'A Árvore da Vida', de Terrence Malick, conta a origem do universo para narrar as memórias da infância de um homem deslocado em seu tempo.
*Rafael Brandimarti
Uma citação do Livro de Jó seguida de uma névoa alaranjada que aos poucos se transforma no que poderia ser uma Madona dão início ao quinto longa-metragem do diretor norte-americano Terrence Malick, A Árvore da Vida (The Tree of Life).
Bissexto por excelência, Malick volta à direção após um hiato de seis anos e não desaponta aqueles que esperaram.
A Árvore da Vida, filme-poesia que estreia nesta sexta-feira 12 nos cinemas, recebeu a Palma de Ouro em Cannes, tornando-se assim um dos filmes mais aguardados do ano e, consequentemente, favorito na corrida ao Oscar do ano que vem.
Estrelado por Brad Pitt e Sean Penn, o longa narra a história de uma família americana, na década de 50, encabeçada por um pai rigoroso (Pitt), uma mãe extremamente amorosa (Jessica Chastain), e seus três filhos homens, na tenra idade ainda.
Após uma notícia devastadora, tal qual as desgraças que caíram sobre o próspero Jó, a narrativa do filme corta para o presente e mostra um homem maduro e bem-sucedido (Penn), embora deslocado em seu meio e envolto em questionamentos existenciais e laços de família partidos.
O que poderia parecer banal ganha ares de sublime quando Malick faz uma longa digressão com belas imagens da Terra e conta, por meio de som e fúria, as origens da vida no planeta, do Big Bang até os dias de hoje, passando pelos dinossauros e sua extinção.
O filme parte da infância para o presente de um homem maduro e bem-sucedido (Penn), deslocado em seu meio e envolto em questionamentos existenciais e laços de família partidos*Rafael Brandimarti
Uma citação do Livro de Jó seguida de uma névoa alaranjada que aos poucos se transforma no que poderia ser uma Madona dão início ao quinto longa-metragem do diretor norte-americano Terrence Malick, A Árvore da Vida (The Tree of Life).
Bissexto por excelência, Malick volta à direção após um hiato de seis anos e não desaponta aqueles que esperaram.
A Árvore da Vida, filme-poesia que estreia nesta sexta-feira 12 nos cinemas, recebeu a Palma de Ouro em Cannes, tornando-se assim um dos filmes mais aguardados do ano e, consequentemente, favorito na corrida ao Oscar do ano que vem.
Estrelado por Brad Pitt e Sean Penn, o longa narra a história de uma família americana, na década de 50, encabeçada por um pai rigoroso (Pitt), uma mãe extremamente amorosa (Jessica Chastain), e seus três filhos homens, na tenra idade ainda.
Após uma notícia devastadora, tal qual as desgraças que caíram sobre o próspero Jó, a narrativa do filme corta para o presente e mostra um homem maduro e bem-sucedido (Penn), embora deslocado em seu meio e envolto em questionamentos existenciais e laços de família partidos.
O que poderia parecer banal ganha ares de sublime quando Malick faz uma longa digressão com belas imagens da Terra e conta, por meio de som e fúria, as origens da vida no planeta, do Big Bang até os dias de hoje, passando pelos dinossauros e sua extinção.
É a forma encontrada por Malick para encaixar a ideia do macro (com imagens do planeta e do espaço) e do micro (como a vida molecular). Ondas quebrando no mar, uma corredeira de rio, sequoias gigantes, nebulosas, o cosmo, um sistema circulatório em funcionamento, a vida selvagem, crianças brincando com bolhas de sabão, um prédio envidraçado refletindo o sol num complexo de escritórios.
Marca registrada do diretor, a natureza e os planos contemplativos estão presentes também nos seus filmes anteriores, como em O Novo Mundo, de 2005, e no belo Além da Linha Vermelha, de 1998.
Recluso a ponto de não comparecer à prémiere e à premiação do longa em Cannes, Malick entrega em 138 minutos de filme o seu trabalho mais “sagrado” e silencioso, a ponto de seus protagonistas perpassarem a tela muitas vezes mudos, observadores da experiência de vida que protagonizam e que o filme tenta explicar.
A falta de diálogos é preenchida por uma belíssima trilha sonora que, nos momentos da formação da Terra, funciona como um paralelo contemporâneo com o quarto movimento de Fantasia, da Disney, musicado então pela revolucionária Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky (1882-1971).
Os três irmãos da narrativa aparecem quase sempre como representação dos questionamentos e recordações do filho mais velho (nenhum nome é mencionado no filme). Este, quando criança, em meio a deveres como cuidar do gramado da casa e aventuras com os meninos da vizinhança, flerta com a perda da inocência e o latente conflito com a figura opressora do pai, um inventor frustrado que deposita nos três filhos o sucesso que não conseguiu atingir na vida.
Muito bem dirigido – a ponto de prescindir de roteiro durante o “gênesis” – e com uma belíssima fotografia, A Árvore da Vida, se não é o melhor filme do ano, deixa no espectador a sensação de incerteza pouco comum, rara até, ao final de um filme: “Mas o que foi que eu vi afinal?” Nada que uma volta à sala escura e à bela poesia de Malick não resolva.
O longa narra a história de uma família americana, na década de 50, encabeçada por um pai rigoroso (Pitt), uma mãe extremamente amorosa (Jessica Chastain), e seus três filhos
Com seu final idílico e altruísta, o filme sintetiza, de uma forma singela e ao mesmo tempo trabalhosa, aquilo que o indivíduo autoindulgente busca na vida. Ideia esta muito bem colocada numa das várias falas em off da mãe, a “árvore da vida” do filme: “A menos que você ame, sua vida passará rapidamente”.
Com seu final idílico e altruísta, o filme sintetiza, de uma forma singela e ao mesmo tempo trabalhosa, aquilo que o indivíduo autoindulgente busca na vida. Ideia esta muito bem colocada numa das várias falas em off da mãe, a “árvore da vida” do filme: “A menos que você ame, sua vida passará rapidamente”.
Em tempo: a “névoa” colorida que permeia o filme do início ao fim remete à escultura de luz Opus 161, do artista dinamarquês Thomas Wilfred (1889-1968).
* CartaCapital
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