Até 2020, um em cada cinco habitantes do planeta será da classe C destes países; grupo responderá por um mercado de R$ 37 trilhões
A paulistana Bianca do Carmo, de 23 anos, comprou sua primeira câmera fotográfica digital no fim do ano passado. Seu sonho de consumo, agora, é um notebook com acesso à internet. Ela vive e trabalha em São Paulo, no bairro de Guaianases, zona leste. Com seu salário, consegue ajudar a família com as despesas do lar e realizar alguns pequenos desejos. Cui Yingjing, de 25 anos, é chinesa e, no mês passado, gastou o equilvante a R$ 160 em duas peças de roupa que namorou na vitrine do shopping center próximo à sua casa, em Xangai. Agora, ela está poupando para pagar uma passagem aérea quando tirar férias. Em Nova Déli, o indiano Sunil Vishwakarma, de 30 anos, comprou recentemente um vestido “não de uma loja qualquer, mas de um design” para sua mulher. O casal agora faz contas para encaixar no orçamento a mensalidade da escola do filho pequeno.
Cada um desses cidadãos vive em um lugar do mundo, tem sua religião e sua cultura. Mas os três estão entre o contingente de 314 milhões de pessoas que fazem parte da classe média do Brasil, Índia e China – um grupo que deve mais do que quadruplicar nos próximos dez anos. Em 2020, um em cada cinco habitantes do planeta será de classe média destes países.
Para Jim O’Neill, o economista do banco Goldman Sachs que em 2001 criou o termo “Bric” - para Brasil, Rússia, Índia e China -, não há duvidas de que ”essas famílias serão o principal motor do crescimento global até 2020”, como afirma em entrevista ao iG. A Rússia tem sido reiteradamente ficado para trás na análises dos bancos. Isso aconteceu porque a classe média russa não tem apresentado níveis de crescimento tão expressivo na comparação com os demais países.
Cada um desses cidadãos vive em um lugar do mundo, tem sua religião e sua cultura. Mas os três estão entre o contingente de 314 milhões de pessoas que fazem parte da classe média do Brasil, Índia e China – um grupo que deve mais do que quadruplicar nos próximos dez anos. Em 2020, um em cada cinco habitantes do planeta será de classe média destes países.
Para Jim O’Neill, o economista do banco Goldman Sachs que em 2001 criou o termo “Bric” - para Brasil, Rússia, Índia e China -, não há duvidas de que ”essas famílias serão o principal motor do crescimento global até 2020”, como afirma em entrevista ao iG. A Rússia tem sido reiteradamente ficado para trás na análises dos bancos. Isso aconteceu porque a classe média russa não tem apresentado níveis de crescimento tão expressivo na comparação com os demais países.
Hoje, há 94 milhões de brasileiros na classe C, quase metade da população do País. Na China, cerca de 160 milhões de cidadãos pertencem à classe média, ou 12% da população. Na Índia, a proporção é menor. São 5% dos indianos, ou cerca de 60 milhões de pessoas.
Mas a expectativa do banco Goldman Sachs é que mais pessoas terão uma renda maior, deixarão as condições de pobreza e passarão a fazer parte da classe C nos três países. “A década passada foi marcada pelo surgimento do Bric. A atual ficará para a história como a das classes médias desses países”, afirmam os economistas do Goldman Sachs, no relatório “É a década dos Brics?”.
O maior avanço percentual da classe média deverá ocorrer na Índia. Em outra pesquisa, "A Classe Média Global", o Goldman Sachs estima que 46% dos indianos farão parte desta categoria até 2025, algo como 583 milhões de habitantes – quase o dobro da população atual dos Estados Unidos.
Mas é na China que mais pessoas vão aumentar o tamanho do grupo. A consultoria McKinsey & Company prevê que 700 milhões de habitantes devam fazer parte da classe média chinesa em cerca de dez anos, aproximadamente metade da população atual. No Brasil, o crescimento será menos expressivo, na visão dos economistas do Goldman Sachs, mas serão da classe C nada menos do que 60% dos brasileiros.
Ao todo, serão pelo menos 1,3 bilhão de pessoas - mais do que todos os moradores da Europa e dos Estados Unidos - consumindo produtos e serviços. Em um momento em que norte-americanos e europeus controlam seus gastos – ainda abalados pela crise financeira de 2008 – brasileiros, chineses e indianos formam um mercado consumidor gigantesco não só para os próprios países, mas para todo o mundo.
Na projeção da consultoria McKinsey, o poder aquisitivo desse exército global de consumidores pode chegar a US$ 20 trilhões, ou aproximadamente R$ 36,6 trilhões, em 2020, duas vezes o poder de consumo atual dos Estados Unidos.
Todo esse dinheiro não será destinado apenas ao pagamento das despesas essenciais - como luz, água, alimentação, transportes, entre outras - das famílias brasileiras, indianas e chinesas de classe média. Muitas outras Biancas, Yingjings e Sunils vão comprar câmeras fotográficas digitais, notebooks, roupas, viagens e cursos.
“Conforme a renda melhora, uma porcentagem maior do orçamento – que antes era mais concentrada em alimentação e outras despesas – passa a ser usada em itens opcionais”, afirma a economista indiana Rachna Saxena, do banco Deutsche Bank, no estudo “A classe média da Índia”.
Dessa forma, o consumo das famílias de classe média nos três países deverá ser responsável por quase metade (49%) do crescimento global entre 2010 e 2020, na projeção dos economistas do Goldman Sachs no estudo “Os Brics como motores do consumo global”. Na última década, Brasil, Índia e China contribuíram com pouco mais de um terço do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, que é a soma das riquezas geradas) do mundo, segundo cálculos do banco.
Círculo virtuoso
A continuidade do crescimento econômico e da renda, nos três países, será o principal motivo de expansão das classes médias. Rachna, do Deutsche Bank, diz que os países vivem um círculo virtuoso. “O aumento da renda leva ao maior consumo, que acaba puxando o crescimento econômico, então surgem melhores oportunidades de emprego e, em consequencia, maiores salários, então o círculo começa outra vez.”
Dentro deste movimento, à medida que conseguirem emprego e maiores salários, brasileiros, indianos e chineses vão deixar a pobreza e passar à classe média. “Com pelo menos duas pessoas trabalhando formalmente, a família provavelmente já entra para a classe C”, diz o pesquisador Haroldo Iunes, da consultoria Plano CDE, com sede em São Paulo e que analisa o universo das classes C, D e E.
Para Jim O´Neill, além do aumento do emprego e da renda, outros fatores devem continuar a contribuir para o crescimento das economias e das classes médias brasileira, indiana e chinesa: a urbanização e a globalização. “As aspirações pessoais, os ganhos de produtividade, globalização e a crescente urbanização serão fundamentais”, afirma o economista da Goldman Sachs.
Na China, milhares de pessoas deverão sair de zonas rurais rumo a cidades maiores em busca de salários mais altos. “Esses trabalhadores, que hoje são os mais pobres do país, deverão subir a escada da renda, criando uma nova e massiva classe média”, afirmam economistas da McKinsey no estudo “O valor da classe média emergente na China”. Hoje, cerca de 60% dos chineses ainda vivem no campo, segundo a consultoria.
O mesmo acontecerá na Índia. Lá, a consultoria McKinsey estima uma cifra ainda maior, de 71% da população. No Brasil, 16% vivem em áreas rurais, segundo o Censo 2010 do IBGE.
Capital humano
Além disso, mais empresas de todo o mundo vão demandar cada vez mais força de trabalho e capital intelectual de brasileiros, indianos e chineses. Para o economista Gautam Singh, do banco indiano AnandRathi, o avanço da classe média de seu pais deverá ser puxado por oportunidades de trabalho em serviços. “O setor deve crescer em média 10% ao ano até 2020.”
Grande parte da demanda deve vir do exterior. No livro “O Mundo é Plano”, do jornalista norte-americano e colunista do "The New York Times" Thomas Friedman, vencedor de três prêmios Pulitzer, diz que o crescimento chinês e indiano já vem sendo impulsionado pela terceirização de trabalho, que é resultado de investimentos em tecnologia e em banda larga e do barateamento dos computadores em todo o mundo. “O trabalho e o capital intelectual podem ser realizados de qualquer ponto do globo.”
Em Bangalore, na Índia, empresas de contabilidade contratadas por companhias dos Estados Unidos fizeram mais de 400 mil declarações de Imposto de Renda de norte-americanos em 2005, segundo Friedman. “Cerca de 70 mil contadores se formam na Índia a cada ano. A comunicação de alta velocidade, o treinamento e os formulários padronizados permitem convertê-los num prazo breve, a um custo pífio, em contadores ocidentais rudimentares.”
No mesmo sentido, hospitais norte-americanos terceirizam a elaboração de laudos de tomografia para médicos indianos e, em 2006, cerca de 245 mil indianos atendiam ligações de todas as partes do mundo em call centers instalados na Índia.
Na China, Friedman dá como exemplo da globalização a cidade portuária de Dalian, no nordeste do país. “GE, Microsoft, Dell, SAP, HP, Sony, Accenture, todas elas canalizaram para lá as atividades de apoio administrativo de suas operações na Ásia, bem como a pesquisa e o desenvolvimento de novos softwares.” A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2001, incentivou empresas estrangeiras a se instalarem não só em Dalian, mas em todo o país, e serem protegidas pelas leis intencionais, segundo Friedman.
Dalian tem 22 universidades e mais de 200 mil alunos, a maioria de engenharia, que são incentivados a aprender inglês e japonês para ganhar empregabilidade. “A ideia na China é de primeiro trabalhar para os outros, depois montar suas próprias empresas.”
No Brasil, as apostas são de que o crescimento econômico e o aumento do crédito vão levar as pessoas a consumirem mais. Como o custo da mão de obra é maior do que em outros países, o País deverá atrair investimentos estrangeiros principalmente em infraestrutura, setor que possui enormes demandas, recursos naturais, bioenergia e petróleo e gás.
Fonte: Portal iG
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