por Humberto Márquez, da IPS
Quenán
evocou uma frase do ex-primeiro-ministro espanhol, Felipe González (1982-1996),
para quem “a austeridade rígida leva à morte”, a Europa chegará ao novo
encontro com América Latina e Caribe apenas iniciando medidas para atender a
crise, baseadas em “políticas de austeridade que generalizam e impedem no
momento uma recuperação”, afirmou. A Cúpula de Santiago será a sétima do
mecanismo iniciado em 1999, no Rio de Janeiro, e formatada como a primeira
entre a União Europeia e a nova Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (Celac), que reúne todos os países do hemisfério com exceções de
Canadá e Estados Unidos.
O
estudo contém um rosário de assertivas que deixam mal a situação europeia com
vistas à economia global: uma moeda, o euro, única que não tem um prestamista
de última instância, falta de disciplina macroeconômica, superendividamento,
recessão, paralisação da produtividade e problemas de governança. Segundo
Quenán, “persistem todos os fatores que afetam a economia europeia, e no curto
e médio prazos seu crescimento será medíocre, no melhor dos casos”.
Quanto
à América Latina e o Caribe, a crise da Europa incidiu sobre quatro grandes
campos de sua atividade econômica: investimento, comércio, remessas e Ajuda
Oficial ao Desenvolvimento (AOD). Embora a UE se ufane de ser o primeiro
investidor na região, com um acumulado de US$ 406 bilhões em 2009, na última
década esse investimento, com média em torno dos US$ 30 bilhões anuais,
apresentou elevada volatilidade. Como contrapartida, América Latina faz um
aporte positivo para equilibrar os balanços consolidados das casas matrizes
europeias, e, no caso da Espanha, foi nos últimos anos a principal fonte de
recursos para numerosas empresas.
A
importância da Europa como sócia comercial da América Latina e do Caribe
diminuiu. Era o destino de 24,6% das exportações latino-americanas e caribenhas
em 1990 e passou para 13,6% em 2011. Por outro lado, a China, décimo-sétimo
destino das exportações da América Latina e do Caribe há 20 anos, hoje é o
terceiro, e recebe 9% das exportações totais da região. O intercâmbio também se
mantém assimétrico e concentrado: mais de 90% dos produtos europeus que a
região importa são bens industrializados e a metade com alto conteúdo
tecnológico, enquanto 60% do que América Latina e Caribe vendem à Europa é
matérias-prima ou manufaturas escassamente elaboradas.
Os
grandes sócios comerciais da Europa são apenas cinco países: Argentina, Brasil,
Chile, Colômbia e México, com mais de 75% do comércio desde ou para a UE. Ao
mesmo tempo, cinco europeus (Alemanha, Espanha, França, Grã-Bretanha e Itália)
absorvem quase 60% das vendas latino-americanas. Este panorama pode acentuar-se
com a crise, traduzida em queda da economia europeia e na valorização das
moedas em países latino-americanos.
As
remessas de migrantes também caem. A Espanha, segundo provedor de remessas para
a região, depois dos Estados Unidos, enviou em 2010 à Colômbia 9,5% menos
fundos do que em 2008; para o Equador 13% menos e para a Bolívia a queda foi de
16%. Quanto à ajuda ao desenvolvimento, já se descarta que a UE possa chegar em
2015 à meta de que a AOD represente 0,7% do produto interno bruto, pois atingiu
apenas 0,42% em 2010, quando deveria estar em 0,56%.
Com
este panorama o estudo do Sela propõe intensificar os planos regionais de
cooperação e integração e avaliar o fato após a Cúpula de 2010 com a UE, em
Madri, que propôs trabalhar em acordo temas de ciência e tecnologia, inovação e
desenvolvimento sustentável. Quénan falou da necessidade de se avançar na busca
de consenso e sinergias sobre um primeiro nicho de investimentos para a
sustentabilidade social e ambiental.
“A
UE, com suas dificuldades, é a região do mundo que gera a maior quantidade de
patentes em tecnologias ambientais, e América Latina e Caribe são uma região
que precisa preservar seu meio ambiente ao mesmo tempo em que aproveita sua
riqueza em biodiversidade”, afirmou Quenán. O outro nicho é o da educação
superior, ciência, tecnologia e inovação. Durante a exposição do estudo, o
mexicano José Rivera, secretário permanente do Sela, apresentou alguns dados
como exemplo: em 2001, toda a América Latina e o Caribe apresentaram 7.800
pedidos de patentes, enquanto a Coreia do Sul sozinha apresentou 177.185.
“América
Latina e Caribe têm uma educação superior estendida, com numerosas
universidades e matrículas, mas a qualidade é algo diferente. E, em matéria de
inovação tecnológica, a Europa, apesar da crise, continua sendo uma grande
potência, enquanto nossa região tem um grande déficit a superar”, apontou
Quenán. As iniciativas do Sela serão levadas a Santiago pelo seu novo
secretário permanente, o venezuelano Roberto Guarnieri, eleito no dia 19 para
substituir Rivera, no cargo desde 2008. Sob seu mandato, o órgão produziu
dezenas de estudos a título de insumos para entidades da região em temas de
cooperação. Envolverde/IPS
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