por
Marcus Eduardo de Oliveira*
Enquanto
a aquisição de bens de consumo suntuosos continuar sendo toscamente confundida
como símbolo de prosperidade, sucesso e possibilidade de ascensão social,
determinando padrões distorcidos de conduta, certamente a humanidade
retrocederá cada vez mais em termos de valores e princípios.
Se
não bastasse essa distorção de valores que prioriza o “ter”, a sociedade de
consumo deve sempre ser vista também como inimiga número um do meio ambiente.
Se de fato desejamos habitar um mundo melhor, como é de senso comum, é de
fundamental importância que todos desenvolvam visões diferenciadas sobre a
natureza e o comportamento concernente à prática de consumo, não perdendo de
vista que a poluição dos rios, do ar, o desgaste do solo, a perda de florestas
e o desaparecimento de espécies animais e vegetais estão intimamente
relacionados ao considerável aumento de energia, água e serviços ecossistêmicos
usados largamente para manter elevadas taxas de produção atendendo assim essa
sociedade de consumo.
Nossas
relações sociais jamais podem se pautar e muito menos se fortalecer a partir
das quantidades que consumimos; urge, definitivamente, romper-se com esses
hábitos perdulários e consumistas. Qualidade de vida não pode estar associada à
conquista material. Curvar-se a isso é restringir, pelas vias mais rasteiras
possíveis, a própria vida a uma questão mercadológica.
Romper
com essa ideia é imprescindível para a construção de um mundo ecologicamente
mais equilibrado e saudável, respeitando a natureza e sabendo que mais produção
é sinônimo de mais poluição, assim como menos consumo é sinônimo de mais vida.
Somente
alcançaremos essa ruptura quando todos estiverem imbuídos de um mesmo ideal,
criando consciência necessária para entender que o planeta não absorverá a parcela
global da população mundial no ambiente de consumo em decorrência da finitude
dos recursos naturais. Logo, não adianta incorporar o mercado de consumo; lá
não há espaços para todos. Definitivamente, esse mercado precisa ser
desinchado.
Para
isso, um passo importante rumo a esse ambiente mais saudável é levar
informações a todos e, principalmente, àqueles que serão encarregados de
usufruírem o mundo num futuro próximo; ou seja, aqueles que literalmente
“farão” esse mundo próximo. Nesse sentido, educar ambientalmente as crianças de
hoje desde os anos iniciais de estudos é um bom caminho a ser percorrido.
Nossos jovens alunos precisam aprender e praticar a pedagogia ambiental.
Essa
pedagogia ambiental deve ser ensinada levando-se em conta que não é necessária
maior produção para atender as reclamações vindas do mercado de consumo. O que
já tem por aí em termos de mercadorias é suficiente para atender a todos. A
necessidade se restringe em dirimir as desigualdades de consumo em que 20% da
população que habita os países do hemisfério norte “engolem” 80% de tudo o que
é produzido, gerando mais de 80% da poluição e degradação dos ecossistemas, ao
passo que “sobra” apenas 20% da produção material para 80% da população dos
países localizados no hemisfério sul.
Caberá
a essa pedagogia ambiental, em forma de disciplina inserida na grade
curricular, realçar o fato de que a excessiva exploração dos recursos naturais
para “sustentar” a insustentável sociedade consumista é geradora mor de
desigualdades e potencialmente criadora da insustentabilidade ambiental e
social ora presenciada.
Essa
pedagogia ambiental deve ser ensinada a partir do desenvolvimento de culturas
próprias que sejam capazes de enaltecer o consumo verde, fazendo com que cada
consumidor busque mercadorias que não agridam o meio ambiente, quer seja no ato
da produção, durante a distribuição e, principalmente, após o uso, ao
descartar-se um produto despejando-o no lixo, uma vez que é sabido que mais de
52% de nosso lixo não recebe tratamento adequado e, por isso, é altamente
nocivo ao meio ambiente.
Essa
pedagogia ambiental deve desenvolver canais que permitam maior politização do
consumo, incluindo noções básicas e essenciais para evitar o desperdício de
alimentos, água e energia elétrica bem como enfatizar práticas que favoreçam as
técnicas e os processos de reciclagem. Carecemos muito desse tipo de cultura.
Essa
pedagogia ambiental necessariamente deve servir para conscientizar nossos
alunos sobre a importância em se preservar nossa rica biodiversidade uma vez
que possuímos a maior extensão de floresta tropical do planeta (quase 65% do
território), abrigando sete importantes biomas (Caatinga; Campos Sulinos,
também conhecidos como “pampas”; Zona Costeira e Marinha; Amazônia brasileira,
que contém cerca de 1/5 da água doce do planeta; Pantanal; Cerrado e Mata
Atlântica) incorporando mais de 50 mil espécies de plantas (mais de 20% do
total mundial), mais de 500 espécies de mamíferos, quase 1.700 aves e mais de
2.500 espécies de peixes.
Assim
como uma andorinha só não faz verão, a conscientização coletiva, a partir dos
ensinamentos emergidos da pedagogia ambiental poderá fazer toda a diferença num
breve espaço de tempo. Assim esperamos!
* Marcus
Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política
Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba.
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