À frente do Todos pela Educação, administradora articula para que melhorias no sistema de ensino aconteçam mais rápido
Aos 25 anos, Priscila Cruz tinha a vida profissional praticamente traçada. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhava em uma das maiores empresas de consultoria estratégica do mundo. Com uma boa remuneração, seu próximo passo seria assumir um cargo de direção no escritório de Nova York. Mas algo a incomodava.
“Temos que assumir compromissos. Se os resultados não são alcançados, ninguém é punido. O único punido no Brasil é o aluno”. – Priscila Cruz
Aos 25 anos, Priscila Cruz tinha a vida profissional praticamente traçada. Formada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhava em uma das maiores empresas de consultoria estratégica do mundo. Com uma boa remuneração, seu próximo passo seria assumir um cargo de direção no escritório de Nova York. Mas algo a incomodava.
“Temos que assumir compromissos. Se os resultados não são alcançados, ninguém é punido. O único punido no Brasil é o aluno”. – Priscila Cruz
Priscila Cruz
Idade: 37 anos
Função: Diretora-Executiva do Todos pela Educação
Profissão: Administradora
Trabalha com educação há: 6 anos
Ao receber o convite para trabalhar no Comitê do Ano Internacional do Voluntário no Brasil, em 2011, pediu uma licença de seis meses do emprego para viver uma experiência no terceiro setor. O trabalho ao lado de Milú Villela – presidenta do Museu de Arte Moderna (MAM), acionista do banco Itaú e mãe de um colega de faculdade – recebeu destaque na Organização das Nações Unidas (ONU). E a vontade de trabalhar em algo que acreditasse falou mais alto.
Idade: 37 anos
Função: Diretora-Executiva do Todos pela Educação
Profissão: Administradora
Trabalha com educação há: 6 anos
Ao receber o convite para trabalhar no Comitê do Ano Internacional do Voluntário no Brasil, em 2011, pediu uma licença de seis meses do emprego para viver uma experiência no terceiro setor. O trabalho ao lado de Milú Villela – presidenta do Museu de Arte Moderna (MAM), acionista do banco Itaú e mãe de um colega de faculdade – recebeu destaque na Organização das Nações Unidas (ONU). E a vontade de trabalhar em algo que acreditasse falou mais alto.
No ano seguinte, foi uma das criadoras do Instituto Faça Parte, ONG que incentiva projetos de voluntariado desenvolvidos por estudantes e conectados com proposta pedagógica. Mas ainda havia um ponto que a incomodava: o buraco era bem mais embaixo. Projetos de alunos de 14 anos chegavam ininteligíveis. “O que adianta ter um superdesenvolvimento social e emocional, se você não sabe se expressar na sua língua?”
Da vontade de impactar diretamente na melhoria da qualidade da educação, nasceu em 2005 o Todos pela Educação, movimento da sociedade civil que Priscila dirige desde então. Ela define o Todos como um “óleo nas engrenagens”, um articulador, que procura diminuir as tensões entre os agentes da educação – sindicatos, pesquisadores, acadêmicos e os poderes executivo, judiciário e legislativo – para que as peças girem de forma mais suave e mais rápida.
E é de rapidez e prioridade que carece a educação, na avaliação de Priscila. “Precisamos dar urgência à Educação. As crianças que estão hoje na escola não vão ficar lá para sempre. Cada ano de espera é um ano perdido.”
Aos 37 anos, mãe de duas meninas, uma com 1 ano e 9 meses e outra de 3 anos, ela gostaria de colocá-las em uma escola pública de qualidade. Mas acredita que o foco do País deve ser dar mais para quem tem menos. Sobre o trabalho que desenvolve e as angústias em relação à educação no Brasil, Priscilla conversou com o iG na sede da organização. Leia trechos do depoimento:
Da vontade de impactar diretamente na melhoria da qualidade da educação, nasceu em 2005 o Todos pela Educação, movimento da sociedade civil que Priscila dirige desde então. Ela define o Todos como um “óleo nas engrenagens”, um articulador, que procura diminuir as tensões entre os agentes da educação – sindicatos, pesquisadores, acadêmicos e os poderes executivo, judiciário e legislativo – para que as peças girem de forma mais suave e mais rápida.
E é de rapidez e prioridade que carece a educação, na avaliação de Priscila. “Precisamos dar urgência à Educação. As crianças que estão hoje na escola não vão ficar lá para sempre. Cada ano de espera é um ano perdido.”
Aos 37 anos, mãe de duas meninas, uma com 1 ano e 9 meses e outra de 3 anos, ela gostaria de colocá-las em uma escola pública de qualidade. Mas acredita que o foco do País deve ser dar mais para quem tem menos. Sobre o trabalho que desenvolve e as angústias em relação à educação no Brasil, Priscilla conversou com o iG na sede da organização. Leia trechos do depoimento:
Foto: Marina Morena Costa/ Priscila Cruz é diretora-executiva do movimento Todos pela Educação
Mudança de planos
Em 2001, o terceiro setor não era organizado como é hoje. Era uma loucura uma menina que fez FGV e São Francisco ir trabalhar com isso. Reduzi meu salário, mudei a perspectiva da minha carreira, porque decidi trabalhar com o que eu gosto, numa época que ninguém fazia isso.
Terceiro setor
Costumo dizer que trabalhamos mais do que em empresa. A equipe tem que ser muito enxuta, porque todo o financiamento que recebemos tem que ser colocado o máximo no projeto final e o mínimo na estrutura fixa. Somos em nove pessoas e acabamos trabalhando mais, porém muito mais feliz. A gente sabe que algumas crianças vão aprender mais, por causa do que estamos fazendo aqui.
Todos pela Educação
O Todos tem cinco metas e cinco bandeiras*. Para que elas sejam atingidas e melhor implementadas, dependemos dos Estados, municípios e da União. Sinto que as pessoas concordam com a importância desses objetivos, mas que ninguém mergulha e vai até as últimas consequências para implantá-los de forma obcecada. Então o Todos atua como um óleo nas engrenagens. A gente faz com que as entidades nos usem para estreitar relações umas com as outras e fazer com que a engrenagem gire de forma mais suave e mais rápida. Somos neutros, porque defendemos o aluno e só ele. Para nós o que importa é que ele aprenda, passe de ano, conclua o ensino médio e entre na faculdade.
Currículo nacional
Temos a necessidade urgente de ter um currículo nacional. É muito injusto ter o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e estabelecer metas para todas as redes e escolas sem dizer o que elas têm que fazer para melhorar. Metade do Ideb é a Prova Brasil e essa avaliação é uma caixa preta. Se eu não souber que aprendizagem é essa, fica tudo no discurso e não cai no concreto. E a educação acontece no concreto, na sala de aula, na relação do professor com o aluno.
Formação e valorização do professor
As faculdades de formação de professores ficam muito nas teorias. O professor sai da faculdade sem ter ideia do que é uma sala de aula e sem ter técnica. Nos países que estão no topo do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), a prática, a didática, o como dar aula é tão valorizado quanto a teoria, a sociologia da educação. Há uma resistência muito grande da academia em mudar os currículos.
A tarefa de ensinar é muito complexa. Por isso a profissão do professor deveria ser das mais valorizadas e a preparação para ela deveria ser muito mais rigorosa e técnica. Não é uma questão de amor. Fazer 30 alunos com perfis diferentes e com históricos familiares diversos aprenderem é difícil. Nenhum médico sai da faculdade e já vai fazer uma cirurgia no coração. Já o professor cai de paraquedas na sala de aula.
Trabalho x filhos
Tenho duas filhas, a Mariana, de 1 ano e 9 meses, e Maria Fernanda, de 3 anos. O bom é que a maternidade disciplina. Quando você não tem filhos, parece que o céu é o limite. Já sai daqui várias vezes às 22h, 23h. Mas agora eu me disciplino para às 19h me ‘pirulitar’ e chegar em casa a tempo de encontrá-las acordadas. Gosto de colocá-las na cama, contar historinha e elas dormem por volta das 21h. Nós mulheres somos super agilizadas, queremos dar conta de tudo, achamos que somos supermulheres e na verdade não somos.
A urgência da Educação
Quando a gente vê uma criança ferida, não ficamos pensando “ai, coitadinha”. A gente pega e leva direto ao hospital. Com a educação não damos essa urgência. A gente fica no debate, discute-se muito, passam-se os anos e nada. A gente está com o PNE um ano inteiro no Congresso, sem o direcionamento para as políticas públicas dos próximos 10, não sabemos quando vai ser aprovado e ninguém está desesperado. Temos que assumir compromissos. Por isso defendemos a criação de uma lei de responsabilidade educacional. Se os resultados não são alcançados, ninguém é punido. O único punido no Brasil é o aluno.
* Metas e bandeiras do Todos pela Educação
Meta 1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola
Meta 2: Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos
Meta 3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série
Meta 4: Todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos
Meta 5: Investimento em Educação ampliado e bem gerido
Portal iG
Mudança de planos
Em 2001, o terceiro setor não era organizado como é hoje. Era uma loucura uma menina que fez FGV e São Francisco ir trabalhar com isso. Reduzi meu salário, mudei a perspectiva da minha carreira, porque decidi trabalhar com o que eu gosto, numa época que ninguém fazia isso.
Terceiro setor
Costumo dizer que trabalhamos mais do que em empresa. A equipe tem que ser muito enxuta, porque todo o financiamento que recebemos tem que ser colocado o máximo no projeto final e o mínimo na estrutura fixa. Somos em nove pessoas e acabamos trabalhando mais, porém muito mais feliz. A gente sabe que algumas crianças vão aprender mais, por causa do que estamos fazendo aqui.
Todos pela Educação
O Todos tem cinco metas e cinco bandeiras*. Para que elas sejam atingidas e melhor implementadas, dependemos dos Estados, municípios e da União. Sinto que as pessoas concordam com a importância desses objetivos, mas que ninguém mergulha e vai até as últimas consequências para implantá-los de forma obcecada. Então o Todos atua como um óleo nas engrenagens. A gente faz com que as entidades nos usem para estreitar relações umas com as outras e fazer com que a engrenagem gire de forma mais suave e mais rápida. Somos neutros, porque defendemos o aluno e só ele. Para nós o que importa é que ele aprenda, passe de ano, conclua o ensino médio e entre na faculdade.
Currículo nacional
Temos a necessidade urgente de ter um currículo nacional. É muito injusto ter o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e estabelecer metas para todas as redes e escolas sem dizer o que elas têm que fazer para melhorar. Metade do Ideb é a Prova Brasil e essa avaliação é uma caixa preta. Se eu não souber que aprendizagem é essa, fica tudo no discurso e não cai no concreto. E a educação acontece no concreto, na sala de aula, na relação do professor com o aluno.
Formação e valorização do professor
As faculdades de formação de professores ficam muito nas teorias. O professor sai da faculdade sem ter ideia do que é uma sala de aula e sem ter técnica. Nos países que estão no topo do Pisa (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), a prática, a didática, o como dar aula é tão valorizado quanto a teoria, a sociologia da educação. Há uma resistência muito grande da academia em mudar os currículos.
A tarefa de ensinar é muito complexa. Por isso a profissão do professor deveria ser das mais valorizadas e a preparação para ela deveria ser muito mais rigorosa e técnica. Não é uma questão de amor. Fazer 30 alunos com perfis diferentes e com históricos familiares diversos aprenderem é difícil. Nenhum médico sai da faculdade e já vai fazer uma cirurgia no coração. Já o professor cai de paraquedas na sala de aula.
Trabalho x filhos
Tenho duas filhas, a Mariana, de 1 ano e 9 meses, e Maria Fernanda, de 3 anos. O bom é que a maternidade disciplina. Quando você não tem filhos, parece que o céu é o limite. Já sai daqui várias vezes às 22h, 23h. Mas agora eu me disciplino para às 19h me ‘pirulitar’ e chegar em casa a tempo de encontrá-las acordadas. Gosto de colocá-las na cama, contar historinha e elas dormem por volta das 21h. Nós mulheres somos super agilizadas, queremos dar conta de tudo, achamos que somos supermulheres e na verdade não somos.
A urgência da Educação
Quando a gente vê uma criança ferida, não ficamos pensando “ai, coitadinha”. A gente pega e leva direto ao hospital. Com a educação não damos essa urgência. A gente fica no debate, discute-se muito, passam-se os anos e nada. A gente está com o PNE um ano inteiro no Congresso, sem o direcionamento para as políticas públicas dos próximos 10, não sabemos quando vai ser aprovado e ninguém está desesperado. Temos que assumir compromissos. Por isso defendemos a criação de uma lei de responsabilidade educacional. Se os resultados não são alcançados, ninguém é punido. O único punido no Brasil é o aluno.
* Metas e bandeiras do Todos pela Educação
Meta 1: Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola
Meta 2: Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos
Meta 3: Todo aluno com aprendizado adequado à sua série
Meta 4: Todo jovem com Ensino Médio concluído até os 19 anos
Meta 5: Investimento em Educação ampliado e bem gerido
Portal iG
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