Espaço para leitura, reflexão e debate sobre as várias facetas que compõem a totalidade da existência.
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- "Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
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Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação
....... NÃO SERÁ PUBLICADO COMENTÁRIO ANÔNIMO....
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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Levantes populares: do Oriente Médio ao Meio Oeste
extraído do Afinsophia
Há apenas algumas semanas, a solidariedade entre jovens egípcios e policiais do Wisconsin, ou entre trabalhadores líbios e funcionários públicos de Ohio, seria algo inacreditável. O levante popular na Tunísia foi provocado pelo suicídio de um jovem chamado Mohamed Bouazizi, universitário de 26 anos de idade, que não encontrava trabalho em sua profissão.Nos conflitos que vemos hoje em Wisconsin e Ohio há um pano de fundo semelhante. A “Grande Recessão” de 2008, segundo o economista Dean Baker, ingressou em seu trigésimo mês sem sinais de melhora. O artigo é de Amy Goodman.
Amy Goodman – Democracy Now
Cerca de 80 mil pessoas marcharam no sábado passado ao Capitólio do estado de Wisconsin, em Madison, como parte de uma crescente onda de protesto contra a tentativa do flamante governador republicano Scott Walker, não só de acossar os sindicatos dos servidores públicos, mas de desarticulá-los. O levante popular de Madison ocorre imediatamente em seguida aos que vêm ocorrendo no Oriente Médio. Um estudante universitário veterano da guerra do Iraque, levava um cartaz que dizia “Fui ao Iraque e voltei a minha casa no Egito?”. Outro dizia: “Walker, o Mubarak do Meio Oeste”.
Do mesmo modo, em Madison, circulou uma foto de um jovem em uma manifestação no Cairo com um cartaz que dizia: “Egito apoia os trabalhadores de Wisconsin: o mesmo mundo, a mesma dor”. Enquanto isso, em uma tentativa de derrubar o eterno ditador Muammar Kadafi, os líbios seguem desafiando a violenta ofensiva do governo, ao mesmo tempo que mais de 10 mil pessoas marcharam terça-feira em Columbus, Ohio, para se opor à tentativa do governador republicano John Kasich de dar um golpe de estado legislativo contra os sindicatos.
Há apenas algumas semanas, a solidariedade entre jovens egípcios e policiais do Wisconsin, ou entre trabalhadores líbios e funcionários públicos de Ohio, seria algo inacreditável.
O levante popular na Tunísia foi provocado pelo suicídio de um jovem chamado Mohamed Bouazizi, universitário de 26 anos de idade, que não encontrava trabalho em sua profissão. Enquanto vendida frutas e verduras no mercado, em repetidas oportunidades foi vítima de maus tratos por parte das autoridades tunisianas que acabaram confiscando sua balança. Completamente frustrado, ele ateou-se fogo, o que acabou incendiando os protestos que se converteram em uma onda revolucionária no Oriente Médio e Norte da África. Durante décadas, o povo da região viveu sob ditaduras – muitas das quais recebem ajuda militar dos EUA -, sofreu violações dos direitos humanos, além de ter baixa renda, enfrentar altas taxas de desemprego e não ter praticamente nenhuma liberdade de expressão. Tudo isso enquanto as elites acumulavam fortunas.
Nos conflitos que vemos hoje em Wisconsin e Ohio há um pano de fundo semelhante. A “Grande Recessão” de 2008, segundo o economista Dean Baker, ingressou em seu trigésimo mês sem sinais de melhora. Em um documento recente, Baker diz que devido à crise financeira “muitos políticos argumentam que é necessário reduzir de forma drástica as generosas aposentadorias do setor público e, se possível, não cumprir com as obrigações de pensões já assumidas. Grande parte do déficit no sistema de aposentadorias se deve à queda da bolsa de valores nos anos 2007-2009”.
Em outras palavras, os mascates de Wall Street que vendiam as complexas ações respaldadas por hipotecas que provocaram o colapso financeiro foram os responsáveis pelo déficit nas pensões. O jornalista vencedor do prêmio Pulitzer, David Cay Johnston disse recentemente: “O funcionário público médio de Wisconsin ganha 24.500 dólares por ano. Não se trata de uma grande aposentadoria; 15% do dinheiro destinado a esta aposentadoria anualmente é o que se paga a Wall Street para administrá-lo. É realmente uma porcentagem muito alta para pagar Wall Street por administrar o dinheiro”.
Então, enquanto a banca financeira fica com uma enorme porcentagem dos fundos de aposentadoria, os trabalhadores são demonizadas e pede-se a eles que façam sacrifícios. Os que provocaram o problema, em troca, logo obtiveram resgates generosos, agora recebem altíssimos salários e bonificações e não estão sendo responsabilizados. Se rastreamos a origem do dinheiro, vemos que a campanha de Walker foi financiada pelos tristemente célebres irmãos Koch, grandes patrocinadores das organizações que formam o movimento conservador tea party. Além disso, doaram um milhão de dólares para a Associação de Governadores Republicanos, que concedeu um apoio significativo à campanha de Walker. Então, por acaso resulta surpreendente que Walker apoie às empresas ao outorgar-lhes isenções se impostos e que tenha lançado uma grande campanha contra os servidores do setor público sindicalizado?
Um dos sindicatos que Walter e Kasich têm na mira, em Ohio, é a Federação Estadunidense de Empregados Estatais de Condados e Municípios (AFSCME, na sigla em inglês). O sindicato foi fundado em 1932, em meio à Grande Depressão, em Madison. Tem 1,6 milhões de filiados, entre os quais há enfermeiros, servidores penitenciários, seguranças, técnicos de emergências médicas e trabalhadores da saúde. Vale a pena lembrar, neste mês da História Negra, que a luta dos trabalhadores da saúde do prédio n° 1733 de AFSCME fez com que o Dr. Martin Luther King Jr. Fosse a Memphis, Tennessee, em abril de 1968. Como me disse o reverendo Jesse Jackson quando marchava com os estudantes e seus professores sindicalizados, em Madison, na semana passada: “O último ato do Dr. King na terra, sua viagem a Memphis, Tennessee, foi pelo direito dos trabalhadores negociarem convênios coletivos de trabalho e o direito ao desconto da quota sindical de seu salário. Não é possível beneficiar os ricos enquanto se deixa os pobres sem nada”.
Os trabalhadores do Egito, formando uma coalizão extraordinária com os jovens, tiveram um papel decisivo na derrubada do regime deste país. Nas ruas de Madison, sob a cúpula do Capitólio, está se produzindo outra mostra de solidariedade. Os trabalhadores de Wisconsin fizeram concessões em seus salários e aposentadorias, mas não renunciaram ao direito a negociar convênios coletivos de trabalho. Neste momento seria inteligente que Walker negociasse. Não é uma boa época para os tiranos.
Amy Goodman – Democracy Now
Tradução: Katarina Peixoto - Fonte: Blog Carta Maior
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Porque hoje é domingo, poesia
Retrato
Cecília Meireles
Como o poeta tem o poder da síntese, por-se-ia dizer que a poesia Retrato, de Cecília Meireles,é uma filosofia acerca da fugacidade do tempo e da vida.
É como se o espelho refletisse não somente a aparência física mas principalmente o interior existencial.
Cecília Meireles
Como o poeta tem o poder da síntese, por-se-ia dizer que a poesia Retrato, de Cecília Meireles,é uma filosofia acerca da fugacidade do tempo e da vida.
É como se o espelho refletisse não somente a aparência física mas principalmente o interior existencial.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Porque hoje é sábado
Bert Kaempfert foi um dos grandes gênios da música dos anos de 50, 60 e 70. Nasceu em Hamburgo, Alemanha em 1923.Pianista,trompetista e autor de várias baladas como Strangers in the night.
Strangers in the Night
Afrikaan beat
Strangers in the Night
Afrikaan beat
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Berthold Brecht
Eugen Berthold Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de Fevereiro de 1898 — Berlim, 14 de Agosto de 1956) foi dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo através da crítica artística ao desenvolvimento das relações humanas no sistema capitalista.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Falsas Necessidades e Neurose
O seu sentimento e o seu pensamento tornaram-se duas coisas diferentes e esta é a neurose básica.
Aquele seu lado que pensa e aquele seu lado que sente tornaram-se dois e você identifica-se com a parte que pensa e não com a parte que sente.
E sentir é mais real do que pensar; sentir é mais natural do que pensar.
Você nasce com um coração que sente, mas o pensamento é cultivado, ele é-lhe dado pela sociedade. E o seu sentimento tornou-se algo suprimido.
Mesmo quando você diz que sente, você apenas pensa que sente. O sentimento tornou-se morto e isto aconteceu devido a determinadas razões.
Quando uma criança nasce, ela é um ser que sente; ela sente coisas, mas ela ainda não é um ser pensante. Ele é natural, como tudo o que é natural, como uma árvore, um animal. Começamos entretanto a moldá-la a cultivá-la. Ela terá de suprimir os seus sentimentos, os se isto não acontecer, estará sempre com dificuldades.
Quando quiser chorar, não poderá fazê-lo, pois os seus pais a censurarão. Será condenada, não será apreciada e nem amada. Não será aceita como é.
Deve comportar-se de acordo com determinada ideologia, determinados ideais. Só então será amada.
Do modo como ela é, o amor não se destina a ela. Só pode ser amada se seguir determinadas regras. Tais regras são impostas, não são naturais.
O ser natural dá lugar a um ser suprimido e aquilo que não é natural, o irreal é-lhe imposto.
Esse "irreal" é a sua mente e chega um momento em que a divisão é tão grande que já não se pode mais ultrapassá-la.
Você esquece-se completamente do que a sua verdadeira natureza foi ou é.
Você é um falso rosto; o semblante original perdeu-se. E você também receia sentir o original, pois no momento em que o sentir toda a sociedade se voltará contra si.
Você, portanto, coloca-se contra a sua natureza real.
Isto cria uma situação muito neurótica.
Você não sabe o que quer; ignora quais são as suas necessidades reais e autênticas, pois somente um coração que sente pode dar-lhe a direção e o significado das suas
necessidades reais.
Quando elas são suprimidas, você passa a criar necessidades simbólicas. Por exemplo, você pode começar a comer cada vez mais, enchendo-se de alimento, e nunca sentir que está satisfeito.
Você tem necessidade de amor, não de comida. A comida e o amor, entretanto, estão profundamente relacionados.
Quando a necessidade de amor não é sentida, ou é suprimida, uma falsa necessidade de comida é criada.
Você pode continuar comendo; posto que a necessidade é falsa, ela jamais poderá ser preenchida. E vivemos entregues a falsas necessidades.
Por isso não há realizações. Osho*
*Rajneesh Chandra Mohan Jain (रजनीश चन्द्र मोहन जैन) (Índia, 11 de Dezembro de 1931 - 19 de Janeiro de 1990)foi um guru e controverso filósofo. Durante a década de 1970 era conhecido pelo nome de Bhagwan Shree Rajneesh e mais tarde como Osho.
Não escreveu livros, assim, os livros editados são transcrições de seus discursos e palestras.
Vários psicólogos ocidentais tem procurado integrar os ensinamentos de Osho a suas práticas.
Aquele seu lado que pensa e aquele seu lado que sente tornaram-se dois e você identifica-se com a parte que pensa e não com a parte que sente.
E sentir é mais real do que pensar; sentir é mais natural do que pensar.
Você nasce com um coração que sente, mas o pensamento é cultivado, ele é-lhe dado pela sociedade. E o seu sentimento tornou-se algo suprimido.
Mesmo quando você diz que sente, você apenas pensa que sente. O sentimento tornou-se morto e isto aconteceu devido a determinadas razões.
Quando uma criança nasce, ela é um ser que sente; ela sente coisas, mas ela ainda não é um ser pensante. Ele é natural, como tudo o que é natural, como uma árvore, um animal. Começamos entretanto a moldá-la a cultivá-la. Ela terá de suprimir os seus sentimentos, os se isto não acontecer, estará sempre com dificuldades.
Quando quiser chorar, não poderá fazê-lo, pois os seus pais a censurarão. Será condenada, não será apreciada e nem amada. Não será aceita como é.
Deve comportar-se de acordo com determinada ideologia, determinados ideais. Só então será amada.
Do modo como ela é, o amor não se destina a ela. Só pode ser amada se seguir determinadas regras. Tais regras são impostas, não são naturais.
O ser natural dá lugar a um ser suprimido e aquilo que não é natural, o irreal é-lhe imposto.
Esse "irreal" é a sua mente e chega um momento em que a divisão é tão grande que já não se pode mais ultrapassá-la.
Você esquece-se completamente do que a sua verdadeira natureza foi ou é.
Você é um falso rosto; o semblante original perdeu-se. E você também receia sentir o original, pois no momento em que o sentir toda a sociedade se voltará contra si.
Você, portanto, coloca-se contra a sua natureza real.
Isto cria uma situação muito neurótica.
Você não sabe o que quer; ignora quais são as suas necessidades reais e autênticas, pois somente um coração que sente pode dar-lhe a direção e o significado das suas
necessidades reais.
Quando elas são suprimidas, você passa a criar necessidades simbólicas. Por exemplo, você pode começar a comer cada vez mais, enchendo-se de alimento, e nunca sentir que está satisfeito.
Você tem necessidade de amor, não de comida. A comida e o amor, entretanto, estão profundamente relacionados.
Quando a necessidade de amor não é sentida, ou é suprimida, uma falsa necessidade de comida é criada.
Você pode continuar comendo; posto que a necessidade é falsa, ela jamais poderá ser preenchida. E vivemos entregues a falsas necessidades.
Por isso não há realizações. Osho*
*Rajneesh Chandra Mohan Jain (रजनीश चन्द्र मोहन जैन) (Índia, 11 de Dezembro de 1931 - 19 de Janeiro de 1990)foi um guru e controverso filósofo. Durante a década de 1970 era conhecido pelo nome de Bhagwan Shree Rajneesh e mais tarde como Osho.
Não escreveu livros, assim, os livros editados são transcrições de seus discursos e palestras.
Vários psicólogos ocidentais tem procurado integrar os ensinamentos de Osho a suas práticas.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
A verdadeira face
O pensamento Nietzscheano traz-nos a indagação:
Quem está disposto a perder todos os seus referenciais, os quais foram impostos pela tradição, e viver como espírito livre?
Osho alerta-nos para o ensinamento zen:
"Descubra a sua face, a face que você tinha antes de nascer. Encontre essa face que você terá novamente quando estiver morto. Entre o nascimento e a morte, aquilo que você pensa ser a sua face é meramente acidental. Você a viu em um espelho. Você não a sentiu a partir do interior, você tem procurado por ela em sua exterioridade."(Osho de A a Z)
Para refletirmos:
Como reencontraremos nossa verdadeira face?
Quem está disposto a perder todos os seus referenciais, os quais foram impostos pela tradição, e viver como espírito livre?
Osho alerta-nos para o ensinamento zen:
"Descubra a sua face, a face que você tinha antes de nascer. Encontre essa face que você terá novamente quando estiver morto. Entre o nascimento e a morte, aquilo que você pensa ser a sua face é meramente acidental. Você a viu em um espelho. Você não a sentiu a partir do interior, você tem procurado por ela em sua exterioridade."(Osho de A a Z)
Para refletirmos:
Como reencontraremos nossa verdadeira face?
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Ciranda
É um tipo de dança e música de Pernambuco. É originada na região Nordeste mais precisamente em Itamaracá, pelas mulheres de pescadores que cantavam e dançavam esperando-os chegarem do mar. Caracteriza-se pela formação de uma grande roda, geralmente nas praias,nas situadas ao norte de Pernambuco ou praças, onde os integrantes dançam ao som de ritmo lento e repetido.
É uma manifestação bastante comunitária, não tendo nenhum preconceito quanto ao sexo, cor, idade, condição social ou econômica dos participantes.
Etimologicamente, a palavra "ciranda" segundo o padre Jaime Diniz(um dos precursores de estudos sobre o tema) é proveniente do vocábulo espanhol Zaranda, que é um instrumento de peneirar farinha daquele país e que teria evoluído da palavra árabe Çarand, como afirma Caldas Aulete no seu Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa.
Eu sou Lia, Minha ciranda e Preta Cira
Lia de Itamaracá
Cirandas de Pernambuco
Clara Nunes
Cirandas
Fortuna
Fotos 1 e 2 - Cirandeando na UNILUZ - Nazaré Paulista -SP - acervo pessoal
Os jovens estão em rebelião
Michael Moore convoca os jovens: Rebelem-se!
Juntem-se ao meu “Jornal da Escola”!
Caros Estudantes:
Que inspiração, a de vocês, que se uniram aos milhares de estudantes das escolas de Wisconsin e saíram andando das salas de aula há quatro dias e agora estão ocupando o prédio do State Capitol e arredores, em Madison, exigindo que o governador pare de assaltar os professores e outros funcionários públicos (matéria em http://www.truth-out.org/watch-live-blog-wisconsin-protest-rally-madison-wisconsin67866 e foto (ótima!) em http://twitpic.com/40tax9)!
Tenho de dizer que é das coisas mais entusiasmantes que vi acontecer em anos.
Vivemos hoje um fantástico momento histórico. E aconteceu porque os jovens em todo o mundo decidiram que, para eles, basta. Os jovens estão em rebelião – e é mais que hora!
Vocês, os estudantes, os adultos jovens, do Cairo no Egito, a Madison no Wisconsin, estão começando a erguer a cabeça, tomar as ruas, organizar-se, protestar e recusar a dar um passo de volta para casa, se não forem ouvidos. Totalmente sensacional!
O poder está tremendo de medo, os adultos maduros e velhos tão convencidos que fizeram um baita trabalho ao calar vocês, distraí-los com quantidades enormes de bobagens até que vocês se sentissem impotentes, mais uma engrenagem da máquina, mais um tijolo do muro. Alimentaram vocês com quantidades absurdas de propaganda sobre “como o sistema funciona” e mais tantas mentiras sobre o que aconteceu na história, que estou admirado de vocês terem derrotado tamanha quantidade de lixo e estejam afinal vendo as coisas como as coisas são. Fizeram o que fizeram, na esperança de que vocês ficariam de bico fechado, entrariam na linha e obedeceriam a ordens e não sacudiriam o bote. Porque, se agitassem muito, não conseguiriam arranjar um bom emprego! Acabariam na rua, um freak a mais. Disseram que a política é suja e que um homem sozinho nunca faria diferença.
E por alguma razão bela, desconhecida, vocês recusaram-se a ouvir. Talvez porque vocês deram-se conta que nós, os adultos maduros, lhes estamos entregando um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, guerras e cada vez mais guerras, e planos para empurrá-los para a vida, aos 18 anos, cada um de vocês já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que vocês terão de pagar ou morrerão tentando pagar.
Como se não bastasse, vocês ouviram os adultos maduros dizer que vocês talvez não consigam casar legalmente com quem escolherem para casar, que o corpo de vocês não pertence a vocês, e que, se um negro chegou à Casa Branca, só pode ter sido falcatrua, porque ele é imigrado ilegal que veio do Quênia.
Sim, pelo que estou vendo, a maioria de vocês rejeitou todo esse lixo. Não esqueçam que foram vocês, os adultos jovens, que elegeram Barack Obama. Primeiro, formaram um exército de voluntários para conseguir a indicação dele como candidato. Depois, foram as urnas em números recordes, em novembro de 2008. Vocês sabem que o único grupo da população branca dos EUA no qual Obama teve maioria de votos foi o dos jovens entre 18 e 29 anos? A maioria de todos os brancos com mais de 29 anos nos EUA votaram em McCain – e Obama foi eleito, mesmo assim!
Como pode ter acontecido? Porque há mais eleitores jovens em todos os grupos étnicos – e eles foram às urnas e, contados os votos, viu-se que haviam derrotado os brancos mais velhos assustados, que simplesmente jamais admitiriam ter no Salão Oval alguém chamado Hussein. Obrigado, aos eleitores jovens dos EUA, por terem operado esse prodígio!
Os adultos jovens, em todos os cantos do mundo, principalmente no Oriente Médio, tomaram as ruas e derrubaram ditaduras. E, isso, sem disparar um único tiro. A coragem deles inspira outros. Vivemos hoje momento de imensa força, nesse instante, uma onda empurrada por adultos jovens está em marcha e não será detida.
Apesar de eu, há muito, já não ser adulto jovem, senti-me tão fortalecido pelos acontecimentos recentes no mundo, que quero também dar uma mão.
Decidi que uma parte da minha página na Internet será entregue aos estudantes de nível médio para que eles – vocês – tenham meios para falar a milhões de pessoas. Há muito tempo procuro um meio de dar voz aos adolescentes e adultos jovens, que não têm espaço na mídia-empresa.
Por que a opinião dos adolescentes e adultos jovens é considerada menos válida, na mídia-empresa, que a opinião dos adultos maduros e velhos?
Nas escolas de segundo grau em todos os EUA, os alunos têm idéias de como melhorar as coisas e questionam o que veem – e todas essas vozes e pensamentos são ou silenciadas ou ignoradas.
Quantas vezes, nas escolas, o corpo de alunos é absolutamente ignorado? Quantos estudantes tentam falar, levantar-se em defesa de uma ou outra idéia, tentar consertar uma coisa ou outra – e sempre acabam sendo vozes ignoradas pelos que estão no poder ou pelos outros alunos?
Muitas vezes vi, ao longo dos anos, alunos que tentam participar no processo democrático, e logo ouvem que colégios não são democracias e que alunos não têm direitos (mesmo depois de a Suprema Corte ter declarado que nenhum aluno ou aluna perde seus direitos civis “ao adentrar o prédio da escola”).
Sempre fico abismado ao ver o quanto os adultos maduros e velhos falam aos jovens sobre a grande “democracia” dos EUA. E depois, quando os estudantes querem participar daquela “democracia”, sempre aparece alguém para lembrá-los de que não são cidadãos plenos e que devem comportar-se, mais ou menos, como servos semi-incapazes. Não surpreende que tantos jovens, quando se tornam adultos maduros, não se interessem por participar do sistema político – porque foram ensinados pelo exemplo, ao longo de 12 anos da vida, que são incompetentes para emitir opiniões em todos os assuntos que os afetam.
Gostamos de dizer que há nos EUA essa grande “imprensa livre”. Mas que liberdade há para produzir jornais de escolas de segundo grau? Quem é livre para escrever em jornal ou blog sobre o que bem entender? Muitas vezes recebo matérias escritas por adolescentes, que não puderam ser publicadas em seus jornais de escola. Por que não? Porque alguém teria direito de silenciar e de esconder as opiniões dos adolescentes e adultos jovens nos EUA?
Em outros países, é diferente. Na Áustria, no Brasil, na Nicarágua, a idade mínima para votar é 16 anos. Na França, os estudantes conseguem parar o país, simplesmente saindo das escolas e marchando pelas ruas.
Mas aqui, nos EUA, os jovens são mandados obedecer, sentar e deixar que os adultos maduros e velhos comandem o show.
Vamos mudar isso! Estou abrindo, na minha página, um “JORNAL DA ESCOLA” [orig. "HIGH SCHOOL NEWSPAPER", em http://mikeshighschoolnews.com/]. Ali, vocês podem escrever o que quiserem, e publicarei tudo. Também publicarei artigos que vocês tenham escrito e que foram rejeitados para publicação nos jornais das escolas de vocês. Na minha página vocês serão livres e haverá um fórum aberto, e quem quiser falar poderá falar para milhões.
Pedi que minha sobrinha Molly, de 17 anos, dê o pontapé inicial e cuide da página pelos primeiros seis meses. Ela vai escrever e pedir que vocês mandem suas histórias e idéias e selecionará várias para publicar em MichaelMoore.com. Ali estará a plataforma que vocês merecem. É uma honra para mim que se manifestem na minha página e espero que todos aproveitem.
Dizem que vocês são “o futuro”. O futuro é hoje, aqui mesmo, já. Vocês já provaram que podem mudar o mundo. Aguentem firmes. É uma honra poder dar uma mão.
Fonte: Blog Vi o Mundo
Juntem-se ao meu “Jornal da Escola”!
Caros Estudantes:
Que inspiração, a de vocês, que se uniram aos milhares de estudantes das escolas de Wisconsin e saíram andando das salas de aula há quatro dias e agora estão ocupando o prédio do State Capitol e arredores, em Madison, exigindo que o governador pare de assaltar os professores e outros funcionários públicos (matéria em http://www.truth-out.org/watch-live-blog-wisconsin-protest-rally-madison-wisconsin67866 e foto (ótima!) em http://twitpic.com/40tax9)!
Tenho de dizer que é das coisas mais entusiasmantes que vi acontecer em anos.
Vivemos hoje um fantástico momento histórico. E aconteceu porque os jovens em todo o mundo decidiram que, para eles, basta. Os jovens estão em rebelião – e é mais que hora!
Vocês, os estudantes, os adultos jovens, do Cairo no Egito, a Madison no Wisconsin, estão começando a erguer a cabeça, tomar as ruas, organizar-se, protestar e recusar a dar um passo de volta para casa, se não forem ouvidos. Totalmente sensacional!
O poder está tremendo de medo, os adultos maduros e velhos tão convencidos que fizeram um baita trabalho ao calar vocês, distraí-los com quantidades enormes de bobagens até que vocês se sentissem impotentes, mais uma engrenagem da máquina, mais um tijolo do muro. Alimentaram vocês com quantidades absurdas de propaganda sobre “como o sistema funciona” e mais tantas mentiras sobre o que aconteceu na história, que estou admirado de vocês terem derrotado tamanha quantidade de lixo e estejam afinal vendo as coisas como as coisas são. Fizeram o que fizeram, na esperança de que vocês ficariam de bico fechado, entrariam na linha e obedeceriam a ordens e não sacudiriam o bote. Porque, se agitassem muito, não conseguiriam arranjar um bom emprego! Acabariam na rua, um freak a mais. Disseram que a política é suja e que um homem sozinho nunca faria diferença.
E por alguma razão bela, desconhecida, vocês recusaram-se a ouvir. Talvez porque vocês deram-se conta que nós, os adultos maduros, lhes estamos entregando um mundo cada vez mais miserável, as calotas polares derretidas, salários de fome, guerras e cada vez mais guerras, e planos para empurrá-los para a vida, aos 18 anos, cada um de vocês já carregando a dívida astronômica do custo da formação universitária que vocês terão de pagar ou morrerão tentando pagar.
Como se não bastasse, vocês ouviram os adultos maduros dizer que vocês talvez não consigam casar legalmente com quem escolherem para casar, que o corpo de vocês não pertence a vocês, e que, se um negro chegou à Casa Branca, só pode ter sido falcatrua, porque ele é imigrado ilegal que veio do Quênia.
Sim, pelo que estou vendo, a maioria de vocês rejeitou todo esse lixo. Não esqueçam que foram vocês, os adultos jovens, que elegeram Barack Obama. Primeiro, formaram um exército de voluntários para conseguir a indicação dele como candidato. Depois, foram as urnas em números recordes, em novembro de 2008. Vocês sabem que o único grupo da população branca dos EUA no qual Obama teve maioria de votos foi o dos jovens entre 18 e 29 anos? A maioria de todos os brancos com mais de 29 anos nos EUA votaram em McCain – e Obama foi eleito, mesmo assim!
Como pode ter acontecido? Porque há mais eleitores jovens em todos os grupos étnicos – e eles foram às urnas e, contados os votos, viu-se que haviam derrotado os brancos mais velhos assustados, que simplesmente jamais admitiriam ter no Salão Oval alguém chamado Hussein. Obrigado, aos eleitores jovens dos EUA, por terem operado esse prodígio!
Os adultos jovens, em todos os cantos do mundo, principalmente no Oriente Médio, tomaram as ruas e derrubaram ditaduras. E, isso, sem disparar um único tiro. A coragem deles inspira outros. Vivemos hoje momento de imensa força, nesse instante, uma onda empurrada por adultos jovens está em marcha e não será detida.
Apesar de eu, há muito, já não ser adulto jovem, senti-me tão fortalecido pelos acontecimentos recentes no mundo, que quero também dar uma mão.
Decidi que uma parte da minha página na Internet será entregue aos estudantes de nível médio para que eles – vocês – tenham meios para falar a milhões de pessoas. Há muito tempo procuro um meio de dar voz aos adolescentes e adultos jovens, que não têm espaço na mídia-empresa.
Por que a opinião dos adolescentes e adultos jovens é considerada menos válida, na mídia-empresa, que a opinião dos adultos maduros e velhos?
Nas escolas de segundo grau em todos os EUA, os alunos têm idéias de como melhorar as coisas e questionam o que veem – e todas essas vozes e pensamentos são ou silenciadas ou ignoradas.
Quantas vezes, nas escolas, o corpo de alunos é absolutamente ignorado? Quantos estudantes tentam falar, levantar-se em defesa de uma ou outra idéia, tentar consertar uma coisa ou outra – e sempre acabam sendo vozes ignoradas pelos que estão no poder ou pelos outros alunos?
Muitas vezes vi, ao longo dos anos, alunos que tentam participar no processo democrático, e logo ouvem que colégios não são democracias e que alunos não têm direitos (mesmo depois de a Suprema Corte ter declarado que nenhum aluno ou aluna perde seus direitos civis “ao adentrar o prédio da escola”).
Sempre fico abismado ao ver o quanto os adultos maduros e velhos falam aos jovens sobre a grande “democracia” dos EUA. E depois, quando os estudantes querem participar daquela “democracia”, sempre aparece alguém para lembrá-los de que não são cidadãos plenos e que devem comportar-se, mais ou menos, como servos semi-incapazes. Não surpreende que tantos jovens, quando se tornam adultos maduros, não se interessem por participar do sistema político – porque foram ensinados pelo exemplo, ao longo de 12 anos da vida, que são incompetentes para emitir opiniões em todos os assuntos que os afetam.
Gostamos de dizer que há nos EUA essa grande “imprensa livre”. Mas que liberdade há para produzir jornais de escolas de segundo grau? Quem é livre para escrever em jornal ou blog sobre o que bem entender? Muitas vezes recebo matérias escritas por adolescentes, que não puderam ser publicadas em seus jornais de escola. Por que não? Porque alguém teria direito de silenciar e de esconder as opiniões dos adolescentes e adultos jovens nos EUA?
Em outros países, é diferente. Na Áustria, no Brasil, na Nicarágua, a idade mínima para votar é 16 anos. Na França, os estudantes conseguem parar o país, simplesmente saindo das escolas e marchando pelas ruas.
Mas aqui, nos EUA, os jovens são mandados obedecer, sentar e deixar que os adultos maduros e velhos comandem o show.
Vamos mudar isso! Estou abrindo, na minha página, um “JORNAL DA ESCOLA” [orig. "HIGH SCHOOL NEWSPAPER", em http://mikeshighschoolnews.com/]. Ali, vocês podem escrever o que quiserem, e publicarei tudo. Também publicarei artigos que vocês tenham escrito e que foram rejeitados para publicação nos jornais das escolas de vocês. Na minha página vocês serão livres e haverá um fórum aberto, e quem quiser falar poderá falar para milhões.
Pedi que minha sobrinha Molly, de 17 anos, dê o pontapé inicial e cuide da página pelos primeiros seis meses. Ela vai escrever e pedir que vocês mandem suas histórias e idéias e selecionará várias para publicar em MichaelMoore.com. Ali estará a plataforma que vocês merecem. É uma honra para mim que se manifestem na minha página e espero que todos aproveitem.
Dizem que vocês são “o futuro”. O futuro é hoje, aqui mesmo, já. Vocês já provaram que podem mudar o mundo. Aguentem firmes. É uma honra poder dar uma mão.
Fonte: Blog Vi o Mundo
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Os jovens e a tecnologia como ferramenta de transformação política
Os jovens egípcios e tunisianos promovendo e utilizando a fusão entre conhecimentos seculares, redes sociais, disciplina, energia, sofisticação, táticas de resistência não-violenta associadas a estratégias de marketing revolucionaram os movimentos no mundo árabe.
Redes de comunicação foram criadas pelos dissidentes a partir do Facebook e do Twitter. Os telefones móveis registram tudo e levam para o YouTube, aumentando os custos da repressão.
Além disso, as transmissões via satélite da televisão árabe Al-Jazeera que romperam o monopólio governamental sobre as informações no Egito, desempenham papel vital na promoção desses movimentos.
Assim, os ditadores se vêem obrigados a pensar muito sobre a utilização da repressão ante o Tribunal Penal Internacional.
Os jovens egípcios também estão dando uma lição aos EUA e à sua política externa no Oriente Médio:
O fundamentalismo islâmico não é um monstro e a opinião dos povos deve conduzir a política externa americana e não o contrário, como tem sido.
Embora o Facebook e o Twitter tenham tido sua importância para a comunicação e mobilização, os sindicatos e as organizações de fábricas desempenharam um papel fundamental.
Os jovens nos levam à reflexão: além da habilidade no manuseio de tais ferramentas que revolucionaram os movimentos no mundo árabe, externaram sem violência, sua insatisfação diante do que os adultos mais velhos lhes oferecem como perspectiva de vida.
Redes de comunicação foram criadas pelos dissidentes a partir do Facebook e do Twitter. Os telefones móveis registram tudo e levam para o YouTube, aumentando os custos da repressão.
Além disso, as transmissões via satélite da televisão árabe Al-Jazeera que romperam o monopólio governamental sobre as informações no Egito, desempenham papel vital na promoção desses movimentos.
Assim, os ditadores se vêem obrigados a pensar muito sobre a utilização da repressão ante o Tribunal Penal Internacional.
Os jovens egípcios também estão dando uma lição aos EUA e à sua política externa no Oriente Médio:
O fundamentalismo islâmico não é um monstro e a opinião dos povos deve conduzir a política externa americana e não o contrário, como tem sido.
Embora o Facebook e o Twitter tenham tido sua importância para a comunicação e mobilização, os sindicatos e as organizações de fábricas desempenharam um papel fundamental.
Os jovens nos levam à reflexão: além da habilidade no manuseio de tais ferramentas que revolucionaram os movimentos no mundo árabe, externaram sem violência, sua insatisfação diante do que os adultos mais velhos lhes oferecem como perspectiva de vida.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Porque hoje é sábado
Jacques Brel
Jacques Romain Georges Brel ( pronúncia do nome em francês) (Schaerbeek, 8 de Abril de 1929 — Bobigny, 9 de Outubro de 1978) foi um autor de canções, compositor e cantor belga francófono. Esteve ainda ligado ao cinema de língua francesa. Tornou-se internacionalmente conhecido pela música Ne me quitte pas, intepretada e composta por ele em 1959 em decorrência da separação dele e de Suzanne Gabrielle. Foi escrita em medidas poéticas perfeitas.
Ne Me Quitte Pas
Joan Baez
Joan Chandos Baez(Staten Island, 9 de janeiro de 1941) é uma cantora norte-americana de música folk, conhecida por seu estilo vocal distinto e opiniões políticas apresentadas abertamente.
Forever Young
Composição: Alphaville
Dados biográficos:Wikipedia
Jacques Romain Georges Brel ( pronúncia do nome em francês) (Schaerbeek, 8 de Abril de 1929 — Bobigny, 9 de Outubro de 1978) foi um autor de canções, compositor e cantor belga francófono. Esteve ainda ligado ao cinema de língua francesa. Tornou-se internacionalmente conhecido pela música Ne me quitte pas, intepretada e composta por ele em 1959 em decorrência da separação dele e de Suzanne Gabrielle. Foi escrita em medidas poéticas perfeitas.
Ne Me Quitte Pas
Joan Baez
Joan Chandos Baez(Staten Island, 9 de janeiro de 1941) é uma cantora norte-americana de música folk, conhecida por seu estilo vocal distinto e opiniões políticas apresentadas abertamente.
Forever Young
Composição: Alphaville
Dados biográficos:Wikipedia
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Como não sermos meras fotocópias de consumidores exemplares?
O texto de Eduardo Galeano, precioso e longo, analisa profundamente a realidade que estamos vivendo. Sendo de indiscutível qualidade, nos remete a uma angustiante reflexão: que mundo almejamos para crianças, adolescentes e jovens? Há possibilidade de mudanças no cenário que o autor nos aponta?
Ou estarão condenados, como a maioria adulta já está, ao consumismo desenfreado que nos consome enquanto seres humanos portadores de uma essência refinada, que é a nossa espiritualidade?
O império do consumo
Esta ditadura da uniformização obrigatória impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
Por Eduardo Galeano
A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?
A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar.
A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.
O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas à luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.
“Gente infeliz os que vivem a comparar-se”, lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. “Quando não tens nada, pensas que não vales nada”, diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: “Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações”.
Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a “obesidade severa” aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado.
O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel para trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.
Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald’s, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.
O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald’s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald’s dispara hambúrgueres às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald’s de Moscou, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.
Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald’s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas em 1998, outros empregados da McDonald’s, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.
As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório.
Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros que este ou aquele banco oferece.
Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.
As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário.
A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes.
As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam veem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios [casebres], a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram.
Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam “porque as pessoas têm o gosto de juntar-se”. Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas?
O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de ônibus e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.
O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante.
A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça.
Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.
A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera.
O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo?
A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta.
A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.
Fonte: Envolverde
Ou estarão condenados, como a maioria adulta já está, ao consumismo desenfreado que nos consome enquanto seres humanos portadores de uma essência refinada, que é a nossa espiritualidade?
O império do consumo
Esta ditadura da uniformização obrigatória impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
Por Eduardo Galeano
A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?
A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar.
A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.
O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas à luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.
“Gente infeliz os que vivem a comparar-se”, lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. “Quando não tens nada, pensas que não vales nada”, diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: “Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações”.
Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.
O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a “obesidade severa” aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado.
O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel para trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.
Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald’s, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.
O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald’s não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald’s dispara hambúrgueres às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald’s de Moscou, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.
Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald’s viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas em 1998, outros empregados da McDonald’s, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.
As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório.
Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros que este ou aquele banco oferece.
Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados.
As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário.
A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes.
As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam veem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios [casebres], a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram.
Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam “porque as pessoas têm o gosto de juntar-se”. Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas?
O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de ônibus e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.
O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante.
A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça.
Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas.
A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera.
O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo?
A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta.
A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.
Fonte: Envolverde
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
O fast-food na sociedade consumista
Fast food" é caminho rápido para obesidade e Alzheimer
As gorduras industrializadas, o açúcar e o sal presentes em altas doses nesses alimentos aumentam o risco de obesidade, doenças cardíacas, elevam o nível de colesterol e podem ocasionar o entupimento de veias e artérias.
As saladas oferecidas pelas cadeias de restaurantes de fast-food devem ser uma alternativa esporádica. Além de serem desequilibradas do ponto de vista nutritivo, os cuidados com a lavagem e conservação às vezes deixam a desejar.
Como afirma Eduardo Galeano:
“Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food.”
As gorduras industrializadas, o açúcar e o sal presentes em altas doses nesses alimentos aumentam o risco de obesidade, doenças cardíacas, elevam o nível de colesterol e podem ocasionar o entupimento de veias e artérias.
As saladas oferecidas pelas cadeias de restaurantes de fast-food devem ser uma alternativa esporádica. Além de serem desequilibradas do ponto de vista nutritivo, os cuidados com a lavagem e conservação às vezes deixam a desejar.
Como afirma Eduardo Galeano:
“Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um patrimônio coletivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos.
Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hambúrguer, a ditadura do fast food.”
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Tempos Modernos e Elogio da Dialética
Tempos Modernos
Elogio da Dialética
A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
Por Bertold Brecht - 1898 - 1956 -Alemanha
Elogio da Dialética
A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
Por Bertold Brecht - 1898 - 1956 -Alemanha
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
A Morte em Veneza
O romance
A Morte em Veneza (no original em alemão Der Tod in Venedig) é uma novela escrita por Thomas Mann e publicada pela primeira vez em 1912.
O enredo versa sobre um homem de meia-idade que viaja até Veneza, apaixona-se platonicamente por um jovem rapaz polaco extremamente atraente e morre sem sequer ter trocado uma palavra com ele.
A homossexualidade em A Morte em Veneza não seria o foco principal mas sim o próprio sonho da beleza.
De A Morte em Veneza: “Ele era mais bonito do que as palavras podiam exprimir, e Aschenbach (o homem de meia-idade) sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...) Tadzio (o rapaz polaco) sorriu; (...) E recostando-se, com os braços caídos, transbordando de emoção, tremendo repetidamente, segredou a formulação tradicional do desejo - impossível, absurda, abjecta, idiota mas sagrada, e mesmo neste caso honrada: "Amo-te!"
A trilha sonora
Adagietto. VENISE
Gustave MAHLER Symphonie N°5
O filme
Morte em Veneza
título original: Morte a Venezia
lançamento: 1971 (Itália)
direção:Luchino Visconti
atores:Dirk Bogarde, Mark Burns, Marisa Berenson, Carole André.
duração: 130 min
gênero: Drama
A Morte em Veneza (no original em alemão Der Tod in Venedig) é uma novela escrita por Thomas Mann e publicada pela primeira vez em 1912.
O enredo versa sobre um homem de meia-idade que viaja até Veneza, apaixona-se platonicamente por um jovem rapaz polaco extremamente atraente e morre sem sequer ter trocado uma palavra com ele.
A homossexualidade em A Morte em Veneza não seria o foco principal mas sim o próprio sonho da beleza.
De A Morte em Veneza: “Ele era mais bonito do que as palavras podiam exprimir, e Aschenbach (o homem de meia-idade) sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...) Tadzio (o rapaz polaco) sorriu; (...) E recostando-se, com os braços caídos, transbordando de emoção, tremendo repetidamente, segredou a formulação tradicional do desejo - impossível, absurda, abjecta, idiota mas sagrada, e mesmo neste caso honrada: "Amo-te!"
A trilha sonora
Adagietto. VENISE
Gustave MAHLER Symphonie N°5
O filme
Morte em Veneza
título original: Morte a Venezia
lançamento: 1971 (Itália)
direção:Luchino Visconti
atores:Dirk Bogarde, Mark Burns, Marisa Berenson, Carole André.
duração: 130 min
gênero: Drama
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Como rico sofre!
Dinheiro não traz felicidade.
Quantas vezes ouvimos ou lemos algo assim? Qual a função do provérbio numa sociedade?
Leia o texto abaixo. Reflita. Conclua.
O estudo foi realizado em Portugal mas é possível estabelecermos comparação com outros países.
Esta pobre gente rica...
“Que os ricos vivem muito melhor do que nós era dado assente. O provérbio, absurdo, de que o dinheiro não traz felicidade constituía o resignado encosto com que soluçamos as nossas mágoas, desilusões e ressentimentos. Claro que somos ressentidos e rancorosos. As nossas raivas procedem das desigualdades afrontosas com que, desde muito cedo, nos deparamos. A frase, cabisbaixa, segundo a qual haverá sempre ricos e pobres tem servido a uns e amarfanhado a outros. De vez em quando servem-nos umas migalhas e atenuamos as nossas dores com essas módicas felicidades.
Um estudo, "Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde", do sociólogo Ricardo Antunes, de que o Público deu notícia pormenorizada, indica, com dados evidentemente probatórios, que "os ricos vivem mais dez anos do que os pobres". As dificuldades, os problemas insanos, a incultura, a iliteracia, a falta de relações sociais, a ausência de perspectivas pertencem ao rol das misérias com que se debate a esmagadora maioria dos cidadãos.
Os operários, por exemplo, morrem mais cedo do que os profissionais ditos qualificados, os "quadros", os "gestores", os professores, os advogados. Os números estarrecem. E demonstram uma peculiar associação entre a identidade dominante e a servidão e o totalitarismo. As nossas democracias, tão incensadas nas virtualidades essenciais, têm cada vez mais tendência para se esvaziar de sentido e de objectivo, transformando-se em "democracias de superfície".
A moral do nosso tempo absorve a personalidade individual, limita-lhe a vida, coarcta-lhe a existência, e faz do homem um ser absolutamente controlado. O medo, que invadiu e se instalou nas sociedades ditas modernas, é o coercivo processo de intimidação e de domínio que faz de nós pessoas recalcadas e infelizes. O medo de perder o emprego, o medo de perder a saúde, o medo compacto e abusivo de desagradar ao patrão, o medo da velhice, o medo da solidão, são os medos impostos pelas classes dominantes como construção permanente.
O documento de Ricardo Antunes, pela sua natureza, merecia uma expansão maior. E, acaso, suscitaria uma discussão mais alargada, com um tratamento jornalístico adequado à novidade e características do tema. As televisões, que se acotovelam com o crime de Nova Iorque, que praticamente ignoraram a morte de Vítor Alves, grande "capitão de Abril"; que carpem doridos queixumes com a ida embora de um Liedson e as declarações de um Costinha, remetem para os fojos das suas ignorâncias o que, na realidade, diz respeito ao nosso viver comum.
Estamos a ser definidos pelos outros, estamos a ser espoliados das nossas pessoais identidades, estamos a ser manipulados, manobrados, dirigidos, orientados, indiferentes ao facto de estarmos a ser reduzidos nas nossas liberdades.
Querem mais? “
BAPTISTA-BASTOS
Fonte: Diário de Notícias
Quantas vezes ouvimos ou lemos algo assim? Qual a função do provérbio numa sociedade?
Leia o texto abaixo. Reflita. Conclua.
O estudo foi realizado em Portugal mas é possível estabelecermos comparação com outros países.
Esta pobre gente rica...
“Que os ricos vivem muito melhor do que nós era dado assente. O provérbio, absurdo, de que o dinheiro não traz felicidade constituía o resignado encosto com que soluçamos as nossas mágoas, desilusões e ressentimentos. Claro que somos ressentidos e rancorosos. As nossas raivas procedem das desigualdades afrontosas com que, desde muito cedo, nos deparamos. A frase, cabisbaixa, segundo a qual haverá sempre ricos e pobres tem servido a uns e amarfanhado a outros. De vez em quando servem-nos umas migalhas e atenuamos as nossas dores com essas módicas felicidades.
Um estudo, "Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde", do sociólogo Ricardo Antunes, de que o Público deu notícia pormenorizada, indica, com dados evidentemente probatórios, que "os ricos vivem mais dez anos do que os pobres". As dificuldades, os problemas insanos, a incultura, a iliteracia, a falta de relações sociais, a ausência de perspectivas pertencem ao rol das misérias com que se debate a esmagadora maioria dos cidadãos.
Os operários, por exemplo, morrem mais cedo do que os profissionais ditos qualificados, os "quadros", os "gestores", os professores, os advogados. Os números estarrecem. E demonstram uma peculiar associação entre a identidade dominante e a servidão e o totalitarismo. As nossas democracias, tão incensadas nas virtualidades essenciais, têm cada vez mais tendência para se esvaziar de sentido e de objectivo, transformando-se em "democracias de superfície".
A moral do nosso tempo absorve a personalidade individual, limita-lhe a vida, coarcta-lhe a existência, e faz do homem um ser absolutamente controlado. O medo, que invadiu e se instalou nas sociedades ditas modernas, é o coercivo processo de intimidação e de domínio que faz de nós pessoas recalcadas e infelizes. O medo de perder o emprego, o medo de perder a saúde, o medo compacto e abusivo de desagradar ao patrão, o medo da velhice, o medo da solidão, são os medos impostos pelas classes dominantes como construção permanente.
O documento de Ricardo Antunes, pela sua natureza, merecia uma expansão maior. E, acaso, suscitaria uma discussão mais alargada, com um tratamento jornalístico adequado à novidade e características do tema. As televisões, que se acotovelam com o crime de Nova Iorque, que praticamente ignoraram a morte de Vítor Alves, grande "capitão de Abril"; que carpem doridos queixumes com a ida embora de um Liedson e as declarações de um Costinha, remetem para os fojos das suas ignorâncias o que, na realidade, diz respeito ao nosso viver comum.
Estamos a ser definidos pelos outros, estamos a ser espoliados das nossas pessoais identidades, estamos a ser manipulados, manobrados, dirigidos, orientados, indiferentes ao facto de estarmos a ser reduzidos nas nossas liberdades.
Querem mais? “
BAPTISTA-BASTOS
Fonte: Diário de Notícias
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Veneza e suas batalhas contra as pestes
Como é Veneza?
Para mim e muitas pessoas única, linda e apaixonante!
Mas enfrentou batalhas ferozes contra as pestes. Durante a pior época da Peste Negra, 600 pessoas morriam diariamente.
"Por ser um porto, Veneza revelou-se muito vulnerável às pestes. Em 1348, 1575 e 1630 a cidade perdeu um terço da população. A última epidemia ceifou 50.000 vidas entre Julho de 1630 e Outubro de 1631. Os venezianos eram saudavelmente cépticos (desprezavam a Inquisição, e protegiam os judeus em troca de impostos asfixiantes), mas não totalmente incapazes de um sincero arrependimento, se avistassem na laguna a barca de Caronte. A igreja do Redentor *1, que observamos abaixo,na imagem de Canaletto ,foi desenhada por Palladio para celebrar o fim da mortandade de 1575 e a de Santa Maria da Saúde *2
por Baldassare Longhena, para cumprir uma promessa feita pelo Senado durante a peste de 1630. A primeira é um marco do neoclassicismo, a segunda do Barroco Romano, à Bernini. John Ruskin, para quem a arte veneziana começava no periodo Bizantino e acabava no Gótico, disse mal de ambas por uma questão de princípio."
Fonte: regressoaveneza
*1 - O seu nome completo é Chiesa del Santissimo Redentore, projetada por Andrea Palladio no século XVI e situada na ilha da Giudecca, em Veneza.
*2 - Santa Maria della Salude é uma basílica de Veneza, que se ergue perto da da Punta della Dogana (Ponta da Alfândega.
Para mim e muitas pessoas única, linda e apaixonante!
Mas enfrentou batalhas ferozes contra as pestes. Durante a pior época da Peste Negra, 600 pessoas morriam diariamente.
"Por ser um porto, Veneza revelou-se muito vulnerável às pestes. Em 1348, 1575 e 1630 a cidade perdeu um terço da população. A última epidemia ceifou 50.000 vidas entre Julho de 1630 e Outubro de 1631. Os venezianos eram saudavelmente cépticos (desprezavam a Inquisição, e protegiam os judeus em troca de impostos asfixiantes), mas não totalmente incapazes de um sincero arrependimento, se avistassem na laguna a barca de Caronte. A igreja do Redentor *1, que observamos abaixo,na imagem de Canaletto ,foi desenhada por Palladio para celebrar o fim da mortandade de 1575 e a de Santa Maria da Saúde *2
por Baldassare Longhena, para cumprir uma promessa feita pelo Senado durante a peste de 1630. A primeira é um marco do neoclassicismo, a segunda do Barroco Romano, à Bernini. John Ruskin, para quem a arte veneziana começava no periodo Bizantino e acabava no Gótico, disse mal de ambas por uma questão de princípio."
Fonte: regressoaveneza
*1 - O seu nome completo é Chiesa del Santissimo Redentore, projetada por Andrea Palladio no século XVI e situada na ilha da Giudecca, em Veneza.
*2 - Santa Maria della Salude é uma basílica de Veneza, que se ergue perto da da Punta della Dogana (Ponta da Alfândega.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
Três músicas numa sexta-feira
Joe Hisaishi - Piano and Nine Cellos - Madness
Nina Simone - Ain't Got No...I've Got Life
Rosa Lópes - "Que viva España" junto a Manolo Escobar y Diana Navarro
Nina Simone - Ain't Got No...I've Got Life
Rosa Lópes - "Que viva España" junto a Manolo Escobar y Diana Navarro
Praga
Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece. Franz Kafka
Praga, capital da República Checa e também da denominada Boêmia Central, possui um valioso patrimônio arquitetônico, artístico e cultural. Estende-se a ambos os lados do rio Moldava e desde tempos remotos tem sido o ponto de encontro de diferentes etnias. A cidade albergou ou foi berço de personagens tais como Dientzenhofer, Albert Eisten, Mozart, Dvorak, Smetan, Hasek e Kafka.
Praga sobreviveu através dos séculos a guerras e calamidades.
É chamada de Cidade Mágica, Cidade de Ouro, Cidade das Cem Torres ou Paris do Leste.
Título: Cristales de bohemia
Año: 2009
Letra: Joaquín Sabina y Benjamín Prado
Música: Joaquín Sabina, Pancho Varona y Antonio García de Diego
Disco: Vinagre y Rosas (2009)
Fotos:1 e 2 - acervo pessoal
Praga, capital da República Checa e também da denominada Boêmia Central, possui um valioso patrimônio arquitetônico, artístico e cultural. Estende-se a ambos os lados do rio Moldava e desde tempos remotos tem sido o ponto de encontro de diferentes etnias. A cidade albergou ou foi berço de personagens tais como Dientzenhofer, Albert Eisten, Mozart, Dvorak, Smetan, Hasek e Kafka.
Praga sobreviveu através dos séculos a guerras e calamidades.
É chamada de Cidade Mágica, Cidade de Ouro, Cidade das Cem Torres ou Paris do Leste.
Título: Cristales de bohemia
Año: 2009
Letra: Joaquín Sabina y Benjamín Prado
Música: Joaquín Sabina, Pancho Varona y Antonio García de Diego
Disco: Vinagre y Rosas (2009)
Fotos:1 e 2 - acervo pessoal
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Anna and Bella
Uma emotiva e divertida curta, onde duas irmãs recordam o passado em conjunto, tomando um agradável copo de vinho e vendo velhas fotografias.
"Two sisters look back on their life together. " - Borge Ring (1984)
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Estará o Egito diante de uma classe dominante transnacional?
Impressionante a garra desse povo!
Mas estará em curso uma perpetuação dos privilégios de uma classe dominante transnacional?
Robert Fisk: Egito, 3ª semana, 16º dia, mas o monstro ainda vive
por Robert Fisk, The Independent, UK
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Dezenas de milhares de manifestantes anti-Mubarak sacudiam as bandeiras nacionais e reuniam-se para o 15º dia consecutivo de manifestações na praça Tahrir no centro do Cairo, dia 8/2/2011, exigindo a saída do depauperado presidente Hosni Mubarak.
Velho, o sangue fica escuro, marrom. As revoluções não. Numa esquina da praça, há farrapos, restos das roupas usadas pelos mártires de Tahrir: entre eles, um médico, um advogado, uma moça, suas fotografias carregadas como troféus pela multidão, o tecido das camisetas e calças manchadas de marrom escuro. Ontem, a multidão homenageou seus mortos, desfilando, às centenas de milhares, na maior manifestação até agora contra a ditadura de Hosni Mubarak, gente suada, aos gritos,empurrões, lágrimas, impaciente, temerosa de que o mundo esqueça seu sacrifício e sua coragem. Demoramos três horas para conseguir chegar à praça, duas horas para atravessar um mar de corpos humanos e sair. Acima de nós, uma fotomontagem oscilava ao vento: uma cabeça de Hosni Mubarak aplicada sobre a foto terrível de Saddam Hussein com a corda da forca em volta do pescoço.
Levantes não seguem cronogramas. Mubarak tentará alguma vingança pela renovada manifestação de ontem, de frustração e ira contra seus 30 anos de governo.
Durante dois dias, o novo governo ‘de volta à normalidade’ tentou pintar uma imagem do Egito como nação que estaria voltando ao velho torpor da ditadura de sempre. Postos de gasolina funcionando, os obrigatórios engarrafamentos no trânsito, bancos abertos – embora só se permitam saques de pequenas quantias – lojas voltando aos negócios, ministros sentados frente às câmeras da televisão estatal, como instruídos pelo homem que quer manter-se rei por mais cinco meses, para impor ordem ao caos – único motivo alegado para agarrar-se tão alucinadamente ao poder.
Issam Etman provou que o rei errou. Empurrado e apertado pelos milhares que o cercavam, levava sobre os ombros a filhinha de cinco anos – Hadiga. “Estou aqui por causa dela” – gritava para ser ouvido acima das vozes da multidão. “Pela liberdade dela, quero que Mubarak se vá. Não sou pobre. Tenho uma empresa de transportes e um posto de gasolina. Está tudo parado e as coisas estão difíceis, mas não reclamo. Estou pagando meus empregados, mesmo sem trabalhar, do meu próprio bolso. Aqui, é questão de liberdade. A liberdade vale qualquer sacrifício.” Nos ombros de Issam Etman, seu pai, Hadiga assistia ao movimento épico daquela multidão em ação. Nenhuma aventura de Harry Potter algum dia superará essa experiência.
Muitos dos manifestantes – tantos, na noite passada, que a multidão chegava às pontes sobre o Nilo e avançava para outras praças no centro do Cairo – estavam ali pela primeira vez. Os soldados do 3º Exército do Egito pareciam poucos, 40 mil manifestantes para cada soldado, sentados nos tanques e carros blindados de transporte, sorrindo nervosos, cercados por velhos e jovens, homens e mulheres que escalavam os tanques, ou dormindo sobre a carroceria, a cabeça sobre as grandes engrenagens das esteiras. Uma força militar tornada impotente ante um exército popular.
Muitos disseram que vieram à praça, porque tiveram medo de que o mundo estivesse começando a desinteressar-se daquela luta, porque Mubarak continuava no palácio, porque nos últimos dias a multidão diminuíra, porque muitas das equipes de televisão haviam sumido à caça de outras tragédias e outros ditadores, porque se sentia no ar o cheiro da traição.
Se a República de Tahrir secar, acabou-se o despertar nacional. Mas ontem se viu que a revolução continua viva.
O único erro até agora subestimar a capacidade de sobrevivência também do regime, de ele vencer a indignação das ruas, de fazer desligar as câmeras de televisão, de calar a única voz dessa multidão – os jornalistas – e de persuadir os velhos inimigos da revolução, os ‘moderados’ que o ocidente tanto ama, a esquecer as reivindicações do povo na praça.
O que são cinco meses, se o velho partir em setembro? Até Amr Moussa, o mais respeitado dos favoritos dos egípcios, já começa a admitir que Mubarak complete o mandato. E, de fato, é bem frágil a compreensão política dessa massa ingênua e sem liderança.
Os governos plantam para eles mesmos raízes de aço. Quando os sírios deixaram o Líbano em 2005, os libaneses supunham que bastaria levantar a cabeça, mandar embora os soldados e os agentes de inteligência. Mas lembro com que surpresa todos nós descobrimos o quanto ia fundo o comando sírio sobre o Líbano. Como se se tivessem plantado muito profundamente na terra, até o âmago, na rocha viva. Os assassinatos prosseguiram. E é assim, também no Egito. Os bandidos mantidos pelo ministério do Interior, a polícia política, o ditador que lhes dá ordens continuam ativos e operantes – e se uma cabeça rolar, outras serão coladas nos retratos oficiais, para ordenar que aquelas polícias cruéis voltem às ruas.
Vários egípcios – encontrei um ontem à noite, meu amigo –, ricos e apoiadores sinceros do movimento democrático, que querem o fim da ditadura de Mubarak, mas temem que, se Mubarak partir agora, os militares conseguirão impor suas próprias leis de exceção, antes mesmo de que o país discuta qualquer reforma.
“Quero que as reformas estejam votadas e aprovadas, antes que o velho deixe o palácio” – disse o meu amigo. “Se ele sair agora, ninguém que o substitua terá qualquer obrigação de promover reformas. As reformas têm de ser decididas e aprovadas agora, e rapidamente – reforma do Legislativo, do Judiciário, a reforma da Constituição, a questão das eleições e do mandato presidencial. No instante em que Mubarak se for, o primeiro general que se apresentar, com divisas no ombro, dirá “Pronto. Queriam que o presidente se fosse, e ele foi-se. Agora, voltem para casa.” E ficaremos sob o governo de uma junta militar por mais cinco anos. O melhor é Mubarak ficar até setembro.”
Mas é fácil demais acusar as centenas de milhares de egípcios que pedem democracia, de ingenuidade, de falta de astúcia política, de excessiva confiança na Internet, no Facebook. De fato, é cada dia mais evidente que a “realidade virtual” ganhou plena realidade para os jovens egípcios que criam mais na tela que na rua – e que, quando tomaram as ruas, sofreram choque intenso no contato com a violência do regime e com a força brutal, física, sempre renovada do Estado. Seja como for, o contato físico com qualquer nova liberdade é embriagador.
Como um povo que só conhece a ditadura, há tanto tempo, planejará sua revolução? No ocidente, tendemos a esquecer essa dificuldade. Vivemos tão fortemente institucionalizados, que tudo, no nosso futuro está programado.
O Egito é uma tempestade sem direção, uma avalanche, uma inundação de manifestação popular que não cabe perfeitamente nos nossos livros de história revolucionária nem em nossa meteorologia política.
Todas as revoluções têm seus mártires e os rostos de Ahmed Bassiouni e da jovem Sally Zahrani e de Moahmoud Mohamed Hassan flutuam em cartazes sobre a praça, ao lado de fotos de cabeças horrivelmente mutiladas, com a palavra “não identificado” escrita abaixo da foto com aterradora objetividade. Se a multidão deixar a praça Tahrir agora, esses mortos terão sido traídos. E se acreditarmos na teoria do ‘ou Mubarak ou o caos’ que ainda domina Washington e Londres e Paris, também trairemos a natureza civilizada, secular, democrática desse grande protesto.
O stalinismo assustador do prédios do Mugamma [lit. “combinado”; é o conjunto de prédios onde funciona o governo do Egito, na parte sul da praça (ar. Midan) Tahrir (NTs)], onde tremula também a bandeira da patética Liga Árabe; o Museu do Cairo, guardado por militares, onde repousa a máscara de ouro de Tutankhamen – símbolo do poder passado do Egito; esse é o cenário completo no qual nasce a República de Tahrir.
3ª semana – 16º dia – já sem o romance e a promessa do “Dia de Fúria” e das grandes batalhas contra os bandidos do ministério do Interior de Mubarak, e o momento, faz apenas uma semana, quando o exército desobedeceu a ordem de Mubarak para esmagar, literalmente, o povo na praça.
Haverá 6ª semana, algum 32º dia? As câmeras de televisão ficarão aqui? E o povo? E nós? Ontem, outra vez, nossas previsões foram derrotadas. Mas será que os egípcios lembrarão que as unhas de aço da ditadura estão plantadas muito fundas na areia, mais fundas que as pirâmides, mais poderosas que qualquer ideologia? Ainda não vimos o corpo inteiro do monstro. Nem a extensão de sua vingança.
Fonte: Vi o Mundo
Mas estará em curso uma perpetuação dos privilégios de uma classe dominante transnacional?
Robert Fisk: Egito, 3ª semana, 16º dia, mas o monstro ainda vive
por Robert Fisk, The Independent, UK
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Dezenas de milhares de manifestantes anti-Mubarak sacudiam as bandeiras nacionais e reuniam-se para o 15º dia consecutivo de manifestações na praça Tahrir no centro do Cairo, dia 8/2/2011, exigindo a saída do depauperado presidente Hosni Mubarak.
Velho, o sangue fica escuro, marrom. As revoluções não. Numa esquina da praça, há farrapos, restos das roupas usadas pelos mártires de Tahrir: entre eles, um médico, um advogado, uma moça, suas fotografias carregadas como troféus pela multidão, o tecido das camisetas e calças manchadas de marrom escuro. Ontem, a multidão homenageou seus mortos, desfilando, às centenas de milhares, na maior manifestação até agora contra a ditadura de Hosni Mubarak, gente suada, aos gritos,empurrões, lágrimas, impaciente, temerosa de que o mundo esqueça seu sacrifício e sua coragem. Demoramos três horas para conseguir chegar à praça, duas horas para atravessar um mar de corpos humanos e sair. Acima de nós, uma fotomontagem oscilava ao vento: uma cabeça de Hosni Mubarak aplicada sobre a foto terrível de Saddam Hussein com a corda da forca em volta do pescoço.
Levantes não seguem cronogramas. Mubarak tentará alguma vingança pela renovada manifestação de ontem, de frustração e ira contra seus 30 anos de governo.
Durante dois dias, o novo governo ‘de volta à normalidade’ tentou pintar uma imagem do Egito como nação que estaria voltando ao velho torpor da ditadura de sempre. Postos de gasolina funcionando, os obrigatórios engarrafamentos no trânsito, bancos abertos – embora só se permitam saques de pequenas quantias – lojas voltando aos negócios, ministros sentados frente às câmeras da televisão estatal, como instruídos pelo homem que quer manter-se rei por mais cinco meses, para impor ordem ao caos – único motivo alegado para agarrar-se tão alucinadamente ao poder.
Issam Etman provou que o rei errou. Empurrado e apertado pelos milhares que o cercavam, levava sobre os ombros a filhinha de cinco anos – Hadiga. “Estou aqui por causa dela” – gritava para ser ouvido acima das vozes da multidão. “Pela liberdade dela, quero que Mubarak se vá. Não sou pobre. Tenho uma empresa de transportes e um posto de gasolina. Está tudo parado e as coisas estão difíceis, mas não reclamo. Estou pagando meus empregados, mesmo sem trabalhar, do meu próprio bolso. Aqui, é questão de liberdade. A liberdade vale qualquer sacrifício.” Nos ombros de Issam Etman, seu pai, Hadiga assistia ao movimento épico daquela multidão em ação. Nenhuma aventura de Harry Potter algum dia superará essa experiência.
Muitos dos manifestantes – tantos, na noite passada, que a multidão chegava às pontes sobre o Nilo e avançava para outras praças no centro do Cairo – estavam ali pela primeira vez. Os soldados do 3º Exército do Egito pareciam poucos, 40 mil manifestantes para cada soldado, sentados nos tanques e carros blindados de transporte, sorrindo nervosos, cercados por velhos e jovens, homens e mulheres que escalavam os tanques, ou dormindo sobre a carroceria, a cabeça sobre as grandes engrenagens das esteiras. Uma força militar tornada impotente ante um exército popular.
Muitos disseram que vieram à praça, porque tiveram medo de que o mundo estivesse começando a desinteressar-se daquela luta, porque Mubarak continuava no palácio, porque nos últimos dias a multidão diminuíra, porque muitas das equipes de televisão haviam sumido à caça de outras tragédias e outros ditadores, porque se sentia no ar o cheiro da traição.
Se a República de Tahrir secar, acabou-se o despertar nacional. Mas ontem se viu que a revolução continua viva.
O único erro até agora subestimar a capacidade de sobrevivência também do regime, de ele vencer a indignação das ruas, de fazer desligar as câmeras de televisão, de calar a única voz dessa multidão – os jornalistas – e de persuadir os velhos inimigos da revolução, os ‘moderados’ que o ocidente tanto ama, a esquecer as reivindicações do povo na praça.
O que são cinco meses, se o velho partir em setembro? Até Amr Moussa, o mais respeitado dos favoritos dos egípcios, já começa a admitir que Mubarak complete o mandato. E, de fato, é bem frágil a compreensão política dessa massa ingênua e sem liderança.
Os governos plantam para eles mesmos raízes de aço. Quando os sírios deixaram o Líbano em 2005, os libaneses supunham que bastaria levantar a cabeça, mandar embora os soldados e os agentes de inteligência. Mas lembro com que surpresa todos nós descobrimos o quanto ia fundo o comando sírio sobre o Líbano. Como se se tivessem plantado muito profundamente na terra, até o âmago, na rocha viva. Os assassinatos prosseguiram. E é assim, também no Egito. Os bandidos mantidos pelo ministério do Interior, a polícia política, o ditador que lhes dá ordens continuam ativos e operantes – e se uma cabeça rolar, outras serão coladas nos retratos oficiais, para ordenar que aquelas polícias cruéis voltem às ruas.
Vários egípcios – encontrei um ontem à noite, meu amigo –, ricos e apoiadores sinceros do movimento democrático, que querem o fim da ditadura de Mubarak, mas temem que, se Mubarak partir agora, os militares conseguirão impor suas próprias leis de exceção, antes mesmo de que o país discuta qualquer reforma.
“Quero que as reformas estejam votadas e aprovadas, antes que o velho deixe o palácio” – disse o meu amigo. “Se ele sair agora, ninguém que o substitua terá qualquer obrigação de promover reformas. As reformas têm de ser decididas e aprovadas agora, e rapidamente – reforma do Legislativo, do Judiciário, a reforma da Constituição, a questão das eleições e do mandato presidencial. No instante em que Mubarak se for, o primeiro general que se apresentar, com divisas no ombro, dirá “Pronto. Queriam que o presidente se fosse, e ele foi-se. Agora, voltem para casa.” E ficaremos sob o governo de uma junta militar por mais cinco anos. O melhor é Mubarak ficar até setembro.”
Mas é fácil demais acusar as centenas de milhares de egípcios que pedem democracia, de ingenuidade, de falta de astúcia política, de excessiva confiança na Internet, no Facebook. De fato, é cada dia mais evidente que a “realidade virtual” ganhou plena realidade para os jovens egípcios que criam mais na tela que na rua – e que, quando tomaram as ruas, sofreram choque intenso no contato com a violência do regime e com a força brutal, física, sempre renovada do Estado. Seja como for, o contato físico com qualquer nova liberdade é embriagador.
Como um povo que só conhece a ditadura, há tanto tempo, planejará sua revolução? No ocidente, tendemos a esquecer essa dificuldade. Vivemos tão fortemente institucionalizados, que tudo, no nosso futuro está programado.
O Egito é uma tempestade sem direção, uma avalanche, uma inundação de manifestação popular que não cabe perfeitamente nos nossos livros de história revolucionária nem em nossa meteorologia política.
Todas as revoluções têm seus mártires e os rostos de Ahmed Bassiouni e da jovem Sally Zahrani e de Moahmoud Mohamed Hassan flutuam em cartazes sobre a praça, ao lado de fotos de cabeças horrivelmente mutiladas, com a palavra “não identificado” escrita abaixo da foto com aterradora objetividade. Se a multidão deixar a praça Tahrir agora, esses mortos terão sido traídos. E se acreditarmos na teoria do ‘ou Mubarak ou o caos’ que ainda domina Washington e Londres e Paris, também trairemos a natureza civilizada, secular, democrática desse grande protesto.
O stalinismo assustador do prédios do Mugamma [lit. “combinado”; é o conjunto de prédios onde funciona o governo do Egito, na parte sul da praça (ar. Midan) Tahrir (NTs)], onde tremula também a bandeira da patética Liga Árabe; o Museu do Cairo, guardado por militares, onde repousa a máscara de ouro de Tutankhamen – símbolo do poder passado do Egito; esse é o cenário completo no qual nasce a República de Tahrir.
3ª semana – 16º dia – já sem o romance e a promessa do “Dia de Fúria” e das grandes batalhas contra os bandidos do ministério do Interior de Mubarak, e o momento, faz apenas uma semana, quando o exército desobedeceu a ordem de Mubarak para esmagar, literalmente, o povo na praça.
Haverá 6ª semana, algum 32º dia? As câmeras de televisão ficarão aqui? E o povo? E nós? Ontem, outra vez, nossas previsões foram derrotadas. Mas será que os egípcios lembrarão que as unhas de aço da ditadura estão plantadas muito fundas na areia, mais fundas que as pirâmides, mais poderosas que qualquer ideologia? Ainda não vimos o corpo inteiro do monstro. Nem a extensão de sua vingança.
Fonte: Vi o Mundo
O Brasil ainda precisa de Paulo Freire
Paulo Freire é mais reconhecido no exterior, ainda nos dias atuais, do que aqui no Brasil.
Nossa estreita mentalidade colonial possui a tendência de "copiar" e mal o que vem de fora. Santo de casa não faz milagre já dizia um ditado popular.
Há 50 anos, Paulo Freire tentou transformar o país
Grande figura humanista era o educador Paulo Freire, que há 50 anos, em comunidades localizadas no interior de Pernambuco e também em áreas populares de Recife, tentou efetivar um processo de transformação social do Brasil.
Ele era formado em direito pela Universidade do Recife, mas preferiu ser educador. Num método bem simples, mas também revolucionário.
Era um processo que, aparentemente, parecia improvisado. Mas não era. Consistia num grupo de educadores e pesquisadores se instalarem numa comunidade popular e, assim, observar as falas, os hábitos, costumes, crenças, rituais e outros aspectos comunitários.
A partir de dados colhidos, eles elaborariam um repertório de palavras básicas, denominadas "temas geradores", que seriam ensinados nas aulas a serem realizadas. Cada palavra era dividida em fonemas, e estes eram inseridos em famílias silábicas, que, agrupadas, serviam para estimular os educandos (como eram chamados os alunos, diante dos mestres que eram chamados de educadores-animadores) a formarem novas palavras, a partir da experiência oral cotidiana.
Por exemplo, a palavra "trabalho" era dividida em três sílabas: TRA-BA-LHO.
A partir daí, as sílabas eram inseridas em famílias silábicas da seguinte forma:
TRA - TRE - TRI - TRO - TRU
BA - BE - BI - BO - BU
LHA - LHE - LHI - LHO - LHU
Com isso, o educador-animador (Freire preferia não chamá-lo de "professor") estimulava os educandos a criarem novas palavras a partir desses grupos de sílabas.
Com isso, a partir da livre escolha dos educandos, palavras como "bolha", "tralha", "trilho" e "tribo" eram também aprendidas, a partir das referidas famílias silábicas onde se insere o tema gerador "trabalho".
Depois eram feitos exercícios de redação, após aprendido um repertório significativo de palavras. A partir daí, estimulava-se os educandos a escrever sobre suas próprias experiências. Podia ser a brincadeira de um grupo de crianças, mas podia ser também a realidade opressora do trabalho alienado. Mas era sempre algum fato ligado ao cotidiano vivenciado pelos educandos.
Um político do Rio Grande do Norte, em 1963, apresentou Paulo Freire ao presidente João Goulart. O político, entusiasmado, afirmou que, com o Método Paulo Freire, o mapa eleitoral do Brasil mudaria drasticamente. Freire se tornava cada vez mais conhecido pelo seu projeto, que rompia com a relação hierárquica entre professor e aluno e fazia os professores também aprenderem com os alunos, através da realidade comunitária.
Freire não pode levar seu projeto adiante porque veio o golpe militar, a ditadura e o fim de qualquer experiência de progresso social. Freire foi ser brasileiro fora do seu país, e em outros países, implantou seu método, o que resultou no reconhecimento a sua obra.
Depois, com a redemocratização, algumas comunidades até tentaram implantar o Método Paulo Freire. Mas os estragos da ditadura militar foram muito fortes para que a transformação antes imaginada seja continuada.
Por isso vale estudarmos, apreciarmos e até debatermos Paulo Freire e sua obra. Porque o Brasil continua precisando dele, 14 anos após seu falecimento. Sua simplicidade e sabedoria foram uma grande contribuição para a cultura popular, sempre respeitando a inteligência das classes mais pobres e procurando melhorá-la e livrá-la do jugo do coronelismo opressor."
Fonte: Blog Mingau de Aço
Há 50 anos, Paulo Freire tentou transformar o país
Grande figura humanista era o educador Paulo Freire, que há 50 anos, em comunidades localizadas no interior de Pernambuco e também em áreas populares de Recife, tentou efetivar um processo de transformação social do Brasil.
Ele era formado em direito pela Universidade do Recife, mas preferiu ser educador. Num método bem simples, mas também revolucionário.
Era um processo que, aparentemente, parecia improvisado. Mas não era. Consistia num grupo de educadores e pesquisadores se instalarem numa comunidade popular e, assim, observar as falas, os hábitos, costumes, crenças, rituais e outros aspectos comunitários.
A partir de dados colhidos, eles elaborariam um repertório de palavras básicas, denominadas "temas geradores", que seriam ensinados nas aulas a serem realizadas. Cada palavra era dividida em fonemas, e estes eram inseridos em famílias silábicas, que, agrupadas, serviam para estimular os educandos (como eram chamados os alunos, diante dos mestres que eram chamados de educadores-animadores) a formarem novas palavras, a partir da experiência oral cotidiana.
Por exemplo, a palavra "trabalho" era dividida em três sílabas: TRA-BA-LHO.
A partir daí, as sílabas eram inseridas em famílias silábicas da seguinte forma:
TRA - TRE - TRI - TRO - TRU
BA - BE - BI - BO - BU
LHA - LHE - LHI - LHO - LHU
Com isso, o educador-animador (Freire preferia não chamá-lo de "professor") estimulava os educandos a criarem novas palavras a partir desses grupos de sílabas.
Com isso, a partir da livre escolha dos educandos, palavras como "bolha", "tralha", "trilho" e "tribo" eram também aprendidas, a partir das referidas famílias silábicas onde se insere o tema gerador "trabalho".
Depois eram feitos exercícios de redação, após aprendido um repertório significativo de palavras. A partir daí, estimulava-se os educandos a escrever sobre suas próprias experiências. Podia ser a brincadeira de um grupo de crianças, mas podia ser também a realidade opressora do trabalho alienado. Mas era sempre algum fato ligado ao cotidiano vivenciado pelos educandos.
Um político do Rio Grande do Norte, em 1963, apresentou Paulo Freire ao presidente João Goulart. O político, entusiasmado, afirmou que, com o Método Paulo Freire, o mapa eleitoral do Brasil mudaria drasticamente. Freire se tornava cada vez mais conhecido pelo seu projeto, que rompia com a relação hierárquica entre professor e aluno e fazia os professores também aprenderem com os alunos, através da realidade comunitária.
Freire não pode levar seu projeto adiante porque veio o golpe militar, a ditadura e o fim de qualquer experiência de progresso social. Freire foi ser brasileiro fora do seu país, e em outros países, implantou seu método, o que resultou no reconhecimento a sua obra.
Depois, com a redemocratização, algumas comunidades até tentaram implantar o Método Paulo Freire. Mas os estragos da ditadura militar foram muito fortes para que a transformação antes imaginada seja continuada.
Por isso vale estudarmos, apreciarmos e até debatermos Paulo Freire e sua obra. Porque o Brasil continua precisando dele, 14 anos após seu falecimento. Sua simplicidade e sabedoria foram uma grande contribuição para a cultura popular, sempre respeitando a inteligência das classes mais pobres e procurando melhorá-la e livrá-la do jugo do coronelismo opressor."
Fonte: Blog Mingau de Aço
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Educação e a Geração Y
“A especialização excessiva me parece um dos maiores obstáculos quando desejamos obter uma educação no sentido amplo da palavra. (...) Existe uma grande variedade de dons naturais entre os seres humanos e todos são válidos e até mesmo indispensáveis para o bem estar da humanidade. Mas esses dons são apenas potencialidades e não se tornam realidade efetiva a menos que sejam estimulados e treinados.” Toynbee
Como trabalhar em sala de aula nos dias atuais com a geração Y?
A escola seria, ainda nos dias atuais, um dos principais agentes de alienação cultural e conformação à ideologia dominante?
A conformidade e passividade frente aos mais grotescos absurdos, todo esse desrespeito às individualidades seria fruto de nossa desconfiada imaginação?
Educação e a Geração Y
"Howard Gardner, em seu livro O Verdadeiro, o Belo e o Bom, nos fala de seis grandes forças que estão influenciando a educação. Uma delas é a que aborda os aspectos sociais, culturais e pessoais. E talvez seja essa a força mais atuante e marcante.
Sociólogos e psicólogos mencionam o aparecimento da "Geração Y". São jovens de vinte e poucos anos (25, no máximo) com uma nova forma de ver e interagir com o mundo e com você, professor. Quer uma característica deles? Numa das modificações de comportamento mais surpreendentes das últimas décadas, os estudantes americanos (brasileiros também), que normalmente saíam de casa lá pelos 16 anos – e raramente retornavam – vêm mudando de atitude: não querem deixar de morar com os pais. Preferem o conforto e a segurança da casa de papai e mamãe. Outras características:
São conservadores: valorizam as tradições, concordam com a educação recebida dos pais e nem passa pela cabeça deles mudar o mundo.
Trabalham para viver. Não vivem para trabalhar.
São informais tanto no trabalho, ou seja, também na escola.
São imediatistas. Antigamente significa cinco anos atrás. O futuro é na próxima semana.
Essencialmente visuais, poderíamos classificá-los como "multimídia".
São altamente criativos. É sim senhor! O fundador do site de busca na Internet Aonde.com tinha apenas 16 anos e o vendeu por um milhão de dólares. Precisa mais?
Escrevo tudo isso para reforçar o fato de que precisamos ampliar nossa visão de mundo antes de só nos preocuparmos em oferecer uma aula melhor ou mais criativa. Ela assim se tornará se pudermos compreender o que se passa com a moçada que está diante de nós.
...
Fonte: Júlio Clebsch
Filme: The Wall
Pink Floyd
Direção: Alan Parker
Inglaterra - 1982
Como trabalhar em sala de aula nos dias atuais com a geração Y?
A escola seria, ainda nos dias atuais, um dos principais agentes de alienação cultural e conformação à ideologia dominante?
A conformidade e passividade frente aos mais grotescos absurdos, todo esse desrespeito às individualidades seria fruto de nossa desconfiada imaginação?
Educação e a Geração Y
"Howard Gardner, em seu livro O Verdadeiro, o Belo e o Bom, nos fala de seis grandes forças que estão influenciando a educação. Uma delas é a que aborda os aspectos sociais, culturais e pessoais. E talvez seja essa a força mais atuante e marcante.
Sociólogos e psicólogos mencionam o aparecimento da "Geração Y". São jovens de vinte e poucos anos (25, no máximo) com uma nova forma de ver e interagir com o mundo e com você, professor. Quer uma característica deles? Numa das modificações de comportamento mais surpreendentes das últimas décadas, os estudantes americanos (brasileiros também), que normalmente saíam de casa lá pelos 16 anos – e raramente retornavam – vêm mudando de atitude: não querem deixar de morar com os pais. Preferem o conforto e a segurança da casa de papai e mamãe. Outras características:
São conservadores: valorizam as tradições, concordam com a educação recebida dos pais e nem passa pela cabeça deles mudar o mundo.
Trabalham para viver. Não vivem para trabalhar.
São informais tanto no trabalho, ou seja, também na escola.
São imediatistas. Antigamente significa cinco anos atrás. O futuro é na próxima semana.
Essencialmente visuais, poderíamos classificá-los como "multimídia".
São altamente criativos. É sim senhor! O fundador do site de busca na Internet Aonde.com tinha apenas 16 anos e o vendeu por um milhão de dólares. Precisa mais?
Escrevo tudo isso para reforçar o fato de que precisamos ampliar nossa visão de mundo antes de só nos preocuparmos em oferecer uma aula melhor ou mais criativa. Ela assim se tornará se pudermos compreender o que se passa com a moçada que está diante de nós.
...
Fonte: Júlio Clebsch
Filme: The Wall
Pink Floyd
Direção: Alan Parker
Inglaterra - 1982
O Museu do Cairo e o vandalismo "voluntário"
Um rápido tour pelo Museu do Cairo
King Tut in Cairo Museum of Egyptian Antiquities
Difícil de acreditar mas é o Newsweek que afirma:
King Tut in Cairo Museum of Egyptian Antiquities
Difícil de acreditar mas é o Newsweek que afirma:
Nawal El-Saadawi: "Os voluntários que assaltam a multidão de manifestantes no Cairo receberam 50 libras e uma galinha cada um como incentivo pago pelo partido do presidente" (Newsweek)
Qual é o limite para a manutenção do Poder?
Qual é o limite para a manutenção do Poder?
Foto: acervo pessoal
domingo, 6 de fevereiro de 2011
A revolução de libertação árabe assinala o declínio do Ocidente?
"Não se deve, pois, deixar passar esta ocasião, a fim de que a Itália conheça, depois de tanto tempo, um seu redentor". MAQUIAVEL - O Príncipe
Ari Shavit no Haaretz*
“Dois tremendos processos estão a acontecer mesmo diante dos nossos olhos. Um é a revolução de libertação árabe (1). Depois de meio século durante o qual os tiranos governaram o mundo árabe, o seu controlo está enfraquecido. Depois de 40 anos de estabilidade decadente o apodrecimento está roer a estabilidade. As massas populares árabes não mais aceitarão o que habitualmente aceitavam. As elites árabes não mais permanecerão em silêncio (…)
O segundo processo é a aceleração do declínio do Ocidente. Por cerca de 60 anos o Ocidente deu ao mundo uma ordem imperfeita mas apesar de tudo uma estabilidade. Isso construiu uma espécie de Império pós-imperial que promete uma relativa calma e o máximo de paz. O despontar da China, Índia, Brasil e Rússia, assim como a crise económica nos Estados Unidos, torna claro que o Império está em principio de desmoronamento (…)
Ari Shavit no Haaretz*
“Dois tremendos processos estão a acontecer mesmo diante dos nossos olhos. Um é a revolução de libertação árabe (1). Depois de meio século durante o qual os tiranos governaram o mundo árabe, o seu controlo está enfraquecido. Depois de 40 anos de estabilidade decadente o apodrecimento está roer a estabilidade. As massas populares árabes não mais aceitarão o que habitualmente aceitavam. As elites árabes não mais permanecerão em silêncio (…)
O segundo processo é a aceleração do declínio do Ocidente. Por cerca de 60 anos o Ocidente deu ao mundo uma ordem imperfeita mas apesar de tudo uma estabilidade. Isso construiu uma espécie de Império pós-imperial que promete uma relativa calma e o máximo de paz. O despontar da China, Índia, Brasil e Rússia, assim como a crise económica nos Estados Unidos, torna claro que o Império está em principio de desmoronamento (…)
As cenas correntes são similares à Intifada Palestiniana em 1987, mas o colapso remete para o colapso soviético na Europa oriental em 1898. Ninguém sabe hoje onde a Intifada conduzirá. Ninguém sabe se ela trará democracia, teocracia, ou um novo modelo de democracia. Mas as coisas jamais serão iguais” (2)
* http://www.haaretz.com/print-edition/opinion/the-arab-revolution-and-western-decline-1.340967
Fonte: Xatoo
Uma carta de Dante
Maquiavel na estrada de Dante
Dois séculos depois, outro florentino, também desterrado, havia perdido as esperanças em qualquer príncipe estrangeiro. Para Maquiavel, a Itália estava sendo sistematicamente pilhada por reis franceses e espanhóis, conquistadores transalpinos que haviam submetido a própria Florença ao saque. Tal como nos tempos do ilustre poeta toscano, o país se encontrava dilacerado em suas lutas fratricidas, alimentadas pela rivalidade empresarial e comercial das cidades-estado, que a presença estrangeira acirrava ainda mais. As expectativas de Maquiavel voltavam-se para um tirano italiano, qualquer um que fosse, desde que pusesse fim à anarquia e "ao bárbaro domínio" dos reis transalpinos. No capítulo final de O Príncipe, de 1512, afirma que a Itália merecia "um seu redentor." Mas a península ainda teve que esperar muitos séculos para alcançar sua unidade.
Quando o fez, no século XIX, (a unidade Italiana foi celebrada em 1861) não foi por nenhum imperador gótico, como esperava Dante, ou por um tirano acima da lei, dotado de vontade de poder, como vaticinava Maquiavel, mas sim pelas mãos de um gorducho, insosso mas ardiloso, como Cavour.
Acontecerá no Egito o que Dante esperava para a Itália e não aconteceu? Será apenas uma redistribuição da ordem dominante ou uma nova organização segundo novas formas de perceber e agir no mundo?
* http://www.haaretz.com/print-edition/opinion/the-arab-revolution-and-western-decline-1.340967
Fonte: Xatoo
Uma carta de Dante
Maquiavel na estrada de Dante
Dois séculos depois, outro florentino, também desterrado, havia perdido as esperanças em qualquer príncipe estrangeiro. Para Maquiavel, a Itália estava sendo sistematicamente pilhada por reis franceses e espanhóis, conquistadores transalpinos que haviam submetido a própria Florença ao saque. Tal como nos tempos do ilustre poeta toscano, o país se encontrava dilacerado em suas lutas fratricidas, alimentadas pela rivalidade empresarial e comercial das cidades-estado, que a presença estrangeira acirrava ainda mais. As expectativas de Maquiavel voltavam-se para um tirano italiano, qualquer um que fosse, desde que pusesse fim à anarquia e "ao bárbaro domínio" dos reis transalpinos. No capítulo final de O Príncipe, de 1512, afirma que a Itália merecia "um seu redentor." Mas a península ainda teve que esperar muitos séculos para alcançar sua unidade.
Quando o fez, no século XIX, (a unidade Italiana foi celebrada em 1861) não foi por nenhum imperador gótico, como esperava Dante, ou por um tirano acima da lei, dotado de vontade de poder, como vaticinava Maquiavel, mas sim pelas mãos de um gorducho, insosso mas ardiloso, como Cavour.
Acontecerá no Egito o que Dante esperava para a Itália e não aconteceu? Será apenas uma redistribuição da ordem dominante ou uma nova organização segundo novas formas de perceber e agir no mundo?
Domingo à tarde
Por que Joaquín Sabina diz: "Yo no quiero domingos por la tarde"?
Domingo à tarde é entediante para a maioria das pessoas devido a determinadas circunstâncias,incluindo quebra ou presença de rotina ou é um estado de espírito?
Contigo
Intérprete:Joaquín Sabina
Letra: Joaquín Sabina
Música: Joaquín Sabina, Pancho Varona
Yo no quiero un amor civilizado,
con recibos y escena del sofá;
yo no quiero que viajes al pasado
y vuelvas del mercado
con ganas de llorar.
Yo no quiero vecínas con pucheros;
yo no quiero sembrar ni compartir;
yo no quiero catorce de febrero
Yo no quiero cargar con tus maletas;
yo no quiero que elijas mi champú;
yo no quiero mudarme de planeta,
cortarme la coleta,
brindar a tu salud.
Yo no quiero domingos por la tarde;
yo no quiero columpio en el jardin;
lo que yo quiero, corazón cobarde,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
Yo no quiero juntar para mañana,
no me pidas llegar a fin de mes;
yo no quiero comerme una manzana
dos veces por semana
sin ganas de comer.
Yo no quiero calor de invernadero;
yo no quiero besar tu cicatriz;
yo no quiero París con aguacero
ni Venecia sin tí.
No me esperes a las doce en el juzgado;
no me digas “volvamos a empezar”;
yo no quiero ni libre ni ocupado,
ni carne ni pecado,
ni orgullo ni piedad.
Yo no quiero saber por qué lo hiciste;
yo no quiero contigo ni sin ti;
lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
Domingo à tarde é entediante para a maioria das pessoas devido a determinadas circunstâncias,incluindo quebra ou presença de rotina ou é um estado de espírito?
Contigo
Intérprete:Joaquín Sabina
Letra: Joaquín Sabina
Música: Joaquín Sabina, Pancho Varona
Yo no quiero un amor civilizado,
con recibos y escena del sofá;
yo no quiero que viajes al pasado
y vuelvas del mercado
con ganas de llorar.
Yo no quiero vecínas con pucheros;
yo no quiero sembrar ni compartir;
yo no quiero catorce de febrero
Yo no quiero cargar con tus maletas;
yo no quiero que elijas mi champú;
yo no quiero mudarme de planeta,
cortarme la coleta,
brindar a tu salud.
Yo no quiero domingos por la tarde;
yo no quiero columpio en el jardin;
lo que yo quiero, corazón cobarde,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
Yo no quiero juntar para mañana,
no me pidas llegar a fin de mes;
yo no quiero comerme una manzana
dos veces por semana
sin ganas de comer.
Yo no quiero calor de invernadero;
yo no quiero besar tu cicatriz;
yo no quiero París con aguacero
ni Venecia sin tí.
No me esperes a las doce en el juzgado;
no me digas “volvamos a empezar”;
yo no quiero ni libre ni ocupado,
ni carne ni pecado,
ni orgullo ni piedad.
Yo no quiero saber por qué lo hiciste;
yo no quiero contigo ni sin ti;
lo que yo quiero, muchacha de ojos tristes,
es que mueras por mí.
Y morirme contigo si te matas
y matarme contigo si te mueres
porque el amor cuando no muere mata
porque amores que matan nunca mueren.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Porque hoje é sábado
Sábado à tarde -
Paulo de Carvalho
Perdia meia hora,
parado em frente ao espelho,
mudava de camisa...vestia-me outra vez.
Fechava a porta à chave... acendia um cigarro.
E ensaiando os gestos...passava já das 3,
vestia o meu casaco, corria sem parar
e à porta do cinema, morria de pensar,
que talvez não viesses,
não pudesses entrar...
num filme para adultos...até te ver chegar.
Perdia meia hora, num gesto do meu braço
a procurar coragem ...
para que fosse abraço.
Chegava o intervalo, fumava sem prazer
e os gestos que ensaiara, morriam ao nascer
por fim vencia o medo, quase sem te ver,
esquecia os meus dedos...
cansados de tremer...
por sobre o teu joelho...
esperando a tua mão...
num filme para adultos ...
crescíamos então...
(um beijo de paixão).
Sábado à tarde no cinema da avenida,
mal as luzes se apagavam...
acendia o coração...
Sábado à tarde... era uma noite bonita...
noite que sendo infinita ...
cabia na minha/nossa mão...
Para completar
Diana Krall - Just The Way You Are
Do jeitinho que você é
Eu nunca tomaria nada como garantido
Só um tolo talvez leve as coisas como certas
Só porque ele está aqui hoje, ele pode ter-se ido amanhã
E eu acho que é por isso que
Que eu "reprimi" tanto você,
Você não mudou
Baby, você é ainda a mesma
Você é tão doce, você é tão bonita como sempre
Você sabe que eu sou um pouco quadrado
Puxa você pode chamar-me um pouco de antiquado porque
Eu amo as coisas
Para permanecer como estão entre você e eu
E isso é uma coisa que você nunca em sua vida
Nunca vai ter de se preocupar comigo
Eu jamais trocarei você, porque,
Bebê eu te amo
Menina, eu te amo
Do jeito que você é
Não se modifique, tentando me agradar
Você nunca me desapontou antes
Eu não imagino você diferente
E eu não vejo mais você
Eu nunca deixei você em tempos de difíceis
Nós nunca precisamos chegar tão longe
Eu peguei os tempos bons, eu vou pegar os tempos difíceis
Eu vou pegar você apenas do jeito que você é
Não vá tentando uma nova moda
Não mude a cor do seu cabelo
Você sempre teve minha incontrolável paixão
Apesar de eu parecer não ligar
Eu não quero uma conversa inteligente
Não quero trabalhar tão duro
Eu só quero alguém para conversar
Eu quero você do jeito que você é
Eu preciso saber que você será sempre
A mesma pessoa que eu conheci
O que terá que acontecer para você acreditar em mim
Do mesmo jeito que eu acredito em você.
Eu disse que eu te amo e isso é para sempre
E isso eu prometo do fundo do meu coração
Eu não poderia te amar mais
Eu amo você do jeito que você é
Paulo de Carvalho
Perdia meia hora,
parado em frente ao espelho,
mudava de camisa...vestia-me outra vez.
Fechava a porta à chave... acendia um cigarro.
E ensaiando os gestos...passava já das 3,
vestia o meu casaco, corria sem parar
e à porta do cinema, morria de pensar,
que talvez não viesses,
não pudesses entrar...
num filme para adultos...até te ver chegar.
Perdia meia hora, num gesto do meu braço
a procurar coragem ...
para que fosse abraço.
Chegava o intervalo, fumava sem prazer
e os gestos que ensaiara, morriam ao nascer
por fim vencia o medo, quase sem te ver,
esquecia os meus dedos...
cansados de tremer...
por sobre o teu joelho...
esperando a tua mão...
num filme para adultos ...
crescíamos então...
(um beijo de paixão).
Sábado à tarde no cinema da avenida,
mal as luzes se apagavam...
acendia o coração...
Sábado à tarde... era uma noite bonita...
noite que sendo infinita ...
cabia na minha/nossa mão...
Para completar
Diana Krall - Just The Way You Are
Do jeitinho que você é
Eu nunca tomaria nada como garantido
Só um tolo talvez leve as coisas como certas
Só porque ele está aqui hoje, ele pode ter-se ido amanhã
E eu acho que é por isso que
Que eu "reprimi" tanto você,
Você não mudou
Baby, você é ainda a mesma
Você é tão doce, você é tão bonita como sempre
Você sabe que eu sou um pouco quadrado
Puxa você pode chamar-me um pouco de antiquado porque
Eu amo as coisas
Para permanecer como estão entre você e eu
E isso é uma coisa que você nunca em sua vida
Nunca vai ter de se preocupar comigo
Eu jamais trocarei você, porque,
Bebê eu te amo
Menina, eu te amo
Do jeito que você é
Não se modifique, tentando me agradar
Você nunca me desapontou antes
Eu não imagino você diferente
E eu não vejo mais você
Eu nunca deixei você em tempos de difíceis
Nós nunca precisamos chegar tão longe
Eu peguei os tempos bons, eu vou pegar os tempos difíceis
Eu vou pegar você apenas do jeito que você é
Não vá tentando uma nova moda
Não mude a cor do seu cabelo
Você sempre teve minha incontrolável paixão
Apesar de eu parecer não ligar
Eu não quero uma conversa inteligente
Não quero trabalhar tão duro
Eu só quero alguém para conversar
Eu quero você do jeito que você é
Eu preciso saber que você será sempre
A mesma pessoa que eu conheci
O que terá que acontecer para você acreditar em mim
Do mesmo jeito que eu acredito em você.
Eu disse que eu te amo e isso é para sempre
E isso eu prometo do fundo do meu coração
Eu não poderia te amar mais
Eu amo você do jeito que você é
Poetas e músicos
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.
Fernando Pessoa
Coro dos Peregrinos - Richard Wagner
The Mormon Tabernacle Choir
Ausencias - Astor Piazzola
Fernando Pessoa
Coro dos Peregrinos - Richard Wagner
The Mormon Tabernacle Choir
Ausencias - Astor Piazzola
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Gramsci sua atualidade
César, Napoleão I, Napoleão III, Cromwell, etc. Faça-se a compilação de um catálogo de eventos históricos a qual tenha culminado numa grande e “heróica” personagem. Pode ser dito que o Cesarismo é uma força de expressão duma situação na qual as forças em luta se lançaram uma contra a outra num modo catastrófico, isto é, lançaram-se num caminho no qual a continuação das lutas não pode senão resultar numa destruição mútua. Quando a força progressiva A luta contra a força regressiva B, pode não só acontecer que a força A derrote a força B, ou a B derrote a A; pode também acontecer que nem a força A nem a B triunfem, mas que se esgotem uma à outra, e então uma terceira força C intervém a partir do exterior, apropriando-se para si mesma dos elementos que restam das forças A e B. Na Itália, após a morte de Lorenzo, o Magnífico, foi isso exactamente que aconteceu, assim como foi o caso no mundo antigo com a invasão dos bárbaros” - é dos livros: na medida em que o Poder entra em degradação e caem as regras que regem o senso comum numa determinada ordem económica, as tragédias pessoais agravam-se e o número de predadores (1) que enriquecem sem escrúpulos aumenta.
“Mas o Cesarismo – se significa sempre uma solução de “arbitragem” social – encrustado numa grande personalidade, de uma situação histórico-politica caracterizada por um potencial e catastrófico equilíbrio de forças (por exemplo, entre a Maçonaria de matriz judáica e a cristã Opus Dei) – nem sempre tem o mesmo significado histórico. O Cesarismo pode ser progressista ou reaccionário, e o exacto significado de cada forma de Cesarismo, em última análise, só pode ser reconstruído pela história concreta, não pela disseminação de esquemas sociológicos impossíveis “
escrito por cima de António Gramsci (1891-1937) in “ Notas sobre Maquiavel, sobre a Política e sobre o Estado Moderno “
“Mas o Cesarismo – se significa sempre uma solução de “arbitragem” social – encrustado numa grande personalidade, de uma situação histórico-politica caracterizada por um potencial e catastrófico equilíbrio de forças (por exemplo, entre a Maçonaria de matriz judáica e a cristã Opus Dei) – nem sempre tem o mesmo significado histórico. O Cesarismo pode ser progressista ou reaccionário, e o exacto significado de cada forma de Cesarismo, em última análise, só pode ser reconstruído pela história concreta, não pela disseminação de esquemas sociológicos impossíveis “
escrito por cima de António Gramsci (1891-1937) in “ Notas sobre Maquiavel, sobre a Política e sobre o Estado Moderno “
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Egito: para onde, então, Mubarak deve ir?
Egito - 2008
Egito - 2011 A revolta é contra um regime opressivo e corrupto. É contra a situação de pobreza. A população deseja segurança alimentar e energética, empregos para a juventude e liberdade.
O trabalhador árabe, que se juntara à luta de libertação nacional com o nacionalismo árabe de fins dos 1950-60, ressurge como protagonista e ao mesmo tempo procura selecionar a sua direção.
Por que o Ocidente não se ufana diante dos gritos por liberdade?
"A reação ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo. A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente”. ... Slavoj Zizek
Tony Blair na CNN:
"mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável".
Ora! Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak alargando ligeiramente o círculo do poder.
Blair nos remete ao Il Gattopardo, romance histórico, único do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, que ilustra a composição de interesses entre a velha nobreza siciliana e a burguesia nascente. Conceitos usados por Bobbio, como o de poder político, econômico e ideológico são perfeitamente aplicados ao texto. Antes conexas que isoladas, estas formas do poder se completam.
O romance mostra a circulação das elites e inspira-se no modelo teórico do sociólogo aristocrata contemporâneo ao Risorgimento, o marquês Vilfredo Paretto, mais propriamente na teoria dos resíduos, ou seja, arquétipos ou modelos sociais de conduta dominante.
Um trecho memorável do livro é o discurso do sobrinho de Don Fabrizio, Tancredi, o arruinado e oportunista Príncipe de Falconeri, incitando seu tio a abandonar sua lealdade aos Bourbon do Reino das Duas Sicílias e aliar-se aos Sabóia:
A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude." — Príncipe de Falconeri
A vida imita a arte ou vice-versa?
O Príncipe de Falconeri antecipara Blair?
Ou Blair imita Falconeri?
Mubarak deveria ir para Haia?
Egito - 2011 A revolta é contra um regime opressivo e corrupto. É contra a situação de pobreza. A população deseja segurança alimentar e energética, empregos para a juventude e liberdade.
O trabalhador árabe, que se juntara à luta de libertação nacional com o nacionalismo árabe de fins dos 1950-60, ressurge como protagonista e ao mesmo tempo procura selecionar a sua direção.
Por que o Ocidente não se ufana diante dos gritos por liberdade?
"A reação ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo. A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente”. ... Slavoj Zizek
Tony Blair na CNN:
"mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável".
Ora! Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak alargando ligeiramente o círculo do poder.
Blair nos remete ao Il Gattopardo, romance histórico, único do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, que ilustra a composição de interesses entre a velha nobreza siciliana e a burguesia nascente. Conceitos usados por Bobbio, como o de poder político, econômico e ideológico são perfeitamente aplicados ao texto. Antes conexas que isoladas, estas formas do poder se completam.
O romance mostra a circulação das elites e inspira-se no modelo teórico do sociólogo aristocrata contemporâneo ao Risorgimento, o marquês Vilfredo Paretto, mais propriamente na teoria dos resíduos, ou seja, arquétipos ou modelos sociais de conduta dominante.
Um trecho memorável do livro é o discurso do sobrinho de Don Fabrizio, Tancredi, o arruinado e oportunista Príncipe de Falconeri, incitando seu tio a abandonar sua lealdade aos Bourbon do Reino das Duas Sicílias e aliar-se aos Sabóia:
A não ser que nos salvemos, dando-nos as mãos agora, eles nos submeterão à República. Para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude." — Príncipe de Falconeri
A vida imita a arte ou vice-versa?
O Príncipe de Falconeri antecipara Blair?
Ou Blair imita Falconeri?
Mubarak deveria ir para Haia?
Fotos:
Egito em 2008 - acervo pessoal
Egito em 2011 - huffingtonpost.com
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