Referência no setor de hotelaria no Brasil, Chieko Aoki defende maior participação feminina na liderança de empresas
Foto: Divulgação/ Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels: 'profissionais que sabem aproveitar bem seu tempo são altamente valorizadas no mercado de trabalho'
Dividir bem o tempo entre trabalho e família pode ser um desafio, mas é também um fator que ajuda a preparar melhor as mulheres para exercer cargos de liderança em grandes empresas. A avaliação é de Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels e uma das principais empresárias do Brasil. “As várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas”, diz.
Segundo ela, o planejamento e disciplina necessários para conciliar as demandas profissionais e domésticas tornam as mulheres “mais competentes e com visão mais ampla das coisas”. O resultado? “São profissionais bem preparadas e eficazes, que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho”.
Chieko fala com conhecimento de causa. Com quase trinta anos de experiência no setor de hotelaria, ela conta que no começo de sua carreira “alguns homens ficavam constrangidos” com sua presença em reuniões. Hoje é referência no setor, à frente de uma das maiores redes hoteleiras do Brasil – a Blue Tree possui 22 hoteis e um resort no País, além de um hotel no Chile.
Em entrevista ao iG, ela diz que procura sempre “dar quilometragem a mais do que outras pessoas” e vê nisso um fator importante para quem quer se destacar na profissão. “Fazer mais – sem prejuízo de alguma parte – só traz benefícios”, conta. Em sua trajetória profissional, Chieko sempre teve o apoio de sua família e conta que seu marido, John Aoki, foi seu “grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria”.
Nascida no Japão, Chieko veio com os pais e o irmão para o Brasil em 1956, aos seis anos de idade. Formou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP), fez pós em administração no Japão e foi aos Estados Unidos cursar especialização em hotelaria. Foi presidente do Caesar Park e do Westin Hotels & Resorts, até lançar, em 1997, o Blue Tree Hotels.
No decorrer dos anos, a dama da hotelaria brasileira conta que teve momentos em que pensou em desistir de tudo. “Mas isso dura, no máximo, um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar os desafios”, diz. O segredo, segundo ela, é focar em alcançar seus objetivos. “Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza”.
Chieko é uma das maiores defensoras da inserção de mulheres em cargos de liderança no Brasil, tanto no setor privado quanto público. Presidiu por dois anos o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais (LIDEM). Atualmente, uma das empresárias que ela mais admira é Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza. “Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa”, diz.
Várias pessoas serviram de inspiração profissional para Chieko, incluindo Akio Morita, fundador da Sony. "Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos". Sua trajetória mostra que ela tem seguido o conselho à risca.
Confira a seguir a íntegra da entrevista que Chieko Aoki concendeu ao iG:
iG: Sua empresa possui políticas de “empoderamento” de mulheres? A ocupação de mulheres em níveis mais altos na hierarquia é importante para o equilíbrio da empresa?
Chieko Aoki: Não temos na Blue Tree política específica de “empoderamento” de mulheres porque elas são valorizadas regularmente na empresa, faz parte da nossa cultura. Assim, nunca tivemos na Blue Tree a necessidade de criar uma política específica para isso. As mulheres na Blue Tree casam, têm filhos e continuam fazendo carreira com a mesma dedicação, ou ainda maior, no decorrer dos anos. Temos executivas admiráveis que, mesmo casadas e com filhos, dão conta de viajar a semana inteira, planejando a sua agenda e da família com organização, comprovando que quem é competente tem esta qualidade em tudo que faz, inclusive na condução e no cuidado da família. Acredito inclusive que as várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas, pois passam a aplicar os aprendizados do lar e do trabalho, que têm características diferentes e também similares, no jeito de tratar, resolver e até de liderar situações. Há complementações positivas para todas as jornadas. A título de exemplo, a Blue Tree conta com 70% de colaboradores mulheres, no Corporativo e nos hotéis, com várias gerentes e diretoras. Talvez isso seja uma das chaves do sucesso da Blue Tree.
iG: Conciliar a carreira com outros “papéis” femininos foi – ou ainda é – um desafio para você? Qual é a maior angústia de uma mulher que ocupa um cargo executivo máximo de uma empresa?
Chieko Aoki: Realmente, conciliar a carreira com diversos outros “papéis” é um desafio no sentido de que o tempo é sempre pouco para tudo que se quer fazer. Por outro lado, assim como diz o ditado, “se tem algo para ser feito, dê para quem está ocupado e não para quem está sem fazer nada”, pois quanto mais as mulheres atuam em várias ocupações, ficam mais competentes, mais preparadas e com visão mais ampla das coisas. Como resultado, são profissionais bem preparadas e eficazes que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho. Fazer mais – sem exageros e prejuízo de alguma parte – só traz benefícios. Pessoalmente, busco sempre dar quilometragem a mais do que outras pessoas porque penso que o diferencial para melhor está nesta pequena, mas importante diferença. Quanto à angústia em ocupar o cargo executivo máximo de uma empresa, acredito que é a mesma de homens e mulheres – saber que precisamos cobrar-nos muito fazendo sempre o máximo e o melhor, porque cada passo ou decisão tem impacto na empresa e nos seus stakeholders. E que, na tomada de decisões difíceis, é preciso ser forte porque muitas vezes a decisão é solitária.
iG: Sua família apoiou a sua carreira?
Chieko Aoki: Todos na minha família adoram empreender e encontrar novas oportunidades no mercado. Comigo não foi diferente. Além de se tornarem uma referência para mim, meus familiares sempre me proporcionaram apoio irrestrito e ajuda para crescer profissionalmente e realizar os objetivos da Blue Tree. Meu marido, especialmente, foi o meu grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria. Sou muito grata à minha família que sempre me ajudou, de um jeito natural e sutil, para que não sentisse que precisava contar com ajuda da família para dar conta do trabalho.
iG: Ainda existe machismo nas empresas?
Chieko Aoki: É verdade que ainda há casos de discriminação em relação às mulheres, tanto nas tentativas de crescer dentro do ambiente de trabalho, quanto no relacionamento interpessoal com a equipe. Se isso não acontecesse, não teríamos tantos movimentos nas empresas trabalhando na diversidade com foco nas mulheres. Recentemente, ouvi de uma alta executiva de uma grande empresa respeitada no mercado que ela estava sendo sutilmente discriminada na ampliação de suas responsabilidades, ou seja, estavam limitando oportunidades para o seu crescimento. Por isso muitas empresas têm comissões de diversidade, focando na ampliação das mulheres no mercado de trabalho. Com todos estes movimentos, em pouco tempo este tema será uma questão superada, como aconteceu com muitas conquistas e mudanças, cujos benefícios temos a felicidade de usufruir, como igualdade no direito ao voto, acesso a educação e etc.
iG: Existem diferenças na forma como mulheres e homens executam a gestão? Quais?
Chieko Aoki: Acredito que, de uma forma geral, as mulheres têm mais leveza na tomada de decisão e na atuação, porque possuem muito foco nas pessoas, no ser humano. Nesse aspecto, como acredito que o mundo de hoje demanda mais atenção e cuidado com as pessoas, as mulheres são ótimas líderes. A mulher conta com participação, presença, flexibilidade, sensibilidade, sabedoria de ouvir e de se fazer ouvir. E essas características estão gerando mudanças nas comunidades – seja na empresa, nas cidades, no mundo político, nos negócios, na família, isto é, na sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que existem muitos pontos positivos no estilo de liderança masculino, como objetividade e foco no resultado de forma pragmática. Não acredito que existe padrão, especialmente quando se trata de homens e mulheres; cada ser humano é complexo, mas único. Assim, é difícil dizer de forma radical que mulheres têm qualidades diferentes dos homens e vice-versa. Ao mesmo tempo, homens e mulheres estão aprendendo mutuamente com estilos de cada um e, em breve, vamos ver qualidades e formas de liderar similares, nos homens e nas mulheres.
iG: Em algum momento você pensou em desistir ou não investir tanto na carreira como executiva?
Chieko Aoki: A gente pensa em desistir sempre que encontra dificuldades ou quando as coisas não andam na velocidade ou da maneira como queremos. Mas isso dura no máximo um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar novos desafios. Pode-se desistir a qualquer momento, isso é muito fácil. Mas não perco tempo pensando nesta questão, e sim em como fazer a empresa crescer em qualidade e em quantidade para chegar aos meus objetivos. Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza.
iG: Qual foi o momento mais marcante em sua trajetória como executiva?
Chieko Aoki: Acredito que não tive momentos marcantes específicos, mas muitos momentos marcantes no dia a dia que me emocionaram, incentivaram e me fizeram acreditar que a carreira estava valendo toda a dedicação e muito mais. Quando decidi criar a Blue Tree Hotels, contei com o apoio de muitos amigos e colegas de trabalho, pessoas que acreditavam no meu profissionalismo e que me ajudaram a sonhar com uma rede de hotéis com a minha cara, meus ideais e seguindo o que acreditava ser a melhor forma de fazer hotelaria. Este foi um momento muito importante na minha trajetória, pois nunca fazemos nada sozinho.
iG: Você já buscou aconselhamento de mulheres executivas, com mais experiência?
Chieko Aoki: Uma das executivas que admiro é a Luiza Helena Trajano. Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa, com uma preocupação genuína pelo bem-estar das pessoas. Outra grande fonte de aprendizado é o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais, o qual presidi por dois anos, e cujo objetivo é ampliar a inserção das mulheres nas lideranças privadas e públicas da sociedade brasileira.
iG: Você acredita que a forma como as mulheres são vistas dentro das empresas mudou nos últimos dez anos?
Chieko Aoki: Com certeza muita coisa mudou nos últimos anos. Quando comecei minha carreira, eram poucas as mulheres no ambiente hoteleiro. Alguns homens ficavam constrangidos com a minha presença em reuniões, mas mesmo assim eu sentia que era convidada para participar de muita coisa justamente por ser a única mulher. Hoje esse preconceito quase não existe mais, pois a presença da mulher no mercado de trabalho é uma tendência natural. A mulher vem realizando papel cada vez mais importante e maior na sociedade, inclusive em altos cargos executivos. Resumindo, houve muita mudança nos últimos dez anos e vamos ter muitas mais e com maior velocidade, porque, como já disse anteriormente, a própria sociedade e o mercado mudaram. Hoje, eles precisam contar muito mais com a visão e o jeito de fazer das mulheres para atender, ou perceber, as necessidades do mercado.
iG: Qual é seu maior modelo ou pessoa que serviu de inspiração para sua carreira?
Chieko Aoki: Muitas pessoas me inspiraram em minha carreira. Recebi ótimos conselhos de personalidades maravilhosas, como Akio Morita, fundador da Sony. Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos, mesmo enfrentando dificuldades, pois essas situações são grandes lições camufladas para testar nossa capacidade. Também aprendi muito com os ensinamentos de Peter Drucker, John Naisbitt, Jim Collins e outros gurus e visionários do mundo dos negócios.
iG: Qual seu livro preferido, de cabeceira?
Chieko Aoki: Tenho muitos livros do Peter Drucker que gosto de ler e reler com frequência. Outro livro que mantenho sempre comigo é “Empresas feitas para Vencer”, de Jim Collins.
iG: Qual o seu conselho para jovens executivas que estão começando a carreira?
Chieko Aoki: Minha recomendação é que as mulheres continuem, agilizem e fortaleçam as metas e o ritmo que vêm abraçando para serem excelentes profissionais. Trabalhar, suar, buscar sempre o melhor resultado de qualidade e quantidade continuam sendo os requisitos básicos para ter sucesso no trabalho. As empresas querem rentabilidade e expansão e isso se alcança com profissionais qualificados, éticos e com boa energia. Felizmente, vejo que as mulheres estão nesta linha, estão investindo e abraçando esse jeito de fazer e ser, plantando as sementes para um futuro diferente.
Fonte: Portal iG
Foto: Divulgação/ Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels: 'profissionais que sabem aproveitar bem seu tempo são altamente valorizadas no mercado de trabalho'
Dividir bem o tempo entre trabalho e família pode ser um desafio, mas é também um fator que ajuda a preparar melhor as mulheres para exercer cargos de liderança em grandes empresas. A avaliação é de Chieko Aoki, dona do Blue Tree Hotels e uma das principais empresárias do Brasil. “As várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas”, diz.
Segundo ela, o planejamento e disciplina necessários para conciliar as demandas profissionais e domésticas tornam as mulheres “mais competentes e com visão mais ampla das coisas”. O resultado? “São profissionais bem preparadas e eficazes, que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho”.
Chieko fala com conhecimento de causa. Com quase trinta anos de experiência no setor de hotelaria, ela conta que no começo de sua carreira “alguns homens ficavam constrangidos” com sua presença em reuniões. Hoje é referência no setor, à frente de uma das maiores redes hoteleiras do Brasil – a Blue Tree possui 22 hoteis e um resort no País, além de um hotel no Chile.
Em entrevista ao iG, ela diz que procura sempre “dar quilometragem a mais do que outras pessoas” e vê nisso um fator importante para quem quer se destacar na profissão. “Fazer mais – sem prejuízo de alguma parte – só traz benefícios”, conta. Em sua trajetória profissional, Chieko sempre teve o apoio de sua família e conta que seu marido, John Aoki, foi seu “grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria”.
Nascida no Japão, Chieko veio com os pais e o irmão para o Brasil em 1956, aos seis anos de idade. Formou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP), fez pós em administração no Japão e foi aos Estados Unidos cursar especialização em hotelaria. Foi presidente do Caesar Park e do Westin Hotels & Resorts, até lançar, em 1997, o Blue Tree Hotels.
No decorrer dos anos, a dama da hotelaria brasileira conta que teve momentos em que pensou em desistir de tudo. “Mas isso dura, no máximo, um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar os desafios”, diz. O segredo, segundo ela, é focar em alcançar seus objetivos. “Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza”.
Chieko é uma das maiores defensoras da inserção de mulheres em cargos de liderança no Brasil, tanto no setor privado quanto público. Presidiu por dois anos o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais (LIDEM). Atualmente, uma das empresárias que ela mais admira é Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza. “Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa”, diz.
Várias pessoas serviram de inspiração profissional para Chieko, incluindo Akio Morita, fundador da Sony. "Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos". Sua trajetória mostra que ela tem seguido o conselho à risca.
Confira a seguir a íntegra da entrevista que Chieko Aoki concendeu ao iG:
iG: Sua empresa possui políticas de “empoderamento” de mulheres? A ocupação de mulheres em níveis mais altos na hierarquia é importante para o equilíbrio da empresa?
Chieko Aoki: Não temos na Blue Tree política específica de “empoderamento” de mulheres porque elas são valorizadas regularmente na empresa, faz parte da nossa cultura. Assim, nunca tivemos na Blue Tree a necessidade de criar uma política específica para isso. As mulheres na Blue Tree casam, têm filhos e continuam fazendo carreira com a mesma dedicação, ou ainda maior, no decorrer dos anos. Temos executivas admiráveis que, mesmo casadas e com filhos, dão conta de viajar a semana inteira, planejando a sua agenda e da família com organização, comprovando que quem é competente tem esta qualidade em tudo que faz, inclusive na condução e no cuidado da família. Acredito inclusive que as várias jornadas que as mulheres precisam enfrentar deixam-nas mais preparadas e completas, pois passam a aplicar os aprendizados do lar e do trabalho, que têm características diferentes e também similares, no jeito de tratar, resolver e até de liderar situações. Há complementações positivas para todas as jornadas. A título de exemplo, a Blue Tree conta com 70% de colaboradores mulheres, no Corporativo e nos hotéis, com várias gerentes e diretoras. Talvez isso seja uma das chaves do sucesso da Blue Tree.
iG: Conciliar a carreira com outros “papéis” femininos foi – ou ainda é – um desafio para você? Qual é a maior angústia de uma mulher que ocupa um cargo executivo máximo de uma empresa?
Chieko Aoki: Realmente, conciliar a carreira com diversos outros “papéis” é um desafio no sentido de que o tempo é sempre pouco para tudo que se quer fazer. Por outro lado, assim como diz o ditado, “se tem algo para ser feito, dê para quem está ocupado e não para quem está sem fazer nada”, pois quanto mais as mulheres atuam em várias ocupações, ficam mais competentes, mais preparadas e com visão mais ampla das coisas. Como resultado, são profissionais bem preparadas e eficazes que sabem maximizar o seu tempo, sendo executivas altamente valorizadas no mercado de trabalho. Fazer mais – sem exageros e prejuízo de alguma parte – só traz benefícios. Pessoalmente, busco sempre dar quilometragem a mais do que outras pessoas porque penso que o diferencial para melhor está nesta pequena, mas importante diferença. Quanto à angústia em ocupar o cargo executivo máximo de uma empresa, acredito que é a mesma de homens e mulheres – saber que precisamos cobrar-nos muito fazendo sempre o máximo e o melhor, porque cada passo ou decisão tem impacto na empresa e nos seus stakeholders. E que, na tomada de decisões difíceis, é preciso ser forte porque muitas vezes a decisão é solitária.
iG: Sua família apoiou a sua carreira?
Chieko Aoki: Todos na minha família adoram empreender e encontrar novas oportunidades no mercado. Comigo não foi diferente. Além de se tornarem uma referência para mim, meus familiares sempre me proporcionaram apoio irrestrito e ajuda para crescer profissionalmente e realizar os objetivos da Blue Tree. Meu marido, especialmente, foi o meu grande e maior incentivador para seguir a carreira em hotelaria. Sou muito grata à minha família que sempre me ajudou, de um jeito natural e sutil, para que não sentisse que precisava contar com ajuda da família para dar conta do trabalho.
iG: Ainda existe machismo nas empresas?
Chieko Aoki: É verdade que ainda há casos de discriminação em relação às mulheres, tanto nas tentativas de crescer dentro do ambiente de trabalho, quanto no relacionamento interpessoal com a equipe. Se isso não acontecesse, não teríamos tantos movimentos nas empresas trabalhando na diversidade com foco nas mulheres. Recentemente, ouvi de uma alta executiva de uma grande empresa respeitada no mercado que ela estava sendo sutilmente discriminada na ampliação de suas responsabilidades, ou seja, estavam limitando oportunidades para o seu crescimento. Por isso muitas empresas têm comissões de diversidade, focando na ampliação das mulheres no mercado de trabalho. Com todos estes movimentos, em pouco tempo este tema será uma questão superada, como aconteceu com muitas conquistas e mudanças, cujos benefícios temos a felicidade de usufruir, como igualdade no direito ao voto, acesso a educação e etc.
iG: Existem diferenças na forma como mulheres e homens executam a gestão? Quais?
Chieko Aoki: Acredito que, de uma forma geral, as mulheres têm mais leveza na tomada de decisão e na atuação, porque possuem muito foco nas pessoas, no ser humano. Nesse aspecto, como acredito que o mundo de hoje demanda mais atenção e cuidado com as pessoas, as mulheres são ótimas líderes. A mulher conta com participação, presença, flexibilidade, sensibilidade, sabedoria de ouvir e de se fazer ouvir. E essas características estão gerando mudanças nas comunidades – seja na empresa, nas cidades, no mundo político, nos negócios, na família, isto é, na sociedade como um todo. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que existem muitos pontos positivos no estilo de liderança masculino, como objetividade e foco no resultado de forma pragmática. Não acredito que existe padrão, especialmente quando se trata de homens e mulheres; cada ser humano é complexo, mas único. Assim, é difícil dizer de forma radical que mulheres têm qualidades diferentes dos homens e vice-versa. Ao mesmo tempo, homens e mulheres estão aprendendo mutuamente com estilos de cada um e, em breve, vamos ver qualidades e formas de liderar similares, nos homens e nas mulheres.
iG: Em algum momento você pensou em desistir ou não investir tanto na carreira como executiva?
Chieko Aoki: A gente pensa em desistir sempre que encontra dificuldades ou quando as coisas não andam na velocidade ou da maneira como queremos. Mas isso dura no máximo um dia, porque no dia seguinte já estou pronta para resolver os problemas e enfrentar novos desafios. Pode-se desistir a qualquer momento, isso é muito fácil. Mas não perco tempo pensando nesta questão, e sim em como fazer a empresa crescer em qualidade e em quantidade para chegar aos meus objetivos. Quero ficar satisfeita com tudo que faço e isso exige tanto empenho e energia que, na verdade, não sobra tempo para outras coisas, principalmente medo ou fraqueza.
iG: Qual foi o momento mais marcante em sua trajetória como executiva?
Chieko Aoki: Acredito que não tive momentos marcantes específicos, mas muitos momentos marcantes no dia a dia que me emocionaram, incentivaram e me fizeram acreditar que a carreira estava valendo toda a dedicação e muito mais. Quando decidi criar a Blue Tree Hotels, contei com o apoio de muitos amigos e colegas de trabalho, pessoas que acreditavam no meu profissionalismo e que me ajudaram a sonhar com uma rede de hotéis com a minha cara, meus ideais e seguindo o que acreditava ser a melhor forma de fazer hotelaria. Este foi um momento muito importante na minha trajetória, pois nunca fazemos nada sozinho.
iG: Você já buscou aconselhamento de mulheres executivas, com mais experiência?
Chieko Aoki: Uma das executivas que admiro é a Luiza Helena Trajano. Além de ser uma grande empreendedora, com visão estratégica e inovadora, ela é um ser humano de uma generosidade imensa, com uma preocupação genuína pelo bem-estar das pessoas. Outra grande fonte de aprendizado é o Grupo de Mulheres Líderes Empresariais, o qual presidi por dois anos, e cujo objetivo é ampliar a inserção das mulheres nas lideranças privadas e públicas da sociedade brasileira.
iG: Você acredita que a forma como as mulheres são vistas dentro das empresas mudou nos últimos dez anos?
Chieko Aoki: Com certeza muita coisa mudou nos últimos anos. Quando comecei minha carreira, eram poucas as mulheres no ambiente hoteleiro. Alguns homens ficavam constrangidos com a minha presença em reuniões, mas mesmo assim eu sentia que era convidada para participar de muita coisa justamente por ser a única mulher. Hoje esse preconceito quase não existe mais, pois a presença da mulher no mercado de trabalho é uma tendência natural. A mulher vem realizando papel cada vez mais importante e maior na sociedade, inclusive em altos cargos executivos. Resumindo, houve muita mudança nos últimos dez anos e vamos ter muitas mais e com maior velocidade, porque, como já disse anteriormente, a própria sociedade e o mercado mudaram. Hoje, eles precisam contar muito mais com a visão e o jeito de fazer das mulheres para atender, ou perceber, as necessidades do mercado.
iG: Qual é seu maior modelo ou pessoa que serviu de inspiração para sua carreira?
Chieko Aoki: Muitas pessoas me inspiraram em minha carreira. Recebi ótimos conselhos de personalidades maravilhosas, como Akio Morita, fundador da Sony. Uma vez ele me disse para nunca desistir da excelência ou de atingir meus sonhos, mesmo enfrentando dificuldades, pois essas situações são grandes lições camufladas para testar nossa capacidade. Também aprendi muito com os ensinamentos de Peter Drucker, John Naisbitt, Jim Collins e outros gurus e visionários do mundo dos negócios.
iG: Qual seu livro preferido, de cabeceira?
Chieko Aoki: Tenho muitos livros do Peter Drucker que gosto de ler e reler com frequência. Outro livro que mantenho sempre comigo é “Empresas feitas para Vencer”, de Jim Collins.
iG: Qual o seu conselho para jovens executivas que estão começando a carreira?
Chieko Aoki: Minha recomendação é que as mulheres continuem, agilizem e fortaleçam as metas e o ritmo que vêm abraçando para serem excelentes profissionais. Trabalhar, suar, buscar sempre o melhor resultado de qualidade e quantidade continuam sendo os requisitos básicos para ter sucesso no trabalho. As empresas querem rentabilidade e expansão e isso se alcança com profissionais qualificados, éticos e com boa energia. Felizmente, vejo que as mulheres estão nesta linha, estão investindo e abraçando esse jeito de fazer e ser, plantando as sementes para um futuro diferente.
Fonte: Portal iG
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