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domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates: Médico, craque, pai da Democracia Corintiana e artista

Foto: AE Em campanha pelas Diretas Já, em 1984: Sócrates queria o mesmo para a CBF

“Sempre lutei pelo voto direto e continuo a acreditar ser esse o melhor meio de avaliação democrática. Com ele respeita-se a alternância de poder, tão necessária, principalmente naqueles tempos de ditadura militar”Sobre democracia e o voto direto, à "Carta Capital", em 2010


Ídolo do futebol brasileiro morreu na madrugada de domingo, em São Paulo, vítima de infecção generalizada

Não à toa, no início dos anos 80 foi o principal articulador da Democracia Corintiana. Movimente que, em plena ditadura militar do presidente-general João Figueiredo, passou a defender maior autonomia e direitos aos jogadores (como o fim da concentração) e o voto direto para presidente da República. O movimento Diretas Já, aliás, contou com amplo apoio do jogador.

Sócrates nasceu em Belém, no Pará, no dia 19 de fevereiro de 1954. Apareceu para o futebol nos anos 70, no Botafogo de Ribeirão Preto. Aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, só se transferiu para um time grande quando pegou o diploma de médico, em 1978. Por esse motivo, sua chegada ao Corinthians foi um tanto tardia, se concretizando apenas aos 24 anos.

O Corinthians que recebeu Sócrates em 1978 respirava novos ares desde o ano anterior. A equipe vencera o Campeonato Paulista de 1977, sobre a Ponte Preta, encerrando seu jejum de 23 anos sem títulos. Sem a mesma cobrança dos anos de escassez, o time do Parque São Jorge foi campeão paulista novamente, já com o “Doutor” em campo, em 1979.

Sua jogada característica era o toque de calcanhar com o qual marcava gols ou, principalmente, deixava os companheiros na cara do goleiro adversário. Também era sua marca a comemoração com o braço direito estendido e o punho fechado.
No Parque São Jorge, encontrou as condições e os colegas ideais para o período que ficou marcado no clube como a Democracia Corintiana. Ao lado de Wladimir, Casagrande e Zenon, e com Adílson Monteiro Alves como diretor de futebol do clube, Sócrates tornou-se símbolo de uma época em que todos no clube, do roupeiro ao presidente, passando pelos jogadores, opinavam sobre as principais questões do time. Isso foi ao encontro das manifestações por democracia na sociedade brasileira, naqueles que seriam os últimos anos da ditadura militar. O Corinthians de Sócrates refletia os anseios da sociedade.

Convocado pelo técnico Telê Santana, foi um dos maiores nomes da inesquecível seleção brasileira da Copa de 1982. Encantou o mundo ao lado de Zico e Falcão, mas não escapou do estigma pela sofrida eliminação frente à Itália. Em 86, disputou sua segunda Copa e liderou a seleção ao lado de Careca. Porém, nova eliminação, desta vez para a França.

Dois anos antes, em 1984 Sócrates trocara o Corinthians pela Fiorentina, da Itália, mas não obteve sucesso. Jamais escondeu uma certa desconfiança de seus colegas de clube por conta de suposta manipulação de resultados. Retornou ao Brasil em 85 para jogar no Flamengo, de Zico. Depois, ainda defenderia o Santos. Encerrou a carreira em 1989, no mesmo Botafogo que o revelou para o futebol.

Após pendurar as chuteiras, vivenciou o surgimento para o futebol de seu irmão Raí, que também começou no Botafogo-SP antes de se tornar um dos maiores ídolos da história do São Paulo.

Além do futebol e da Medicina, Sócrates sempre mostrou proximidade com o mundo das artes. Foi compositor e cantor (chegou a grava disco), além de escritor e pintor.
Contestação foi marca registrada de Sócrates. Leia frases do ídolo
Rebelde por natureza e politicamente alinhado à esquerda, Sócrates sempre expôs seu ponto de vista sobre questões polêmicas do futebol, do Corinthians, clube com o qual é identificado, e, claro, do Brasil.

Veja abaixo algumas das principais declarações do ídolo:

“Não tenho nenhuma mágoa do presidente Matheus, nem mesmo desse pequeno grupo que atritou comigo no Pacaembu. Tudo isso foi ultrapassado. É uma reação natural da torcida, e o presidente tinha o direito de não revisar o meu contrato”

Em janeiro de 1980, sobre a crítica de torcedores e possível saída do Corinthians
“O tigrão virou cachorra, tchutchuca. O Brasil deixou a cobertura e está quase na porta do zelador”
Ao criticar o técnico Emerson Leão e os maus resultados da seleção brasileira em 2001, à rádio Jovem Pan

“Não conheço detalhes administrativos da gestão dele, mas aparentemente ele jogou dinheiro fora. Em relação a tudo, mas principalmente com jogadores. Os títulos que conquistou não foram importantes. E o Ronaldo no Corinthians foi bom para o próprio Ronaldo. Para o clube não valeu de nada”
Crítica a Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, e Ronaldo

“Eu queria que meu filho nascesse lá, eu queria ser um cubano. Nós estivemos lá agora, nós fomos passear! Peguei minha mulher e fui lá, passear, curtir lampejos de humanidade. Um povo como aquele, numa ilhota, que há mais de 60 anos briga contra um império, só pode ser muito forte, e ditadura alguma faz um povo tão forte. Ditadura não é tempo de serviço, necessariamente é qualidade de serviço. Em Cuba, o povo participa de tudo, em cada quarteirão. E aqui? Pra quem você reclama? Você vota e não tem pra quem reclamar”
Sobre Cuba e Fidel castro, em 2011, à "Folha de S. Paulo"

“O mundo reagiu à mudança do país. É muito melhor ouvir quem está de fora falar o que é o Brasil hoje. E temos uma chance única nos próximos seis ou sete anos de mostrar para o mundo todo quem é o brasileiro. Para o mundo descobrir o Brasil. Não serão “Cabrais”, mas vão descobrir o melhor do Brasil, que é o brasileiro”
Sobre o Governo de seu amigo Lula, em dezembro de 2009

“Deus não tem idade. O Corinthians é muito maior que a idade que possa ter; é um símbolo, uma essência, um sentimento. É claro que o centenário tem um valor simbólico e as pessoas se reúnem em torno desse símbolo. Mas isso é secundário à importância que tem alguma coisa capaz de agregar tanta gente de origens absolutamente distintas”
Sobre o centenário do Corinthians, à Carta Capital, em setembro de 2010

“Sempre lutei pelo voto direto e continuo a acreditar ser esse o melhor meio de avaliação democrática. Com ele respeita-se a alternância de poder, tão necessária, principalmente naqueles tempos de ditadura militar”
Sobre democracia e o voto direto, à "Carta Capital", em 2010

“Antes, falavam que as meninas cozinhavam como as mães, agora que bebem com os pais”
Sobre álcool na sociedade, ao iG, agosto de 2011
A gestão da Copa do Mundo está nas mãos de quem não tem muita compromisso com a nação”
Sobre o Mundial no Brasil, em junho de 2010, ao Estadão

Fonte: Portal iG

Um comentário:

  1. http://www.youtube.com/watch?v=zZxvYy5-ekI&feature=player_embedded

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