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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"O Ideb não deve ser um rótulo na escola", diz presidenta do Inep

Prestes a passar por seu primeiro Enem a frente do órgão de avaliação do MEC, Malvina Tuttman fala sobre o exame, o Ideb e a avaliação para professores

Foto: Divulgação/Undime
Malvina Tuttman, presidenta do Inep, discursa durante fórum da Undime

A presidenta do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Malvina Tuttman, disse que a prova para ingresso de professores na carreira, que começa a ser aplicada no ano que vem, buscará apaixonados pela profissão. Ela mesma se declara uma. Em palestra no 4º Fórum Nacional da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), disse às 905 secretárias presentes que aceitou o convite para o atual cargo quando o ministro da Educação, Fernando Haddad, disse que queria uma professora a frente do órgão.

Ao iG, ela disse ainda que pretende voltar a dar aulas quando se aposentar, mas defendeu também boa remuneração. "Não é um sacerdócio", afirmou. A semanas de ser colocada à prova pelo primeiro Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de sua gestão, ela falou ainda dos custos e das mudanças para o teste que será feito por 5,4 milhões de candidatos e deu sua opinião sobre o projeto de expor o Ideb em placas na porta da escola.

iG: A sra. pediu às dirigentes municipais que façam adesão à prova que será aplicada a professores em fevereiro e março como forma de testar para a avaliação de docentes para ingresso nas redes. O teste vai ter algum valor?
Malvina Tuttman: Não vale nada. Apenas precisamos pré-testar os itens para que eles façam parte do banco de itens. É como se a gente testasse as perguntas de uma pesquisa, para ver se as respostas nos dizem o que estávamos querendo saber. Se não tivermos nenhuma mudança no cronograma, a primeira prova para valer vai ser aplicada em agosto. Neste sentido, as secretarias agora estaria apenas ajudando, a adesão mesmo será depois quando cada uma fará um edital para dizer se vai usar ou não o teste para a contratação de pessoal.

Malvina Tuttman, presidenta do Inep, discursa durante fórum da Undime
iG: Quais vão ser as novidades do Enem deste ano?
Malvina: Fizemos um Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público em que nos comprometemos a mostrar o espelho (a correção) da prova. O acesso vai ser tanto para a prova objetiva como para a redação, mas é em caráter pedagógico. A própria Justiça considerou que os argumentos apresentados pelo Inep sobre possibilidade de recursos são válidos (o Inep alega que nenhum educacional aceita recurso por causar lentidão ao processo). Sempre defendi que as pessoas têm o direito de ver a correção, mais ainda, acho que pedagogicamente é fundamental.

iG: Por que o Enem foi orçado 190% mais caro em 2012?
Malvina: Não ficou mais caro. Foram ampliadas algumas questões para atender melhor todos aqueles que desejam fazer, mas não ficou mais caro. O valor por aluno, de R$ 45, é 50% menor do que os concursos vestibulares. Há uma diferença em relação ao ano passado, por conta do investimento para fazer um exame cada vez mais qualificado.

iG: Ao apresentar a matriz de referência com as habilidades desejadas nos professores a sra. falou várias vezes em paixão. O governador do Ceará, Cid Gomes, disse que professor tem que trabalhar por amor, não por dinheiro. A sra concorda?
Malvina: Não vou analisar as palavras do governador, vou refletir sobre esta situação a partir da minha própria fala. Tudo que fazemos tem que ter paixão, tem que ter a nossa alma, tem que ter o nosso sangue. Se você não gostar do que você faz, dificilmente fará com qualidade. Isso é uma coisa, outra é um plano de carreira, uma remuneração digna para um profissional de extrema importância no País. Nós não podemos misturar e dizer que é um sacerdócio, não é. Acho mesmo que precisa ter paixão, eu quero voltar à sala de aula quando me aposentar porque foi lá que aprendi com meus alunos a ter paixão por ser professora, mas eu me sustento e sustento minha família com o meu salário.

iG: O que a sra. acha do Ideb na porta da escola?
Malvina: Vou falar como professora, como pedagoga, como mestre e doutora em Educação e também pela minha experiência em avaliação por conta da minha prática cotidiana. O Ideb dá a possibilidade de se encaminhar ações políticas para, se for o caso, transformar uma realidade e colocá-la no rumo desejado. Sempre há um marco de referência e a avaliação nos permite perceber a que distância estamos dele e a partir daí buscar o ideal desejado. Na escola, isso fica posto no projeto pedagógico que deve ser elaborado em parceria com a comunidade e com os profissionais da escola. O Ideb é um indicador importante, mas é um recorte, ele não é a totalidade da escola, a alma da escola, mas serve como parâmetro para se perceber em muitos aspectos a que distância a escola está daquele ideal de referência, mas isso é importante para a escola. Este Ideb deve ser conhecido de todos, mas conhecido para que a escola possa rever seu próprio projeto e avançar cada vez mais.

iG: Não ficou claro, se a sra. é a favor ou contra as placas.
Malvina: Eu sou a favor de que o Ideb seja público, mas não que seja um rótulo da escola.

iG: A Prova ABC, que avaliou 6 mil crianças de 8 anos, será ampliada?
Malvina: Esse é um projeto com várias parcerias. O Inep tem contribuído no sentido de oferecer itens para a porta. Quanto mais avaliações e instrumentos de medidas tivermos, melhor. Se houver possibilidade de ampliar para melhor podermos perceber a realidade dos estudantes, eu apoio. Mas não há nenhum plano efetivo por parte do Inep de aumentar por enquanto.
*a repórter viajou a convite da Undime
Fonte: Portal iG

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