um namorado pedir para ela deixar de ser Maria Purpurina? “Antes de namorar já é pré requisito não me pedir isso! Senão não tem papo.”

Aline, por sua vez, encontrou na faculdade um namorado “gay friendly”. “Meu namorado é hétero, mas ele também estuda design e encara super bem. Meus amigos gays adoram ele, tudo na base do respeito, ele inclusive tem vários amigos gays”, conta ela, que acha inadmissível ter amigos homofóbicos.

 

 

                                                                                                                    
Arquivo pessoal / Amanda Santos: 'Não troco balada gay por hétero'

“Meus pais tinham muito preconceito. Eu até entendo, pela criação deles e como era antigamente em relação aos gays. Mas amigos héteros homofóbicos eu não admito não. É um preconceito idiota que não dá pra aturar”, completa a analista.

Sobre essa postura de proteção que as meninas assumem com os amigos gays, Janaina Leslão diz que é relativo, porém mostra uma mudança no perfil das jovens mulheres. “Algumas meninas vão para a balada gay apenas pela diversão, mas é inegável que muitas vão porque não gostam de ser ‘cantadas’ ou tocada constantemente. As mais jovens não são tão permissivas quando as de outra geração, que entre aspas se acostumaram com o assédio.”

A psicóloga conclui explicando a importância de socializar em grupos diversos. “Tudo é saudável, na medida em que você não se prenda aos estereótipos e que não se limite. É sempre importante lembrar que, por melhor que seja a sensação de estar em um ambiente protetor, não se pode esquecer que existe um mundo inteiro para te acrescentar.”

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“Sempre Amigos”, de Valter Rege. Editora Multifoco,230 páginas. Encomendas pelo e-mail livrosempreamigos@outlook.com