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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Cobrança social no interior influencia bom desempenho no ensino

*Mateus Prado

A união da comunidade em prol de uma boa educação para os filhos contribui mais para as boas notas do que turmas pouco numerosas

A série de reportagens do iG Educação sobre os resultados das escolas de São Paulo no Saresp demonstrou que várias escolas públicas do interior já alcançam os resultados que desejamos que se tornarem universais e cheguem a todas as escolas do Estado.

O que faz com que escolas do interior, que, teoricamente, possuem menos infra-estrutura, consigam apresentar melhores resultados? Algumas das explicações aparecem nas reportagens do iG, como ter menos alunos por sala e estar mais próxima da comunidade e dos pais dos alunos.

Mas a razão vai além. A primeira preocupação de qualquer comunidade é com a sobrevivência. Cidades muito pobres do interior, apesar de também contarem com poucos alunos em sala de aula, não repetem o mesmo resultado. Nessas cidades, a preocupação com a sobrevivência afasta os alunos da escola ou os coloca somente de corpo físico nela, deixando a cabeça em outro lugar.

O fato é que o Brasil, nos últimos 20 anos, começou a vencer a luta contra a miséria. Houve um aumento significativo da renda média dos mais pobres, apesar de a renda nominal dos mais ricos não ter diminuído. O Brasil hoje continua sendo um dos países com mais desigualdades do mundo, mas a população mais pobre avança em sua renda nominal e milhões passam a formar uma nova classe média.

No interior, na medida em que caminhamos para a diminuição da preocupação das famílias mais carentes com a pobreza, começa a funcionar o Capital Social das comunidades. Mas o que é “Capital Social”?

Capital Social é a rede de relação entre as pessoas. A interação nessas redes gera, com o tempo, laços de confiança e colaboração, que ajudam a criar ambientes de inovação. Entre as famílias mais ricas, por exemplo, o Capital Social faz com que elas mantenham os melhores empregos e os maiores salários. É por isso, por exemplo, que alunos cotistas de universidades públicas costumam ter os melhores resultados médios durante o período em que estão no ensino superior, mas dificilmente atingem os maiores salários após a conclusão dos cursos. As redes de relação dos não-cotistas, a maioria oriunda de escolas particulares, colaboram para que eles atinjam com mais facilidade o sucesso profissional.

Só que as redes de relação funcionam também de outras formas. Em comunidades do interior, a relação entre as pessoas é muito maior. As pessoas se conhecem, se encontram nas ruas, na praça, na igreja, nas festas da cidade, no mercado, na padaria. Facilmente se reconhece o professor, o pai de aluno e os dirigentes de uma escola. A cobrança social é muito maior. A falta de um professor em um dia é rapidamente comentada por vários pais de alunos e também entre eles. Se a escola ficar sem professor de alguma matéria, a comunidade não tolera.

Pesquisas demonstram que as escolas religiosas costumam obter melhores resultados, relativos, dos seus alunos. Isso acontece porque pais, professores, dirigentes e alunos se encontram para além dos muros da escola. A convivência na igreja, nas atividades de lazer, sociais e culturais leva a uma cobrança mútua entre seus membros em relação à escola. As relações de confiança aumentam com o tempo, o Capital Social de cada membro e da comunidade religiosa aumenta e isso se reflete no rendimento dos alunos na escola. Dentro da igreja, sabe-se qual professor leciona mal, quais os materiais que faltam aos alunos, quais as novas tecnologias adotadas pela direção e todas as rotinas da escola. Essas escolas não precisam se aproximar da comunidade, simplesmente porque é a comunidade que ocupa "a escola".

No interior, guardadas as devidas proporções, acontece algo similar. Vencida a pobreza, é a educação dos filhos a maior preocupação das famílias. Soma-se a isso o fato de que a maioria dessas pequenas cidades nem tem escola particular. A classe média local coloca os filhos na mesma escola que as famílias de menor renda. E a classe média tem muito mais poder de pressão sobre as instâncias de decisão de uma escola, justamente porque o seu Capital Social tende a ser mais próximo desses professores e dirigentes.

Para finalizar, lembro que o que atrai bons professores é um bom salário. Professores ganham, em média, 60% a menos do que as pessoas com a mesma escolaridade em outras profissões, como já destaquei em vários artigos para o iG Educação. Como o salário do professor do estado é igual em todas as cidades, ele acaba sendo relativamente maior no interior. Certamente, o mesmo salário atrai melhores professores no interior do que nas cidades grandes do estado de São Paulo.
*Educador analisa o Enem, os vestibulares e o ensino brasileiro
Fonte: Portal iG

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