Meus filhos acabaram de entrar na creche e minha maior preocupação em relação
ao percurso escolar deles é o ensino médio. Faltam mais ou menos 14 anos para
chegarem lá. Só isso. Já seria pouco tempo diante do bordão de especialistas da
educação de que mudanças na área levam 30 anos, mas é um intervalo
desesperadamente curto ao considerar quanto a etapa evoluiu nos últimos 12
anos: nada.
Como
divulgado no dia 6 pelo movimento Todos pela Educação, de cada dez pessoas que se formaram no ensino médio, nove não
aprendem o
esperado em matemática e sete não sabem o mínimo de língua portuguesa. O dado
se repete desde 1999, ou seja, toda a geração que tem entre 18 e 30 anos foi
exposta a um ensino falido na adolescência – quem aprendeu, fugiu à regra.
Nesses
números está contada a rede particular. Quando separadas apenas as escolas
públicas, o poço é ainda mais fundo: só 5,2% teve resultado mínimo em
matemática e 23,3% em língua portuguesa. Ainda que índices devam ser analisados
com contexto, sobram motivos para duvidar da capacidade do ensino médio como o iG mostrou
na série especial “A pior etapa da educação do Brasil”, em 2011.
De lá para cá houve anúncios que
ganharam as manchetes. O Conselho Nacional de Educação aprovou um novo
currículo no mesmo ano e, em 2012, o Ministério da Educação alardeou que faria
propostas para colocá-las em prática. Na sala de aula, no entanto, a rotina
segue igual. Em 2013 haverá nova Prova Brasil, avaliação que serve de base para
os indicadores, e já se espera que os 12 anos de estagnação se transformem em
14.
Mesmo que alguns pais corujas pensem
que suas crianças estarão entre as exceções, podem imaginar o quanto perderão
ao estudar anos em grupos em que a maioria não consegue aprender o mínimo. Até
quem pretende dar suporte aos filhos em casa ou aposta em reforços terá
dificuldades maiores em fazê-lo nesta etapa diante da complexidade dos
conteúdos.
O acompanhamento ao longo dos anos
também permitiu saber que não adianta esperar que uma turma com mais
conhecimentos básicos resulte em um ensino médio melhor. O fundamental, ainda
que continue com problemas sérios, só melhorou nos índices desde 1999, mas
quando as crianças chegam à adolescência empacam como as turmas anteriores.
Ou seja, o ensino médio, mais do que o
infantil e o fundamental, depende da qualidade da escola. Isso passa por
mudanças tão difíceis como a revisão do currículo ou a mudança na formação dos
professores. É ou não motivo para quem tem criança pequena se preocupar desde
agora?
Autor: Cinthia Rodrigues (Jornalista de Educação e
mãe de alunos matriculados na rede pública de ensino).
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