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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Kremesse: uma poesia que foge à norma culta

Kremesse

Foi um dia de kremesse.
Depois de rezá três prece
Pr’a que os santo me ajudasse,
Deus quis que nós se encontrasse
Pr’a que nós dois se queresse,
Pr’a que nós dois se gostasse,

Inté os sinos dizia
Na matriz da freguesia
Que embora o tempo corresse,
Que embora o tempo passasse,
Que nós sempre se queresse,
Que nós sempre se gostasse.

Um dia, na feira, eu disse
Com a voz cheia de meiguice
Nos teus ouvido, bem doce:
Rosinha si eu te falasse…
Si eu te beijasse na face…
Tu me dás-se um beijo? – Dou-se.

E toda a vez que nos vemo,
A um só tempo perguntemo
Tu a mim, eu a vancê:
Quando é que nós se casemo,
Nós que tanto se queremo.
Pr’o que esperamo? p’ro quê?

Peguei no meu cravinote
Dei quatro ou cinco pinote
Burricido como o quê,
Jurgando, antes não jurgasse,
Que tu de mim nao gostasse,
Quando eu só amo a vancê.

Esperei outra kremesse
Que o seu vigário viesse
Pr’a que nós dois se casasse.
Mas Deus não quis que assim sesse
Pro mais que nós se queresse
Pro mais que nós se gostasse.

Vancê não falou comigo
E eu com vancê, pro castigo,
Deixei de falá também,
Mas, no decorrê do dia,
Vancê mais bem me queria
E eu mais te queria bem.

- Caboco, vancê não presta,
Vancê tern ruga na testa,
Veneno no coração.
- Rosinha, vance me xinga,
Morde a surucucutinga,
Mas fica o rasto no chao.

E de uma vez, (bem me lembro)
Resto de safra… Dezembro…
Os carro afundando o chao.
Veio um home da cidade
E ao curuné Trindade
Foi pedi a sua mao.

Breve biografia de Olegário Mariano

Olegário Mariano Carneiro da Cunha (Recife, 24 de março de 1889 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1958)

Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha e de sua esposa, Olegária da Costa Gama, ambos heróis pernambucanos da Abolição e da República.

Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Em 1918, ele se tornou representante do Brasil na Missão Melo Franco, como secretário de embaixada na Bolívia. Foi deputado à Assembleia Constituinte de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados, depois foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira de Letras na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal entre 1953 e 1954. Exerceu o cargo de oficial do 4.° Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de notas.

Em 1938, em concurso promovido pela revista Fon-Fon, foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac, o primeiro a obtê-lo. Nas revistas Careta e Para Todos, escrevia sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos. Ficou conhecido como "o poeta das cigarras", por causa de um de seus temas prediletos.


Meu primeiro contato com a poesia Kremesse foi durante o primeiro ano do curso Clássico(hoje Ensino Médio)no glorioso Instituto Dr. Álvaro Guião, em São Carlos, SP.

A professora de Português que nos apresentou a poesia em questão,foi dona Cecília Pacheco.Professora sabida, exigente e de saudosa memória, não admitia conversas paralelas durante as aulas. Não me recordo da professora ou algum colega de classe, ter levantado a questão de que a forma de escrever adequada não era aquela apresentada em Kremesse.O entendimento estava na forma de abordagem feita pela mestra.

O bom professor suponho que saiba como criar formas de o próprio aluno distinguir a norma culta da popular e o contexto adequado para a utilização de uma ou de outra. Se não for capaz terá que tornar-se ontem ou então exercer outra profissão.

A Língua Portuguesa é muito mais abrangente do que a norma culta já nos ensina há tanto tempo a Linguística.

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