*Seth Kugel
É bem difícil um turista chegar ao Brasil e não se apaixonar pela paisagem, pela música, pela comida. Mas é o povo que deixa a melhor impressão. Vocês são charmosos, otimistas, sorridentes, hospitaleiros. E as qualidades são contagiantes. O estrangeiro chega e entra na mentalidade brasileira. Como dizem, quando em Roma, faça como os romanos…
Mas o que acontece quando o romano sai de Roma? Ou seja, agora que muitos brasileiros estão viajando pela primeira vez para o exterior é preciso pensar em quais “brasilidades” funcionam, e quais não, além das fronteiras brasileiras.
É bem difícil um turista chegar ao Brasil e não se apaixonar pela paisagem, pela música, pela comida. Mas é o povo que deixa a melhor impressão. Vocês são charmosos, otimistas, sorridentes, hospitaleiros. E as qualidades são contagiantes. O estrangeiro chega e entra na mentalidade brasileira. Como dizem, quando em Roma, faça como os romanos…
Mas o que acontece quando o romano sai de Roma? Ou seja, agora que muitos brasileiros estão viajando pela primeira vez para o exterior é preciso pensar em quais “brasilidades” funcionam, e quais não, além das fronteiras brasileiras.
Sorrir muito e ter uma atitude positiva são qualidades que sempre ajudam
Sorrir muito e ter uma atitude positiva sempre vão dar certo. Outros costumes… nem tanto. Seguindo a tradição da coluna, fiz uma lista de sete, ou seja Seth, erros para o brasileiro evitar no exterior. (Um esclarecimento para o leitor. Deve ser irônico receber conselhos de comportamento de alguém dos Estados Unidos, país que produz talvez o turista mais chato e irritante do mundo – o famoso “ugly American”. Mas é que meu povo já é um caso perdido. Há séculos que nós viajamos pelo planeta fazendo besteiras, e cachorro velho não aprende truques novos. Para vocês, ainda há tempo.)
1) FALAR COM O POLEGAR. É talvez a “brasilidade” mais comentada pelos americanos que visitam o seu país pela primeira vez: esse sinal de levantar o polegar (ou até os dois) para dizer “ok”, ou “não tem problema”, ou “de nada”, ou “pode passar” ou até simplesmente “bom dia”. O brasileiro não inventou o “thumbs up” (como se diz em inglês), mas é de longe o país que mais usa. Por exemplo, tenho um amigo que cada vez que viaja ao Brasil conta quantos “thumbs up” recebe por dia. Dois polegares ao mesmo tempo valem dois, óbvio.
Tudo bem dentro do Brasil. Mas em muitos outros países, é esquisito – até brega – fazer isso. (E em alguns países é vulgar: Bangladesh, por exemplo.) Para nós, nos Estados Unidos, é coisa do passado. Lembra muito o personagem “The Fonz” do seriado “Happy Days”, um cara cool demais… só que nos anos 50.
2) TOMAR BANHO. E OUTRO. E MAIS UM. Os brasileiros são, sem dúvida, o povo mais limpo do mundo. Às vezes acho que nos dias mais quentes do verão vocês passam mais tempo debaixo do chuveiro do que fora. Eu não admito aos amigos brasileiros que nem sempre tomo banho antes de dormir, por medo de perder a amizade ou talvez até meu visto.
Mas quando for viajar, lembre que o Brasil tem 14% da água doce do mundo, e só 3% da população do planeta. Em muitos países a água é escassa, em outros o custo para aquecê-la é alto. Quando eu estudava em Paris, hospedado com uma família francesa, minha “mãe” reclamava muito quando eu passava mais de cinco minutos no chuveiro. Num hotel, pelo menos, ninguém vai saber que você está gastando demais os recursos naturais do país. Mas se você ficar na casa de amigos, tente se limitar a um banho curto por dia. Não se preocupe: que eu saiba ninguém nunca morreu por ficar pouco tempo no banho, nem mesmo na França.
Em muitos países, o tamanho dos biquínis brasileiros vão atrair olhares estranhos
3) USAR SUNGAS E BIQUÍNIS BRASILEIROS. Não é que não pode. É que você só deve ficar ciente das repercussões. Queridas brasileiras, eu conheço vocês, e vocês adoram comentar quando uma gringa aparece na praia de Ipanema com um desses biquínis feios que cobrem a bunda toda. Agora se preparem para uma revanche. Se vocês andarem com um biquíni brasileiro ¬– desses que tapam talvez 10% da sua bunda – em muitos países vão atrair alguns olhares estranhos das mulheres locais. (Os homens vão gostar, com certeza, mas só porque o biquíni lembra um pouco a roupa de uma stripper.)
Quanto à sunga, em alguns países, tudo bem. Em outros, como é o caso do meu, se considera bem esquisito e meio vulgar. Exemplo: num episódio do programa americano Curb Your Enthusiasm, o personagem principal (o comediante Larry David) enxerga o psiquiatra dele na praia… de sunga. Fica horrorizado e decide desistir da terapia.
4) LIXO NO LIXO. O mundo está dividido em duas partes: a que tem sistema de esgotos que permite jogar o papel higiênico na privada, e a que não tem. E, desculpe a intimidade, mas no mundo com sistema de esgotos que permite, se considera muito nojento jogar papel usado no
lixo.
Fora do Brasil as pessoas não costumam se beijar tão apaixonadamente em público
5) BEIJAR À VONTADE. O problema do beijo de cumprimento é bem documentado, não vou perder seu tempo falando de quantas vezes se beija em cada cidade do mundo. O problema é o beijo na boca, que no Brasil é muito mais aceitável em público do que em outros países. Ou seja: nas ruas, nos parques, nas mesas de bares e restaurantes, até na fila para entrar no cinema. Por isso eu sempre digo que o lema oficial do Brasil deveria ser “Get a room!”. Essa frase, que em tradução livre seria algo como “Arrume um motel!”, é o que se fala quando um casal está expressando sua afeição de forma… exagerada.
Juro que em nenhum outro país do mundo (que eu conheça) os casais se beijam tão aberta e apaixonadamente em público quanto no Brasil. E pior, ao lado dos amigos. Eu não estou contra, e até faço também quando a situação se justifica… no Brasil. Mas em outros países, na maioria das situações, é preciso se controlar para não constranger os outros. Existem exceções: no cinema, até pode, mas pelo amor de Deus só se estiverem sozinhos, e não ao lado de um casal de amigos. Na balada ou numa festa, ok, não precisa arrumar um motel para se beijar. Mas arrume um cantinho escuro pelo menos.
5) BEIJAR À VONTADE. O problema do beijo de cumprimento é bem documentado, não vou perder seu tempo falando de quantas vezes se beija em cada cidade do mundo. O problema é o beijo na boca, que no Brasil é muito mais aceitável em público do que em outros países. Ou seja: nas ruas, nos parques, nas mesas de bares e restaurantes, até na fila para entrar no cinema. Por isso eu sempre digo que o lema oficial do Brasil deveria ser “Get a room!”. Essa frase, que em tradução livre seria algo como “Arrume um motel!”, é o que se fala quando um casal está expressando sua afeição de forma… exagerada.
Juro que em nenhum outro país do mundo (que eu conheça) os casais se beijam tão aberta e apaixonadamente em público quanto no Brasil. E pior, ao lado dos amigos. Eu não estou contra, e até faço também quando a situação se justifica… no Brasil. Mas em outros países, na maioria das situações, é preciso se controlar para não constranger os outros. Existem exceções: no cinema, até pode, mas pelo amor de Deus só se estiverem sozinhos, e não ao lado de um casal de amigos. Na balada ou numa festa, ok, não precisa arrumar um motel para se beijar. Mas arrume um cantinho escuro pelo menos.
Cheque no guia de viagem quanto se deve dar de gorjeta em cada país, mas nunca deixe de dar
6) ESQUECER A GORJETA. Em Nova York, os garçons odeiam os estrangeiros. Por quê? Porque um garçom nos EUA não ganha quase nada de salário – recebe até menos de um salário mínimo, porque vive das gorjetas. Até os estrangeiros que sabem disso acham justo deixar 10% ou 12%. Não é. É 15% se você é chato (ou se o garçom foi chato) e 18% ou 20% se não. E sem reclamar. Em outros países, a gorjeta varia muito, por isso você sempre deve dar uma olhada no sua guia de viagem ou procurar na internet. (Eu não conheço um bom site em português mas em inglês existem muitos – bota “tipping by country” no Google.
7) PEDIR CERVEJA COMO SE ESTIVESSE NO BRASIL. Uma vez fui jantar em Nova York com uma família de brasileiros. O pai acabava de chegar ao país e tentou explicar à garçonete (em português, que ela não entendia) que queria a cerveja com dois dedos de colarinho. Quando a bebida chegou sem espuma nenhuma, ele reclamou e tentou explicar de novo. A garçonete falou para nós: “Explique para ele que entendo o que ele quer, mas o negócio do chope não funciona assim.” E é verdade: colarinho na cerveja é um fenômeno brasileiro que é difícil de encontrar na maioria de países (fora a cerveja Guinness).
6) ESQUECER A GORJETA. Em Nova York, os garçons odeiam os estrangeiros. Por quê? Porque um garçom nos EUA não ganha quase nada de salário – recebe até menos de um salário mínimo, porque vive das gorjetas. Até os estrangeiros que sabem disso acham justo deixar 10% ou 12%. Não é. É 15% se você é chato (ou se o garçom foi chato) e 18% ou 20% se não. E sem reclamar. Em outros países, a gorjeta varia muito, por isso você sempre deve dar uma olhada no sua guia de viagem ou procurar na internet. (Eu não conheço um bom site em português mas em inglês existem muitos – bota “tipping by country” no Google.
7) PEDIR CERVEJA COMO SE ESTIVESSE NO BRASIL. Uma vez fui jantar em Nova York com uma família de brasileiros. O pai acabava de chegar ao país e tentou explicar à garçonete (em português, que ela não entendia) que queria a cerveja com dois dedos de colarinho. Quando a bebida chegou sem espuma nenhuma, ele reclamou e tentou explicar de novo. A garçonete falou para nós: “Explique para ele que entendo o que ele quer, mas o negócio do chope não funciona assim.” E é verdade: colarinho na cerveja é um fenômeno brasileiro que é difícil de encontrar na maioria de países (fora a cerveja Guinness).
Não espere cerveja muito gelada em todos os países. A baixa temperatura não ajuda a sentir o sabor
Quanto à cerveja gelada, o mundo está mais dividido. Normalmente, pessoas de países tropicais gostam de cervejas fracas e bem geladas, para se refrescar num dia quente. Esse é o caso do Brasil. Mas em muitos outros países se acredita que o sabor é mais importante, e é fato que cerveja muito gelada perde o sabor. Um dia, na Bolívia, eu estava jantando com um casal de brasileiros que reclamou à garçonete que a cerveja estava quente. Tentei explicar para eles: “não vai ter mais gelada, aqui se toma assim.”
Nossa, já chegamos a sete? Então preciso colocar um bônus especial para meus queridos paulistanos:
7 – B) MATAR PEDESTRES À VONTADE. Não sou advogado, mas segundo observo nas ruas de São Paulo, a lei local determina que um motorista que vê um pedestre atravessar a rua e não tenta matá-lo vai preso. Mas quando você alugar um carro em outro país, preste atenção: o pedestre tem algo que se chama “direitos.” Em alguns países da Europa, da Ásia e estados dos Estados Unidos, a lei até exige parar o carro quando alguém pisa na faixa de pedestres.
Agora, a boa notícia. O brasileiro é tão querido no mundo – pelos jogadores de futebol, pela música, pela atitude – que até pode cometer os erros e ninguém vai reclamar. Bom, talvez o pedestre, se é que ele sobrevive.
* jornalista norte-americano que divide seu tempo entre São Paulo, Nova York e o resto do mundo. Além do Viagens, ele registra suas experiências na coluna Frugal Traveler, do The New York Times
Fonte: Portal iG
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