Um dos pontos que o pessoal da Khan Academy gosta de enfatizar sobre por que vêm
impactando a educação mundial gira em torno de uma palavrinha: acesso. Isso
mesmo, acesso a aulas de matemática, física, história, química ou uma gama
crescente de outros assuntos; acesso a exercícios e suas respostas; e acesso a
uma comunidade de pessoas com interesses afins. “Nós acreditamos que todo mundo
deveria ter direito a ter acesso [olha a palavra aí] a uma sala de aula global
gratuita”, dizem eles, repetidamente, em seu site. Isso quer dizer tanto levar
aulas de matemática para regiões rurais de países subdesenvolvidos que não têm
professores quanto permitir que façam parte da mesma sala de aula virtual um
bilionário e você. “O filho do Bill Gates pode ter a mesma aula de cálculo que
qualquer brasileiro”, disse Salman Khan, na semana passada.
Os
números, todos superlativos, mostram que Khan tem, de fato, começado a
construir uma sala de aula global. Desde que os vídeos começaram a ser postados
no YouTube, em 2006, as aulas – majoritariamente gravadas pelo próprio Khan –
já foram assistidas mais de 200 milhões de vezes. Apenas em dezembro, foram 4,6
milhões de visitantes únicos e mais de 2 milhões de exercícios são feitos
diariamente. Os vídeos têm entre 10 e 20 minutos e são gravados em inglês. “A
tecnologia hoje para transformar a educação, tornando-a mais acessível e
individualizada. Estamos tentando desenvolver as ferramentas e as fontes de
informação que todo aluno merece”, disse a equipe no balanço do mês passado.
crédito Joachim Wendler /
Fotolia.com
Para chegar a todo esse contingente,
a Khan Academy estimula pessoas a traduzirem as aulas, o que já foi feito para
16 línguas, inclusive grego, mandarim, farsi (falada no Irã) e suaíli (em
países africanos). Um chamado especial no site pede que voluntários traduzam as aulas, entre outros idiomas,
para o gujarati (uma das línguas oficiais indianas), hebraico, húngaro e
italiano. “O objetivo inicial é traduzir os principais vídeos da Khan Academy
para dez dos idiomas mas falados pelos usuários [dentre os quais o português].
Primeiro, estamos trabalhando para tornar o conteúdo disponível; em longo
prazo, esperamos também traduzir os exercícios e o painel de controle”,
afirmaram.
Se a Khan Academy está fazendo o
possível para que a barreira línguística não impeça o avanço da sala de aula
global que tanto defendem, outro ponto poderia ser um problema: acesso à
internet, que só chega a 35% da população mundial. Poderia. No fim do ano
passado, um ex-estagiário da Khan Academy, por conta própria, criou a Khan Lite, um
programa off-line que permite a utilização dos vídeos em ambientes sem conexão
com a web. O modelo ainda está em teste, mas já há a perspectiva de que, além
de chegar a populações desconectadas em regiões do mundo com baixa infraestrutura
tecnológica, ele poderá ser usado em presídios e outros locais em que a
internet não é permitida por questões de segurança.
“Quando eu tiver 80 anos, quero sentir que eu ajudei bilhões de
alunos ao redor do mundo a terem acesso a uma sala de aula global. Soa muito
melhor que começar um negócio que educa uma parte do mundo desenvolvido que
pode pagar US$ 19,95 por mês e eventualmente vender isso para alguma editora.”
Com
tamanho potencial de alcance, as aulas do Khan já despertaram o interesse de
inúmeros investidores, que propõem que o site se torne uma empresa voltada para
o lucro. Mas não é isso que Salman Khan quer. “Tudo na Khan Academy é
completamente gratuito e nosso plano é permanecer assim”, diz a equipe, no
site. Também pela plataforma, Khan explica a sua decisão de mantê-la como uma
iniciativa sem fins lucrativos: “Quando eu tiver 80 anos, quero sentir que eu
ajudei bilhões de alunos ao redor do mundo a terem acesso a uma sala de aula
global. Soa muito melhor que começar um negócio que educa uma parte do mundo
desenvolvido que pode pagar US$ 19,95 por mês e eventualmente vender isso para
alguma editora. Eu já tenho uma esposa linda, um filho hilário, dois hondas e
uma casa decente. O que mais um homem pode querer?”, pergunta o fundador da
Khan Academy.
Ele esteve
nesta quarta-feira (16/01/2013) em Brasília e, pela manhã, participou de um seminário
sobre educação digital no Ministério da Educação. Na ocasião, o educador
defendeu uma restruturação do ensino. Já o ministro Aloisio Mercadante anunciou,
já para o primeiro semestre, a criação de uma universidade livre, em que
professores de instituições federais de ensino superior poderão compartilhar
cursos, seminários e palestras. Khan encontrou-se também com a presidenta Dilma
Rousseff, que lhe convidou para participar da criação de material pedagógico
para o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Nesta quinta (17/01/2013),
Khan participa de encontro fechado em São Paulo promovido pela Fundação Lemann
e transmitido via hangout.
Talvez seja esse o caminho.
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