Valéria Dias, da Agência USP
Por disposição testamentária, o imóvel e o acervo do Museu serão legados à USP.Foto: Maria Cristiana Blanco
A arte-educação é uma atividade realizada em museus que ajuda a aproximar o público em geral da obra de arte. Foi pensando no uso de ações educativas em museus que a professora de artes, Maria Cristiana Blanco, desenvolveu uma proposta de arte-educação para o Museu Casa da Xilogravura, em Campos do Jordão (interior de São Paulo). De acordo com a definição apresentada no site do museu, “as xilogravuras são gravuras feitas por meio da impressão sobre o papel (ou outro suporte) de uma matriz entalhada em madeira”.
A pesquisadora propõe uma atividade de arte-educação voltada para alunos do ensino fundamental II, que atende alunos entre 12 e 15 anos, da 5ª à 9ª série. “A ideia central dessa atividade é despertar nas crianças a sensibilidade para a leitura da arte e as percepções que envolvem a leitura dessas obras, agregando conhecimento artístico a essa experiência”, explica. A proposta está descrita em sua dissertação de mestrado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, denominada Arte-Educação no Museu Casa da Xilogravura da cidade de Campos do Jordão: uma proposta poética. O trabalho teve orientação da professora Maria Christina de Souza Lima Rizzi, do Departamento de Artes Plásticas da ECA.
Para desenvolver o trabalho, Maria Cristina baseou-se na proposta triangular do ensino da arte idealizada por Ana Mae Tavares Barbosa, professora aposentada da ECA, onde a sugestão de leitura da obra é feita a partir de três ações básicas no ensino da arte: a contextualização, a leitura da obra de arte e a produção. “A proposta que eu desenvolvi destaca os aspectos ligados à produção artística das xilogravuras. É possível, também, falar sobre história da arte dando assim um caráter interdisciplinar para a atividade”, conta.
Maria Cristina utilizou quatro obras de xilogravuras existentes no museu: Sem Título (1957), de Karl Heinz Hansen, conhecido como Hansen Bahia; Sem Título (1958), de Dorothy Bastos; Medusa (1995), de Maria Bonomi; e Sem Título (2004), de Leda Campestrin. De acordo com a pesquisadora, essas quatro obras foram escolhidas pelo fato de possuírem material documentado e textos de referências, com informações sobre cada uma.
Proposta
Para cada uma dessas quatro obras foi desenvolvida uma proposta própria para leitura. No caso da obra Sem Título de Hansen Bahia, por exemplo, a pesquisadora explica que trata-se de uma das dezenove xilogravuras que compõem a série denominada Caminho das Lágrimas, que detalha imagens dos porões de um navio negreiro sob vários ângulos. Esta obra está exposta na Sala de Xilógrafos Brasileiros I, onde há também produções de artistas como Lasar Segall, Lívio Abramo, Marcelo Grassman, Oswaldo Goeldi e Gilvan Samico.
Na proposta de Maria Cristina, o arte-educador, ao chegar a esta sala, começa a trabalhar com os alunos entregando imagens de três xilogravuras (em cópias impressas, que não estão expostas no Museu), da série Caminho das Lágrimas, de Hansen Bahia, para que eles tenham um primeiro contato com a produção do autor. “Posteriormente, é solicitado que eles olhem para os outros trabalhos em exposição na sala a fim de tentar identificar alguma obra semelhante com aquela que foi entregue a eles. Na segunda etapa, o arte-educador poderá trabalhar com questões como as cores presentes na obra, a distribuição do espaço, uso ou ausência de texturas, explanações sobre como o artista desenvolveu a técnica nesta xilogravura, etc.”, explica.
Depois, já identificando Hansen Bahia como autor das cópias impressas entregues anteriormente, o arte-educador pode instigar os alunos com questões que abordam o aspecto histórico da xilogravura em exposição, como: O que está sendo representado? Que tipo de navio era aquele? Qual era a tecnologia deste tipo de navio? Eles se moviam rápido ou devagar no oceano? Os escravos viajavam em condições humanas?
Em seguida, o arte-educador mostra uma cópia impressa de um desenho do artista James Philips, de uma planta de um navio negreiro inglês do Século 18 para os alunos observarem e comentarem a situação dos escravos e as condições em que eles eram transportados. No próximo passo da proposta, o arte-educador faz a leitura de um trecho do poema Navio Negreiro (1868), de Castro Alves. Para completar a atividade são exibidas aos alunos cópias impressas com as pinturas a óleo de Navio de Escravos (1810), de Johann Rugendas, e Navio de Escravos (1840), de Joseph Turner, para que os estudantes observem as diferenças entre as diversas técnicas da arte, como pintura a óleo, desenho e xilogravura, sensibilizando-os sobre a diferença entre o aspecto das obras, com a mesma temática, feita por diferentes artistas. Para finalizar a atividade, Maria Cristina propõe uma oficina, onde as crianças poderiam “colocar a mão na massa” e produzir uma xilogravura com uma matriz a ser feita no próprio Museu.
Maria Cristina diz que ainda não testou as propostas diretamente com o público, mas pretende fazê-lo em breve. “As atividades de arte-educação propostas teriam uma duração de aproximadamente uma hora e meia”, comenta a pesquisadora, lembrando que pretende dar continuidade aos estudos do tema. E completa dizendo: “Nossa intenção é colaborar com o Museu, na tentativa de trazer o cidadão jordanense para a Casa da Xilogravura, tanto em forma de público espontâneo, visitas orientadas para os estudantes das escolas locais, assim como o próprio professor”.
Doação à USP
De acordo com informações divulgadas em seu site, o Museu Casa da Xilogravura foi inaugurado em 1987 e seu acervo conta com milhares de obras de mais de 400 xilógrafos. O Museu promove também palestras, encontros, cursos e outros eventos culturais, e oferece atelier xilográfico, oficina tipográfica e biblioteca especializada.
Por disposição testamentária do fundador, o professor Antonio Fernando Costella, o imóvel e o acervo do Museu serão legados à USP, da qual a Casa da Xilogravura já vem recebendo alguma orientação técnica.
Publicado originalmente no site Agência USP.
Fonte:Envolverde
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