A luta é velha, mas nem sempre foi bem-sucedida. O movimento Infância Livre de Consumismo (ILC) foi criado há apenas sete meses e já é um sucesso entre pais e mães preocupados com o que andam colocando na cabeça das crianças. Com boas ideias e iniciativas simples, o grupo já ganhou milhares de adeptos.
O objetivo é estimular a reflexão sobre os limites da publicidade
infantil na sociedade e sua regulamentação, tema em pauta no Congresso há dez
anos, mas ainda longe de uma decisão. Através de divulgação nas mídias sociais,
o ILC foi unindo simpatizantes e conseguiu o apoio de entidades mais antigas,
como o Instituto Alana, a Aliança pela Infância e o Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor.
“Na relação de troca as crianças vivenciam muitas possibilidade
que a compra não proporciona. Uma delas é a possibilidade de definir o valor
daquele brinquedo, um valor não monetário”, explica a publicitária e mestra em
políticas públicas Mariana Sá, uma das fundadoras do movimento e mãe de dois
filhos.
Crianças e adultos têm visões diferentes sobre brinquedos. É a
cena clássica da criança se divertir mais com a caixa de papelão do que com o
objeto que veio dentro dela. “Minha filha não tem a menor noção se um brinquedo
custou caro ou barato, ela simplesmente gosta de brincar. Ao observar o tempo
que ela passa se divertindo com coisas absolutamente banais como bolas de papel
ou até um objeto de casa, percebi que o valor ou o objeto em si não é o mais
importante. Essa é uma busca nossa e não deles”, afirmou a funcionária pública
Andreia Paiva, que ajudou a organizar um encontro em Salvador.
É verdade que essa política de valor sentimental às vezes causa
confusão, pois uma criança pode não aceitar o brinquedo da outra, mas isto
também é positivo: “No mundo real não podemos ter tudo e na troca isso fica
mais evidente: o dinheiro não vale, não podemos comprar! Então, temos que lidar
com a frustração. A magia é que em poucos minutos o brinquedo que não valeu
naquela troca passa a valer para outra criança”, concluiu Mariana.
O primeiro encontro aconteceu há duas semanas em Brasília, mas no
fim de semana seguinte pipocaram reuniões em diversas cidades do país. Além da
troca também aconteceram oficinas, jogos, piqueniques e teatrinhos. O sucesso
surpreendeu as organizadoras: “Sabíamos que teria uma boa participação das
famílias e que elas abraçariam a ideia, mas a adesão, a quantidade de feiras em
diferentes cidades e o sucesso dos eventos superou todas as nossas
expectativas! As pessoas compareceram com grande vontade de promover esta
mudança de paradigma”, disse a empresária Ana Cláudia Bessa, também
representante do movimento.
Outra campanha do grupo é de, neste dia das crianças, oferecer
menos presentes e mais presença. O argumento é: o que fica na memória das
crianças depois que elas crescem são os momentos passados junto com a família,
não um brinquedo qualquer que estará jogado no baú depois de uma semana.
As saídas alternativas para o consumo infantil no dia das crianças
foram uma oportunidade para o ILC chamar atenção para sua causa principal – a
regulamentação das propagandas voltadas para as crianças. O próprio movimento
afirma que surgiu como uma resposta à Associação Brasileira das Agências de
Publicidade (ABAC), que neste ano lançou a campanha “Somos Todos Responsáveis”,
sugerindo que a responsabilidade do consumo infantil era dos pais, que seriam
incapazes de controlar os próprios filhos.
O movimento Infância Livre de Consumismo não levanta a bandeira da
completa proibição da propaganda infantil, mas insiste no debate: “Defendemos a
regulamentação rígida de publicidade, sem entrar no mérito da proibição ou não.
Queremos informar os pais para que eles mesmos possam tirar suas conclusões e
se posicionar com relação a publicidade direcionada às crianças. O consumo é
necessário, o que combatemos é o excesso”, explica Ana Cláudia.
O dia das crianças está acabando, mas as feiras de trocas de brinquedo
continuam em todo o país. Neste fim de semana acontecerá no Rio de Janeiro e em
São Paulo, entre outras. A programação completa está no site do movimento (http://infancialivredeconsumismo.com/).
*CartaCapital
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