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"Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Os Incas e os novos conquistadores

1-Machu Picchu 2-Vale Sagrado
3-Incas - Mães e filhos - Cuzco


4-Cuzco


Os Incas e os novos conquistadores

A gravura de Guaman Poma que mostra o suplicio de Thupac Amaru na praça principal de Cuzco é uma imagem impressionante. Os rosto dos três verdugos espanhóis são máscaras sorridentes, sádicas, em contraste com a fileira de súbditos incas que expressam uma mistura de perplexidade e dor colectiva. O tosco desenho faz parte das ilustrações de um livro publicado em 1636 em Paris, já Frei Bartolomé de las Casas havia escrito a “Brevissima relação da destruição das Indias”, em que narra sórdidos ormenores do etnocidio em curso. Aí se aclara o despropósito de teimosias revisionistas que sustentam o anacronismo do julgamento de acções transactas à luz de valores contemporâneos. Não é este o caso: não eram os próprios conquistadores que violavam os seus próprios compromissos e valores? Leia-se o relato, entre tantos possiveis (como o da cilada armada a Montezuma, no México), do insuspeito monge franciscano Frei Juan de Zumarraga que se referia a um episódio que lembra o martírio de Thupac Amaru: “... Vi que chamavam os caciques e ilustres indios para que viessem em paz e sem desconfiança, e em chegando eles, logo os queimavam(...), pois com nenhuma verdade para com eles procederam, nem cumpriram a palavra dada, senão que contra toda a razão e injustamente, tiranicamente os destruiram assim como toda a terra...”.

Os descendentes dos Incas que hoje cruzam as veredas dos Andes são seres silenciosos, reservados, um contraponto do espalhafato desportivo dos trekkers europeus e norte americanos em férias. Não tiram, as mais das vezes, os olhos do chão. Caminham como se fossem sombras ténues, deslizando sobre o chão em dia de nuvens, mas são eles os herdeiros do povo que suportou estoicamente a conquista espanhola e se negou a falar das suas cidades mais recônditas – como Machu Picchu – das suas crenças e dos seus rituais, dos seus deuses mais amados. Não se sabe se Machu Picchu foi uma cidade sagrada, mas a sua localização atesta a importância que os incas atribuiam à natureza, tão evidente nas práticas agricolas do Vale Sagrado e nos terraços andinos. Hoje, Machu Picchu só conhece serenidade durante a noite, depois da mundana tropa turistica recolher à caserna. Cosme Cuba, o guia que me conduz por entre as pedras, esforçando-se por se fazer ouvir entre gritos e gargalhadasde feira. À volta de uma árvore, um grupo de turistas “esotéricos” e exibicionistas senta-se em posição de ioga e de mãos dadas... O bilhete que pagaram dá-lhes esse o poder, o de transformar Machu Picchu no seu parque privado de diversões. No dia seguinte, o bolo tem duas cerejas. Nas ruas de Cuzco, dois policias de fatiota irrepreensivel escorraçam uma mulher e duas crianças que em esfarrapados trajes tradicionais se fazem às fotografias dos turistas, os novos conquistadores. Mais tarde, no autocarro de regresso à Bolivia, um garoto franzino canta, desafinado, uma canção em quechua, na expectativa de algumas moeditas. A turistada apessa-se a repor a ordem e manda-o calar. No vídeo de bordo, a concorrência é mais forte: uma fita de Hollywood, com um tal Bruce Willis e alguns dos seus pares.
Humberto Lopes, no suplemento "Fugas"
Fonte: Xatoo
Fotos 1-2-3-4: acervo pessoal
Sugestão de filme:
Aguirre, a cólera dos deuses
Alemanha Ocidental/Peru/México
Werner Herzog - 100 min.
Eastmancolor
Idioma: alemão
Produção: Werner Herzog
Roteiro: Werner Herzog
Fotografia: Thomas Mauch
Música: Popol Vuh
Elenco: Klaus Inski, Daniel Ades, Peter Berling, Daniel Fártan, Justo González, Ruy Guerra, Julio E. Martínez, Del Negro, Armando Polanah, Alejandro Repulles, Cecila Rivera, Helena Rojo, Edward Roland

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