Quem sou eu

Minha foto
"Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não será publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Os custos do monolinguismo

*Aline da Cruz

Em 1757, o Marquês de Pombal proibiu o uso da língua geral (o velho tupi). Dois anos mais tarde, expulsou os jesuítas. Com essas duas medidas, Pombal criou os alicerces para um Brasil monolíngüe e com uma educação deficitária. Durante séculos, consideramos o monolinguismo como marca de progresso. Era preciso acabar com a confusão de idiomas dos gentios, dizia Von Martius no século 19. Não apenas a diversidade linguística autóctone foi combatida, mas também, embora por motivos diferentes, o uso de línguas estrangeiras. Os imigrantes alemães e italianos do sul do país ainda se recordam que Getúlio Vargas os proibiu de falarem suas línguas maternas, bem como de ensiná-las para as gerações nascidas no Brasil.

Aos poucos, a ciência está mostrando o quanto perdemos em nossa luta desenfreada em acabar com a diversidade linguística e cultural do país. Em reportagens publicadas pelo New York Times em 30 de maio de 2011 e em 17 de março de 2012, demonstra-se que crianças bilíngues, não importando qual a combinação de línguas, têm um aumento das habilidades cognitivas em relação às crianças monolíngues. Ademais, idosos bilíngues desenvolvem sintomas de Alzheimer cinco a seis anos mais tarde do que as pessoas que falam apenas uma língua. Não fossem as medidas proibitivas de Pombal e Vargas, poderíamos ter um número muito maior de pessoas bilíngues.

Redação adequada

Além de não permitir a emergência de comunidades bilíngues no país, também não houve um esforço para que os brasileiros apreendessem línguas estrangeiras como segunda língua (considera-se bilíngue a pessoa que adquire duas ou mais línguas como língua materna na primeira infância; já o aprendizado de segunda língua ocorre posteriormente). O ensino de francês (já totalmente abandonado), do inglês e recentemente do espanhol em escolas regulares públicas e privadas sempre foi precário e considerado de importância secundária. No Enem, por exemplo, as provas de inglês e espanhol apresentam textos em língua estrangeira, mas as questões e alternativas são em português. Ou seja, cobra-se do aluno no final do ensino médio apenas a compreensão escrita de língua estrangeira.

As associações de Linguística Aplicada no Brasil (Alab) e de Professores Universitário de Língua Inglesa (Abrapui) consideram que esse tipo de prova tem um “grande efeito retroativo” no ensino de línguas estrangeira no país e sugeriram que o Enem, em suas próximas edições, aplique provas em que todas as questões e alternativas sejam escritas na língua estrangeira (inglês ou espanhol). A questão é saber se o governo ouvirá os professores universitários ou, se mais uma vez, serão ignorados.

A imprensa brasileira não para de dar exemplos do quanto a ausência de uma política de incentivo ao ensino de línguas estrangeiras tem nos prejudicado. É notório que o programa Ciências Sem Fronteiras está tendo dificuldade em enviar estudantes universitários para as melhores instituições do mundo simplesmente porque poucos dominam o inglês. Tanto é que o governo acaba de criar o programa Inglês Sem Fronteiras para tentar sanar tardiamente um problema que deveria ter sido resolvido no ensino fundamental e médio.

Ainda que ajudar os universitários a se prepararem para estágios no exterior seja uma idéia interessante, cabe cobrar do governo uma melhora do ensino fundamental e médio para que as próximas gerações não sofram com o mesmo problema. Além disso, a dificuldade em inglês não afeta apenas os universitários. Vale lembrar a notícia, divulgada em diferentes veículos da mídia, de que pilotos com inglês ruim podem perder a licença de vôo. Até mesmo o pequeno grupo de pessoas com doutorado tem apresentado problemas devido à ausência de um bom ensino de inglês. Conforme texto produzido pela Agência Fapesp (“Cientistas precisam saber escrever”), reproduzido por este Observatório na edição 702, os cientistas brasileiros precisam redigir adequadamente em inglês para que as pesquisas tenham a repercussão que merecem.

A dublagem teria vencido as legendas

Leitores da Folha de S.Paulo comentaram, ao ler a reportagem sobre o programa “Inglês sem Fronteiras”, que o brasileiro é preguiçoso para aprender idiomas. Essa atitude de colocar apenas no indivíduo a culpa por um problema que atinge toda a sociedade é preocupante porque desvia o foco do problema e de suas possíveis soluções para o grupo como um todo.

Por um lado, o ensino de línguas estrangeiras tem melhores resultados quanto mais cedo se iniciar. É, portanto, no ensino fundamental e no médio que se devem focar os esforços para que um número maior de jovens fale bem línguas estrangeiras. E isso significa também valorizar os profissionais formados nas faculdades de Letras, que se tornarão professores de língua materna e de línguas estrangeiras nas escolas públicas e privadas. Por outro lado, a tendência dos canais por assinatura e dos cinemas de acabarem com as sessões de filmes legendados, substituindo-os por filmes dublados, parece ir na contramão da nossa necessidade de aprender línguas estrangeiras. A dublagem teria vencido as legendas, afirma em tom comemorativo a revista Época em edição de 8 de junho de 2012. Comemorar o quê? O fato de que estamos perdendo mais uma oportunidade de incentivar o aprendizado de línguas estrangeiras de forma lúdica? A esse respeito, vale a leitura do artigo “Quando a dublagem se impôs no Brasil”, publicado neste Observatório.

***
[Aline da Cruz é professora da Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Goiás e doutora em Linguística pela Vrije Universiteit Amsterdam, Países Baixos. Autora da Fonologia e Gramática do Nheengatú (Utrecht: LOT, 2011)]

Fonte: Observatório da Imprensa

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O consumismo: uma doença?

Marcelo Colussi
Escritor e politólogo argentino. Atualmente radicado na Venezuela
Adital
Tradução: ADITAL


No coração da selva do Petén, no que atualmente é a Guatemala, no cume do Templo IV, joia arquitetônica legada pelos mayas do Período Clássico, duas jovens turistas estadunidenses –com roupa Calvin Klein, com sapatos Nike, com óculos escuros Rayban, com telefones celulares Nokia, câmeras fotográficas digitais Sony, videofilmadoras JVC e cartão de crédito Visa, hospedadas no hotel Westing Camino Real e tendo viajado com milhas de "viajante frequente”por meio de American Air Lines, hiperconsumidoras de Coca-Cola, Mc Donald’s e de cosméticos Revlon-, comentavam ao escutar os gritos de macacos nas copas das árvores próximas: "Pobrezinhos, gritam de tristeza, porque não têm por perto um ‘super’ onde possam fazer compras”...

Consumir, consumir, hiperconsumir, consumir mesmo que não seja necessário; gastar dinheiro; ir ao shopping... Tudo isso passou a ser a consigna do mundo moderno.

Alguns –os habitantes dos países ricos do Norte e as camadas acomodadas dos do Sul- conseguem sem problemas. Outros, os menos afortunados –a grande maioria do planeta- não; porém, da mesma forma são compelidos a seguir os passos ditados pela tendência dominante: quem não consome está out; é um imbecil; sobra; não é viável. Mesmo correndo o risco de endividarem-se, todos têm que consumir. Como ousar contradizer as sacrossantas regras do mercado?

Poderíamos pensar que o exemplo das jovens acima apresentado é uma ficção literária –uma má ficção, por certo-; porém, não: é uma tragicômica verdade. O capitalismo industrial do século XX teve como resultado as chamadas sociedades de consumo onde, asseguradas as necessidades primárias, o acesso a banalidades supérfluas passou a ser o núcleo central de toda a economia. Desde a década dos 50, primeiro nos Estados Unidos, em seguida na Europa e no Japão, a prestação de serviços superou a produção de bens materiais. Supostamente, os bens massivos suntuários ou destinados não somente a garantir a subsistência física (recreação, compras não unitárias, mas por quantidades, mercadorias desnecessárias, porém impostas pela propaganda etc.) encabeçam a produção geral. Por que essa febre consumista?

Todos sabemos que a pobreza implica carência, falta; se alguém tem muito é porque outro tem muito pouco, ou não tem. Em uma sociedade mais justa, chamada socialismo, "ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão”, disse Eduardo Galeano. Não é necessário um doutorado em economia política para chegar a entender essa verdade. Porém, contrariamente ao que se poderia considerar como uma tendência solidária espontânea entre os seres humanos, quem mais consome anseia, mais do que tudo, continuar consumindo. A atitude das sociedades que têm seguido a lógica do hiperconsumo não é de detê-lo, repartir tudo o que se produz com equidade para favorecer aos despossuídos, deter o saqueio impiedoso dos recursos naturais.

Não, ao contrário, o consumismo traz mais consumismo. Um cachorro de uma casa de classe média do Norte come uma média anual de carne vermelha maior do que um habitante do Terceiro Mundo.

Enquanto muita gente morre de fome e não tem acesso a serviços básicos no Sul (água potável, alfabetização mínima, vacinação...), sem a menor preocupação e quase com frivolidade são gastas quantidades incríveis em, por exemplo, cosméticos (8 bilhões de dólares anuais nos Estados Unidos), ou sorvetes (11 bilhões anuais na Europa), ou comida para mascotes (20 bilhões anuais em todo o primeiro mundo). Então, os seres humanos somos uns estúpidos e superficiais individualistas, desperdiçadores irresponsáveis, compradores vazios compulsivos? Responder afirmativamente seria parcial, incompleto. Sem dúvida, todos podemos entrar nessa louca febre consumista; a questão é ver porque esta é instigada, ou ainda mais: fazer algo para que esta não continue sendo instigada. Isso leva a reformular a ordem econômico-social global vigente. Essa loucura não pode continuar!

Mas, é certo que nas prósperas sociedades de consumo do Norte surgem vozes chamando a uma ponderada responsabilidade social (consumos racionais, energias alternativas, reciclagem dos desperdícios, ajuda ao subdesenvolvido Sul...), não devemos esquecer que essas tendências são marginais, ou, pelo menos, não têm a capacidade de incidir realmente sobre o todo.

Recordemos, por exemplo, o movimento hippie, dos anos 60 do século passado: apesar de que representava um honesto movimento anticonsumo e um questionamento aos desequilíbrios e injustiças sociais, o sistema finalmente acabou devorando-o. Dito seja de passo: as drogas ou o rock and roll, suas insígnias das décadas dos 60 e 70, acabaram sendo outras tantas mercadorias de consumo massivo, geradoras de grandes lucros (não para os hippies, precisamente!).

Uma vez fomentado o consumismo, tudo indica que é muito fácil –muito tentador, sem dúvida- ficar seduzido por suas redes. Por exemplo: os polímeros (as distintas formas de plástico) constituem uma invenção recente na história; no Sul chegam em meados do século XX; porém, hoje, nenhum habitante de nenhum empobrecido país poderia viver sem eles; e, de fato, em proporção, são consumidos mais nos países empobrecidos do que no mundo desenvolvido, onde começa a haver uma busca por material reciclado. Por diversos motivos (para estar na moda que lhe impuseram?), é mais provável que um pobre do Terceiro Mundo compre uma cesta de plástico do que de cipó. O consumismo, uma vez em marcha, impõe uma lógica própria da qual é difícil desvencilhar-se. É "aditivo”...

Do mesmo modo, e sempre nessa dinâmica, vejamos o que acontece com o automóvel. Atualmente, é mais do que sabido que os motores de combustão interna–ou seja: os que rendem tributo à monumental indústria do petróleo- são os principais agentes causadores do efeito estufa; sabe-se que produzem um morto a cada dois minutos em escala planetária devido aos acidentes de trânsito, inconvenientes que poderiam ser resolvidos ou pelo menos minimizados com o uso massivo de meios de transporte público, mais seguros em termos de segurança individual e ecológica (um só motor pode transportar cem pessoas, por exemplo; porém, até que não se acabe a última gota de petróleo não haverá veículos impulsionados por energias limpas: água ou sol, por exemplo).

Um motor queimando combustíveis fósseis por pessoa não é sustentável a largo prazo em termos meioambientais; porém, curiosamente, para os primeiros 25 anos do século em curso, as grandes corporações de fabricantes de automóveis estimam vender 1 bilhão de unidades nos países do Sul, e os habitantes dessas regiões do globo, sabendo de tudo o que se escreveu acima e conhecedores dos disparates irracionais que significa mover-se em cidades atoladas de veículos, estão festejando o boom dessas máquinas fascinantes.

Nessa lógica, quem pode, mesmo endividando-se durante anos, faz o impossível para obter seu "zero quilômetro”. Tudo isso nos leva a duas conclusões: por um lado, parece que todos os seres humanos somos muito manipuláveis, fáceis de convencer (os publicitários sabem disso perfeitamente). A semiótica ou a psicologia social de cunho estadunidense, centrada no manejo mercadológico das massas, dizem o mesmo. Se não fosse assim, George W. Bush, um alcoólatra recuperado, pouco douto nas lides políticas, não poderia ter sido presidente de seu país por duas gestões (graças a um vídeo sensacionalista em sua segunda campanha presidencial, por exemplo, que explorou os medos irracionais do eleitorado); ou o cabo de exército alemão Adolf Hitler não poderia ter feito o "educado” povo alemão acreditar ser uma raça superior e levá-lo a um holocausto de proporções dantescas.

Porém, por outro, como segunda conclusão –e isso é, sem dúvida, o nó górdio do assunto- as relações econômico-sociais que desenvolveram com o capitalismo não oferecem saída a essa cilada da dinâmica humana. O grande capital não pode deixar de crescer; porém, não pensando no bem comum: cresce, da mesma forma que um tumor maligno, de forma descontrolada, desordenada, sem sentido. Para que a grande empresa tem que continuar se expandindo? Porque sua lógica interna o força a isso; não pode deter-se, mesmo que isso não sirva para nada em termos sociais. Por que os milionários donos de suas ações têm que continuar sendo cada vez mais milionários? Porque a dinâmica econômica do capital o força; porém, não porque esse crescimento sirva à população. E esse crescimento, justamente –como tecido cancerígeno- se faz a expensas do organismo completo, do todo social, nesse caso; fazendo-se consumir, consumir o desnecessário; depredando recursos naturais e tornando-nos cada vez mais bobos; manipulando nossas emoções através das técnicas de comércio, para que continuemos comprando. "Pobrezinhos, gritam de tristeza, porque não têm por perto um ‘super’ onde possam fazer compras”...

Ditando modas, fixando padrões de consumo, obrigando a mudar desnecessariamente os produtos com ciclos cada vez mais curtos (obsolescência programada), fazendo sentir um "selvagem primitivo” a quem não segue esses níveis de compra contínua, com refinadas –e patéticas- técnicas de comercialização (propaganda enganosa, manipulação midiática que não dá sossego, crédito pré-aprovado...), o grande capital, dominador cada vez mais absoluto do cenário econômico-político-cultural do planeta, impõe o consumo com mais ferocidade que as forças armadas que o defendem lançam bombas sobre territórios rebeldes que resistem a seguir esse roteiro.
Por certo que, dadas certas circunstâncias, o "consumismo” desenfreado poderia ser considerado como uma conduta patológica. De fato, na Classificação Internacional das Enfermidades (CIE), da Organização Mundial da Saúde, bem como no Manual de Transtornos Mentais, da Associação de Psiquiatras dos Estados Unidos (DSM), versão IV, aparece como uma possível forma das compulsões. E, a partir dessa matriz médico-psiquiatrizante, a "compra compulsiva” pode chegar a ser descrita como uma categoria diagnóstica determinada. "Preocupação frequente com as compras ou o impulso de comprar, que se experimenta como irresistível, invasivo e/ou sem sentido. Compras mais frequentes do que uma pessoa se pode permitir e de objetos que não são necessários, ou sessões de compras durante mais tempo do que se pretendia”.

Sem negar que isso exista como variável psicopatológica ("Calcula-se que a compra compulsiva atinge entre 1.1% e 5.9% da população geral e é mais comum entre as mulheres do que entre os homens”), o consumismo voraz que o sistema nos impõe é mais do que uma conduta compulsivo-aditiva individual. Em todo caso, nos fala de uma "enfermidade” intrínseca ao próprio sistema. Se as jovens do exemplo que dei no começo desse artigo são tão "estúpidas”, frívolas e superficiais, são apenas o sintoma de um transtorno que se move atrás delas. Transtorno que, certamente, não se resolve com nenhum produto farmacêutico, com um novo medicamento milagroso, com outra mercadoria a mais para consumir, por melhor apresentada e por mais publicidade que tenha. Ao contrário, se resolve mudando o curso da história.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Universidades federais: o governo vai contratar novos grevistas

Leonardo Sakamoto

Não se discute a necessidade urgente do país produzir mão de obra qualificada e pesquisa de ponta. Mas, ao mesmo tempo, não queremos investir para que isso aconteça, como se avanços educacionais, científicos e tecnológicos acontecessem por geração espontânea. O governo federal afirma que chegou ao seu limite e não quer mais negociar com os professores das universidades em greve. Apresentam números para mostrar que a categoria não tem o que reclamar.

E nada melhor que pessoas que mexem com números para detalhar melhor a bomba-relógio que estamos armando. Pedi a Ricardo Summa e Gustavo Lucas, professores do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um texto sobre demandas que estão sendo apresentadas pelos grevistas para evitar que o futuro das universidades federais brasileiras seja tão sombrio quanto o que se desenha no horizonte. Segue:

Perdas reais: o professor ingressante e o futuro das universidades federais

A maioria das universidades federais se encontra em greve há quase 80 dias. Além das precárias condições de trabalho, a remuneração é um motivo de insatisfação para grande parte dos docentes, principalmente aqueles que estão nas maiores universidades, nos grandes centros urbanos. O governo federal, não contente com esse cenário, ainda pretende mandar um projeto ao Congresso Nacional que confere perda real para os novos professores ingressantes e um rebaixamento funcional destes.

O secretário de educação superior do Ministério da Educação, Amaro Lins, considerou que a proposta do governo de reajuste salarial e reformulação da carreira para os professores federais tornaria a profissão atraente, no sentido de incentivar profissionais qualificados a ingressar e permanecer na vida acadêmica (ao invés de buscarem maiores remunerações em outros empregos públicos ou privados). De fato, conseguir bons quadros para as universidades federais é de grande importância para que, pelo menos, seja mantida a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão ali realizados. Mas, em nossa avaliação, esse objetivo será mais difícil de ser alcançado do que já é hoje caso o governo ignore o apelo da maioria das instituições que ainda estão em greve e envie o projeto de lei ao Congresso. São duas as razões para isso: uma relativa à remuneração e outra à carreira em si.

Remuneração: o aumento para o professor ingressante com doutorado que o governo propõe é inferior à inflação. Supondo que esta será igual a 4,5% nos próximos anos, valor da meta perseguida pelo governo, em termos reais (ou seja, o aumento do salário nominal descontado pela inflação) o que ocorre são perdas de salário para os professores doutores recém-contratados em relação ao que recebiam em 2010 (a data inicial de julho de 2010 foi escolhida por ter sido o último reajuste com ganhos reais). No gráfico abaixo, a linha azul representa a evolução do salário nominal com reajustes que cobrem apenas a inflação (em outros termos, representa a evolução do salário nominal de forma a manter o salário real constante), e a linha vermelha representa a evolução do salário nominal com os reajustes propostos pelo governo.

Quando a linha azul está acima da vermelha, significa que o salário do ingressante em termos de poder de compra real está abaixo do que era em julho de 2010.

Percebemos, portanto, que em nenhum momento o ingressante conseguirá recuperar a situação de julho de 2010. Quando uma universidade federal em março de 2015 quiser contratar um ingressante com doutorado, terá que atraí-lo com uma remuneração 7% menor em termos reais do que o fazia em 2010. Isso sem contar que, caso a inflação fique acima do centro da meta, fato que ocorreu nos anos de 2010 e 2011, essa perda será ainda maior.

Carreira: um problema importante da proposta é que esta promove um rebaixamento do cargo inicial de professor doutor. No modelo atual para o plano de carreira, ele entra como professor Adjunto I. No modelo proposto pelo governo, o professor doutor recém-contratado entraria como professor auxiliar, e teria que passar três anos para chegar à condição de Adjunto I. Entraria, portanto, ainda mais longe do topo da carreira.

Devido a esses dois elementos mais gerais, nos parece bastante claro que a carreira de professor universitário federal tornar-se-á cada vez menos atrativa. O problema só tende a se agravar porque o governo já criou para os próximos três anos 19.569 novas vagas apenas para professores do magistério superior. Considerando que hoje a quantidade de professores em atividade das universidades federais consiste em um pouco mais de 68 mil, isso representa uma expansão de quase 30% do quadro docente.

Foi divulgado nos principais meios de comunicação que a contratação de professores ocorrida no passado recente (em que a abertura de concursos foi muito menor do que a que está prevista para o futuro) para algumas áreas e universidades deu-se com dificuldades, devido à falta de profissionais com a qualificação requerida pelos concursos. Na verdade, a razão para esse fenômeno é muito simples: o salário inicial e as condições de trabalho afastam os melhores candidatos, muitas vezes antes mesmo de completar o doutorado, que acabam em empregos de melhor remuneração tanto no setor público quanto no setor privado.

Esperamos que o governo desista de enviar esse projeto e corrija esse grave problema, para evitar que esses novos 19.569 futuros ingressantes não sejam os novos insurgentes daqui a três anos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O crime organizado pelos banqueiros

Mauro Santayana

A invenção da moeda, contemporânea à do Estado, foi um dos maiores lampejos da inteligência humana. A primeira raiz indoeuropéia de moeda é “men”, associada aos movimentos da alma na mente, que chegou às línguas modernas pelo verbo sânscrito mányate (ele pensa). Sem essa invenção, que permite a troca de bens de natureza e valores diferentes, não teria havido a civilização que conhecemos.

A construção das sociedades e sua organização em estados se fizeram sobre essa convenção, que se funda estritamente na boa fé de todos que dela se servem. Os estados, sempre foram os principais emissores de moeda. A moeda, em si mesma, é neutra, mas, desde que surgiu, passou a ser também servidora dos maiores vícios humanos. Com a moeda, vale repetir o lugar comum, cresceram a cobiça, a luxúria, a avareza – e os banqueiros.

A moeda, ou os valores monetários, mal ou bem, estavam sob o controle dos Estados emitentes, que se responsabilizavam pelo seu valor de face, mediante metais nobres ou estoques de grãos. Nos tempos modernos, no entanto, a sua garantia é apenas virtual. Os convênios internacionais se amarram a um pacto já desfeito, o Acordo de Bretton Woods, de 1944. A ruptura do contrato foi ato unilateral dos Estados Unidos, sob a presidência Nixon, ao negar a conversibilidade em ouro do dólar, moeda de referência internacional pelo Acordo.

Essa decisão marca o surgimento de uma nova era, em que o valor da moeda não se relaciona com nada de sólido. Os bancos, ao administrá-la, deveriam conduzir-se de forma a merecer a confiança absoluta dos depositantes e dos acionistas, e assegurar essa mesma confiabilidade às suas operações de crédito. O papel social dos bancos é o de afastar os usurários e agiotas do mercado do dinheiro. Mas não é desta forma que têm agido, sobretudo nestes nossos tempos de desmantelamento dos estados.Hoje, não há diferença entre um Shylock shakespereano e qualquer dirigente dos grandes bancos.

Na Inglaterra, o escândalo do Barclays, que se confessou o primeiro banco responsável pela manipulação da taxa Libor, provocou o espanto da opinião pública, mas não dos meios financeiros que não só conheciam o deslize, como dele se beneficiavam.

Segundo noticiou ontem El Pais, os dois grandes executivos da Novagalícia, surgida da incorporação de duas instituições oficiais da província galega – a NovaCaixa e a Caixa Galícia – e colocada sob o controle de Madri em setembro do ano passado, pediram desculpas aos seus clientes, por ter a instituição agido mal. Entre outros de seus malfeitos, esteve o de enganar pequenos investidores mal informados, entre eles alguns analfabetos, com aplicações de alto risco, ou seja, ancoradas em débitos podres, as famosas subprimes, adquiridas dos bancos maiores que operam no mercado imobiliário do mundo inteiro.

Além disso, os antigos responsáveis por esses desvios, deixaram seus cargos percebendo indenizações altíssimas. E os novos administradores tiveram sua remuneração reduzida, por serem as antigas absolutamente irracionais. Com todas essas desculpas, a Novagalícia quer uma injeção de seis bilhões de euros, a fim de regularizar a sua situação.

Este jornal reproduziu, ontem, artigo de The Economist, a propósito da manipulação da taxa Libor, por parte do Barclays, e disse, com a autoridade de uma revista que sempre esteve associada à City, que não há mais confiança nos maiores bancos, do mundo, como o Citigroup, o J.P.Morgan, a União de Bancos Suíços, o Deutschebank e o HSBC. Executivos desses bancos, de Wall Street a Tóquio, estão envolvidos na grande manipulação sobre uma movimentação financeira total de 800 trilhões de dólares.

Para entender a extensão da falcatrua, o PIB mundial do ano passado foi calculado em cerca de 70 trilhões de dólares, menos de dez por cento do dinheiro que circulou escorado na taxa manipulada pelos grandes bancos. A Libor, sendo a taxa usada nas operações interbancárias, serve de referência para todas as operações do mercado financeiro.

O mundo se tornou propriedade dos banqueiros. Os trabalhadores produzem para os banqueiros, que controlam os governos. E quando, no desvario de sua carência de ética, e falta de inteligência, os bancos investem na ganância dos derivativos e outras operações de saqueio, são os que trabalham, como empregados ou empreendedores honrados, que pagam. É assim que estão pagando os povos da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Grã Bretanha, e do mundo inteiro, mediante o arrocho e o corte das despesas sociais, pelos governos vassalos, alem do desemprego, dos despejos inesperados, das doenças e do desespero, a fim de que os bancos e os banqueiros se safem.

Se os governantes do mundo inteiro fossem realmente honrados, seria a hora de decidirem, sumariamente, pela estatização dos bancos e o indiciamento dos principais executivos da banca mundial. Eles são os grandes terroristas de nosso tempo. É de se esperar que venham a conhecer a cadeia, como a está conhecendo Bernard Madoff. Entre o criador do índice Nasdaq e os dirigentes do Goldman Sachs e seus pares, não há qualquer diferença moral.

Os terroristas comuns matam dezenas ou centenas de cada vez. Os banqueiros são responsáveis pela morte de milhões de seres humanos, todos os anos, sem correr qualquer risco pessoal. E ainda recebem bônus milionários.

“Professora, já imaginou, eu deixar de ser servente de pedreiro e virar engenheiro?!”

por Luana Tolentino, especial para o Viomundo

Há anos sofro com constantes crises de enxaqueca. Ontem, por exemplo, passei a tarde inteira trancada num quarto escuro sem conseguir ao menos abrir os olhos, tamanha a minha dor.

Para aumentar o meu calvário, estava sozinha em casa quando o telefone tocou. Pensei em não atender: poderia ser, sei lá, uma operadora de telemarketing da editora Abril tentando me vender a todo custo uma assinatura da Veja. Por outro lado, imaginei que pudesse ser alguém querendo dar uma notícia importante, urgente. A segunda opção falou mais alto. Com a sensação de que minha cabeça pesava uma tonelada, levantei para atender a ligação. Todo o meu esforço valeu a pena! Era o Ronie, um ex-aluno que tive o privilégio de dar aulas no ano passado.

Ronie me proporcionou uma das maiores alegrias de toda a minha vida! Aluno exemplar, tive a oportunidade de vê-lo ingressar na Universidade por meio do programa de Ações Afirmativas da ONG Educafro, em parceria com o Centro Universitário de Belo Horizonte, tradicional instituição de ensino superior de Minas Gerais. Aprovado no vestibular, Ronie ganhou uma bolsa de estudos e hoje cursa Engenharia Elétrica.

As notícias não poderiam ser melhores. O garoto de 18 anos acabou de concluir o primeiro dos 10 períodos necessários para se graduar na área que escolheu. Ronie contou que suas notas foram excelentes, variaram entre 80 e 90 pontos em cada disciplina. Após algumas entrevistas, ele está na expectativa de ser contratado como estagiário por uma grande empresa de construção civil. Segundo Ronie, os pais estão muito orgulhosos do filho caçula. O primeiro da família a cursar uma faculdade.

Ao ouvi-lo falar com tanto entusiasmo dessa nova etapa de sua vida, a professora aqui não se aguentava de tanta felicidade! Vibrava como se fosse eu a caloura. Ronie falou ainda que matriculou-se num curso de inglês e já faz planos para fazer um intercâmbio. Contou dos novos amigos, das festas e dos churrascos promovidos pela turma. Com a autoridade de quem carrega no currículo inesquecíveis aventuras etílicas nos tempos do curso de História, aconselhei-o: Fique longe dos botecos hein, rapaz?! Uma gargalhada sonora se fez nos dois lados da linha, que só foi interrompida quando ele perguntou:

– Professora, a senhora já imaginou, eu deixar de ser servente de pedreiro e virar engenheiro?!

Emudeci. Às vezes os alunos esquecessem que nós professores nem sempre temos as respostas na ponta da língua. Embora parecesse simples, naquele instante fui incapaz de responder à pergunta do futuro engenheiro. Sem compreender o motivo do meu silêncio, Ronie insistiu:
– Professora? A senhora tá me ouvindo?

Respondi com um sim meio engasgado. Não consegui dizer nada além disso. Nos despedimos com a promessa de que em breve eu teria mais noticias boas. Ao desligar o telefone, lamentei o fato de ter respondido à pergunta de forma monossilábica. Mas, hoje, ja refeita e consciente da magnitude da mudança que está em curso na vida do meu ex-aluno, telefonei e disse que vejo nele um engenheiro bem-sucedido, feliz, realizado. Disse ainda que se em algum momento alguém tentasse negar a sua alteridade ou duvidasse de sua capacidade, que seguisse em frente, de cabeça erguida, na certeza de que possuir um diploma universitário é um direito que ele tem.

Ronie se junta às centenas de jovens negros que, desde 2003, quando o sistema de cotas foi implantado de forma pioneira na UERJ, tiveram a oportunidade de ingressar no ensino superior, e assim criar possibilidades reais de combate à vergonhosa desigualdade racial existente entre brancos e não-brancos no Brasil. Ele corrobora com as estatísticas que atestam que estudantes cotistas tem rendimento igual ou superior ao dos demais alunos, desmistificando a teoria defendida por muitos de que esse tipo medida reparatória provocaria a queda da qualidade dos cursos.

Num país em que apenas 4% da população negra está matriculada em instituições de ensino superior, Ronie é mais um exemplo da eficácia das cotas como instrumento de reversão do quadro de injustiça no qual se encontra a população afro-descendente. Em artigo publicado em 2007, o antropólogo Kabengele Munanga é categórico ao dizer que experiências realizadas em outros países mostram que este tipo de medida propicia dentre outros benefícios, a maior representatividade de negros em espaços majoritariamente ocupados por brancos e uma visível mobilidade socioeconômica.

Com a aprovação da Constitucionalidade das cotas pelo Supremo Tribunal Federal (10X0!!!!!!!) em abril passado, a expectativa é que aumente o número de universitários negros, principalmente em instituições públicas, e que exemplos como os do Ronie se multipliquem pelo país.

Ronie alimenta as minhas esperanças de que um Brasil mais equânime no que diz respeitos as relações raciais e sociais é possível, ainda que o caminho a ser percorrido seja longo, difícil, tortuoso. A corrente contrária aos programas de ações afirmativas é grande, o que era de se esperar num país extremamente racista como o nosso. Mas, tudo bem. Por ora, pouco me importa os que, embriagados pelo mito da democracia racial, insistem em dizer que cotas são esmolas, ou como disse um famoso jornalista, que elas “são uma ameaça concreta ao nosso convívio “harmonioso””. Agora, só me interessa comemorar com todo ardor esse momento único. Muito!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Jornais repetem discurso pejorativo sobre professores

Valores reproduzidos constantemente na imprensa sobre professores, principalmente da rede pública de ensino, denigrem a imagem desses profissionais. Ao criticar a educação do Brasil, os veículos de comunicação não levam a discussão para as razões do ensino ter se tornado tão precário. Ao invés disso, criticam a atuação dos responsáveis pelo ensino, apontando para sua substituição por profissionais melhores, e não pela melhor formação dos que já estão lá. Esse fenômeno foi percebido por pesquisa da Faculdade de Educação (FE) da USP, em revisão de diversas notícias sobre o assunto.

Imprensa ignora problemas na preparação do professor e só fala em exclusão do cargo. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A jornalista Katia Zanvettor Ferreira, autora do estudo Quando o professor é notícia? Imagens de professor e imagens do jornalismo, analisou notícias de diversos jornais impressos do Estado de São Paulo, entre 2007 e 2011, e percebeu que estes veículos tendem a dar fórmulas para resolver o problema da educação. Dessa forma, tratam a questão de maneira simplória e evitam reflexão e confronto de opiniões. “É a saída reacionária da própria imprensa que direciona o debate da sociedade”, explica. “Minimiza o jogo democrático.”

Katia ressalta que paira sobre os textos dos grandes jornais uma identificação imaginária na temática do professor, ou seja, quem escreve toma o que em seu imaginário é uma verdade como sendo uma “verdade absoluta”. Assim, a tendência é que os textos procurem confirmar aquilo que os escritores acreditam e consideram verdade, sem abertura para posições divergentes. Aparecem nas matérias, dessa forma, uma repetição dos mesmos discursos.

Técnicas

Existem algumas formas de fazer jornalismo que se repetiram nos textos analisados no estudo, e contribuem para a visão prejudicial do professor. A utilização do especialista sobre educação como fonte absoluta é uma delas. A prática de um jornalismo investigativo, com entrevistas em profundidade, levantamento de dados e pesquisas buscando discutir as questões tratadas no texto são práticas cada vez mais raras na grande imprensa. Os jornalistas fazem perguntas superficiais apenas para confirmar aquilo que pressupõem e buscam conseguir falas de entendidos no assunto que justifiquem o seu próprio discurso.

Ainda em relação a entrevistas, nos textos utilizados pela pesquisa, não foi encontrado um princípio básico do jornalismo: buscar todos os lados da notícia. Os veículos de comunicação só apresentam o lado que concorda com a visão prejudicial do professor, sem falar com este ou com outro especialista que o vê de uma forma diferente.

Bandeiras históricas de movimentos sociais são utilizadas para comprovar a tese do veículo. Por exemplo, é quase um consenso entre o povo brasileiro que os salários de professores devem ser aumentados. Entretanto, os jornalistas colocam esse argumento em seus textos de forma excludente: os professores que trabalham hoje nas instituições públicas seriam mal preparados e, portanto, deveriam ser substituídos. Os substitutos, por serem mais competentes, deveriam ser melhor remunerados. Assim, no discurso jornalístico o movimento é de exclusão daqueles que estão no cargo agora, o que cria o reforço de um estereótipo do professor ruim.

O preconceito, segundo Katia, também faz parte das matérias jornalísticas que deturpam a imagem do professor. Ele, entretanto, disfarça-se num raciocínio que aparenta ser lógico. “Dizem que os professores vêm de classes populares e, portanto, são despreparados”. Não são apontados os problemas da preparação, apenas relacionam a incompetência com a origem social.

Pesquisa

A ideia para o estudo formou-se enquanto a jornalista analisava programas de utilizações de jornais no ensino em escolas. Durante esse trabalho, ela revisou diversos jornais, e acabou lendo muitas notícias relacionadas à educação. Então, percebeu nelas a presença dessa visão prejudicial sobre os professores. Não havia grande preocupação com a cobertura da educação e pouco interesse em assuntos particularmente importantes sobre situação dos profissionais do ensino, como greves. A pesquisa é a tese de doutorado da autora, na linha de pesquisa Linguagem e Educação da FE, e foi orientada pelo professor Aleksandar Jovanovic.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
Agência USP

Fonte: Envolverde

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Redes sociais, do sucesso à saturação


Após período de saturação, tendência é de que diminuam as redes generalistas e cresçam os sites de nicho


LOS ANGELES – O enorme sucesso conquistado pelo Facebook provocou na internet um frenesi de redes sociais que levou à saturação as opções do usuário para compartilhar conteúdos e entrar em contato com outras pessoas no ciberespaço.
—-
Hoje em dia é quase tão frequente ter e-mail como perfil no Facebook, e o Twitter se transformou em um fenômeno global depois de demonstrar sua utilidade em situações de crise, duas referências que são somente a ponta do iceberg.

Em uma segunda linha está o Google+ e as redes temáticas como LinkedIn, MySpace, Flickr, Hi5 e Foursquare, assim como as que conquistaram êxito em determinados países, como Orkut (Brasil), Tuenti (Espanha), Vkontakte (Rússia), Qzone (China) e iBibo (Índia), citando alguns exemplos.

“Definitivamente há um limite”, afirmou à Agência Efe o fundador do portal Social Media Explorer, Jason Falls, famoso guru americano das redes sociais e coautor do livro de marketing No Bullshit Social Media (sem edição em português).

“Habitualmente, os usuários podem alimentar e manter entre uma e três redes sociais, mas realmente são ativos diariamente em uma ou duas. Além disso, como é possível fazer parte também de redes centradas em entretenimento, me surpreenderia se uma pessoa normal pudesse conciliar mais de duas ou três e que seu uso realmente forneça algo de produtivo”, analisou Falls.

A abundância da oferta levará no futuro, segundo este analista, à provável redução do número de redes sociais generalistas e ao surgimento de outras orientadas a nichos de mercado concretos de maior utilidade ao público-alvo.

Nessa mesma linha, Falls previu o crescimento das redes para pessoas que vivem no mesmo bairro ou na mesma cidade.

“Acho que as redes sociais locais têm um tremendo lado bom. As pessoas estão mais satisfeitas com as relações reais do que com as virtuais, por isso que as redes sociais locais ajudarão a preencher esse vazio”, indicou.

Uma das novidades nesse coquetel social da internet foi a Pinterest, um portal californiano lançado em 2010, mas que ganhou popularidade nos últimos meses até o ponto de registrar maior tráfego de páginas web do que o Google+ e o Twitter.
Pinterest é uma plataforma visual que permite ao usuário criar coleções de imagens vinculadas a conteúdos existentes na internet e compartilhá-las.

“Conseguiram interligar consumidores em um nível emocional, mas acredito que no futuro o interesse dos usuários diminua em algum momento, afinal são somente fotografias bonitas com pouca utilidade”, comentou Falls.

Pelos dados da Double Click Ad Planner, Pinterest se popularizou nos Estados Unidos principalmente entre as mulheres e as empresas, incluindo os meios de comunicação, que encontraram uma nova forma de chamar a atenção dos usuários das redes sociais e atrair possíveis consumidores recorrendo a exigências visualmente atrativas.

Pinterest, que não quis fazer comentários a respeito à Agência Efe, passou de 600 mil visitantes únicos em julho de 2011 para 17,8 milhões em fevereiro, apurou a empresa comScore. Nesta semana, seu cofundador Paul Sciarra anunciou sua saída das funções executivas do negócio.

As dúvidas sobre a capacidade das redes sociais de se transformarem em um negócio rentável sem atentar contra a privacidade dos usuários e terminar por afastá-los faz parte dos problemas dessas plataformas desde o princípio.

Um passo além na busca de financiamento será dado pelo Facebook, que no mês de maio deve entrar na Bolsa de Valores tecnológicos Nasdaq, onde a rede mundial com 850 milhões de usuários pretende adquirir até US$ 10 bilhões.

EFE
Fonte: Estadão. Com.br