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domingo, 16 de junho de 2013

Cleópatra, filme com Liz Taylor completou 50 anos






http://youtu.be/p6sA45zGxlM

Drama histórico realizado em 1963 por Joseph L. Mankiewicz e interpretado por Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Pamela Brown, George Cole, Hume Cronyn, Martin Landau e Roddy MacDowall. O argumento de Cleopatra foi escrito por Sidney Buchman, Ronald MacDougall e Joseph L. Mankiewicz e narra a história de Cleópatra (interpretada por Elizabeth Taylor), a rainha do Egito que luta para salvar o seu império da absorção pelo Império Romano, sendo historicamente fiel em muitos aspetos. Apesar de algumas liberdades tomadas na recriação dos factos, a maior parte das personagens - que existiram realmente - atuaram da forma que foi representada, com a exceção de Octávio César Augusto (Roddy MacDowall), retratado de uma forma muito negativa em relação à sua verdadeira personalidade.

O filme encontra-se dividido em duas partes: a primeira, passada entre 48 e 44 a. C., mostra a relação de Cleópatra com Júlio César (Rex Harrison), enquanto a segunda, passada entre 42 e 30 a. C., exibe a relação da rainha com Marco António (Richard Burton).


O filme inicia-se com a vitória de Júlio César sobre Pompeia, na Grécia, que entretanto fugira para o Egito. César chega a Alexandria para perseguir Pompeia, encontrando um país em guerra civil entre Cleópatra e o seu irmão, o faraó Ptolomeu, que controla a cidade. Depois dos romanos tomarem conta da situação, Cleópatra é coroada rainha por César e os dois tornam-se amantes. Ela promete-lhe filhos e sonha com Roma e o Egito unidos num mundo unificado. Mais tarde, Cleópatra tem uma entrada espetacular em Roma e torna-se o tema preferido dos Romanos. Entretanto, alguns senadores queixam-se do excesso de poder de César, que acaba por ser apunhalado até à morte por um grupo deles. No funeral de Júlio César, Cleópatra discute a situação com Marco António, mas quem lhe sucede acaba por ser Octávio César Augusto. Ela regressa a Alexandria, uma vez que não tinha futuro em Roma.


A segunda parte do filme vai encontrar um Império Romano dirigido por um triunvirato: Lépido tinha a seu cargo a expansão em África, Octávio César Augusto a Espanha e a Gália, Marco António o Leste. Todavia, era notória a rivalidade entre Marco António e César Augusto. Marco António, entretanto sediado no território da atual Turquia, precisava da ajuda de Cleópatra para a sua campanha no Leste. Relutante, ela acaba por se deslocar até ele no seu batelão e tem lugar um banquete grandioso. Inicialmente rejeitado, Marco António acaba por ser seduzido por Cleópatra. Entretanto, César Augusto conspirava contra o par em Roma. Obrigado a regressar a Roma para obter reforços, Marco António acaba por casar com a irmã de César Augusto. Cleópatra não fica nada agradada e obriga-o a ajoelhar-se em público perante ela. Exige ainda que um terço do Império seja cedido ao Egito como preço da sua aliança. Marco António aceita, divorcia-se de Octávia e casa com Cleópatra. Mas, em Roma, César Augusto, o povo e o Senado não aprovam a aliança e votam guerra contra Cleópatra. As tropas de Marco António são derrotadas e ele acaba por morrer pensando que Cleópatra tinha morrido também. César Augusto conquista Alexandria e leva Cleópatra como prisioneira.


Grandioso e caro espetáculo, apesar de também ter sido um sucesso comercial, Cleópatra foi na altura o filme mais longo da História com mais de 4 horas de duração, embora tenham sido cortados 20 minutos para o seu lançamento comercial. A fase de produção foi também recheada de peripécias. Originalmente, o realizador do filme era Rouben Mamoulian, que foi despedido e substituído por Mankiewicz, que também acabou por reescrever o argumento. A tempestuosa relação fora do ecrã entre Elizabeth Taylor e Richard Burton também deu muito que falar.


Venceu quatro Óscares: Melhor Fotografia, Guarda-roupa, Direção Artística e Efeitos Visuais; tendo tido cinco outras nomeações: Melhor Filme, Ator Principal (Rex Harrison), Montagem, Banda Sonora e Som.


Existiram outras versões fílmicas da história de Cleópatra: duas mudas, em 1912 e 1917 (esta com Theda Bara no papel principal), e uma de 1934 realizada por Cecil B. De Mille e protagonizada por Claudette Colbert.

Fonte: Infopédia



segunda-feira, 18 de março de 2013

A mulher que declarou guerra ao HPV

Luísa Lina Villa foi a primeira a descobrir que o vírus é o causador da maioria dos cânceres de colo de útero
Fernanda Aranda, iG SP











Foto: DivulgaçãoLuisa Lina Villa declarou guerra ao HPV


Em tempos de Segunda Guerra Mundial, a matriarca dos Villa não conseguiu estudar. Com o marido e duas filhas no encalço, a mãe deixou a Itália e veio ao Brasil tentar uma nova vida. Após uma longa viagem de navio, olhou para a caçula Luisa Lina Villa e disparou a frase: “a educação será a sua missão”.
A menina obedeceu e fez dos livros e pesquisas seu objetivo de vida. E quando virou adulta utilizou todo o conhecimento adquirido nas escolas brasileiras para declarar uma nova guerra, desta vez pessoal.
O alvo escolhido pela italiana, naturalizada brasileira e bióloga pela USP foi o HPV. As pesquisas pioneiras de Luisa, iniciadas na década de 80, mudaram a forma da comunidade médica tratar as mulheres vítimas de câncer de colo de útero. Seus dias e noites analisando as moléculas cancerígenas no microscópio mostraram que o vírus, até então desconhecido, era o causador de uma das doenças que mais mata no País.

Guia de exames: saiba quais detectam o HPV

Só em 2012, o câncer de colo do útero deve fazer 30 mil novas vítimas (projeta o Instituto Nacional do Câncer). Descobrir que estes tumores tinham relação com o HPV, em mais de 40% dos casos, foi o primeiro passo para fazer do Papanicolaou um exame de rotina importante para resguardar a saúde da mulher. Os achados de Luisa também foram o embrião da vacina contra o HPV, hoje disponível na rede particular do País, mas que protege pacientes do mundo todo contra este tumor maligno.

Para travar esta batalha, Luísa conta que precisou ser movida a paixão. “Um amor incondicional à ciência”, define. Namoro antigo mesmo, que foi despertado aos 11 anos de idade, quando surpreendeu os pais ao fazer um pedido especial.
Sapos, apêndice e vestibular

Luisa estava sentada à mesa, esperando o jantar, quando o pai comunicou à família que precisaria fazer uma viagem aos Estados Unidos. Disse que ficaria alguns dias longe de São Paulo mas que poderia trazer dois presentes, um para a filha mais velha, amante de poesia, e outro para a mais nova, que era fissurada pela natureza.

“Minha irmã pediu goma de mascar, cadernos e bonecas, relíquias por aqui”, lembra. Já Luísa disparou: “ papai, quero um microscópio”.
“Desde muito pequena, eu tinha uma curiosidade latente em saber o que tinha dentro das coisas. Estava na primeira série do ensino fundamental e a professora havia ensinado o que era célula. Pirei com aquela informação”, conta.
“Imaginei que com um microscópio eu poderia saber como tudo funcionava. Quando meu pai trouxe o presente encomendado, comecei a minha investigação.”
A primeira coisa que Luisa observou foi uma gota d’água. Depois, um pouquinho do sangue tirado do indicador do pai. Em seguida, a casca da cebola, o tecido do vestido da mãe, os insetos. Os restos de comida, os sapos e muitas coisas passaram por aquela lente que aumenta (só) 5 vezes o tamanho das coisas. Os anos também passaram e a paixão pelos bichos, células e fibras aumentava.
Aos 14 anos, Luísa precisou tirar o apêndice e, em vão, a mãe tentou convencê-la a deixar o órgão no hospital. “Levei para casa. Guardei no formol. E vasculhava quase que diariamente aquelas fibras, aqueles tecidos, aquelas maravilhas”, diz, gargalhando, ao lembrar da insatisfação da família em ter de conviver com todos aqueles vidros espalhados pela casa. A irmã dizia que os vidros só continham "tranqueiras”, mas Luisa garantia que se tratavam de “micro-organismos importantíssimos para a vida”.
Fazendo jus ao pedido da mãe de ter a educação como tarefa, Luísa se preparava para escolher a carreira no vestibular. Biologia já era a alternativa certa, mas ficou ainda mais evidente em uma aula de ciências naturais.
“A professora explicou na aula sobre o DNA. Fiquei maravilhada e não queria fazer outra coisa na vida.”
Escolhas e propostas

Luísa Lina já estudava brincando – e não teve muita dificuldade para em 1969 entrar na USP. Naturalizou-se brasileira porque sonhava em dar aula em escola pública e este era uma condição do governo para contratar professores. De forma voluntária – e para ir se acostumando – dava aula de educação sexual para alunos do período noturno em um colégio do Estado.
Com apenas 17 anos, ela já percebia que os homens e mulheres, de qualquer idade, tinham uma dificuldade enorme em conhecer o próprio corpo, assimilar o autocuidado e a importância das relações sexuais seguras. Condutas essas que se mostrariam tão influentes, anos mais tarde, quando Luisa passou a pesquisar o HPV e constatou sua transmissão via sexo sem camisinha.
Nos corredores da USP, Luisa dividia essas experiências com a turma da Biologia, majoritariamente feminina. “Eram tantas mulheres que o pessoal da Física e da Medicina Veterinária (na época ainda com mais meninos do que meninas) só passava o intervalo com a gente”, diz. Entre um lanche e outro, ela começou um namoro com um dos futuros veterinários, relação que durou 13 anos e virou casamento.
“Meu grande parceiro, até hoje. Depois de casados, ficamos 6 anos juntos e acabamos nos separando. Com 35 de idade, quando as minhas amigas pensavam no segundo filho, eu estava me divorciando sem ter experimentado a maternidade.”
“É claro que eu sei o quanto a paixão pela ciência influenciou neste meu destino. Já confrontei várias vezes estes caminhos que trilhei, mas quando olho para trás, honestamente, não vejo como ter feito diferente”, diz com toda sinceridade Luísa Lina Villa.
Se do útero da pesquisadora não sairiam herdeiros, com o seu trabalho Luísa conseguiu deixar um importante legado. Suas pesquisas sobre microorganismo estavam a todo vapor, mas mudaram de foco quando ela recebeu um convite do Instituto Ludwig, uma das instituições internacionais mais importantes do mundo, para pesquisar “como era o câncer por dentro”.
“Eu nunca tinha parado para pensar nesta doença, mas a proposta me aguçou. Escolhi como foco o câncer de colo de útero e o de pênis e, desde então, estou debruçada neles”, pontua a pesquisadora
Dona Emozilia

O ano era 1982, as investigações começaram e no final daquela década a relação entre HPV, sigla misteriosa, e câncer de colo de útero e pênis já estava estabelecida, comprovada e publicada nas revistas médicas mais importantes. Luisa passou a ser convocada pela indústria farmacêutica para ajudar na busca por uma vacina preventiva. Na metade dos anos 90, as doses já estavam prontas e a bióloga cientista referenciada nos quatro quantos do mundo por ter conduzido a maior parte das pesquisas no Brasil.
Nos anos 2000, Luisa e sua equipe começaram a investigar a associação entre os tumores malignos na língua e pescoço e o mesmo vírus. Pela primeira vez, a relação entre sexo oral desprotegido e câncer na boca começou a ser divulgada.
A guerra contra o HPV, todos sabem, não foi vencida. Luísa ainda espera que a vacina chegue à rede pública brasileira, que as mulheres usem mais camisinha, que façam o Papanicolaou regularmente e que os homens não precisem ter o pênis amputado após um diagnóstico de câncer – quatro em dez causados pelo HPV – em estágio avançado. Mas ela sabe que a sua história é de sucesso e, a todo momento, diz que nenhuma história se faz sozinha.
Dedica as conquistas à mãe e sua frase “a educação é sua missão”, a todos os envolvidos nas pesquisas que ela já fez, aos concorrentes que trouxeram mais dados aos ensaios clínicos e ao professor da USP Ricardo Brentani (falecido em 2011 e um dos principais nomes da ciência internacional).
“Foi ele quem me soprou no ouvido, lá nos anos 1980, que a comunidade internacional estava de olho no HPV”, diz Luisa.
A pesquisadora elencou uma lista de nomes e, com entusiasmo, citou dona Emozilia, faxineira do Ludwig, com quem a bióloga testava os questionários sobre hábitos de vida antes de aplicá-los na população participante das pesquisas.
“Ela que me direcionava, dizia que as perguntas eram difíceis, fáceis, aplicáveis ou não.”
Luisa também coloca como peças fundamentais na história o pai e seu primeiro microscópio, que ainda está na sua penteadeira, com algumas partes faltando, mas com capacidade de mostrar como é importante conhecer as coisas por dentro.
Nova geração










Foto: Eduardo Cesar/FotoarenaMariana Diniz, 28 anos, pesquisa fórmulas contra o HPV desde os 20 de idade

quinta-feira, 14 de março de 2013

Livro ensina como largar a faculdade e aprender sozinho


Líder de movimento que questiona a validade do ensino superior nos Estados Unidos lança obra com dicas para jovens se desenvolverem fora das universidades

Tatiana Klix - iG SP 

Ir para a faculdade ainda é um plano quase unânime para jovens americanos, que se preocupam desde o início do ensino médio com suas notas – um dos critérios usados pelas instituições de ensino superior para selecionar estudantes – e em como vão pagar pelo curso mais tarde. Quase. Nos últimos anos, o aumento do desemprego e índices crescentes de graduados que passam dificuldades para honrar o crédito estudantil recebido antes da formatura fazem com que uma parcela deles questione a validade do curso superior. Para esses adolescentes, ou outros que ainda não pensaram nisso, um livro lançado este mês nos Estados Unidos – Hacking your Education (Hackear sua educação, em livre tradução) – incentiva a largar a faculdade e dá dicas de como aprender – e muito - fora das salas de aulas.



















Divulgação

Dale Stephen largou a faculdade e fundou um movimento pelo auto-aprendizado nos EUA

O autor da obra, Dale Stephen, de 21 anos, desistiu dos estudos formais quando estava no segundo semestre e recomenda a experiência. Ele é líder do movimento sem fins lucrativosUncollege (sem faculdade), cujo site foi lançado em 2011 para difundir a ideia de que é possível ter sucesso sem colocar os pés em uma universidade.

À época, descontente com o ambiente e o conhecimento que estava adquirindo no curso superior, decidiu que iria se desenvolver sozinho e transformar isso numa causa para revolucionar a educação. Para botar o projeto em prática, contou com a ajuda de US$ 100 mil (cerca de R$ 200 mil) do Thiel Fellowship , um programa que escolhe 20 jovens com menos de 20 anos por ano para abandonar a faculdade e se dedicar a algum projeto fora dela.

Dois anos depois, Stephen já concedeu inúmeras entrevistas, escreveu artigos, deu palestras, promoveu seminários e agora lançou seu livro pela editora Penguin. Em todos esses meios, o conceito essencial repetido por ele é o mesmo, de que o investimento realizado para cursar uma graduação nem sempre traz o melhor retorno e aprender sozinho fica cada vez mais fácil, através das informações disponíveis na internet.

“As pessoas aprendem de formas diferentes, em velocidade e tempo diferentes. E hackear a educação permite que você aprenda o que, quando, como e onde quiser”, explica Stephen em seu blog. Segundo ele, não é preciso ser um gênio para se sair bem fora da escola, mas ter criatividade e confiança.


 Divulgação
Livro ensina como a aprender sozinho

No site Uncollege há uma sessão com recursos de educação online, como o Coursera (de uma universidade tradicional) e outros independentes, como o creativeLIVE (de aulas ao vivo gratuitas com experts em vários temas), dicas de como planejar a educação informal, leituras sobre o tema e entrevistas com profissionais bem sucedidos que desistiram da faculdade. O livro apresenta o mesmo tipo de conteúdo, aprofunda as razões pelas quais Stephen acredita tanto no que chama de auto-aprendizagem e ensina como encontrar mentores, construir redes de contatos, onde achar conteúdos e como reuni-los de forma a desenvolver a própria educação. 

Curso

Além do livro, para quem quer seguir esse caminho, o defensor do ensino informal, também oferece um curso. O programa especial chamado Gap Year conduz 10 pessoas ao longo de um ano no processo de auto-aprendizado. No treinamento, os aprendizes recebem aulas para desenvolver um plano de aprendizado individual durante três meses em São Francisco, viajam para o exterior por mais três meses e entram em contato com pessoas e empresas inovadoras, desenvolvem um projeto pessoal nos três meses seguintes e terminam o programa trabalhando no que ele chama de "mundo real", durante mais três meses. Tudo isso, por US$ 12 mil (R$ 24 mil). Mas Stephen garante que dá para chegar ao mesmo objetivo por bem menos, apenas transformando a vida em educação e vice-versa.

Eles 'venderam' projeto social diferente para o ensino médio


Jovens arrecadam R$ 6 mil de apoiadores para dar aula de empreendedorismo e fazer adolescentes "sonharem mais alto"

Cinthia Rodrigues 
Em tempos de crise do ensino médio, um projeto de dois universitários com a ambiciosa meta de “fazer os alunos sonharem mais alto” foi – literalmente - comprado por pessoas dispostas a investir na ideia. Os jovens arrecadaram R$ 6 mil para cobrir os custos de um projeto piloto de aulas de empreendedorismo que eles mesmos ministrarão em escolas públicas do Paraná.

Fernando Granato, 24 anos, formado em engenharia elétrica e estudante de Administração, e Daniel Dipp, 23, no último ano de comunicação social dizem se basear na própria experiência. Os dois são bolsistas de diferentes programas de incentivo a iniciativas de jovens e acreditam que o currículo comum da escola não explora o potencial dos adolescentes.


Cartarse
Vídeo da Escola Quíron no Catarse para pedir colaborações em dinheiro

O projeto se chama Quíron, nome que na mitologia grega era dado a um centauro mentor de heróis. “Tem tudo a ver com nosso ideal. A maioria dos jovens sonha apenas em ter um trabalho remunerado e, mesmo assim, em funções bastante simples. A gente enxerga muito mais oportunidades”, diz Fernando. As aulas serão de empreendedorismo, inovação, auto-conhecimento e cidadania. A programação é dar, a partir de agosto, quatro horas de aulas, duas vezes por semana a 100 alunos de três escolas diferentes durante um semestre.

Tenho uma ideia. Você banca?

A ideia foi “vendida” no  site Catarse, espaço para financiamento coletivo. Funciona assim: o idealizador explica o que pretende fazer e de quanto dinheiro precisa. Internautas se inscrevem para doação e, se houver apoiadores suficientes para que todo o dinheiro seja reunido, as transações são efetivadas e o projeto vai adiante.

Em menos de dois meses 145 “apoiadores” doaram R$ 6.450 à  Escola Quíron. O dinheiro será usado apenas para compra de materiais como retroprojetor e impressão de apostilas. Os jovens trabalham no projeto em um escritório compartilhado a que têm direito como bolsistas do Hub Fellowship, outro programa de incentivo a jovens empreendedores no Paraná.
“Eu e o Daniel temos outras fontes de renda em trabalhos com horários flexíveis. Sempre nos organizamos para fazer algo social e acreditamos que a escola seja o melhor ponto de partida”, comenta Fernando. Para ele, a forma engessada das aulas é o maior problema do ensino médio – etapa da educação que amarga os piores índices da educação e não apresentam melhoras há 12 anos. “Estudos comprovam que você absorve muito mais de experiências do que do que lê e vê. Por isso a gente acha que a melhora passa por mais prática e envolvimento.”

terça-feira, 12 de março de 2013

Por uma pedagogia ambiental


por Marcus Eduardo de Oliveira*


Enquanto a aquisição de bens de consumo suntuosos continuar sendo toscamente confundida como símbolo de prosperidade, sucesso e possibilidade de ascensão social, determinando padrões distorcidos de conduta, certamente a humanidade retrocederá cada vez mais em termos de valores e princípios.

Se não bastasse essa distorção de valores que prioriza o “ter”, a sociedade de consumo deve sempre ser vista também como inimiga número um do meio ambiente. Se de fato desejamos habitar um mundo melhor, como é de senso comum, é de fundamental importância que todos desenvolvam visões diferenciadas sobre a natureza e o comportamento concernente à prática de consumo, não perdendo de vista que a poluição dos rios, do ar, o desgaste do solo, a perda de florestas e o desaparecimento de espécies animais e vegetais estão intimamente relacionados ao considerável aumento de energia, água e serviços ecossistêmicos usados largamente para manter elevadas taxas de produção atendendo assim essa sociedade de consumo.

Nossas relações sociais jamais podem se pautar e muito menos se fortalecer a partir das quantidades que consumimos; urge, definitivamente, romper-se com esses hábitos perdulários e consumistas. Qualidade de vida não pode estar associada à conquista material. Curvar-se a isso é restringir, pelas vias mais rasteiras possíveis, a própria vida a uma questão mercadológica.

Romper com essa ideia é imprescindível para a construção de um mundo ecologicamente mais equilibrado e saudável, respeitando a natureza e sabendo que mais produção é sinônimo de mais poluição, assim como menos consumo é sinônimo de mais vida.

Somente alcançaremos essa ruptura quando todos estiverem imbuídos de um mesmo ideal, criando consciência necessária para entender que o planeta não absorverá a parcela global da população mundial no ambiente de consumo em decorrência da finitude dos recursos naturais. Logo, não adianta incorporar o mercado de consumo; lá não há espaços para todos. Definitivamente, esse mercado precisa ser desinchado.

Para isso, um passo importante rumo a esse ambiente mais saudável é levar informações a todos e, principalmente, àqueles que serão encarregados de usufruírem o mundo num futuro próximo; ou seja, aqueles que literalmente “farão” esse mundo próximo. Nesse sentido, educar ambientalmente as crianças de hoje desde os anos iniciais de estudos é um bom caminho a ser percorrido. Nossos jovens alunos precisam aprender e praticar a pedagogia ambiental.

Essa pedagogia ambiental deve ser ensinada levando-se em conta que não é necessária maior produção para atender as reclamações vindas do mercado de consumo. O que já tem por aí em termos de mercadorias é suficiente para atender a todos. A necessidade se restringe em dirimir as desigualdades de consumo em que 20% da população que habita os países do hemisfério norte “engolem” 80% de tudo o que é produzido, gerando mais de 80% da poluição e degradação dos ecossistemas, ao passo que “sobra” apenas 20% da produção material para 80% da população dos países localizados no hemisfério sul.

Caberá a essa pedagogia ambiental, em forma de disciplina inserida na grade curricular, realçar o fato de que a excessiva exploração dos recursos naturais para “sustentar” a insustentável sociedade consumista é geradora mor de desigualdades e potencialmente criadora da insustentabilidade ambiental e social ora presenciada.

Essa pedagogia ambiental deve ser ensinada a partir do desenvolvimento de culturas próprias que sejam capazes de enaltecer o consumo verde, fazendo com que cada consumidor busque mercadorias que não agridam o meio ambiente, quer seja no ato da produção, durante a distribuição e, principalmente, após o uso, ao descartar-se um produto despejando-o no lixo, uma vez que é sabido que mais de 52% de nosso lixo não recebe tratamento adequado e, por isso, é altamente nocivo ao meio ambiente.

Essa pedagogia ambiental deve desenvolver canais que permitam maior politização do consumo, incluindo noções básicas e essenciais para evitar o desperdício de alimentos, água e energia elétrica bem como enfatizar práticas que favoreçam as técnicas e os processos de reciclagem. Carecemos muito desse tipo de cultura.

Essa pedagogia ambiental necessariamente deve servir para conscientizar nossos alunos sobre a importância em se preservar nossa rica biodiversidade uma vez que possuímos a maior extensão de floresta tropical do planeta (quase 65% do território), abrigando sete importantes biomas (Caatinga; Campos Sulinos, também conhecidos como “pampas”; Zona Costeira e Marinha; Amazônia brasileira, que contém cerca de 1/5 da água doce do planeta; Pantanal; Cerrado e Mata Atlântica) incorporando mais de 50 mil espécies de plantas (mais de 20% do total mundial), mais de 500 espécies de mamíferos, quase 1.700 aves e mais de 2.500 espécies de peixes.

Assim como uma andorinha só não faz verão, a conscientização coletiva, a partir dos ensinamentos emergidos da pedagogia ambiental poderá fazer toda a diferença num breve espaço de tempo. Assim esperamos!

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Educar para conviver

Tory Oliveira










Sem políticas de promoção da diversidade e combate ao preconceito contra homossexuais, a escola torna-se palco de intolerância e homofobia. Foto: Evaristo Sa/AFP

Convivência, respeito às diferenças e à diversidade são temas recorrentes nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura dos alunos do 8º e 9º ano da Escola Esta­dual Frei José Maria Audrin. O professor Rubenilson Araújo, 37 anos, discute questões de gênero e diversidade sexual  com obras literárias, imagens e jornais. O objetivo é enfrentar a homofobia, o preconceito contra homossexuais. “Encontramos ainda muito preconceito. A escola está estagnada, não sabe lidar com os alunos homossexuais. Por conta do ambiente hostil, a maior parte deles acaba saindo”, critica o educador, que atua na rede pública de Porto Nacional, em Tocantins.

O educador fala por experiência própria. Homossexual, sofria com atitudes preconceituosas por parte dos colegas e dos professores em seu tempo de escola. “A minha vida foi marcada pela discriminação. Inúmeras vezes eu cheguei a fazer xixi na sala de aula porque os meninos me batiam se eu saísse da classe”, lembra. Dos professores, recebia indiferença ou simplesmente a ordem: “Seja homem!”

Histórias como as de Rubenilson ainda são realidade. Promovida pela Unesco em 2004 entre alunos brasileiros dos ensinos Fundamental e Médio, a pesquisa Juventude e ­Sexualidade revelou que um em cada quatro estudantes não gostaria de ter um colega de classe homossexual. Outra pesquisa realizada pelo órgão indica o preconceito também entre os educadores. De acordo com O Perfil dos Professores Brasileiros, 59,7% dos docentes acreditam ser “inadmissível” uma pessoa ter experiências homossexuais.

Publicada em 2009, a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil – Intolerância e Respeito às Diferenças Sexuais também examina a questão da discriminação em razão da orientação sexual. Um dado salta aos olhos: a escolaridade desponta como o fator mais determinante na diminuição da homofobia. Segundo a pesquisa, enquanto metade dos brasileiros que nunca frequentaram a escola (52%) apresenta comportamentos homofóbicos, apenas 10% daqueles com Ensino Superior manifestam o mesmo. Nenhuma das outras variáveis – como idade, renda ou religião – se mostrou um influenciador tão marcante.

Segundo o sociólogo e coordenador da pesquisa, Gustavo Venturi, várias hipóteses tentam explicar o porquê de a escola ser tão determinante para a diminuição do comportamento homofóbico. Desde os anos 1990, os parâmetros curriculares atuam como uma espécie de filtro sobre os conteúdos dos livros didáticos, que não podem apresentar expressões ou personagens racistas, homofóbicos ou misóginos (com conteúdo negativo ou de aversão às mulheres). Além disso, por ser um espaço de socialização mais amplo do que a família, a escola permite uma convivência maior com a diversidade. “Está demonstrado que a convivência com pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) provoca uma diminuição do preconceito. Ao conhecer de perto um gay, a pessoa acaba desmontando a imagem preconceituosa.”

“A escola é o espaço de formação de cidadania mais importante nas sociedades atuais”, afirma Marco Aurélio Máximo Prado, professor de psicologia da UFMG e pesquisador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH). Desde 2008, Prado é o coordenador-geral do Educação sem Homofobia, projeto de capacitação de professores sobre o tema que acontece em Minas ­Gerais.

Omissão

No entanto, o espaço de convívio também pode ser o de manifestação de preconceitos. Na ausência de políticas e propostas para lidar com esse tipo de conflito, o resultado é o efeito inverso, expresso nas piadas, no bullying e até na violência. No caso dos livros didáticos, ao mesmo tempo que não há conceitos discriminatórios expressos nas obras, também não há exemplos de diversidade sexual.

O ambiente escolar hostil para as populações LGBT foi captado pela pesquisa qualitativa realizada pela ONG Reprolatina em 2009. Uma investigação em 11 capitais brasileiras revelou que evasão escolar, tristeza, isolamento, depressão e até casos de suicídio são observados como consequência de uma escola homofóbica. Apesar de constatar a existência do preconceito, a pesquisa chegou à conclusão de que esses alunos são invisíveis para o resto da escola, o que acaba por determinar o tratamento dado à questão da homofobia. Em muitos casos, ela é minimizada ou naturalizada, geralmente expressa em brincadeiras ou piadas.  “Homofobia” apareceu como outro termo pouco familiar para os professores. A despeito das práticas de violência homofóbica relatadas na pesquisa em detalhes, muitos não conheciam o termo e nunca tinham pensado ou falado sobre o tema.
Fora dos muros da escola, a violência persiste. Levantamento realizado em 2012 com 1.217 homossexuais da capital paulista revelou que 70% já sofreram algum tipo de agressão. Segundo o estudo, feito pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, 62% dos entrevistados relataram agressões verbais, 15% agressões físicas e outros 6%, violência sexual. De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos, em 2011 foram registradas 1.259 denúncias de violência contra gays no Brasil. Nas contas do Grupo Gay da Bahia (GGB), pelo menos 266 homossexuais foram vítimas de homicídio no mesmo ano no País.

Para a educadora sexual e diretora do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela, a escola não está preparada e ainda sente dificuldade na hora de discutir o tema. “Ela se sente perdida, porque, na verdade, não aceita a homossexualidade como algo natural”, afirma. Outro problema é a confusão entre aceitação e apologia. Segundo a educadora sexual, muitos professores e escolas ainda acreditam que, ao aceitar a orientação sexual de um aluno, estariam incentivando seu comportamento.

Para Marco Prado, coordenador do projeto Educação sem Homofobia, não existe idade certa para começar a trabalhar diversidade e combate à homofobia em sala de aula. “Vai depender das demandas que o professor receber”, explica. “Criamos, por exemplo, um quebra-cabeça para crianças em que se colocam essas questões, de modo a construir uma roda de conversa”, exemplifica. Em outro projeto de intervenção elaborado durante o curso, batizado de Livro Fora do Armário, uma professora da Educação Infantil criou uma biblioteca específica sobre o tema da diversidade para as crianças.

Segundo Prado, a falta de informação geral sobre a sexualidade é o principal vilão no combate à homofobia e ao preconceito. Dentro do ambiente escolar, as aulas de educação sexual geralmente se voltam apenas para o aspecto biológico, com foco na prevenção de doenças e da gravidez.

O papel do professor

Além da desinformação, os professores também sentem muita insegurança na hora de agir. Como intervir, o que fazer e como negociar institucionalmente a exploração do tema são questionamentos levantados pelos educadores durante o curso de capacitação ministrado pela UFMG.

“A formação dos professores é precária do ponto de vista dessa discussão e as escolas geralmente têm pouco apoio das secretarias para criar um projeto mais direcionado. Além disso, muitas escolas públicas sofrem forte intervenção religiosa, o que acaba dificultando a exploração em profundidade desses temas. Todos os professores relataram questões ligadas à orientação sexual em sala de aula, como brincadeiras ou humilhações.” Na opinião de Prado, é preciso empoderar o professor para que ele possa pensar melhor em como agir diante desses casos. “Quando ele não faz nada, acaba sendo cúmplice.”

Para Maria Helena Vilela, do Instituto Kaplan, muitas vezes uma situação de homofobia pode ser o ponto de partida para o professor estender a discussão para o resto da turma. O primeiro ponto é o professor exigir respeito e também respeitar ele mesmo o aluno LGBT. “Perguntas como ‘por que você está brincando?’ e ‘o que existe nessa brincadeira?’ ajudam a desmontar o preconceito”, conta ela.

Além das discussões, jogos, brincadeiras e dinâmicas de grupos podem ajudar a trazer à tona o debate a respeito da diversidade sexual. “De forma geral, minha sugestão é que a escola abra essa temática, discuta com os alunos e ensine sobre a construção da sexua­lidade. Só entendendo como as pessoas se constroem sexualmente é possível aceitar o outro”, defende Maria Helena.

Discriminalização naturalizada

Realizada em 2009 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a alemã Rosa Luxemburg Stiftung, a pesquisa Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil  revela que 26% dos entrevistados admitiram nutrir preconceito contra gays, 27% contra lésbicas e bissexuais e 28% contra transexuais.

Surpreende, na visão do coordenador do estudo, Gustavo Venturi, a naturalização do preconceito. Ele cita uma pesquisa feita sobre discriminação racial em que apenas 4% admitiram preconceito contra negros. “O fato de que cerca de um quarto a um terço da população brasileira diga com naturalidade que tem preconceito contra os LGBT mostra a não aceitação em nossa sociedade”, analisa. A pesquisa também procurou investigar o preconceito velado: 54% dos entrevistados manifestaram preconceito classificado como leve.  Participaram do estudo 2.014 pessoas em 150 municípios de todo o Brasil.