Por Patricia Gomes
O
Rio de Janeiro começa, nas próximas semanas, a experimentar um novo tipo de
escola. Nada de séries, salas de aula com carteiras enfileiradas e crianças
ordenadamente caminhando pelo espaço comum. A aposta para dar a 180 crianças e
jovens da Rocinha uma educação mais alinhada com o século 21 é o Gente,
acrônimo para Ginásio Experimental de Novas Tecnologias, na escola Municipal
André Urani. O espaço, que acaba de ser totalmente reformulado para comportar a
nova proposta, perdeu paredes, lousas, mesas individuais e professores
tradicionais e ganhou grandes salões, tablets, “famílias”, times e mentores.
Não
houve pré-seleção. Os alunos que farão parte dessa nova metodologia já são os
matriculados na escola antes da reforma. Mas agora as antigas séries serão
extintas e não haverá mais as salas de aula tradicionais, com espaço para 30 e
poucos alunos. Em vez disso, os jovens – que estariam entre o 7o e
9o anos – serão agrupados em equipes de seis membros, chamadas de
“famílias”, independentemente de sua série de origem. A formação das famílias
ocorrerá em parte por afinidade, a partir da escolha dos próprios membros, e em
parte a pelo diagnóstico de habilidades ao qual os alunos se submeterão no
início do ano letivo.
crédito ekaterina_belova / Fotolia
Essa
avaliação, que ocorre assim que eles chegarem ao Gente, pretende fazer um
raio-x do estado da aprendizagem de cada um, tanto do ponto de vista do conteúdo
tradicional quanto das habilidades não cognitivas, como comunicação, senso
crítico, autoria. Cada aluno terá um itinerário de aprendizado pessoal, que
funciona como uma espécie de playlist, só que em vez de músicas, estarão os
pontos que ele precisa aprender ou desenvolver. Será o jovem o responsável por
escolher a forma como o conteúdo lhe será entregue – videoaulas, leituras,
atividades individuais ou em grupo. Todas as semanas os alunos serão avaliados
na Máquina de Testes, um programa inteligente que propõe questões de diferentes
níveis de dificuldade, para garantir a evolução no conteúdo. Quando ele não
chegar ao resultado esperado, o jovem receberá uma atenção individualizada.
Tal
atenção é de responsabilidade do mentor da família, o professor. Cada mentor
será responsável por três famílias, que reunidas serão chamadas de equipe. “O
mentor deve dar uma educação mais ampla, preocupada não só com os conteúdos
tradicionais, mas com higiene, com aspectos socioemocionais do aluno, com a
motivação dele”, diz Rafael Parente, subsecretário de novas tecnologias
educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio, explicando a mudança
no papel do professor naquele contexto. Em vez de dar aula de português ou
matemática, o mentor vai ajudar o aluno a encontrar a informação de que precisa
para entender o conteúdo, mesmo que o assunto não seja o da sua formação.
Assim,
explica Parente, se um professor de língua portuguesa precisar explicar um
assunto mais específico de matemática, ele deve pedir ajuda para membros da
família, se sentar com o aluno para assistir à videoaula da Educopedia com ele,
tentar aprender junto. “O professor não vai ser mais aquele que transmite o
conhecimento. Ele vai ser especialista na arte de aprender”, diz o
subsecretário. O grupo de mentores que fará parte do Gente foi treinado para
essa nova forma de lecionar.
Todos
os dias, ao chegarem à escola, os alunos passarão por um momento de acolhida,
em que compartilharão com seus pares experiências e expectativas para o dia. A
jornada na escola é integral. Neste tempo, com o auxílio de seu itinerário e a
liderança do tutor, cada um deverá decidir o que e em que ordem estudar e
poderá, à livre escolha, se juntar a grupos de estudo de língua estrangeira,
robótica, esportes, artes, desenvolvimento de blogs. É nesse momento que uma
pergunta inevitável aparece: mas se o aluno não quiser fazer nada, ele não vai
fazer nada, certo? Mais ou menos. Os mentores, explica Parente, estarão sempre
por perto para motivar os alunos a avançarem, as avaliações mostrarão quem está
ficando para trás e os integrantes da família – o tal grupo de seis – também
deve incentivar uns aos outros. “Quando o aluno é protagonista do próprio
aprendizado, faz suas escolhas, ele se envolve mais, se empolga mais com a
escola.”
A
tecnologia é outro fator importante na forma como o projeto foi organizado.
Para que os alunos possam escolher entre ambiente virtual ou presencial, era
preciso que todos os alunos tivessem acesso a equipamentos e internet. Por
isso, cada aluno terá o seu tablet ou netbook e, quando for pedagigocamente
justificável, vai poder levá-lo para casa. Todas as dependências do André Urani
terá internet sem fio de alta velocidade.
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