Em entrevista exclusiva ao Delas, Nils Pickert, que foi chamado
de "pai do ano" por internautas do mundo todo, explica o que o levou
a usar saias em público para apoiar o filho
Nils e o filho na cidade onde moram: pai
decidiu usar saias para apoiar o menino
"Um
vestido é apenas um vestido". Esta é a opinião de Nils Pickert, 32 anos,
escritor nascido em Berlim. Casado, está com a esposa há 16 anos, com quem tem
dois filhos: uma menina de sete e um menino de cinco anos. Há pouco menos de um
ano e meio a família se mudou para uma pequena cidade ao sul da Alemanha e Nils
se tornou famoso mundialmente, embora tenha conseguido manter sua privacidade.
A celebridade veio por conta de um artigo escrito para a revista alemã EMMA e
replicado por sites do mundo todo. Nele, Nils explica sua decisão de passar
a usar saias em público como forma de apoiar o filho, que gosta
de usar vestidos e pintar as unhas.
"Neutro" não
é uma opção. Devemos procurar o "justo" em vez do "neutro".
Criticado
por muitos e chamado de "pai do ano" por outros, Nils explica suas razões
em entrevista exclusiva ao Delas,
realizada por e-mail.
iG: Você é adepto da criação de
gênero neutro?
Nils Pickert: Não existe essa coisa de "criação de
gênero neutro". Se eu tentasse criá-lo dessa maneira, estaria levando-o ao
igualitarismo, e não à igualdade. O igualitarismo nega a existência das
diferenças. A igualdade defende que todos devem ter direitos iguais. Eu sou a
favor da igualdade, o que significa ter os mesmos direitos de escolha não
apesar, mas por causa das diferenças. Sempre haverão gêneros diferentes e
identidades diversas. "Neutro" não é uma opção. Devemos procurar o
"justo" em vez do "neutro".
iG: Quantos filhos você tem e qual a idade deles?
Nils Pickert: Tenho uma filha de sete e um filho com cinco
anos.
iG: Quanto tempo você morou em Berlim?
Nils Pickert: Nasci e fui criado lá. Meus filhos também
nasceram lá. Nos mudamos há 16 meses e, antes disso, vivemos sempre em Berlim.
iG: Desde quando seu filho mostrou interesse por vestidos,
esmaltes e outros elementos culturalmente associados ao feminino?
Nils Pickert: Não criamos um ambiente em que ele precisasse
identificar certas coisas como masculinas ou femininas. Por que deveríamos
fazê-lo? Algumas pessoas gostam de esmaltes, como meu filho e a irmã dele. E há
pessoas que detestam esmaltes, como a mãe dele. Usar saias ou gostar de coisas
cor de rosa não é feminino por si só. Agir de forma áspera e ser durão não é
masculino por si só. Somos nós que atribuímos estes valores.
“Usar saias ou gostar
de coisas cor de rosa não é feminino por si só. Agir de forma áspera e ser
durão não é masculino por si só. Somos nós que atribuímos estes valores.”
iG: Como você se sentiu ao perceber que ele gostava de usar
saias? Você ficou preocupado? Pensou no que as pessoas iriam dizer?
Nils Pickert: Não fiquei preocupado, não há nada para se
preocupar. Ele é meu filho e está tentando viver a vida da melhor maneira que
pode. Se ele quiser fazer aulas de boxe, tudo bem! Se quiser dançar balé, tudo
bem também. Mas é claro que pensei no que as pessoas iam dizer para mim. Todo
mundo tem o direito de criticar minhas decisões. Sou eu, e não ele, quem está
tomando uma posição. Ele só quer usar vestidos de vez em quando. Já eu estou
tentando garantir que todos ao nosso redor entendam que ele não está sozinho e
que eu estou aqui para apoiá-lo. Para isso, estou disposto a fazer papel de
bobo -- sou pai dele.
iG: Quando pequeno, você também gostava de vestidos ou outros
elementos associados ao feminino?
Nils Pickert: Não, nunca.
iG: Muitas pessoas criticaram sua atitude argumentando que,
permitindo a seu filho experimentar elementos associados ao feminino, você está
deixando de ensiná-lo os códigos sociais, função fundamental dos pais. O que
você acha?
Nils Pickert: Isso é um argumento cínico e um pouco
covarde. Ele tem total capacidade de entender os códigos sociais. Mas, acima
disso, ele é capaz de distinguir o que é superficial e o que é mais profundo.
Um vestido é só um vestido. Ser mau ou violento, isso sim é um problema. Talvez
ele deixe de usar vestidos um dia. Mas sempre haverá gente que, por ser
diferente, vai precisar da compreensão e da paciência dele. As pessoas me
perguntam porque não poupo meu filho dos olhares de reprovação simplesmente
dizendo-o para não sair mais de vestido. Prefiro poupá-lo de um julgamento
cruel e odioso da sociedade, e só tem uma forma de fazer isso: mudando-a. Não
porque somos diferentes ou párias, mas porque poderíamos sê-los. Não lidar com
questões de gênero não nos dá o direito de julgar quem é. Nos dá o privilégio
de ajudar quem está às voltas com estas questões.
iG: Você acha que brincar ou experimentar papéis associados ao
feminino pode influenciar na sexualidade do seu filho?
Nils Pickert: A sexualidade do meu filho não é problema
meu. Não sou dono do futuro do meu filho. O futuro dele é todo dele, para ele
viver -- eu sou abençoado por poder acompanhá-lo.
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