As palestras de Sheryl Sandberg se tornam virais no Youtube; ela é arma do Facebook para atrair talentos femininos e falar com o público que mais usa a rede social, as mulheres
The New York Times
Setenta e duas horas antes do grande momento do Facebook, Sheryl K Sandberg se encontrava a meio mundo de distância na companhia de Bono e do Arcebispo Desmond Tutu. Sim, Sandberg é a mão direita de Mark Zuckerberg. E, sim, se tudo correr bem, ela em breve irá valer US$ 1,6 bilhão ou cerca de R$ 2,7 bilhões. Na quarta-feira, o Facebook anunciou sua abertura de capital, um negócio que quase certamente irá torná-la uma das empresas mais valiosas do mundo.
Foto: Bloomberg via Getty Images/Sheryl Sandberg: em Davos, lutando pela causa das mulheres, enquanto o mundo todo falava da abertura de capital do Facebook
Mas Sandberg, que ajudou a transformar esta rede social no fenômeno que é hoje, tinha outras preocupações que iam além de registros de valores e métricas de campanhas publicitárias. Ela estava participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, onde seu assunto não era o Facebook e sim as mulheres.
Especificamente, como as mulheres, em sua opinião, devem assumir a responsabilidade por suas carreiras e não culpar aos homens por serem um obstáculo que possa impedi-las de crescer.
Levando em consideração que Sandberg é a Chief Operating Officer (Chefe de Operações, em tradução livre) do Facebook, e que todo mundo em Wall Street estava de olho nessa notícia na semana passada, poderíamos até pensar que ela estava focada no assunto errado. Mas Sandberg se vê como mais do que uma executiva de uma das empresas mais famosas do mundo - mais também do que alguém que em breve estará entre as poucas mulheres bilionárias do mundo. Ela se vê como um modelo para as mulheres que lidam com negócios e tecnologia. Em seus discursos, muitas vezes ela pede que as mulheres "mantenham o pé no acelerador sempre" e sonhem alto.
Sua vocação não é simplesmente orientar e capacitar pessoas. Ela é também criar estratégias de negócios. A maior parte dos 845 milhões de usuários do Facebook são mulheres. As mulheres também são os usuários mais engajados. Então Sandberg está servindo de exemplo para um público poderoso e lucrativo, bem como para os anunciantes que querem alcançar esse público alvo. Dentro da sede do Facebook em Menlo Park, Califórnia, ela é considerada uma arma não tão secreta, responsável tanto pela contratação de mulheres talentosas quanto de homens. Ela e Zuckerberg precisam dos melhores profissionais disponíveis para manter o impressionante crescimento do Facebook.
Claro que o fato de Sandberg ser boa em apresentações e ter uma ótima personalidade ajuda. Em Davos e no circuito de conferências, em aparições públicas em Washington e nas universidades, ela possui uma presença desarmante que a distingue de muitos outros executivos, homens ou mulheres.
Suas palestras se tornaram virais. No YouTube, alguns vídeos de seus discursos tiveram mais de 200.000 visitas. Alguns foram incluídos no currículo de escolas de negócios e administração de Stanford e Harvard. Resumindo, ela deixa transparecer algo que parece deixar muitas pessoas, particularmente as mulheres, um pouco maravilhadas.
Assista, abaixo, uma palestra proferida, em inglês, por Sheryl Sandberg, sobre os motivos de as empresas terem tão poucas lideranças femininas:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=18uDutylDa4
http://youtu.be/18uDutylDa4"Existem algumas mulheres que poderiam ter se tornado o 'Justin Bieber de tecnologia', mas Sheryl é única", disse Ann Miura-Ko, professora da Faculdade de Engenharia da Universidade de Stanford e uma parceira de investimento na Floodgate, uma empresa de capital de risco de Palo Alto, Califórnia. "As mulheres jovens realmente querem ser como ela e aprender com ela."
Miura-Ko acrescentou: "Sheryl é como plutônio radioativo quando se trata de recrutar uma pessoa-chave para o Facebook."
Outras mulheres no Vale do Silício também já serviram como exemplos. Muitas, como as executivas do Google,
Foto: Bloomberg via Getty Images/Marissa Mayer, do Google: campanhas sutis para promover as lideranças femininas em suas empresas
Marissa Mayer e Susan Wojcicki, têm feito sutilmente uma campanha para promover as mulheres dentro de suas empresas. Outras - como Meg Whitman, ex-presidente do eBay, que agora administra a Hewlett-Packard, Carly Fiorina, ex-presidente da HP, e Carol Bartz, ex-presidente do Yahoo - chegaram a ter muito sucesso no setor de tecnologia.
Mas nenhuma delas abraçou a causa de promover as mulheres da mesma maneira que Sandberg.
Mesmo assim, alguns dizem que sua mensagem de sonhar alto está um pouco fora da realidade. Todo mundo concorda que ela é muito inteligente, mas ela também tem tido sorte e teve ótimos mentores ao longo do caminho. Depois de Harvard e da Escola de Administração de Harvard, ela rapidamente saiu de um cargo como economista do Banco Mundial para se tornar a chefe do gabinete de Lawrence H. Summers, então secretário do Tesouro. Depois disso, ela foi trabalhar para o Google e, em 2008, para o Facebook.
Ela é casada com Dave Goldberg, um empresário bem sucedido e presidente executivo da SurveyMonkey, que permite que as pessoas criem as suas próprias pesquisas na internet. Ela não precisa se preocupar muito com dinheiro ou em cuidar das crianças. (Ela e seu marido têm dois filhos pequenos).
Para alguns, Sandberg parece sugerir que as mulheres deveriam apenas trabalhar mais, embora não reconheça que a maioria das pessoas não tiveram todas as oportunidades que ela teve.
"Sou uma grande fã de suas realizações e acho que ela é um grande exemplo em alguns aspectos, mas eu acho que ela é excessivamente crítica das mulheres porque está quase dando a entender que elas não têm a energia e a ousadia necessárias para atingir estes objetivos", disse Sylvia Ann Hewlett, presidente do Centro de Inovação de Talentos, uma organização de pesquisa sobre as políticas da vida profissional e diretora do Programa de Gênero e Política da Universidade de Columbia.
''Eu acho que ela conseguiu traçar para si mesma um caminho muito bom mas que talvez não consiga compreender que os verdadeiros desafios não estão no fato de alguém ter filhos ou não ter ambição,'' continou Hewlett. "As mulheres são, na verdade, muito firmes em relação a suas ambições, mas elas realmente acham que outras coisas as impedem de perseguir seus objetivos profissionais, como a falta de alguém que ajude a pagar as contas enquanto elas perseguem seus sonhos."
Não há como negar que Sandberg tem sido notavelmente bem-sucedida no Facebook. Quando ela entrou para a empresa, eles tinham cerca de 70 milhões de usuários e não possuíam um modelo de negócio. Com ela na posição de COO, os lucros chegaram a US$ 1 bilhão, saídos de US$ 3,7 bilhões em receita.
Sem dúvida, ela tem deixado uma marca enorme com seus frequentes discursos para as mulheres, que se tornaram praticamente um cartão de visitas para atrair mais mulheres para o setor de tecnologia e para o Facebook. Ela recrutou pessoalmente Lori Gole, a chefe de recursos humanos, e Katie Mitnic, a chefe de marketing de plataforma e de mobile. O papel de Sandberg em manter essas trabalhadoras tem sido ainda mais crucial.
Sukhinder Singh Cassidy, que trabalhou com ela no Google, disse que o perfil de Sandberg deu ao Facebook uma vantagem no recrutamento e na retenção de talentos.
"Quando você encontra mulheres que se perguntam : 'Será que eu consigo ficar? Consigo ter filhos e mesmo assim atingir meus objetivos profissionais?' A existência de exemplos como Sheryl é muito impactante", disse Singh Cassidy, que agora administra uma startup de compras online, a Joyus.
Sandberg se recusou a ser entrevistada para este artigo. Mas em uma conversa anterior com o "The New York Times", ela mencionou ter tido o seguinte dilema com uma candidata. "Nós lhe oferecemos a vaga e eu disse: 'Nós não temos que falar sobre isso, mas caso você esteja pensando em recusar este trabalho porque você está pensando em engravidar, você não deve se preocupar com isso", disse Sandberg. Não havia necessidade, Sandberg explicou, de escolher entre ter filhos e sua carreira – pois ambos eram possíveis. "Ela assumiu o cargo e me disse que não teria aceitado se eu não tivesse tido aquela conversa com ela. Ela engravidou algumas semanas depois."
Segundo investidores e analistas, sua atenção às mulheres também gerou benefícios para o negócio de outras maneiras.
Sandberg disse que as mulheres geram 62% da atividade no Facebook, em termos de atualizações de status, mensagens e comentários. As mulheres também geram 71% da atividade das páginas de marcas do site. As mulheres têm 8% de amigos a mais no Facebook do que os homens, em média, e passam mais tempo no site. Nos primeiros dias do Facebook, as mulheres foram as primeiras a publicar fotografias, a participar de grupos e publicar comentários.
"Não é nenhum segredo que as mulheres são um segmento de mercado extremamente poderoso, que consome pela internet e toma decisões no mundo digital diariamente", disse Aileen Lee, sócio da Kleiner Perkins Caufield & Byers, a firma de capital de risco que tem investido no Facebook e em várias startups administradas por mulheres.
Parte do papel de Sandberg tem sido o de cultivar relacionamentos com grandes anunciantes procurando por novas formas de interação com os clientes online - especialmente com clientes do sexo feminino. Ela foi fundamental em conseguir anunciantes como a Procter & Gamble. Depois de várias reuniões com o Facebook, a empresa escolheu a plataforma para uma nova campanha do desodorante Secret, destinado a mulheres jovens.
"A P&G quer estar onde o povo está, e mais e mais pessoas estão gastando seu tempo em sites de redes sociais", disse Alex Tosolini, vice-presidente da unidade da e-business global da empresa. "O objetivo de nossa campanha era de inspirar as mulheres de todas as idades a ser mais destemidas."
Esta é uma mensagem que parece muito semelhante com a de Sandberg. Com ela, a venda do desodorante Secret aumentou em 9% nos primeiros seis meses de campanha e a participação do desodorante no mercado subiu para 5% em relação ao ano anterior.
Se os homens do Vale do Silício fortalecem seus vínculos em salas de conferência de capital de risco ou em passeios de bicicleta no fim de semana, Sandberg também tem um grupo alternativo para a rede de mulheres do Vale do Silício. Durante sete anos, desde que era executiva do Google, ela tem realizado jantares mensais em sua casa para um grupo de dezenas de mulheres. Entre as convidadas estiveram a feminista e escritora Gloria Steinem; Steve Ballmer, CEO da Microsoft, e o prefeito Michael R. Bloomberg, de Nova York, de acordo com três pessoas que participaram dos jantares, mas falaram com a condição de que elas não fossem identificadas em respeito à privacidade de Sandberg. Sandberg recentemente convidou a senadora Claire McCaskill do Missouri para participar como palestrante.
"Eu esperava ver um monte de mulheres usando ternos e bolsas caras e fiquei positivamente surpresa quando vi que não era nada disso", disse McCaskill. "Algumas das mulheres presentes estavam no início de suas carreiras, seus filhos estavam correndo pelo lugar, era um evento bem discreto. Ficou claro que ela é o exemplo que estas mulheres jovens estão procurando, especialmente no setor de tecnologia."
Agora, além de todos os seus cargos e títulos, Sandberg deve ganhar mais um: o de bilionária. De acordo com documentos apresentados pelo Facebook na semana passada, Sandberg ganhou quase US$ 31 milhões ano passado, incluindo um salário base, bônus e US$ 30,5 milhões em prêmios e ações. Ela possui 1,9 milhão de ações da companhia e um adicional de 39 milhões em opções de ações restritas. Se o Facebook se tornar uma empresa pública a uma avaliação de US $ 100 bilhões - o que Wall Street vê como uma possibilidade, sua participação poderá valer até US$ 1,6 bilhão. Ela irá então fazer parte do clube mulheres mais ricas da América, ficando acima de Meg Whitman (US$ 1,3 bilhão), porém abaixo de Oprah (US$ 2,7 bilhões), segundo a revista Forbes.
Muitos se perguntam se Sandberg pode ir além do Vale do Silício e migrar para o mundo da política. Esse foi a discussão do momento em Davos.
McCaskill, por exemplo, disse que Sandberg teria grandes oportunidades na política. "Mas, por enquanto," a senadora acrescentou: "ela está sendo uma grande ajuda para as mulheres no setor privado."
Fonte: Portal iG