Entre
adultos, a maioria das amizades é feita em função das atividades que compõem
suas rotinas
Danielle Nordi
Não
são raras as pessoas que, por volta de seus 30 anos de idade, começam a se
perguntar “onde foram parar os meus amigos?”. Com a correria do dia a dia e as
mudanças normais de rotina que todos vivenciam ao longo da vida, fica cada vez
mais complicado ter tempo – e disposição – para cultivar amizades. E, para
piorar, os amigos que acabam ficando para trás não costumam ganhar nenhum
“substituto”.
Arquivo pessoal
Um
grupo de mulheres se conheceu e criou laços de amizade na escola dos filhos
“De
um modo geral, adultos não procuram fazer novas amizades.” É o que afirma a
psicóloga Angelita
Corrêa Scardua, mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo
(USP) e especialista em Psicologia Junguiana pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). “Isso acontece porque, de maneira geral, vamos
acumulando ideias pré-concebidas do que é legal e do que é bom. É difícil uma
pessoa se encaixar perfeitamente nestes requisitos já pré-estabelecidos”,
explica. “Tendemos a julgar muito pela aparência e isso restringe muito o nosso
grupo de amigos.
Fora
a falta de tempo que vem com o acúmulo de diversas atividades e o cotidiano
comprometido por trabalho e família, os interesses também mudam, e, com eles o
perfil dos amigos. Estes fatores representam uma grande restrição em termos de
oportunidades para incluir amigos novos em nossas vidas. “Procuramos pessoas
com quem tenhamos afinidade, mesmo que momentânea. É um processo natural e
todos passam por isso. O que acontece é que quando somos adultos nossa rotina é
bastante engessada com emprego e família”, explica Angelita.
Casadas
x solteiras
Uma grande mudança no estilo de vida pode ameaçar algumas amizades. O casamento e o nascimento de filhos, por exemplo, podem alterar de maneira profunda rotinas e interesses. Será que a amizade entre mulheres casadas e solteiras é possível?
“Eu
falo para algumas amigas solteiras que, quando elas chegam em casa, o dia delas
está acabando. Para quem tem filhos, o dia está começando”, afirma a
fisioterapeuta Patrícia Macedo Bento Santos, 38, mãe de um menino de seis e uma
menina de três anos. É justamente aí que mora a dificuldade de cultivar algumas
das relações mais antigas. O ritmo de vida torna-se muito diferente e é preciso
empenho para que ambas abram espaço em suas rotinas para conservar a relação.
“A vida social de quem tem filhos gira muito em torno da criança, o que não
acontece com quem é solteiro. As duas precisam se comprometer com a amizade
para que não se distanciem.”, diz Angelita.
Para
a organizadora de casamento Thais Denker, 27, que é solteira, o casamento das amigas
não representou um problema grave. “Muitas já têm filhos e festas infantis
fazem parte da minha rotina. Sempre participo e, com isso, preservo pessoas
importantes na minha vida”, afirma. Thais reclama, no entanto, que muitas
amizades terminaram porque os que casaram tiveram filhos e foram incapazes de
acumularem tantas funções.
A
psicóloga e coach Rosângela
Casseano lembra que muitas relações não são encerradas necessariamente
por causa das crianças. “Às vezes acaba antes, durante o namoro mesmo. Muitas
mulheres, por exemplo, começam a namorar e os homens não se tornam amigos. Isso
pode contribuir para um afastamento”, afirma.
Onde
estão os novos amigos?
Mas quem anda negligenciando essa parte da vida pode estar cometendo um erro. “Ter amigos é um dos melhores presentes que podemos nos dar”, afirma Rosângela.
O
ambiente de trabalho costuma ser uma fonte óbvia de novos contatos sociais da
vida adulta: os interesses e problemas, mesmo que sejam passageiros, são
compartilhados pelos colegas de emprego, explica Angelita. "O vínculo vem
de forma bastante facilitada."
Mas
o trabalho não é a única saída. Além do emprego, os filhos acabam se tornando
aliados cada vez mais importantes. Foi o caso de um grupo de mais de dez
mulheres, do qual Patrícia faz parte, que se viram compartilhando as mesmas
alegrias e angústias da maternidade. Elas se conheceram na escola dos filhos, e
mantêm contato estreito há anos. “Nos encontrávamos nas festas da escola e nos
aniversários das crianças, mas percebemos que tínhamos realmente afinidade e
começamos a marcar jantares e almoços com mais frequência”, afirma Patrícia.
A
amizade é tão presente que a estudante Aimara Crepaldi, que vive atualmente na
Alemanha, fez questão de comemorar o aniversário da filha de seis anos aqui no
Brasil, em julho deste ano, com as amigas do grupo da escola. “Sempre ouvi
dizer que crianças unem os adultos. Nós somos um bom exemplo disso. Nossos
filhos nos deram a oportunidade de fazer amigos especiais”, conta.
Outra integrante do grupo, a comerciante Edna de Souza Oliveira, 45, revela que o interesse em atividades em comum foi o principal ingrediente que as uniu. “Fazemos programas sociais de acordo com nosso momento de vida. Buscamos oportunidades das crianças se divertirem e nós também. Almoçamos, de vez em quando, apenas nós mulheres. Isso reforça muito nosso vínculo de amizade também.”
Outra integrante do grupo, a comerciante Edna de Souza Oliveira, 45, revela que o interesse em atividades em comum foi o principal ingrediente que as uniu. “Fazemos programas sociais de acordo com nosso momento de vida. Buscamos oportunidades das crianças se divertirem e nós também. Almoçamos, de vez em quando, apenas nós mulheres. Isso reforça muito nosso vínculo de amizade também.”
“É
importante ressaltar que toda relação tem início, meio e fim. O término não
pode ser fonte de sofrimento agudo. Precisamos aceitar isso para poder viver
melhor. Além disso, amigo não precisa estar presente todos os dias. O
sentimento de amizade é mais importante e compensa ausências que possam
ocorrer”, afirma Rosângela.
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