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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Luis Nassif: A Privataria Tucana marca o fim de uma era

por Luis Nassif, em CartaCapital

O livro “A Privataria Tucana” marca o desfecho de uma era, ao decretar o fim político de José Serra. A falta de respostas de Serra ao livro – limitou-se a taxá-lo de “lixo” – foi a comprovação final de que não havia como responder às denúncias ali levantadas.

O livro mostra como, após as privatizaçōes, o Banco Opportunity – um dos maiores beneficiados – aportou recursos em paraísos fiscais, em empresas da filha Verônica Serra. Depois, como esse dinheiro entrou no país e serviu, entre outras coisas, para (simular) a compra da casa em que Serra vive.

Tem muito mais. Mostra a extensa rede de pessoas cercando Serra que, desde o início dos anos 90, fazia negócios entre si, utilizando o Banespa, o Banco do Brasil, circuitos de paraísos fiscais, as mesmas holdings utilizadas por outros personagens controvertidos para esquentar dinheiro

Provavelmente o livro não suscitará uma CPI, pela relevante razão de que o sistema de doleiros, paraísos fiscais, foi abundantemente utilizado por todos os partidos políticos, incluindo o PT. Aliás, uma das grandes estratégias de José Dirceu, assim que Lula é eleito, foi mapear e cooptar os personagens estrangeiros da privatização que, antes, orbitavam em torno de Serra.

Essa a razão de ter terminado em pizza a CPI do Banestado, que expunha personagens de todos os partidos.

Nesse imbróglio nacional, a posição mais sensível é a de Serra – e não propriamente para a opinião pública em geral, mas para seus próprios correligionários. Afinal, montou um esquema que em nada ficou a dever a notórios personagens da República, como Paulo Maluf. Jogou pesado para enriquecimento pessoal e da família.

Com as revelações do livro, quebra-se a grande defesa de Serra, algo que talvez a sociologia tenha estudado e que poderia ser chamada de “a blindagem dos salões”. É quando personagens controvertidos se valem ou do mecenato, das artes, ou da proximidade com intelectuais para se blindarem. O caso recente mais notável foi o de Edemar Cid Ferreira e seu Banco Santos.

Serra dispunha dessa blindagem, por sua condição de economista reputado nos anos 80, de sua aproximação com o Instituto de Economia da Unicamp. Graças a isso, todos os pequenos sinais de desvio de conduta eram minimizados, tratados como futrica de adversários.

O livro provocou uma rachadura no cristal. De repente todas aquelas peças soltas da história de Serra foram sendo relidas, o quebra-cabeças remontado à luz das revelações do livro.

Os sistemas de arapongagem, que permitiram a ele derrubar a candidatura de Roseana Sarney no episódio Lunus; o chamado “jornalismo de esgoto” que o apoiou, as campanhas difamatórias pela Internet, as suspeitas de dossiê contra Paulo Renato de Souza, Aécio Neves, o discurso duplo na privatização (em particular apresentando-se como crítico, internamente operando os esquemas mais polêmicos), tudo ganhou sentido à luz da lógica desvendada pelo livro.

Fica claro, também, porque o PSDB – que ambicionava os 20 anos de poder – jogou as eleições no colo de Lula.

Todas as oportunidades de legitimação da atuação partidária foram preteridas, em benefício dos interesses pessoais da chamada ala intelectual do partido.

A perda do bonde do real

No início do real, os economistas enriqueceram com operações cambiais, em cima de uma apreciação do real que matou a grande oportunidade de criação de um mercado de consumo interno. A privatização poderia ter sido conduzida dentro de um modelo de fundos sociais, que permitiria legitimá-la e criar um mercado de capitais popular no país. Mas os interesses pessoais se interpuseram no caminho do projeto político do partido.

O cavalo encilhado

O fim da inflação permitiu o desabrochar de um mercado de consumo de massa, dez anos antes que o salário mínimo, Bolsa Família e Pronaf abrissem espaço para a nova classe média. Estariam assegurados os 20 anos de poder preconizados por Sérgio Motta, não fosse o jogo cambial, uma manobra de apreciação do real que enriqueceu os economistas mas estagnou a economia por uma década. FHC jogou fora a chance do partido e do país. Conto em detalhes essa história no livro “Os Cabeças de Planilha”.

A falta de Mário Covas

Fica claro, também, a falta que Mário Covas fez ao PSDB. Com todas as críticas que possam ser feitas a ele, a Lula e a outros grandes políticos, havia neles o sentimento de povo. Na campanha de 2006, ouvi de Geraldo Alckmin a crítica – velada – à ala supostamente intelectual do PSDB. “Covas sempre me dizia para, nos finais de semana, andar pelas ruas, visitar bairros, cidades, para não perder o sentido do povo”.

Os construtores e os arrivistas

Não se vá julgar impolutos Covas, Lula, Tancredo, Ulisses, o grande Montoro, Grama e outros fundadores do Brasil moderno. Dentro do modelo político brasileiro, montaram acordos nem sempre transparentes, participaram dos pactos que permitiam o financiamento partidário, familiares se aproveitaram das relações políticas para pavimentar a vida profissional. Mesmo assim, imperfeitos que eram – como políticos e seres humanos – havia neles a centelha da transformação, a vontade de deixar um legado, o apelo da redemocratização.

A ala intectual do PSDB

Esses atributos passavam ao largo das ambições da ala intelectual do partido, os economistas financistas de um lado, o grupo de Serra do outro. O individualismo exacerbado, a ambição pessoal, a falta de compromisso com o próprio partido e, menos ainda, com o país, fizeram com que não abrissem espaço para a renovação. Com exceção de Serra, FHC não legou para o partido um ministro sequer com fôlego político. Como governador, Serra não permitiu o lançamento político de um secretário sequer.

A renovação tímida

A renovação do PSDB se deu pelas mãos de Alckmin – ele próprio não revelando um secretário sequer com fôlego para sucedê-lo – e, fora de São Paulo, de Aécio Neves. Ao desvendar as manobras de Serra, o livro fecha um ciclo de ódio, personalismo, de enriquecimento de pessoas em detrimento do país e do próprio partido. No começo, será um baque para o PSDB. Passado o impacto inicial, será a libertação para o penoso reinício político.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Estudo de campo funciona do maternal ao ensino médio

Escolas com projetos interdisciplinares que acompanham visita a ambientes estudados comemoram resultados
Foto: Edu Cesar/Fotoarena
Monitora brinca com alunos visitantes durante ordenha de vaca

Uma teta da vaca propositalmente entortada fez o esguicho de leite dar um banho nos alunos que assistiam a uma ordenha pela primeira vez na vida. A maior parte da turma gritou e riu, mas o caçula do maternal, Enrico Dapuzzo Vinhas, de 2 anos, abriu o berreiro. A professora o acudiu no colo. “É por ali que o filhinho dela mama”, disse, aproveitando a atenção que ganhou para emendar uma pergunta. “Que tipo de animal é a vaca, então?” O beicinho de choro se desfez: “mamífo”.Foto: Edu Cesar/Fotoarena


Também chamado de estudo do meio, a prática de incluir excursões que contextualizam os projetos escolares é considerada cada vez mais eficaz pelos docentes e gestores. “O passeio fora do ambiente a que estão acostumados gera uma experiência marcante e eles aprendem muito mais”, afirma a coordenadora pedagógica da instituição, Denise Smolka.


Foto: Edu Cesar/Fotoarena
Airam com um pintinho na mão pela primeira vez: "Achei que era filhote de cisne"

A professora de Enrico, Telma Santana Pontes, que desenvolveu com a turma um projeto sobre o nascimento de mamíferos, aves e répteis, aproveita o menino ainda no colo para mostrar alguns resultados. “As aves vem de onde?”, “Do ovo”, “E você?” O pequeno junta as duas mãos em direção ao umbigo. “Da barriga da mamãe.”

As turmas dos maiores também fizeram o passeio com objetivos pedagógicos, embora todas as crianças quisessem mesmo era ter contato com os animais. Alimentar um cavalo ou acariciar um filhote causava euforia nos alunos. “Ele é tão lindo. Achei que era filhote de cisne”, comentou Airam dos Santos, de 6 anos, com um pintinho nas mãos.

A coordenadora conta que faz as excursões há anos e a reação é cada vez melhor. “Antigamente, era comum as crianças conhecerem uma fazenda com os pais durante as férias, mas hoje em dia eles conhecem mais a Disney do que os animais.”

Ensino médio

Em escolas acostumadas aos resultados das visitas, a importância dos estudos de campo só aumenta conforme as séries avançam. No Colégio Equipe, em São Paulo, todas as turmas de todas as sérias têm pelo menos um passeio para um projeto interdisciplinar. A viagem é obrigatória e o custo dividido durante o ano. “Para o nosso currículo, é essencial”, diz a diretora Luciana Sevorini.
Foto: Arquivo pessoal
Laís, de azul, em plantação de cana-de-açúcar em Ribeirão Preto

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/estudo-de-campo-funciona-do-maternal-ao-ensino-medio/n1597394190615.htmlFotoAlunos do Colégio Equipe em aula durante visita a usina de cana de açúcar - Foto: Edu Cesar/Fotoarena

Fonte: Portal iG


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Hora de rever as privatizações

Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.
Mauro Santayana


Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. Ao decidir por aquele caminho, o governo Collor estava sendo coerente com sua essencial natureza, que era a de restabelecer o poder econômico e político das oligarquias nordestinas e, com elas, dominar o país. A estratégia era a de buscar aliança internacional, aceitando os novos postulados de um projetado governo mundial, estabelecido pela Comissão Trilateral e pelo Clube de Bielderbeg. Foi assim que Collor formou a sua equipe econômica, e escolheu o Sr. Eduardo Modiano para presidir ao BNDES - e, ali, cuidar das privatizações.

Primeiro, houve a necessidade de se estabelecer o Plano Nacional de Desestatização. Tendo em vista a reação da sociedade e as denúncias de corrupção contra o grupo do presidente, não foi possível fazê-lo da noite para o dia, e o tempo passou. O impeachment de Collor e a ascensão de Itamar representaram certo freio no processo, não obstante a pressão dos interessados.

Com a chegada de Fernando Henrique ao Ministério da Fazenda, as pressões se acentuaram, mas Itamar foi cozinhando as coisas em banho-maria. Fernando Henrique se entregou à causa do neoliberalismo e da globalização com entusiasmo. Ele repudiou a sua fé antiga no Estado, e saudou o domínio dos centros financeiros mundiais – com suas conseqüências, como as da exclusão do mundo econômico dos chamados “incapazes” – como um Novo Renascimento.

Ora, o Brasil era dos poucos países do mundo que podiam dizer não ao Consenso de Washington. Com todas as suas dificuldades, entre elas a de rolar a dívida externa, poderíamos, se fosse o caso, fechar as fronteiras e partir para uma economia autônoma, com a ampliação do mercado interno. Se assim agíssemos, é seguro que serviríamos de exemplo de resistência para numerosos países do Terceiro Mundo, entre eles os nossos vizinhos do continente.

Alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos- entre eles Federico Mayor Zaragoza, em artigo publicado em El País há dias, e Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia - constataram que o desmantelamento do Estado, a partir dos governos de Margareth Thatcher, na Grã Bretanha, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, foi a maior estupidez política e econômica do fim do século 20. Além de concentrar o poder financeiro em duas ou três grandes instituições, entre elas, o Goldman Sachs, que é hoje o senhor da Europa, provocou o desemprego em massa; a erosão do sistema educacional, com o surgimento de escolas privadas que só servem para vender diplomas; a contaminação dos sistemas judiciários mundiais, a partir da Suprema Corte dos Estados Unidos – que, entre outras decisões, convalidou a fraude eleitoral da Flórida, dando a vitória a Bush, nas eleições de 2000 -; a acelerada degradação do meio-ambiente e, agora, desmonta a Comunidade Européia. No Brasil, como podemos nos lembrar, não só os pobres sofreram com a miséria e o desemprego: a classe média se empobreceu a ponto de engenheiros serem compelidos a vender sanduíches e limonadas nas praias.

É o momento para que a sociedade brasileira se articule e exija do governo a reversão do processo de privatizações. As corporações multinacionais já dominam grande parte da economia brasileira e é necessário que retomemos as atividades estratégicas, a fim de preservar a soberania nacional. É também urgente sustar a incontrolada remessa de lucros, obrigando as multinacionais a investi-los aqui e taxar a parte enviada às matrizes; aprovar legislação que obrigue as empresas a limpa e transparente escrituração contábil; regulamentar estritamente a atividade bancária e proibir as operações com paraísos fiscais. É imprescindível retomar o conceito de empresa nacional da Constituição de 1988 – sem o que o BNDES continuará a financiar as multinacionais com condições favorecidas.

A CPI que provavelmente será constituída, a pedido dos deputados Protógenes Queiroz e Brizola Neto, naturalmente não se perderá nos detalhes menores – e irá a fundo na análise das privatizações, a partir de 1990, para que se esclareça a constrangedora vassalagem de alguns brasileiros, diante das ordens emanadas de Washington. Mas para tanto é imprescindível a participação dos intelectuais, dos sindicatos de trabalhadores e de todas as entidades estudantis, da UNE, aos diretórios colegiais. Sem a mobilização da sociedade, por mais se esforcem os defensores do interesse nacional, continuaremos submetidos aos contratos do passado. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Fonte: Carta Maior

domingo, 18 de dezembro de 2011

Para UNICEF, adolescentes brasileiros têm direitos mais violados do que outros grupos


por Gilberto Costa, da Agência Brasil

O relatório Situação da Adolescência Brasileira 2011, divulgado quarta-feira (30) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Brasília, aponta evolução do quadro social em que vivem os jovens brasileiros de 12 a 17 anos, mas também avalia que este estrato da população tem alguns de seus direitos mais violados do que outros grupos etários.

O documento assinala problemas atuais como maior incidência de pobreza, risco de morte violenta, privação da convivência familiar e comunitária, e outras situações que podem influenciar negativamente o futuro, como gravidez na adolescência, exploração sexual, abuso de drogas, contágio com doenças sexualmente transmissíveis e baixa escolaridade.

De dez áreas investigadas, o relatório aponta evolução em oito aspectos no período de 2004-2009. Diminuíram, por exemplo, os percentuais de jovens de 12 a 17 anos que não estudam e não trabalham (de 6,6% para 5,4%); de adolescentes que só trabalham (de 4,8% para 3,4%); e de adolescentes não alfabetizados (de 2,5% para 1,6%).

A taxa de abandono no ensino médio caiu de 15% para 11,5%, enquanto o percentual de quem frequenta o ensino médio subiu de 44,4% para 50,9%. Segundo o relatório, dois de cada dez adolescentes de 15 a 17 anos estão fora da escola. Metade dos que frequentam sala de aula ainda está no ensino fundamental, quando já deveria estar no ensino médio. A escolaridade média na faixa etária é 7,3 anos de estudo, quando deveria ser superior a nove anos de estudo.

Além de menos escolarizados do que deveriam ser conforme a legislação que regra a educação no Brasil, os adolescentes são mais pobres do que o conjunto da população. Segundo o Unicef, a pobreza afeta 29% dos brasileiros e a extrema pobreza afeta 11,9%; entre os meninos e meninas de 12 a 17 anos, esses percentuais são 38% e 17,6%, respectivamente.

Para a representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier, os adolescentes pobres “têm menos chances de chegar às mesmas oportunidades” que jovens de outros estratos sociais. Para o estudante Israel Victor de Melo, 16 anos, que participou da discussão sobre o relatório do Unicef antes da divulgação, “a sociedade está falhando em algum ponto” e “é sinal de que (o país) deve distribuir renda”. Segundo ele, “país rico tem que crescer economicamente e crescer em direitos humanos”.

Na avaliação da representante Marie-Pierre Poirier, “as desigualdades sociais historicamente construídas determinam como vão ser afetados os adolescentes”. Ela estima que o Brasil tem, nesta década, a oportunidade histórica de “quebrar o ciclo infernal da pobreza” e aproveitar os próximos anos de esperado crescimento econômico para aumentar os direitos e as condições de vida dos adolescentes. “O que está fazendo por muitos tem que fazer por todos”, assinala.

De acordo com o relatório do Unicef, o investimento social na adolescência é estratégico porque o país vive o período de “bônus demográfico” de ter 11% de sua população na faixa etária de 12 a 17 anos (mais de 21 milhões de pessoas), o maior contingente da história e que declinará nos próximos anos. “Um momento inédito de possibilidades reais para se fortalecer os importantes avanços das últimas décadas nas áreas de saúde, educação, da inclusão”, diz o documento.

O relatório do Unicef compila dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, entre outras fontes.

Edição: Lílian Beraldo.
* Publicado originalmente no site Agência Brasil.
Fonte: Envolverde

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A vitória parcial é dos “doidos” e “sujos”: CPI da Privataria Tucana vem aí!

Livro do Amaury

A vitória parcial é dos “doidos” e “sujos”: CPI da Privataria Tucana vem aí!

por Rodrigo Vianna

A “Folha” levou uma semana para falar no livro de Amaury. Talvez esperasse as orientações do “comitê central”. As orientações parecem ter chegado sem muita clareza. O jornal da família Frias, num texto opaco que nenhum jornalista teve coragem de assinar, levanta suspeita não contra Serra e sua turma de especialistas em “offshore” – mas contra o premiado repórter Amaury Ribeiro Jr.

A “Folha” não se preocupou com a “ficha” do Bob Jefferson antes de noticiar o chamado “Mensalão”. O que importava ali era a denúncia. Bob falou e a mídia correu para “provar” o roteiro que ele indicou (sem nenhuma prova, diga-se). Havia verdades na fala de Bob, mas tambem alguns exageros. O “Mensalão” propriamente dito (que a Globo tentou transforma no “maior escândalo da história”) não existia no sentido de um pagamento mensal a deputados governistas. Mas havia, sim, um esquema subterrâneo, que o PT parece ter herdado dos tucanos de Minas.

Da mesma forma, a “Folha” não se preocupou em saber se o homem que denunciava o Ministro Orlando Silva era ou não um bandido. Valiam as acusações, sem provas. O roteiro estava pronto. O ministro que provasse a inocência.

Com Amaury e a Privataria Tucana, há provas aos montes. Há documentos no livro. Mais de cem páginas. E há o currículo de um repórter premiado. Mas a “Folha” faz o papel de advogada do diabo. Quem seria o “coiso ruim” que a “Folha” quer defender?

Outro dado curioso. Lula foi ao poder e jamais investigou as privatizações. Havia um acordo tácito (e tático) para não promover caça às bruxas. Na Argentina, no México, na Bolívia, a turma dos privatas foi demolida. Aqui no Brasil, eles dão consultoria e palestras. Coisas do Brasil. Feito a jabuticaba.

Dez anos depois, a história das privatizações ressurge, pelo esforço e a coragem de um jornalista que alguns consideram “doido”, por mexer com “gente tão poderosa”. Amaury tem aquele jeito afobado, e o olhar injetado que só os sujeitos determinados costumam mostrar. Agora, querem desqualificá-lo. Covardia inútil.

Até porque um outro sujeito chamado de “doido”, o delegado e deputado federal Protógenes, botou o livro debaixo do braço e saiu coletando assinaturas para a CPI da Privataria. Nessa quinta-feira, dia 15 de dezembro, Protógenes anuncia ter atingido mais de 171 assinaturas.

A CPI da Privataria vem aí. Contra a vontade de Otavinho, Ali Kamel, Civita e dos colunistas histéricos que servem a essa gente. Meia dúzia de blogueiros sujos (obrigado, Serra) avisou o público: há um livro sobre as privatizações na praça. A brava “CartaCapital” – de Mino Carta, Sergio Lirio e Leandro Fortes – publicou 12 páginas sobre o livro. E os leitores nas redes sociais espalharam a notícia.

Verdade que setores da grande imprensa furaram o bloqueio – a notícia saiu na Record, Record News, Gazeta, Portal Terra… Mas e na Globo e na CBN que convocam “marchas contra a corrupção”? Silêncio dos cemitérios sicilianos.

Não importa. O barulho foi feito pelos blogs, pelas redes sociais e pelos poucos jornalistas que não se renderam ao esquemão do PIG. É uma turma que colegas mais bem estabelecidos costumam chamar de “gente doida da internet”.

Pois bem. A conexão dos “doidos” e “sujos” ganhou o primeiro round nesse episódio da Privataria. Como já havia ganho no caso da bolinha de papel em 2010.

Vejam bem. Não foi o PT, nem a máquina petista (parte dela, aliás, sai mal do livro - por conta do acordo na CPI do Banestado, e da guerra interna no comitê petista em 2010 narrada por Amaury) que fez barulho. Não. Foi a turma aqui da internet.

O Serra levou outra bolinha na testa. Essa deve ter doído de verdade. Serra chamou o livro de “lixo”. De fato, as operações narradas por Amaury cheiram mal. A Privataria cheira mal. E o livro é pesado, recheado de documentos.

Será que Kamel convocará o perito Molina para provar que o livro não existe? O problema será convencer os leitores dos blogs e os quase 200 deputados que já assinaram o pedido da CPI. A primeira – em muitos anos - que pode vir sem ter sido precedida de campanha movida pela velha mídia.

Essa CPI, se vingar (e ainda há armadilhas no caminho), virá contra a velha mídia. Será a vitória dos sujos e doidos contra o bloco dos hipócritas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A reportagem investigativa da década

por luisnassif, dom, 11/12/2011

Fui ontem à coletiva do repórter Amaury Ribeiro Jr, sobre o livro que lançou.
Minha curiosidade maior era avaliar seu conhecimento dos mecanismos do mercado financeiro e das estruturas de lavagem de dinheiro.

Amaury tem um jeito de delegado de polícia, fala alto, joga as ideias de uma forma meio atrapalhada – embora o livro seja surpreendentemente claro para a complexidade do tema. Mas conhece profundamente o assunto.

Na CPI dos Precatórios – que antecedeu a CPI do Banestado - passei um mês levando tiro de alguns colegas de Brasília ao desnudar as operações de esquenta-esfria dinheiro e a estratégia adotada por Paulo Maluf. Foi o primeiro episódio jornalístico a desvendar o submundo das relações políticas, mercado financeiro, crime organizado.

No começo entendi os tiros como ciumeira de colegas pela invasão do seu território por jornalista de fora. Depois, me dei conta que havia um esquema Maluf coordenando o espírito de manada, no qual embarcaram colegas sem conhecimento mais aprofundado do tema.

Minhas colunas estão no livro “O jornalismo dos anos 90”, mostrando como funcionavam as empresas offshore, o sistema de doleiros no Brasil, as operações esquenta-esfria na BMF e na Bovespa, as jogadas com títulos estaduais.

Repassei parte desse conhecimento ao meu amigo Walter Maierovitch, quando começou a estudar esse imbricamento mercado-crimes financeiros e, depois, na cerimônia de lançamento do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência).

Mesmo assim, persistiu a dicotomia na cobertura: jornalistas de mercado não entravam em temas policiais e jornalistas policiais não conheciam temas financeiros. E a Polícia Federal e o Ministério Público ainda tateavam esse caminho.

Aos poucos avançou-se nessa direção. A Sisbin significou um avanço extraordinário na luta contra o crime organizado. E, no jornalismo, Amaury Ribeiro Jr acabou sendo a melhor combinação de jornalismo policial com conhecimento de mercado.

Quem o ouve falar, meio guturalmente, não percebe, de imediato, sua argúcia e enorme conhecimento. Além de ter se tornado um especialista nas manobras em paraísos fiscais, nos esquemas de esquentamento de dinheiro, tem um enorme discernimento para entender as características de cada personagem envolvido na trama.

Mapeou um conjunto de personagens que atuam juntos desde os anos 90, girando em torno do poder e da influência de José Serra: Riolli, Preciado, Ricardo Sergio, Verônica Serra, seu marido Alexandre Burgeois. É uma ação continuada.

Entendeu bem como se montou o álibi Verônica Serra, uma mocinha estreante em Internet, naquele fim dos anos 90, com baixíssimo conhecimento sobre tendências, modelos de negócios, de repente transformada, por matérias plantadas, na mais bem sucedida executiva da Internet nacional. Criou-se um personagem com toque de Midas, em um terreno onde os valores são intangíveis (a Internet) para justificar seu processo de enriquecimento. Mas todo o dinheiro que produzia vinha do exterior, de empresas offshore.

Talvez o leitor leigo não entenda direito o significado desses esquemas offshore em paraísos fiscais. São utilizados para internalizar dinheiro de quem não quer que a origem seja rastreada. Nos anos 90, a grande década da corrupção corporativa, foram utilizados tanto por grandes corporações – como Citigroup, IBM – para operações de corrupção na América Latina (achando que com as offshores seriam blindadas em seus países), como por políticos para receber propinas, traficantes para esquentar recursos ilícitos.

Ou seja, não há NENHUMA probabilidade de que o dinheiro que entrou pelas contas de Verônica provenha de fontes legítimas, formalizadas, de negócios legais.
Ao mesmo tempo, Amaury mostra como esse tipo de atuação de Serra o levou a enveredar por terrenos muito mais pesados, os esquemas de arapongagem, os esquemas na Internet (o livro não chega a abordar), os assassinatos de reputação de adversários ou meros críticos. É um modo de operação bastante tipificado na literatura criminal.

No fundo, o grande pacto de 2005 com a mídia visou dois objetivos para Serra: um, que não alcançou, o de se tornar presidente da República; o outro, que conseguiu, a blindagem.

O comprometimento da velha mídia com ele foi tão amplo, orgânico, que ela acabou se enredando na própria armadilha. Não pode repercutir as denúncias de corrupção contra Serra porque afetaria sua própria credibilidade junto ao universo restrito de leitores que lêem jornais, mas não chegam ainda à Internet.

Ao juntar todas as peças do quebra-cabeças e acrescentar documentos relevantes, Amaury escancara a história recente do país. Fica claro porque os jornais embarcaram de cabeça na defesa de Daniel Dantas, Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram com seus próprios leitores. (Só não ficou claro porque o PT aceitou transformar a CPI do Banestado em pizza. Quais os nomes petistas que estavam envolvidos nas operações?)

E agora? Como justificar o enorme estardalhaço em torno do avião alugado do Lupi (independentemente dos demais vícios do personagem) e esconder o enriquecimento pessoal de um bi-candidato à presidência da República?

Mesmo não havendo repercussão na velha mídia, o estrago está feito.
Serra será gradativamente largado ao mar, como carga indesejada, aliás da mesma forma que está ocorrendo com os jornalistas que fizeram parte do seu esquema.

A CPI dos Precatórios

No PDF, o livro “O jornalismo dos anos 90”. A partir da página 147, minhas colunas sobre a CPI dos Precatórios, onde já se revelava todo o imenso esquema do crime organizado no país, os doleiros, a operação em Foz do Iguaçu, as concessões do Banco Central etc.

A ironia da história é que, em determinado momento, consegui convencer o banqueiro Fábio Nahoum – testa de ferro do Maluf – a passar informações ao relator da CPI, senador Roberto Requião. Como testemunhas do encontro, a repórter Mônica Bérgamo – que teve um comportamento impecável quando Requião e alguns colegas de Brasília tentaram desqualificar minhas revelações – e o então senador José Serra.
Não podia imaginar que um dos esquemas que operava na região era do próprio Serra.

jornalismo_dos_anos_90.pdf
http://www.advivo.com.br/sites/default/files/documentos/jornalismo_dos_anos_90.pdf
Fonte: Luis Nassif On Line

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Antecipar a alfabetização do seu filho nem sempre é a melhor escolha

Antes de pular um ano letivo, a criança deve ser avaliada com cuidado para não enfrentar descompasso entre o intelectual e o emocional

Foto: Getty Images Pular um ano é bastante comum na pré-escola, mas adiantamento deve ser definido pela maturidade da criança

As escolas brasileiras passaram por mudanças desde que a lei 11.274 foi aprovada em 2006. A nova lei ampliou o Ensino Fundamental para nove anos e deu até o final de 2011 para as escolas se adaptarem. O último passo já foi dado: a partir do ano que vem, só vão ingressar no primeiro ano do Fundamental os alunos com seis anos completos até 31 de março de 2012. A medida gerou uma corrida de pais dispostos a ir à Justiça para garantir que seus filhos entrem no Ensino Fundamental antes do estabelecido. Mas é bom para a criança estar adiantada?

Pular um dos anos da Educação Infantil não é incomum. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a filha da professora universitária Michele Cunha Franco, de 43 anos. Quando Sofia cursava o que antes era conhecido como Jardim, nível anterior ao Pré, os professores perceberam que ela terminava as atividades muito antes das outras crianças. Receosos de que ela perdesse o interesse pela escola, já que não passava por desafios, sugeriram à mãe adiantar a filha. “A Sofia era mais madura: entre três e quatro anos ela não queria brincar de boneca e vivia me pedindo para ensiná-la a ler”, conta a mãe, que atendeu ao pedido.

Com brincadeiras improvisadas, Michele acabou iniciando a alfabetização da filha, que aos cinco anos já sabia ler e escrever. Na escola, avaliaram que Sofia não poderia ficar em uma sala de sua própria faixa etária, já que acabaria achando a escola um tédio.

O mesmo estava prestes a acontecer com a filha da secretária Vania Rayhel, 52 anos, se ela não pulasse um ano da Educação Infantil. “A Jéssica não queria brincar, ela queria aprender a ler e escrever”, diz. A escola acabou mudando-a de ano e a menina chegou ao Pré antes do esperado. “Nós não queríamos forçá-la a nada, mas tudo acabou dando certo e ela acompanhou sem problemas”, declara Vania.

Ambas as mães comentam que o adiantamento na escola não prejudicou em nada o desempenho das filhas. Mas Michele assinala que se a filha tivesse pulado um ano por conta da ansiedade da mãe, o estímulo talvez não funcionasse. “O plano foi bem-sucedido porque não foi forçado: a iniciativa era dela”, diz.

A psicopedagoga Nívea Maria de Carvalho Fabrício, diretora pedagógica do Colégio Graphein, em São Paulo, concorda: antecipar o ingresso de uma criança no Ensino Fundamental apenas para atender às expectativas dos pais é prejudicial. “De forma geral, alfabetizar crianças aos cinco anos pode ser uma loucura”, completa.


Foto: Arquivo pessoal Michele alfabetizou a filha Sofia em casa: aptidão intelectual precoce

Maturidade da criança vs. expectativas dos pais

Com 35 anos de experiência em direção escolar, Nívea comenta já ter visto de todo tipo de criança, inclusive as que chegaram mais cedo ao Ensino Fundamental. Para algumas, tudo deu certo até a chegada à universidade. Para outras, nem tanto. Saber se uma criança está pronta para ser adiantada ou não exige uma avaliação muito individual e completa. Se não for realmente madura, a criança pode se desorganizar com as novidades e se desinteressar, passando a se achar incapaz.

De acordo com a professora Neide de Aquino Noffs, psicopedagoga e diretora da faculdade de Educação da PUC-SP, outra questão deve ser levantada neste momento: a criança não vai acabar perdendo a infância mais cedo?

Para Neide, a criança de cinco anos precisa ter a infância preservada e não há a menor necessidade fazê-la começar no Fundamental tão cedo. “No passado, quando a criança era adiantada, acontecia de uma maneira mais natural e não se corriam tantos riscos”.

Ao pular um ano letivo, a criança enfrenta um descompasso entre o intelectual e o emocional, o que pode atrapalhar o desenvolvimento escolar. Uma forma de contornar o dilema seria apostar em atividades extracurriculares, capazes de saciar a curiosidade e a aptidão intelectual precoce. “Excepcionalmente, pode acontecer de uma criança estar além das outras. Mas, na maioria das vezes, a escola deve se adaptar a ela”, diz Neide.

Alfabetização e adaptação

O processo de alfabetização costuma começar entre os seis e sete anos e pode acontecer mais rapidamente para algumas crianças do que para outras, mas de acordo com a orientadora pedagógica e educacional do Colégio Equipe, Luciana Fevorini, o aprendizado mais rápido não deve ser motivo para os pais verem em seu filho um pequeno gênio.

O adiantamento depende de uma mistura de capacidades – de leitura, escrita e habilidades matemáticas – que devem ser analisadas a fundo. “As expectativas exageradas da família em relação à alfabetização não é legal. As escolas precisam saber fazer uma avaliação correta neste momento, até mesmo do desenvolvimento corporal da criança, das capacidades sociais e cognitivas”, diz. Para ela, o ideal é realmente respeitar a idade.
Fonte: Portal iG