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"Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, não será publicado comentários que firam a lei e a ética.
Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação

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quinta-feira, 31 de março de 2011

A questão do homem um aspecto ético da educação

*Göran Björk

Este resumo irá partilhar a questão de como entender e definir o homem no contexto educacional e da sociedade pós moderna tardia. A questão do homem é importante para os aspectos éticos da educação.

Se o homem é definido principalmente fora da sociedade, haverá o perigo de que o homem será apenas uma reificação das necessidades instrumentais e sócio-político das estruturas socioeconômicas.

Por outro lado, se o homem vai ser definido apenas como um indivíduo, haverá o perigo de que a sociedade seja reduzida a uma arena para os individualistas egocêntricos.

No primeiro caso a questão da origem do coletivismo é a heteronomia moral. Atos são resultados de dever diante de uma fonte de fora.

No outro caso,serão as pessoas egocêntricas a formar uma cultura narcisista,onde as necessidades dos indivíduos são a fonte para agir.

Os indivíduos educados na sociedade pós-moderna são desafiados a lidar com as tensões entre individualismo e coletivismo.

Seus conhecimentos e habilidades têm potencial para destruir ou construir um mundo comum.

*Professora de Educação da Universidade Åbo Akademi -
VAASA - Finlândia

Sétima Conferência Internacional LLine
23-25 september 2004, Helsinki, Finland 23-25 ​​setembro 2004, Helsinque, Finlândia

segunda-feira, 28 de março de 2011

Nietzsche e a educação

"Ao fim e ao cabo, não procedemos em relação ao conhecimento de maneira muito diferente da aranha, quando tece a teia para caçar e sugar as presas: ela pretende viver graças a estas artes e atividades, satisfazer as suas necessidades - a nós conhecedores, pretendemos exatamente o mesmo ao deitarmos a mão a sóis e a átomos, como que os fixando e determinando". Nietzsche

A postagem desse tópico tem a intenção de levar à uma reflexão sobre a educação a partir das idéias de Nietzsche.

O texto é de Vicente Zatti e foi efetuado um corte para fins de publicação no blog mas sem perder seu sentido original.


A tradição do pensamento filosófico apresenta as construções éticas como reflexões sobre o agir em busca de um elemento último como seu definidor. Nesse sentido, procuram estabelecer máximas universais e validade incondicional. A ética Kantiana, por exemplo, atribui à razão o governo absoluto quanto à moralidade, o que possibilita a universalidade de sua legislação. O projeto pedagógico moderno traz uma proposta de educação como uma ética aplicada, baseando-se na metafísica aspira à universalidade.

Segundo Hermann[1] o pensamento de Nietzsche é uma das críticas mais profundas da idéia de ética universal, base para o projeto pedagógico moderno. Como profundo conhecedor do homem, Nietzsche em seu tempo, já percebeu a impossibilidade de realização dos ideais iluministas e vai procurar tirar o véu de Maia [2] da realidade, para que se veja o quanto há de crueldade por trás de ideais como moralidade, civilidade e por extensão, no projeto educacional moderno. A pedagogia pressupõe a idéia de aperfeiçoamento moral, de emancipação, crê no sentido e no aperfeiçoamento histórico. Por isso é devedora à metafísica.

A crueldade consiste na negação da vida na medida em que é submissão dos impulsos. A grande obra tanto da moral quanto da educação é a submissão dos impulsos. Para os iluministas os impulsos devem ser submetidos a uma razão universal. Nietzsche mostra o quanto há de doentio nesse pensamento metafísico. Para ele, sentido da vida, da história, os valores morais, não se estabelecem por um supra-sensível, por um a priori. "Não há assim um poder transcendental que dê sentido à vida, nem a religião, nem a moral legitimada pelo supra-sensível,pelo a priori,pelo princípio causal."[3]

Tanto o conhecimento quanto a moral são tentativas do homem em impor ordem ao mundo. A força da qual deriva tanto a capacidade de conhecer quanto a capacidade de produzir valores é a vontade de poder[4]
...
[Nietzsche] usa a metáfora da teia de aranha. "Ao fim e ao cabo, não procedemos em relação ao conhecimento de maneira muito diferente da aranha, quando tece a teia para caçar e sugar as presas: ela pretende viver graças a estas artes e atividades, satisfazer as suas necessidades - a nós conhecedores, pretendemos exatamente o mesmo ao deitarmos a mão a sóis e a átomos, como que os fixando e determinando".
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Implicações Pedagógicas

Educação é uma forma que a humanidade encontrou para transmitir suas verdades às gerações posteriores, suas perspectivas científicas que estão representadas em conhecimentos e também, suas perspectivas morais, valorativas. Justamente esses elementos, são os principais recursos e produtos da luta da espécie para afirmar sua vontade de poder. Também, é por meio deles que a educação promove o enquadramento dos indivíduos na civilização.

Com Nietzsche tem início a desconstrução, pela crítica à moralidade e ao conhecimento, dos nossos profundos hábitos mentais e pressupostos metafísicos.

Ele põe em suspeita a tradição e a educação que pretendam ter universalidade ética e levar ao aperfeiçoamento moral. Assim, é questionada a possibilidade de construção de um sujeito autônomo no molde kantiano. "Nietzsche desmascara conceitos pedagógicos originários do contexto do idealismo alemão, tais como os de humanidade, autonomia, julgamento, razão, autenticidade como autotransparência e unidade de entendimento e de ação".[48]

Sendo o sujeito constituído por relações de poder e não por normas objetivas, não havendo um mundo em si, não havendo um absoluto (Deus) que garanta a universalidade; só o sujeito pode constituir-se e constituir o mundo como forma de autoconservação e expressão de sua vontade de poder. Isso tira o controle absoluto do processo educativo da mão do professor, bem como da garantia de sucesso da intervenção pedagógica, não há garantias de uma educação para o aperfeiçoamento e moralidade.

A destruição do primado moral e a transvaloração dos valores, deixa a tradição educativa sem solo. A autodeterminação individual é radicalizada, mas não mais conduzida pela idéia de aperfeiçoamento moral. Há uma autonomia inevitável em que cada sujeito luta pela sua afirmação. Como ninguém deu ao homem sua essência, cabe a ele fazer seu destino, ele é responsável pelo seu vir-a-ser.

A vontade de poder leva à transvaloração dos valores, ou seja, criação dos valores. Por isso a filosofia aqui posta nos provoca a criar, transformar, sermos os construtores da própria obra, e isso para a educação é importante, pois valoriza o desafio de criar e nos chama para essa responsabilidade. Larrosa coloca esse papel criativo como a arte de fazer com que cada um torne-se a si, desenvolva suas potencialidades. "Chega a ser o que és! Talvez a arte da educação não seja outrora senão a arte de fazer com que cada um torne-se em si mesmo, até sua própria altura, até o melhor de suas possibilidades. Algo, naturalmente, que não se pode fazer de modo técnico nem de modo massificado”.

O pensamento de Nietzsche é também para a educação uma provocação, por lançar suspeita nos fundamentos pedagógicos e um alerta, já que os sistemas de idéias não são neutros, são expressão de vontade de poder.

Por fim, abre espaço para pluralidade e aceitação das diferenças. Não há aluno ideal, nem todos se enquadram no modelo escolar moderno. Por isso temos que trabalhar com os alunos reais, aceitando as diferenças, o que abre espaço na escola para alunos que antes eram excluídos do processo educativo. Incluir sem negar as diferenças para que cada um possa tornar-se a si mesmo, é o desafio.

sábado, 26 de março de 2011

Haverá um tempo em que muçulmanos, judeus e cristãos terão novamente uma convivência pacífica?

...“o teste de uma inteligência de primeira linha é a habilidade de ter duas idéias opostas em mente ao mesmo tempo” - F. Scott Fitzgerald

Haverá um tempo em que muçulmanos, judeus e cristãos terão novamente uma convivência pacífica como na Espanha dos séculos VIII a XV?



De Aventuras na História, transcrevo artigo de Jerônimo Teixeira.

Uma viagem à Espanha dos séculos 8 a 15 mostra como a convivência pacífica entre cristãos, muçulmanos e judeus criou uma sociedade brilhante em plena Europa medieval


Enquanto Cristóvão Colombo partia de Palos rumo a um continente que ele não imaginava encontrar, um número bem maior de pessoas corria aos portos em busca de navios que os conduziriam a destinos igualmente incertos. Por decreto real, os judeus da Espanha – ou de Sefarad, como eles a chamavam – estavam obrigados a optar entre a conversão à “verdadeira fé’’ católica ou o exílio. 1492 está marcado em nossa imaginação como o início de uma era, o ano da descoberta da América. Mas é também um triste marco final. Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os monarcas espanhóis que comissionaram o capitão genovês para desbravar uma rota alternativa até o Extremo Oriente, também enterraram para sempre uma das mais ricas experiências de tolerância religiosa da história ocidental.

Essa época remota e fascinante foi reconstituída com saboroso detalhismo por María Rosa Menocal em The Ornament of the World – How Muslims, Jews and Christians Created a Culture of Tolerance in Medieval Spain (O ornamento do mundo – como muçulmanos, judeus e cristãos criaram uma cultura de tolerância na Espanha medieval, ainda sem tradução em português). Menocal é professora de literatura espanhola e portuguesa na Universidade de Yale, onde também dirige o Centro de Humanidades Whitney. Sua obra anterior, mais especializada, já incluía títulos em que a influência árabe sobre a cultura medieval européia era examinada. The Ornament of the World, porém, foi escrito – como a autora explica – com o intuito de tornar acessível ao leigo o mundo que Menocal se acostumou a habitar em suas pesquisas acadêmicas. A envolvente leitura, de fato, leva o leitor ao conturbado, mas vibrante enclave conquistado pelos muçulmanos na Europa Ocidental, durante a Idade Média.

O mundo de Menocal teve, sim, episódios de obscurantismo religioso e intolerância fundamentalista – afinal, não tem sido assim em toda a história humana? Mas o livro desmonta o velho chavão da “idade das trevas”.

A Idade Média não se resume a feudalismo, peste e cruzadas. A Espanha islâmica – chamada de al-Andalus em árabe, daí o nome atual da região sul do país, Andaluzia – era um lugar luminoso, a vanguarda cultural e científica da Europa. Sobretudo, era um espaço raro (aliás, único) de convivência pacífica e de intercâmbio criativo entre as três grandes fés monoteístas, islamismo, cristianismo e judaísmo.

Para caracterizar a Espanha medieval, a autora utiliza uma bem-humorada definição do escritor americano F. Scott Fitzgerald. O romancista de O Grande Gatsby certa vez escreveu que “o teste de uma inteligência de primeira linha é a habilidade de ter duas idéias opostas em mente ao mesmo tempo”. Al-Andalus teria sido, portanto, um “lugar de primeira linha”. Conseguiu conjugar não só duas, mas várias idéias que até hoje se mostram conflitantes. Um exemplo eloqüente encontra-se na sincrética combinação de estilos arquitetônicos do período. Palácios construídos por monarcas cristãos, como o Alcazar (da palavra árabe para palácio, al-qasr), de Sevilha, erguido por Pedro, o Cruel, no século 14, revelavam a ostensiva influência da arquitetura e da decoração muçulmanas, com seus arabescos e arcos característicos.

Pela mesma época, uma sinagoga construída em Toledo (e transformada no convento de Santa Maria La Blanca depois da expulsão dos judeus) tinha seu interior decorado com frases em árabe, algumas delas extraídas do Corão, o livro sagrado do islamismo.
Mas esses são exemplos tardios, já próximos do ocaso de al-Andaluz. A aventura começou bem antes, no século 8. Em 711, os primeiros muçulmanos atravessaram o estreito de Gibraltar e penetraram com relativa facilidade no território então dominado pelos visigodos, povo germânico famoso por ter saqueado Roma em 410. Teriam ido ainda mais longe, se não fossem detidos pelos francos, ao norte dos Pirineus. Seu domínio concentrou-se na península ibérica, que no entanto nunca chegou a ser completamente islâmica – algumas regiões a noroeste permaneceram sob domínio cristão.
Em 755, Abd al-Rahman I chega a al-Andalus. Ele era o único sobrevivente da família Umayyad, que até aquela data ocupava o califado – isto é, o reinado material e espiritual sobre todo o mundo muçulmano. Os Umayyads foram depostos e assassinados pela dinastia emergente dos Abbasids, que em seguida moveram o califado mais para leste, de Damasco para Bagdá. Abd al-Rahman estabeleceu-se em Córdoba, onde depôs o emir (algo como governador de província) local. Formalmente, al-Andalus permaneceu como o emirado mais ocidental do gigantesco império islâmico, ainda que de fato a autoridade dos Abbasids não se fizesse ouvir por lá.

Ao tempo do Império Romano, a província conhecida como Hispânia era uma das mais florescentes. Os visigodos, porém, foram um fracasso administrativo, e o lugar vivia um período de total aridez cultural e tecnológica quando os muçulmanos chegaram. A dinastia Umayyad promoveu uma verdadeira mudança de ares. Os campos foram renovados com a introdução de novas culturas e técnicas de irrigação. O comércio com o Oriente intensificou-se. E a arquitetura conheceu seu ápice transformador com a construção da mesquita de Córdoba, onde os Umayyads reafirmaram sua tradição de aproveitarem criativamente elementos das culturas locais.

A mesquita que Abd al-Rahman mandou erguer em sua nova capital possuía um estilo que remetia nostalgicamente à Síria, terra onde o príncipe exilado jamais tornaria a pisar, mas também incorporava traços marcantes da arquitetura romana e gótica. Menocal lembra que até mesmo os arcos em forma de ferradura que hoje vemos como prototipicamente islâmicos são na verdade representativos da arquitetura da Espanha pré-muçulmana.

O encontro de estilos arquitetônicos refletia a convivência religiosa que se implantou na vida cotidiana. O Corão traz disposições bastante generosas sobre os demais “Povos do Livro”, isto é, as duas outras religiões monoteístas fundadas em obras literárias – o judaísmo com sua Torá e o cristianismo com seu Evangelho. Deus, por meio de seu profeta Maomé, decretou respeito à liberdade religiosa de judeus e cristãos que vivem em território islâmico. Já ao tempo em que governavam na Síria, os Umayyads revelaram-se muito liberais na aplicação desses ditames sagrados. Especialmente para os judeus, que viviam em semi-escravidão sob o governo cristão dos visigodos, o domínio muçulmano inaugurou uma era de liberdade inaudita. A comunidade judaica cresceu e prosperou em al-Andalus. Seu prestígio pode ser aferido pelo fato de Abd al-Rahman III, que governou entre 912 e 961, ter nomeado um judeu como seu vizir (algo como um primeiro-ministro).

Em 929, o mesmo Abd al-Rahman III proclamou Córdoba como o califado, o centro universal da fé islâmica, em resposta a um grupo xiita do norte da África que havia feito a mesma declaração pouco tempo antes. Oficializava-se o que já era um fato: al-Andalus não devia submissão à Bagdá dos Abbasids. Ironicamente, este foi um dos gestos finais da dinastia Umayyad. O sucessor de al-Rahman III morreu depois de 15 anos de reinado sem deixar um sucessor em idade hábil. O governo foi tomado por um regente ambicioso e desastrado, que não conseguiu conservar a unidade de al-Andalus frente aos ataques dos cristãos, ao norte, e das tribos fundamentalistas berberes, ao sul. O marco final da era Umayyad pode ser fixado na data simbólica de 1009, quando os berberes saquearam e destruíram Madinat al-Zahra, o suntuoso palácio construído por al-Rahman III nas imediações de Córdoba.

Para os fundamentalistas, aqueles jardins magníficos, chafarizes, piscinas e estátuas em estilo romano, representavam a impureza religiosa dos andaluzes.
O pretenso califado europeu esfacela-se. Segue-se o período das chamadas taifas – cidades-estado que disputavam entre si a oportunidade de reunificar al-Andalus. A história nacionalista tradicional da Espanha enfatiza as disputas entre muçulmanos (ou “mouros”, como viriam a ser chamados pejorativamente) e cristãos. Destaca-se nesses entreveros a figura de Rodrigo Diaz, conhecido como El Cid (corruptela de al-sayyid, “senhor”ou “chefe”, em árabe), tido como primeiro herói da reconquista católica da península. Menocal mostra que as coisas eram mais complicadas. Nas confusas alianças de ocasião desse período, muitas vezes uma taifa cristã se aliava a outra muçulmana para combater um inimigo comum. O próprio Cid eventualmente lutava a serviço de muçulmanos.

Mas a vasta galeria de personagens do livro privilegia figuras que encarnaram de forma integral o inquieto e sofisticado espírito andaluz – como o judeu Samuel, o Nagib, vizir da taifa de Granada. Além de ser um brilhante chefe militar, obtendo vitórias contra Sevilha, Samuel renovou a poesia hebraica, ressuscitando para a literatura uma língua que fazia muito tempo só era utilizada nas sinagogas. A confusão política, como se vê, não deu fim à efervescência cultural. A antiga capital dos visigodos, Toledo, conquistada pelos cristãos em 1085, consagrou-se como sede da mais importante escola de tradutores da Europa, vertendo para o latim, língua da Igreja Católica, textos só encontrados em árabe, o idioma da cultura e da ciência de então. Por essa época, tradutores de Bagdá já haviam vertido toda a obra de Aristóteles para o árabe. Esses livros circulavam entre os mestres-escola de al-Andalus, enquanto os maiores eruditos da Europa cristã só conheciam uns poucos fragmentos em tradução latina.

Em 1086, diante do avanço cristão de Alfonso VI, a taifa muçulmana de Sevilha pediu socorro ao regime norte-africano dos Almoravids, que havia pouco tempo tomara o poder no Marrocos. Os Almoravids derrotaram Alfonso VI – e resolveram se estabelecer como os donos do pedaço, impondo aos andaluzes uma ideologia fundamentalista estranha às suas práticas tolerantes. A situação piorou quando os Almoravids foram destituídos por uma facção ainda mais fanática, os Almohads. No século 13, Fernando III expulsou os Almohads e fez de Sevilha a nova capital dos reis de Castela. Em certo sentido, o monarca ainda estava filiado à tradição pluralista que se gestou na al-Andalus dos Umayyads. Sua tumba, erguida na mesquita (reconsagrada como Igreja Católica) de Sevilha, é um monumento multicultural, com inscrições em castelhano, latim, hebreu e árabe.

Fernando III concedeu a taifa de Granada a seus aliados muçulmanos. Limitado a um cantinho no sul da península, o novo domínio islâmico era uma sombra tênue da velha al-Andalus, que nem de longe voltou a respirar a atmosfera pluralista do passado: apenas muçulmanos viviam em Granada, isolados dos judeus e cristãos, que ainda conviviam em cidades como Toledo. Em janeiro de 1492, no episódio culminante da “reconquista”, o último e acuado soberano islâmico cederia a chave do belíssimo palácio de Alhambra, sede do governo de Granada, a Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Os reis católicos assinaram um tratado em que se comprometiam a preservar a liberdade religiosa dos muçulmanos. Não o cumpriram. O espírito da época era outro e a Espanha firmava-se como uma nova nação, unificada sob uma só igreja e falando uma só língua.

O último capítulo do livro é dedicado a Dom Quixote, a pedra fundamental da arte do romance. Menocal mostra como o clássico publicado por Miguel de Cervantes em 1605 retrata com sutileza e sensibilidade o ocaso da rica cultura árabe em solo ibérico.
O final é melancólico, mas mesmo assim a autora insiste na vitalidade intemporal da tradição de al-Andalus. No epílogo, ela busca traços da memória daqueles séculos esfuziantes na obra contemporânea de Salman Rushdie – escritor que foi perseguido pelo fundamentalismo islâmico dos aiatolás do Irã. Depois da leitura desse livro arrebatador, fica o desconfortável sentimento de que a expressão “idade das trevas’’ vale mesmo é para o mundo que vemos na CNN."

sexta-feira, 25 de março de 2011

Vía de La Plata: partindo de Sevilha

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver.” (Almir Klink)

Em 2009 percorri a pé La Vía de La Plata,na Espanha,de Sevilha à Salamanca.

A Via de La Plata é o caminho Jacobeu de maior extensão. Passa pelas Províncias de Sevilha, Extremadura, Salamanca, Zamora, Ourense, Pontevedra e A Coruña, atravessando espaços naturais de grande beleza, com um rico patrimônio cultural e ecológico.
Tudo começou com os “Tartessos”, uma das primeiras civilizações urbanas do ocidente a usar várias rotas comerciais na Península Ibérica. No ano 218 a. C a Espanha foi conquistada pelos romanos que utilizaram esses roteiros, em particular, a via romana “La Iter ab Emérita Asturicam”, (séc I a. C), antecedente da Via de la Plata, para o deslocamento de tropas e comércio.
Otávio Augusto, nomeado Imperador em 25 a. C, mandou construir uma calçada que unisse Mérida (Emérita Augusta, capital da Província de Lusitânia) com o norte da Península, atravessando o leito dos rios Tejo e Douro, a fim de facilitar o transporte dos exércitos cuja missão era combater os bárbaros.
Esta Via chegou até Astorga (Asturica Augusta) e tinha mais de 500 quilômetros de extensão, sendo que, posteriormente, outros Imperadores, como Tibério e Trajano a ampliaram, em ambos os sentidos, até Sevilha e Gijón.
Com a queda do Império Romano, esses roteiros deixaram de ser utilizados, no entanto, a invasão árabe do século VIII atingiu, inclusive, o noroeste da Península, culminando sua conquista com a queda de Santiago de Compostela, no ano 997. Os árabes batizaram-na de Bal’latta (Blata), que significa “Caminho de Pedra”.
Fonte de pesquisa:Breve história - Peregrino Oswaldo Buzzo

Sevilha:O ponto de partida

Sevilha é a capital da Comunidade Autônoma de Andaluzia.
Seduz pelos tesouros artísticos que encerra, sobretudo por sua magia vital, algo que se compreende quando se vive nesta cidade, ainda que por poucos dias. Os sevilhanos fazem juz à fama de hedonistas, alegres e brincalhões, em especial na Feira de Abril.
O forte culto às imagens tem sua máxima expressão na célebre Semana Santa.
Sevilha é antes de tudo uma cidade cosmopolita, que desfruta seu presente e suas tradições sem esquecer o futuro, que gosta de seguir seu ritmo sem deixar de atender as necessidades decorrentes de ser uma grande cidade européia.

Algumas fotos

Catedral de Sevilha

Aspectos urbanos




Plaza del Cabildo

Parque Maria Luisa

La Torre del Oro

Rio Guadalquivir:rio grande e milenar, romântico e legendário,o rio dos conquistadores da América, o único navegável da Espanha e a Ponte de Isabel II

À noite nada como um bar de tapas

La Giralda


Pé na estrada
Cenas campestres

Trigo

Oliveira


Um longo e árduo caminho

Cerdos de la pata negra

Ovelhas

Fotos: acervo pessoal

Paco de Lucía
Concierto de Aranjuez Part2




Corcovado

Composição: Antonio Carlos Jobim –
Interpretação: Antonio Carlos Jobim show com banda nova


A cidade que ostenta informalmente o título de maravilhosa pode se tornar finalmente patrimônio da humanidade. O dossiê da candidatura do Rio de Janeiro, na categoria paisagem cultural, foi aceito pelo Centro do Patrimônio Mundial da Unesco. A decisão final será divulgada em 2012.

O Brasil tem 18 bens culturais e naturais na lista dos 911 reconhecidos pela Unesco, como o Pantanal e o conjunto arquitetônico de Ouro Preto (MG). Nenhum em território fluminense.

As missões que virão ao Rio vão analisar o conjunto formado pelos Morros da Urca e Pão de Açúcar; a Floresta da Tijuca; a paisagem formada pelo Cristo e o Morro do Corcovado; o Jardim Botânico e as intervenções de Burle Marx no calçadão de Copacabana e Parque do Flamengo.
Informações do jornal O Estado de S. Paulo.




quarta-feira, 23 de março de 2011

Bullying e preconceito

“As culturas devem aprender umas com as outras,e a orgulhosa cultura ocidental, que se colocou como cultura-mestra, deve se tornar também uma cultura-aprendiz.
Compreender é também aprender e reaprender incessantemente.”
Edgar Morin
in Os Sete Saberes Necessários À Educação Do Futuro.


Justiça britânica indeniza brasileira apelidada de Bob Esponja

Brasileira recebeu R$ 387 mil de indenização por sofrer bullying e preconceito de colegas de trabalho
BBC Brasil

Uma brasileira ridicularizada no trabalho e apelidada pelos colegas de Bob Esponja por causa de seu sotaque ganhou na Justiça britânica uma indenização de quase 142 mil libras (cerca de R$ 387 mil).

Lícia Faithful, de 31 anos, disse ter sofrido com depressão e estresse pós-traumático após 18 meses sofrendo discriminação racial na empresa de seguros médicos onde trabalhava, na cidade de Royal Tunbridge Wells, no sul da Grã-Bretanha.

Segundo seu relato à Justiça trabalhista, colegas gravavam sua voz e tocavam as gravações para ela, debochando de seu sotaque. Eles se referiam a ela como Bob Esponja, personagem de desenho animado conhecido pela voz aguda e anasalada.

Segundo Faithful, um colega chegou a perguntar a ela se ela cheirava cocaína, por causa de sua origem sul-americana. Em uma viagem de ônibus da empresa, na qual ela era a única não-britânica, um colega teria feito uma referência aos “malditos estrangeiros”.

A brasileira reclamou ainda que os colegas tiravam e escondiam as bandeiras brasileiras que mantinha em sua mesa e pediram a ela que não usasse uma blusa com a bandeira brasileira.

Bônus


Faithful, que ganhava um salário anual de 17.765 libras (R$ 28.870), também disse ter sido discriminada pelos chefes na distribuição de bônus na empresa.
Ela acabou deixando a empresa em 2008, sofrendo com depressão, estresse pós-traumático e agorafobia (medo de espaços abertos ou situações sociais fora de controle).

Segundo a juíza Gill Sage, do Tribunal do Trabalho de Ashford, no condado de Kent, a brasileira sofreu “o mais sério caso de discriminação” e foi tratada “menos favoravelmente por uma questão racial”.
Para a juíza, Faithful enfrentou um ambiente de trabalho “hostil e degradante” numa empresa que não a apoiava. Segundo Sage, havia “evidências substanciais” de que colegas a ridicularizavam.

Um comunicado da empresa Axa PPP Healthcare, divulgado após a decisão da Justiça, afirma que a companhia lamentava o desfecho do caso e estava estudando maneiras de melhorar o tratamento de seus empregados.
“O tratamento de nossos empregados com justiça é muito importante para nós e estamos trabalhando duro para criar uma cultura de trabalho positiva e apoiadora, na qual os empregados desfrutem de seu ambiente de trabalho e sintam que podem dar o seu melhor em servir nossos clientes”, afirma o comunicado da empresa.
(Portal IG)

A morte de Elizabeth Taylor






Uma mulher belíssima, de corpo e alma, além de grande atriz.

A ela minha gratidão pelos densos filmes que nos legou:


“Assim Caminha a Humanidade” (1956), “Gata em Teto de Zinco Quente” (1959), “De Repente, no Último Verão” (1960), “Disque Butterfield 8” (1960) e “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1966)

Talento de Liz Taylor foi maior que sua fama

Casamentos, separações, escândalos, alcoolismo, problemas de peso, paixão por diamantes, operações delicadas, obras filantrópicas. E, como se não bastasse, Michael Jackson.

É uma pena que a biografia de Elizabeth Taylor tenha sido tão atribulada e que – na hora de sua morte aos 79 anos - seus obituários sejam obrigados a dedicar tanto espaço com sua vida pessoal. Porque ela foi, por cerca de 15 anos, a encarnação mais concreta de um conceito abstrato: a estrela de cinema.

Alguém com uma beleza quase sobre-humana (pele muito branca, cabelos muito negros, olhos azuis violeta) que sabia atuar, que escolhia bem os filmes e que arrastava multidões aos cinemas com seu carisma.

Em seus anos de ouro, Liz Taylor enfileirou uma série de grandes atuações ainda hoje impressionante: ““Assim Caminha a Humanidade” (1956), “Gata em Teto de Zinco Quente” (1959), “De Repente, no Último Verão” (1960), “Disque Butterfield 8” e “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1966), entre outros.

E não eram papéis fáceis, ancorados apenas na beleza da atriz. Havia, entre eles, uma mulher rechaçada sexualmente pelo marido, outra que enlouquece ao ver sua paixão platônica ser literalmente canibalizada, uma call girl com um trauma de infância que pula de um caso para outro e assim por diante.

O sujeito ia ver Elizabeth Taylor e acabava trombando com um daqueles dramas psicológicos densos de Tennesse Williams ou Edward Albee. Como estrela de cinema, ela também cumpriu sua função social: ajudou a popularizar esses e outros grandes autores.

Claro, houve umas tranqueiras no meio do caminho, sendo “Cleópatra” (1960) a mais espalhafatosa delas. E o fato é que a partir de “Virginia Woolf” os momentos de brilho de Liz se tornaram cada vez mais raros, quase inexistentes.
Mas basta voltar para seus grandes filmes dos anos 50 ou 60 para lembrar como a combinação de beleza e talento pode chegar à potência máxima no cinema.
(Ricardo Calil - Portal IG)

Who's Afraid of Virginia Woolf? (1966)
Quem tem medo de Virgínia Woolf?


Sinopse
Martha e George são casados, já estão na meia-idade, são intelectuais, se amam e se odeiam. Depois de uma festa na casa do pai de Martha, o presidente da universidade onde George leciona, o casal retorna até a sua residência próxima. Já de madrugada, e bastante embriagados, eles acolhem Nick e Honey, um jovem casal que também estava na mesma festa e mora longe. Nick é outro professor da universidade. Quando os jovens chegam, estão também embriagados. Constrangidos com o clima tenso entre George e Martha, que acabaram de ter uma violenta discussão, eles recomeçam a beber junto com seus anfitriões. Martha se insinua abertamente para Nick e humilha George que, despeitado, “inventa” um tipo de “jogo da verdade”, induzindo as pessoas a seu redor a confessarem detalhes intímos. Só que George não diz quando fala a verdade e quando mente sobre si mesmo, enquanto seus confusos interlocutores dizem mentiras que pensavam ser verdades – geralmente escondidas e escabrosas, mas logo desvendadas pelos outros.
Elenco:
Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Dennis
Oscar:
Elizabeth Taylor (melhor atriz)
Sandy Dennis (atriz coadjuvante)
Richard Sylbert, George James Hopkins( direção de arte)
Haskell Wexler (fotografia)
Irene Sharaff (figurino)

terça-feira, 22 de março de 2011

O antes, o durante e o depois: Barack Obama e o Brasil

...como se diz no Brasil, os EUA são um “pouco mais iguais” do que os outros...

"A breve passagem do Presidente Barack Obama no Brasil nos dias 19 e 20 de março de 2011, em Brasília e Rio de Janeiro, foi antecedida por imensa expectativa em alguns círculos, que avaliaram a viagem como um exemplo prático da mudança significativa que a política externa estaria sofrendo no início da administração de Dilma Rousseff em comparação a de seu antecessor Lula (2003/2010). Com base nesta avaliação equivocada, inúmeras imagens foram construídas a respeito do que Obama faria ou diria em solo nacional.

Iniciando com a abolição dos vistos, passando pela conclusão de um acordo comercial bilateral ao estabelecimento de uma ampla parceria energética no campo do petróleo e biocombustíveis até a declaração formal de apoio ao pleito brasileiro de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSONU), a agenda destes grupos era extremamente abrangente. Tendenciosas, estas avaliações revelavam uma preocupação extensiva em desqualificar os esforços diplomáticos anteriores. A utilização repetida do termo “normalização”, associado na década de 1990 a uma perspectiva periférica e acrítica, passava a idéia de uma relação sustentada somente em conflitos e que estaria sendo substituída pela reintegração ao núcleo de poder norte-americano. Mais ainda, revelava o permanente desconhecimento sobre as motivações estratégicas dos EUA.

Se em 2011 o Brasil recebeu Barack Obama como uma potência global, isto se deve aos esforços internos e externos do país que o qualificaram a este status de forma autônoma. Esta situação não emerge de um relacionamento de mão única com aquele que tradicionalmente foi o maior parceiro político-econômico brasileiro no século passado, mas da busca de alternativas que permitiram solidificar uma ação internacional consistente e coerente com as necessidades do país. Com isso, as motivações estratégicas norte-americanas não derivam destes cálculos simplistas que permearam o debate sobre a política externa brasileira, mas da percepção de que o Brasil e a América do Sul são mais dois espaços nos quais os EUA perderam posições.

Assim, era preciso para os norte-americanos sinalizar que desejam preservar o Brasil em sua esfera de influência diante deste vácuo, como já o haviam feito diante da China, da Índia e da Rússia em ofensivas diplomáticas similares em contatos bilaterais prévios. E, no caso, no Brasil e na região, os EUA não perderam somente posições para a China, hoje o maior parceiro comercial brasileiro e aliado no grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ou para a Índia, também no BRIC e no IBAS (Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul), ou para a África do Sul, ou para a Rússia, ou para a cooperação Sul-Sul em geral, mas para o próprio Brasil nas Américas e no mundo.

Positivamente, em meio a estes ruídos prévios e construções ideológicas de determinados grupos que ignoravam estas questões, os sinais de Brasília mantiveram a percepção de que a visita de Barack Obama representava o reconhecimento deste processo de consolidação político-econômica-estratégica. Tais sinais já se encontravam presentes nos encontros preparatórios entre os dois países antes da chegada de Obama, e demonstravam clareza quanto o que significava esta viagem: uma oportunidade de aprofundar e promover maior adensamento estratégico das relações bilaterais, a partir do reconhecimento norte-americano do status global de poder do Brasil.

Tendo esta realidade como ponto de partida, de que se tratava de uma viagem de reconhecimento e não de concessões norte-americanas ou subserviência brasileira, deixou-se claro que esta dinâmica bilateral não afeta as prioridades externas do Estado brasileiro em termos de agenda Sul-Sul ou Norte-Sul, demandas e projeção. Parte da iniciativa de ser lider é criar fatos novos, dimensões positivas de interdependência, ação que os emergentes e o Brasil tem feito cada vez de forma mais constante. Neste campo, assumem responsabilidades por seus próprios destinos, e de nações similares ou de menor poder relativo, em suas escalas regionais e em nível global estatal e multilateral.

À medida que na última década o Brasil não manteve sua política ou agenda econômica, atrelada aos EUA, sua importância diante deste país aumentou, da mesma forma que sua vulnerabilidade diminuiu diante das constantes oscilações da política da potência hegemônica. Em seu discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 19 de Março, Barack Obama mencionou iniciativas brasileiras como a UNASUL (União Sul-Americana de Nações) e projetos sociais direcionados às nações do sul no combate à fome e programas de saúde. Ou seja, o Brasil não era mais só o país do futuro, mas que o futuro teria chegado ao Brasil, como afirmou o Presidente dos EUA.

Fortemente, o país demonstrou não ter ilusões de que este reconhecimento traduzir-se-ia, de imediato, em uma mudança concreta da posição norte-americana em determinados temas. Nestes temas, principalmente no comércio bilateral, arena na qual o Brasil demanda maior igualdade e reciprocidade, e na reforma das organizações internacionais governamentais, principalmente no caso das Nações Unidas e seu CS, a posição brasileira foi de sustentar suas reivindicações. Por sua vez, pode-se até considerar que os EUA responderam positivamente em sua retórica, em suas demonstrações de “apreço” pelo pleito brasileiro, pela fala de Obama a empresários que igualou o país à China e Índia. A retórica, porém, não foi acompanhada pela substância da mudança ou pela sinalização de que os norte-americanos estariam dispostos a fazer concessões para engajar de forma diferente o Brasil nestas dimensões.

Acenar com parcerias para o pré-sal, ações conjuntas no campo energético é sinal do novo papel do Brasil, mas também da natureza pragmática do interesse norte-americano em petróleo, mercados em novos espaços que não surjam como tão conturbados como o Oriente Médio, apostando nas nações “amigas”. E, igualmente sendo pragmáticos, são parcerias que trazem inúmeros riscos ao Brasil, caso o país não busque preservar sua soberania nestas negociações, independente do campo. Neste sentido, o papel, por exemplo, da Comissão Brasil-Estados Unidos para Relações Econômicas Comerciais é o de encontrar pontos de consenso possível e equilibrio no setor, preservando a capacidade negociadora brasileira e sua autonomia. O mesmo raciocínio se estende às arenas da biodiversidade, dos diálogos estratégicos, da cooperação técnica e para a organização e segurança da Copa-2014 e das Olimpíadas-2016. O Brasil não pode se furtar a negociar com os EUA, mas precisa atrelar estas conversações a lograr objetivos que permitam a continuidade de seu crescimento e resolução de assimetrias internas via programas sociais.

Chegando ao mundo “real” não deixa de ser simbólico que enquanto Barack Obama acenava às “nações amigas” da América Latina, como o fez no Brasil, e o fará no Chile, com declarações “históricas” sobre as relações entre “iguais” e a consolidação da democracia, os bombardeios aéreos à Líbia atingissem elevada intensidade, depois da autorização do CSONU à operação na sexta-feira 18/03/2011. Em solo brasileiro, a intervenção foi abordada sob o signo da defesa da democracia e motivos humanitários, enquanto prolongam-se protestos e repressões similares em países aliados norte-americanos na região.

Também não deixa de ser simbólico, que nesta votação do CS, os países que se abstiveram e demonstraram preocupação com a ação, fossem os emergentes membros permanentes deste Conselho e nações pleiteantes, membros temporários eleitos: China e Rússia, somados à Brasil, Índia e Alemanha. São nestas manifestações que se desenha o novo mapa geoestratégico global e as complexas dinâmicas de poder do século XXI que motivam as viagens de Obama e suas declarações de igualdade com seus parceiros.

Porém, como se diz no Brasil, os EUA são um “pouco mais iguais” do que os outros: seu poder militar de superpotência e comando residual das organizações internacionais contrasta com uma economia estruturalmente deficiente e uma sociedade doméstica polarizada. Durante e depois de Obama, o Brasil continua sendo o mesmo de antes, consolidando sua ascensão do nível regional ao global, que busca a continuidade de seu projeto político-social-econômico e estratégico. Com os EUA, e com o mundo, dialogar não é sinônimo de concordar, mas de saber ouvir, negociar e falar em nome do interesse nacional."
Elaborado por Cristina Soreanu Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)e transcrito da Fundação Perseu Abramo

Mevleví ou Derviches Dançantes da Turquia

Derviches
Konya -Turquia


Mevleví ou Derviches Dançantes ou Giradores é uma ordem derviche (tariqa) da Turquia, fundada pelos discípulos do grande poeta Sufí Jalal al-Din Muhammad Rumi no século XIII.

Possuem uma cerimônia de dança-meditação,chamada Sema, que consiste numa dança masculina acompanhada por música de flauta e tambores.
Os dançarinos,giram sobre si mesmos com os braços estendidos, simbolizando "a ascendência espiritual para a verdade, acompanhados pelo amor e liberados totalmente do ego".

A cerimônia teve origem com os místicos da Índia e os sufis da Turquia.

Mevleví (do árabe Maulana , Mevlana em turco, "nosso mestre", apelido de ar-Rumi), alcançam o êxtase místico (uaÿd) em virtude da dança ("sema"), símbolo da dança dos planetas.

A Sema, com a cerimônia de Mevlevi foi proclamada em 2005 e registrada em 2008 na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.


O centro de sua religião era a cidade de Konya , na Turquia, que atualmente abriga os restos mortais de Mevlana Celalettin Rumi, poeta místico e de seu filho Sultão Veled, em uma mesquita que foi convertida em museu.

O Museu de Mevlana é o "TEKKE" de Mevlana, antigo convento dos Derviches Dançantes, sendo visitado cada ano por milhões de turistas.
Contém objetos utilizados no convento, instrumentos de música que serviam os discípulos do poeta par fazer girar os derviches, preciosos tapetes feitos á mão e as antigas celas do convento que abrigam um pequeno museu etnográfico




O Mevleví deu ao mundo uma série de músicos e poetas de grande nome entre eles Sheikh Ghalib , Ismail Ankaravi e Abdullah Sari .

A Ordem Mevlevi foi banida na Turquia por Kemal Ataturk em 1923,mas por volta de 1950 o governo percebeu que a dança dervixe era uma atração turística e concedeu a permissão para voltar a se realizar a cerimônia dos dervixes em Konya, no aniversário da morte de Rumi.

Hoje os dervixes se apresentam regularmente nos locais de atração turística, incluindo festivais de música no estrangeiro.

Fotos: acervo pessoal

segunda-feira, 21 de março de 2011

Palácio de Topkapi

É impensável ir a Istambul sem visitar esse museu.

O Palácio de Topkapi tem em exposição, uma parte das riquezas da dinastia dos Otomanos, que reinou em três continentes durante cerca de 600 anos.

A sua construção começou em 1470. No entanto não apresenta um conjunto de arquitetura clássica mas uma paleta de estilos diferentes resultando de alargamentos sucessivos que cada sultão acrescentou à construção original. A dinastia otomana morou no palácio durante mais de 400 anos e mandou arranjar, na ponta da península, que se estende diante do palácio, magníficos jardins utilizados para diversos fins.






Fotos: acervo pessoal

sábado, 19 de março de 2011

É possível a paz no mundo?

Imagine - Josh Groban, L.Pausini, Santana entre outros



Nem os próprios revoltosos da Líbia querem a intervenção estrangeira: "o Imperialismo é a imposição, pela força das armas, de quem são os bons e maus ditadores. Já ninguém acredita na tanga humanitária"
http://stopwar.org.uk/content/view/2299/27/

prémio nóbel Obama faz campanha pela paz…

… entregando este ano, depois de uma igual para George H.W.Bush, a mais alta condecoração civil, a Medalha da Liberdade, a um dos homens mais ricos do planeta, o multibilionário Warren Buffett, por... a ver se percebemos a complexidade da verborreia:
“uma meritória e especial contribuição para os interesses da segurança nacional dos Estados Unidos, para a paz mundial, para a cultura e outras aspirações públicas e privadas” (tudo by xatoo)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Orfeu Negro foi o primeiro contato entre Obama e Brasil

Obama e o Brasil se “conheceram” pela primeira vez por meio do filme Orfeu Negro
(1959) de Marcel Camus, que mostrou versão lírica de uma favela carioca.

O filme baseou-se no musical “Orfeu da Conceição”, escrito por Vinicius de Moraes e com músicas de Tom Jobim e Luiz Bonfá, sendo uma tranposição do mito grego de Orfeu e Eurídice para uma favela carioca, na época de carnaval, encenado por um elenco quase exclusivamente negro.

A história consta da biografia de Obama,"Dreams from my father”.


Orfeu Negro


Título original: (Orphée Noir)
Lançamento: 1959 (França)
Direção: Marcel Camus
Atores: Breno Mello, Marpessa Dawn, Lourdes de Oliveira, Léa Garcia.
Duração: 103 min
Gênero: Drama

Sinopse


No Carnaval Orfeu (Breno Mello), condutor de bonde e sambista que morra no morro, se apaixona por Eurídice (Marpessa Dawn), uma jovem do interior que vem para o Rio de Janeiro fugindo de um estranho fantasiado de Morte (Ademar da Silva). Mas o amor de Orfeu por Eurídice irá despertar o ciúme de sua ex-noiva, Mira (Lourdes de Oliveira).

Orfeu Negro ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de melhor filme estrangeiro

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sem fronteiras: sufismo e flamenco

Assim poderia ser:
O Mundo sem fronteiras e distinções.
A Comunicação entre os seres humanos poética e musical.
A Vida alegria e movimento.
A Paz imperativa.


Sufi Arabic Violin
Dua müziği

كمان، موسيقى صوفية، دعاء


Flamenco et soufisme
Chants d'amour d'Al Andalus (Syrie / Espagne), 14e Festival de l'Imaginaire
l'Institut du Monde Arabe


Vengo - Sufi Flamenco Scene

Sufismo,contraponto em tempos de alta tecnologia e energia nuclear

Desfrutando um pouco de paz

Poesia Sufi


Chants Soufis de Sarajevo


...
As usinas nucleares concentram grande quantidade de urânio (entre 200 e 300 kg) e, por isso, uma explosão causaria a liberação de grande quantidade de material radioativo.
Durante um protesto contra usinas nucleares realizado ontem (12) na Alemanha, o ministro do meio ambiente do país, Norbert Roettgen, afirmou que os padrões e dispositivos de segurança em usinas nucleares devem ser revistos após o acidente em Fukushima 1. “Isso aconteceu em um país com padrões de segurança muitos altos. A questão de como podemos nos proteger contra esses perigos está em aberto novamente e precisamos tratar dela”, disse Roettgen à BBC.(Portal IG)

domingo, 13 de março de 2011

Efeito Borboleta

A Teoria do Caos diz que determinados resultados podem ser "instáveis" ainda que contando com os mesmos parâmetros e variáveis, pois a ação e interação destes elementos podem ocorrer de forma praticamente aleatória. Estes resultados apresentam uma grande sensibilidade a perturbações o que os torna na prática imprevisíveis.

O Efeito Borboleta é um termo que se refere às condições iniciais dentro da Teoria do Caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz.

O que acontece é que quando movimentos caóticos são analisados através de gráficos, sua representação passa de aleatória para padronizada depois de uma série de marcações onde o gráfico depois de analisado passa a ter o formato de borboleta. O Efeito Borboleta encontra aplicações em qualquer área das ciências: exatas, médicas, biológicas ou humanas, na arte ou religião, entre outras aplicações.Wikipedia

Para a cultura popular o bater de asas de uma borboleta em um ponto do mundo influencia outro lugar completamente diferente.

Assista ao vídeo abaixo e chegue à sua conclusão.




Sugestão de filme

Efeito Borboleta
Título original: (The Butterfly Effect)
Sinopse
Evan (Ashton Kutcher) é um jovem que luta para esquecer fatos de sua infância. Para tanto ele decide realizar uma regressão onde volta também fisicamente ao seu corpo de criança, tendo condições de alterar seu próprio passado. Porém ao tentar consertar seus antigos problemas ele termina por criar novos, já que toda mudança que realiza gera consequências em seu futuro.


Sequências
Efeito Borboleta 2, sequência do filme homônimo, lançada em 2006;
Efeito Borboleta 3, sequência do segundo filme, lançada em 2009

Mercado financeiro e acontecimentos mundiais

"Existem duas formas de conquistar e escravizar uma nação. Uma é pela espada. A outra pela dívida.” John Adams


Vila de Gumbi, no oeste de Malawi -África


"Há pouco menos de três anos, as pessoas da vila de Gumbi, no oestede Malawi, passaram por uma fome inesperada. Não como a de europeus,que pulam uma ou duas refeições, mas aquela profunda e persistente fome que impede o sono e embaralha os sentidos e que acontece quando não se tem comida por semanas. Estranhamente, não houve seca, a causa tradicional da mal nutrição e fome no sul da África, e havia bastante comida nos mercados. Por uma razão não óbvia o preço de alimentos básicos como milho e arroz havia quase dobrado em poucos meses. Não havia também evidências de que os donos de mercados estivessem estocando comida. A mesma história se repetiu em mais de 100 países em desenvolvimento.
...
"Não são apenas más colheitas e mudanças no clima; especuladores também estão por trás dos preços recordes nos alimentos. E são os pobres que pagam por isso. Os mesmos bancos, fundos de investimento de risco e investidores cuja especulação nos mercados financeiros globais causaram a crise das hipotecas de alto risco (sub-prime) são responsáveis por causar as alterações e a inflação no preço dos alimentos. A acusação contra eles é que, ao se aproveitar da desregulamentação dos preços dos mercados de commodities globais, eles estão fazendo bilhões em lucro da especulação sobre a comida e causando miséria ao redor do mundo.
...
Como diz um amigo meu. “O que para um homem pobre é um problema, para o rico é um investimento livre de riscos”.
John Vidal - The Observer
(extraído do Carta Maior)

Portugal - 12/03/2011

sábado, 12 de março de 2011

Jack Kerouac rei dos beats

Na foto, o ator Garrett Hedlund, protagonista do filme, aparece dançando em um bordel no México. A imagem foi feita por Gregory Smith, usando uma antiga máquina fotográfica Leica M e filme Tri-x preto e branco.
A foto foi divulgada pela editora LP&M, responsável pela publicações de "On the Road" e outras obras de Kerouac no Brasil.


Homenagem

Kerouac, que faria 89 anos hoje, em aspas
por Milly Lacombe no Portal IG

"O autor de On The Road, um de meus livros prediletos, nasceu no dia 12 de março de 1922 e morreu em outubro 1969, aos 47 anos. Faria, portanto, 89 anos hoje.
Kerouac é um dos pais da geração beat, escritores que surgiram depois da Segunda Guerra Mundial e que popularizaram um estilo de escrever completamente novo (dinâmico, apressado, coloquial), além de carregar com eles a necessidade da experimentação (seja sexual ou com drogas) e um profundo inconformismo com o sistema, com o estado das coisas estabelecidas.

On The Road é considerado por muitos como a bíblia hippie, e, nesse cenário, o pisciano Kerouac, que morreu cedo demais, é o messias de toda uma geração.
Tenho por ele o respeito que tenho por aqueles que, com arte, desafiam opiniões consagradas, a admiração que nutro por gente que teima em indicar novos caminhos, novas ideias e uma forma diferente de ver o mundo, a despeito de críticas e de julgamentos sempre tão amplamente promovidos pelo status-quo.

Como homenagem, Kerouac em algumas aspas, e aquela que é para mim a melhor matéria já escrita a respeito dele e de On The Road, em uma edição da Vanity Fair de 2007:
“Minha falha não é a paixão que tenho pelas coisas, mas sim a falta de controle sobre ela”
“Talvez a vida seja isso; um piscar de olhos e estrelas piscantes”
“Todo o ser humano é também um ser de sonhos. Sonhar é o que une toda a humanidade”
“Não tenho nada a oferecer a não ser minha própria confusão”
“Espero que seja verdade que um homem pode morrer e não apenas viver em outros, mas também dar vida a eles, e não apenas vida, mas um enorme entendimento da vida."

*Milly Lacombe é jornalista e escritora, tem quatro livros publicados e colabora para várias publicações. Morou sete anos em Los Angeles, de onde contava principalmente histórias sobre cinema e Hollywood. Passa os dias com livros dos mais variados tipos

On the Road – romance e filme

On the Road (Pé na Estrada em português) é considerado a obra prima de Jack Kerouac, um dos principais expoentes da Geração Beat estadunidense, sendo uma grande influência para a juventude dos anos 60, que colocavam a mochila nas costas e botavam o pé na estrada. Foi lançado nos Estados Unidos da América, pela primeira, vez em 1957.

Responsável por uma das maiores revoluções do século XX, On the Road escancarou ao mundo o lado divertido da experiência da vida americana, a partir da viagem de dois jovens – Sal Paradise e Dean Moriaty – que atravessaram os Estados Unidos de costa a costa. Acredita-se que Sal Paradise, o personagem principal, seja o próprio Jack Kerouac. Também são encontrados no livro alguns escritores na forma de personagens, como Allen Ginsberg, como Carlo Marx, e William Burroughs, como Old Bull Lee.

É um livro que influenciou a música, do rock ao pop, os hippies e, mais tarde, até o movimento punk.
Fonte de pesquisa: Wikipédia

On the Road foi adaptado para o cinema e foi dirigido pelo brasileiro Walter Salles
Conta as aventuras de Sal Paradise e Dean Moriarty, estréia no Brasil no dia 25 de novembro de 2011.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Democracia, paz e guerra

Por que as demandas por maior participação política de correntes definidas como “diferentes” e “preocupantes são difíceis de serem abarcadas pela democracia?

Assista ao vídeo e reflita sobre a possibilidade de paz no mundo

Num bater de asas de borboleta... no Texas.

HUNDREDS "tanks" APC’s / Medical... moving EAST through TEXAS.. March 7, 2011

A música e o Sagrado

Ao contrário do funk, rap, hip-hop e samba que são mais ligados ao corpo, à sensualidade e à sexualidade, a música abordada nesse tópico busca a integração com a espiritualidade, o elo com o Sagrado.

Uma vez que não é divulgada pela mídia talvez também seja vista com reservas.

Para Gurdjieff as leis musicais são perfeitamente simbólicas da estrutura e do funcionamento da vida interior do homem e da Criação.

Hartmann disse: Se nós compararmos a música de todas as religiões veremos que a música desempenha um papel importante, uma parte importante nos assim chamados ‘ofícios religiosos’. Mas, após termos ouvido George Ivanovich (Gurdjieff), podemos entender mais e melhor que a música ajuda-nos a nos concentrarmos, a nos trazer para um estado de maior profundidade no qual podemos receber as maiores emanações possíveis. É por isso que a música é exatamente a coisa que o ajuda a ver mais alto.

A música elaborada por Gurdjieff em colaboração com seu aluno o compositor Thomas de Hartmann, simboliza a idéia da música como um elo com o Sagrado.

Thomas de Hartmann : « Rituel d'un ordre soufi », piano (3 extraits)


Faria diferença se fossem brasileiros, argelinos, egípcios, marroquinos, favela ou gueto?

*Chullage é o nome artístico de Nuno Santos.
É um rapper português,ativista e administrador de uma associação de apoio social na Arrentela.

Mostra do "Rio Baile Funk" em Paris

O baile funk é uma leitura e interpretação do cotidiano das favelas onde são derrubadas a convenção e a ilusão de integração social.Possui seus códigos de disciplina e é um direito cultural que os jovens das favelas se auto-reivindicam sem pedir a ninguém.



(Do Evolução Francesa) - Vincent Rosenblatt aterrissou pela primeira vez em terras brasileiras em 1999 por conta de um intercâmbio da École Nationale des Beaux-Arts. Logo depois de formado, deu um jeito de se mudar de vez para cá. “Fui irresistivelmente atraído pela vibração dos bailes, que derrubam os alicerces de uma convenção social e minam a ilusão de integração social no Brasil”, revela o francês, que já mora há oito anos no Rio de Janeiro.

Impressionado com a fragmentação social da cidade, com seus muros invisíveis que separam as favelas do asfalto, o fotógrafo decidiu registrar a cena funk carioca. “Logo percebi que eu poderia achar uma forma de ser aceito nos bailes e poder olhá-los mais de perto. Então, desde 2005 venho dedicando centenas de noites sem sono ao mergulho nos bailes, no corpo-a-corpo com o povo funkeiro”. Segundo ele, o baile funk de favela representa o exercício da liberdade de expressão absoluta. “Muitas vezes desprezados pela elite, os bailes funk constituem o principal espaço para o mix social, atraindo a cada fim de semana centenas de milhares de jovens da cidade inteira. Para muitos frequentadores, não é apenas diversão, mas uma necessidade vital, um direito cultural e cívico, algo pelo qual às vezes até arriscam a vida”, reflete.

Seu incansável trabalho faz nascer a expo “Rio Baile Funk”, um compilado de cliques que já passou pelo Rio, Brasília e Estocolmo. Agora, a mostra acaba de chegar a Paris e fica em cartaz até o dia 10 de abril na Maison Européenne de la Photographie.