Iran
Giusti, do iG São Paulo
Lançado
na sexta-feira (25), o livro “Sempre Amigos” (Editora Multifoco) conta a história
de Eduardo, jovem gay que está descobrindo sua sexualidade. Na trama se destaca
Heleninha, uma “Maria Purpurina”, ou seja, aquela menina heterossexual que se
identifica muito com o universo gay.
Para
Valter Rege, autor do livro, Heleninha surge para mostrar que o amor é
universal e principalmente para retratar a realidade de muitas meninas que
estão por aí. “Como a maioria das Marias Purpurinas, Heleninha procura se
relacionar com gays pela sensibilidade que não encontra nos homens
heterossexuais”.
É
esse o caso da publicitária Amanda Santos , 22. Nascida em Sorocaba, interior
de São Paulo, conta que desde sempre foi apegada aos meninos gays. “Um dos meus
melhores amigos de infância é gay e lembro que quando era pequena e mal sabia
que homossexualidade existia, perguntava para a minha mãe porque meu amiguinho
tinha aquele ‘jeito’ e ela me respondia que era apenas porque ele era educado
demais”, relembra ela, rindo.
“Eu
acredito que os gays são bem mais humanos que o resto das pessoas, inclusive
mais até do que eu. Eles vivem no meio de tanto preconceito da sociedade que
conseguem não ser tão preconceituosos, julgam menos os outros”, descreve a
publicitária, que diz não trocar uma balada gay por nada. "Eles também
sabem se divertir como ninguém".
Para
Aline, as músicas e a liberdade são as coisas que mais a atraem. “Posso afirmar
que as pessoas mais incríveis que conheci na vida são gays. Meus amigos brincam
que eu atraio. Amo nos gays a sinceridade, o companheirismo, a vontade de ser
feliz, de se expressar sem se importar com as outras pessoas”, declara.
Ajudando
a entender o “Poder Feminino”
A
brasiliense Tágide Peres, 31, é DJ e editora-chefe de um site de cultura pop
voltado para o público gay. É formada em arquitetura e foi na faculdade que
conheceu seu melhor amigo e atual sócio, quando se separou do marido, com quem
foi casada por dez anos.
“Foi
depois do divórcio que me joguei de vez no meio gay e comecei a sair
intensamente. Logo nas primeiras baladas peguei amor pelo meio, e me adaptei
muito fácil. Meus amigos foram e são até hoje uma grande família, me ensinaram
valores e acima de tudo a não sentir uma auto-piedade característica da maioria
das recém separadas. Nunca tive pessoas que me ajudaram tanto a entender meu
‘poder feminino’, e isso levantou minha moral rapidamente e me fez seguir em
frente” conta Tágide.
A
DJ mostra admiração ainda pelas superações do grupo. “A maioria dos gays
carrega alguma história de preconceito dentro e fora de casa, e usa isso de
combustível para a superação, o tempo todo sem perder a alegria de viver, mesmo
com esse cenário hostil. Eu acho isso fantástico”, admite ela.
O
site que edita, Babado e Confusão, veio dessa alegria que ela compartilha com
os gays. Sempre desbocada, começou a escrever na internet textos sarcásticos e
espontâneos, e o sucesso foi tanto que ela se juntou ao amigo, Rick Hudson, e
fundou o blog. “Quando o Babado estava prestes a completar um ano, tivemos a
ideia de comemorar. A festa lotou e antes de acabar o dono da casa nos propôs
outra festa. Hoje temos duas festas fixas por mês, a BCQ e GIMME", conta
ela.
Código
de linguagem
Para
a psicóloga Janaina Leslão Garcia , o comportamento das Marias Purpurinas é
algo habitual. “As pessoas procuram estar entre os que as protegem, de que
conhecem os códigos de linguagem. Nossa cultura é composta por grupos, sempre
foi, porque não ser esse grupo o universo gay?”.
Outro
fator de aproximação citado por Amanda é que nas festas gays as meninas não são
abordadas de forma bruta por rapazes, o que facilita a diversão. “Prefiro
curtir minha vida com meus amigos gays do que ir numa balada hétero e me sentir
um corrimão, onde os caras ficam pegando... Te puxam pela mão, não te deixam
passar no meio da multidão, tentam te beijar à força... acho isso uó”, relata
Amanda.
E
se um dia um namorado pedir para ela deixar de ser Maria Purpurina? “Antes de
namorar já é pré requisito não me pedir isso! Senão não tem papo.”
Aline,
por sua vez, encontrou na faculdade um namorado “gay friendly”. “Meu namorado é
hétero, mas ele também estuda design e encara super bem. Meus amigos gays
adoram ele, tudo na base do respeito, ele inclusive tem vários amigos gays”,
conta ela, que acha inadmissível ter amigos homofóbicos.
“Meus pais tinham muito preconceito. Eu até
entendo, pela criação deles e como era antigamente em relação aos gays. Mas
amigos héteros homofóbicos eu não admito não. É um preconceito idiota que não
dá pra aturar”, completa a analista.
Sobre essa postura de proteção que as meninas
assumem com os amigos gays, Janaina Leslão diz que é relativo, porém mostra uma
mudança no perfil das jovens mulheres. “Algumas meninas vão para a balada gay
apenas pela diversão, mas é inegável que muitas vão porque não gostam de ser
‘cantadas’ ou tocada constantemente. As mais jovens não são tão permissivas
quando as de outra geração, que entre aspas se acostumaram com o assédio.”
A psicóloga conclui explicando a importância
de socializar em grupos diversos. “Tudo é saudável, na medida em que você não
se prenda aos estereótipos e que não se limite. É sempre importante lembrar
que, por melhor que seja a sensação de estar em um ambiente protetor, não se
pode esquecer que existe um mundo inteiro para te acrescentar.”
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“Sempre Amigos”, de Valter Rege. Editora
Multifoco,230 páginas. Encomendas pelo e-mail livrosempreamigos@outlook.com
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