Logo depois de receber a promoção dos seus sonhos, você descobriu que estava grávida. Tudo bem, porque você e o pai dos seus filhos vão poder decidir de que forma preferem tirar os 12 meses de licença-maternidade a que ambos têm direito. Quando o bebê ficar maiorzinho, vai poder ir para uma ótima creche municipal e você nem precisa pegar o carro para levá-lo porque a creche fica ali do lado, no mesmo bairro onde você mora. Sabe aquela sensação chata de achar que o seu vizinho, porque é homem, está sempre alguns pontos acima na hierarquia de salários da empresa? Esqueça. Quando voltar ao trabalho, você vai desempenhar tarefas e será remunerada exatamente como qualquer homem no mesmo cargo. Em casa, seu marido é seu parceiro, divide tudo com você. E isso não parece um favor nem uma obrigação, é só natural. Lá fora, outras mulheres como você têm acesso à educação de qualidade (assim como os homens), os programas de saúde funcionam bem em todas as fases da vida, inclusive na velhice, e funcionam para todos. Isso se deve, em parte ao menos, é claro, à participação das mulheres em todos os níveis da vida política do seu país. Parece sonho?
Foto: Getty Images/Desafios da mulher
Esse cenário é bem real na vida de mulheres que moram em países avançados na igualdade de gênero. O Fórum Econômico Mundial mapeou esses países no relatório Global Gender Gap Report 2011, que calculou a distância (o nome em inglês é gap) entre gêneros em 135 países, com base em indicadores nas áreas de saúde, educação, participação econômica e política na sociedade. Os países onde mulheres e homens vivem em condições mais igualitárias são Islândia, Noruega, Finlândia, Suécia e Irlanda, nessa ordem.
Entre os BRICs, o Brasil é o país melhor posicionado, mas ficou na 82ª posição, segundo o relatório. O abismo entre gêneros aumentou em alguns países, como Nigéria, Mali, Colômbia, Tanzânia e El Salvador.
A posição do Brasil, em 82º lugar, não significa que o país seja pior do que Cuba, que está em 20º, e sim que a igualdade entre homens e mulheres é maior na ilha do que no Brasil.“Em algumas variáveis, como educação primária, o Brasil aparece em 105ª posição, pela razão de homens e mulheres. Mas pensando na porcentagem de pessoas com instrução primária na população, estamos melhor do que muitos países”, explica Carla Regina Alonso Diéguez, docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Ou seja, o abismo entre gêneros é avaliado de forma independente do desenvolvimento do país.
Mulheres na política
No geral, os dados do Gender Gap Report são animadores. Nos últimos seis anos, a igualdade entre os sexos aumentou em 85% dos países. O relatório desse ano passou a analisar políticas públicas que facilitem o acesso da mulher ao mercado de trabalho. Em 88% dos países, há leis proibindo a discriminação de gênero no mercado de trabalho, 20% dos países tem representação feminina obrigatória na diretoria e 30% tem cotas de participação política. Outra boa notícia é que em saúde e educação, as barreiras diminuíram globalmente. Em saúde, o índice de igualdade chega a 96%, e em educação, 93%. Os grandes desafios da maior parte dos países ainda estão na participação das mulheres na vida política e econômica do país.
Para Carla, o fato de países nórdicos ocuparem o topo do ranking está muito ligado à consolidação das politicas e ações gerais de bem estar social. “Isso diminui a competitividade, porque são países com amplos benefícios sociais. Uma sociedade patriarcal, que tem o homem como provedor, acaba dando prioridade ao emprego masculino. Isso gera desigualdade de ganhos, e mesmo de ocupação”, afirma.
Para aumentar a inserção econômica e política das mulheres, a mudança cultural precisa ser reforçada por políticas públicas. “Ações afirmativas de cotas são formas de inserir esses grupos vulneráveis. Num primeiro momento, são coercitivas, mas acabam tornando a inclusão natural.” A participação mais igualitária das mulheres na vida pública é um desafio, tanto no mundo como no Brasil. “Elas trazem para as esferas de decisão macro de um país questões relativas à vida feminina. No nosso legislativo, somos no máximo 10%. Ainda há resistências à participação de mulher em determinados espaços”, afirma a professora.
Conheça agora os paraísos femininos do planeta:
Na pontuação do relatório, 100% representam igualdade total entre homens e mulheres
1º - Islândia
Foto: Getty Images/A Islândia é o país com melhor igualdade de gênero, de acordo com relatório do WEF
A Islândia é um dos países mais feministas. Também é um dos países mais amigáveis do mundo. A exploração no mercado do sexo, por exemplo, foi reduzida. Uma lei fechou todos os clubes de strip-tease do país
Pontuação: 85%
População: 320 mil
Participação no mercado de trabalho: 90% de igualdade
Igualdade de salários: 70%
Acesso a educação: 100%
Acesso a saúde: 97%
Participação política: 69%
Foto: Getty Images/Países nórdicos, como a Noruega, se beneficiam de um forte estado de bem estar social
2º - Noruega
Na Noruega, as mulheres são fundamentais como parte da força econômica do país. A proteção social permite à norueguesa conciliar carreira e filhos. No mínimo, 40% dos cargos de direção, por lei, devem ser ocupados por mulheres
Pontuação: 84%
População: 4,8 milhões
Participação no mercado de trabalho: 94% de igualdade
Igualdade de salários: 75%
Acesso a educação: 100%
Acesso a saúde: 97%
Participação política: 56%
Foto: Getty Images/As finlandesas foram as primeiras mulheres do mundo a ter garantido tanto direito de voto quanto de se candidatar
3º - Finlândia
Com uma presidenta mulher, Tarja Halonen, a Finlândia é um dos países com representação política feminina mais alta. É um traço histórico: as finlandesas foram as primeiras no mundo a ter direito tanto a voto quanto a se candidatar a cargos políticos, em 1906
Pontuação: 83%
População: 5,3 milhões
Participação no mercado de trabalho: 96% de igualdade
Igualdade de salários: 74%
Acesso a educação: 99%
Acesso a saúde: 98%
Participação política: 60%
Foto: Getty Images/Combater a discriminação de gênero é prioridade para o governo sueco
4º - Suécia
Direitos sociais são uma garantia das mulheres suecas. A licença-natalidade, por exemplo, é de 480 dias, que podem ser divididos de várias formas entre o pai e a mãe, desde que cada um deles tenha direito a pelo menos 60 dias.
Pontuação: 80%
População: 9,3 milhões
Participação no mercado de trabalho: 94% de igualdade
Igualdade de salários: 75%
Acesso a educação: 99%
Acesso a saúde: 97%
Participação política: 45%
Foto: Getty Images/Melhorar o acesso das mulheres ao mercado por meio de benefícios sociais para mães foi uma das medidas tomadas pelo governo irlandês
5º - Irlanda
Desde 2006, a Irlanda subiu que 10º para 5º lugar. Reformas nas leis que garantem creches e melhoras na licença-maternidade ampliaram o acesso das mulheres ao mercado. Um dos desafios do país é ampliar o número de mulheres nos cargos decisórios
Pontuação: 78%
População: 4,4 milhões
Participação no mercado de trabalho: 78% de igualdade
Igualdade de salários: 73%
Acesso a educação: 100%
Acesso a saúde: 97%
Participação política: 42%
Foto: Getty Images/No Brasil, faltam reformas em leis e direitos sociais que acelerem o processo da igualdade de gênero
82º - Brasil
A falta de representação política é o item mais gritante que separa o Brasil dos países no topo do ranking da igualdade. Políticas públicas que fomentem o acesso de mais mulheres à vida política e econômica do país pode acelerar a corrida à igualdade
Pontuação: 66%
População: 194,9 milhões
Participação no mercado de trabalho: 75% de igualdade
Igualdade de salários: 50%
Acesso a educação: 99%
Acesso a saúde: 98%
Participação política: 5%
Fonte: Portal iG
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