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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fundação Abrinq fará campanha contra Ideb na porta da escola

Instituição divulgou nota alertando para a inconstitucionalidade de medida em vigor em algumas cidades e em estudo no Congresso

A Fundação Abrinq – criada no ano de promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – divulgou nota em alerta em que alerta aos governos para a inconstitucionalidade do Ideb na porta da escola. A ONG fará campanha contra proposta em estudo na Câmara dos deputados e já em vigor em algumas cidades de colocar uma placa na porta da escola expondo o resultado da unidade na avaliação.

A psicopedagoga Amélia Bampi, coordenadora de Educação da Fundação, afirmou que a instituição fará campanha junto aos prefeitos de todo o Brasil para que não adotem a medida. “É contra a Constituição, contra o ECA e não resolve nenhum problema. O Ideb é válido, mas ao lado de outros instrumentos, não como forma de expor a vexame crianças e adolescentes”, disse.

Segundo ela, a Abrinq monitorava a proposta no Congresso desde sua apresentação em junho e resolveu se posicionar após representação do Movimento Nacional dos Direitos Humanos à promotoria da infância do Rio de Janeiro. Na capital fluminense e no Estado de Goiás, a medida já está em vigor. “Temos 1.600 prefeitos do projeto Parceiros da Criança que receberão explicações sobre a inconstitucionalidade da medida pela parceria, mas vamos tentar falar com todos”, diz.

Na terça-feira, o iG publicou reportagem em que a professora da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, Glória Regina Lima, o vice-presidente da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, Ariel de Castro Alves, e o membro da Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente, Carlos Nicodemos, explicavam que a medida expõe os alunos a vexame e constrangimento.

Portanto, é inconstitucional. O deputado Ronaldo Caiado (DEM), autor da proposta baseada na ideia do economista Gustavo Ioschpe, disse que “mais do que nunca” iria se esforçar para aprovar a medida.
Fonte: Portal iG

Para especialistas, Ideb na porta da escola é inconstitucional

“A intenção de mobilizar pelo constrangimento já está errada, o objetivo parece ser a exposição que fatalmente vai levar ao vexame e ao preconceito”

Professora e representantes do Direito da Criança e do Adolescente dizem que medida expõe a constrangimento e vexame

O projeto que obriga as escolas a colocar na porta da unidade a nota que obtiveram no Índice da Educação Básica (Ideb) expõe os alunos a constrangimento e vexame vetados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pela Constituição Federal. A conclusão é de especialistas na área ouvidos pelo iG.

A proposta em estudo pelo Congresso Nacional já está valendo por decreto na cidade do Rio de Janeiro desde o início do mês e no Estado de Goiás há uma semana. A ideia, do economista Gustavo Ioschpe, é que a exposição do índice mobilize a comunidade em volta das instituições com nota baixa para que pressionem professores e governantes.

Para isso, o Ideb – que é o resultado da nota obtida pelos alunos na Prova Brasil multiplicado pelo porcentual de estudantes aprovados – deve ser colocado em uma placa que iria do vermelho para o azul, deixando o mais claro possível se a escola foi bem ou mal na avaliação. Quando o Rio de Janeiro adotou a medida, estudantes ouvidos pela reportagem disseram concordar desde que a escola tivesse a nota boa e que sentiriam vergonha se estudassem em uma instituição mal avaliada.

Para a titular da cadeira de Direito da Criança e do Adolescente na Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, Glória Regina Lima, “não resta dúvida da inconstitucionalidade” da medida. “A Carta cidadã em seu artigo 227 estabelece, dentre outros, o dever do Estado de assegurar a educação à criança e ao adolescente e ainda determina salvaguardá-los de toda forma de discriminação”, explica ela.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990 e amplamente elogiado pela Unesco é mais específico. O artigo 18 impõe como “dever de todos” impedir qualquer tratamento “vexatório ou constrangedor”. “O famigerado decreto municipal está na contramão dos imperativos legais que priorizam com a mais absoluta clareza a preponderância dos interesses dos menores sobre qualquer outro”, conclui a professora.

“A intenção de mobilizar pelo constrangimento já está errada, o objetivo parece ser a exposição que fatalmente vai levar ao vexame e ao preconceito”

Para Glória, não é problema o uso da nota internamente entre professores, alunos e comunidade, mas a exposição para pessoas não envolvidas diretamente e a atribuição dela às crianças que, ao entrar e sair do local, estarão sendo expostas. “A ideia promove a discriminação pelo contágio moral, que alcança induvidosamente a criança e o adolescente e os profissionais que integram a escola, ferindo de morte um dos direitos fundamentais o da dignidade de pessoa humana”, acrescenta, referindo-se ao artigo 5º da Carta Magna.

O vice-presidente da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, Ariel de Castro Alves, acha que o próprio objetivo da lei desrespeita o ECA. “A intenção de mobilizar pelo constrangimento já está errada, o objetivo parece ser a exposição que fatalmente vai levar ao vexame e ao preconceito”, diz.

Na opinião dele, as normas em vigor no Rio e em Goiás não têm validade por contrariar legislações maiores como o ECA e a própria constituição. “Na Câmara dos Deputados e no Senado a proposta deve ser avaliada por uma comissão de justiça que deve perceber a contradição”, analisa.

O especialista em Direitos Humanos pela Universidade Complutense de Madrid e membro da Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente, Carlos Nicodemos, acha que trata-se de “obrigar a sociedade a executar um processo discriminatório”. Para ele, o Ideb está disponível para interessados e não é necessário expor em local de passagem dos alunos. “Além de ferir o ECA, o Estado está delegando a comunidade um papel que é dele, de dar educação de qualidade para as crianças."
Ele também critica a falta de alternativa aos estudantes. "Se eles se sentirem constrangidos, deveriam poder escolher onde estudar. Infelizmente não é esta a realidade ofertada."

Resposta dos governos

Questionadas, as secretaria de Educação do município do Rio de Janeiro e do Estado de Goiás não responderam sobre a questão jurídica, mas defenderam a posição.

A pasta do Rio enviou a seguinte nota: "A decisão de divulgar o Ideb e o IDE-Rio e as metas de melhoria do ensino a serem alcançadas pelas escolas, de acordo com orientação do Ministério de Educação, tem como objetivo informar a sociedade como está o desempenho educacional de cada escola e, assim, engajar a comunidade escolar no processo de melhoria da qualidade do ensino. A Secretaria informa, ainda, que a ideia foi inspirada, também, pela iniciativa da direção do Ciep Lindolfo Collor, em Rio das Pedras, Jacarepaguá, de afixar nas paredes da unidade as metas a serem alcançadas em 2010, conseguindo, assim, envolver toda a escola na melhoria do ensino. Como resultado, ressalta a SME, a escola conseguiu atingir a meta, garantindo aos professores e funcionários o Prêmio Anual de Desempenho."

A Secretaria Estadual de Educação de Goiás informou que trata-se de uma medida que visa "despertar na sociedade, sobretudo nos pais e responsáveis pelos estudantes, o interesse pela educação pública e mostrar a necessidade de que todos, de uma forma ou de outra, se engajem para que educação de qualidade seja acessível a todos".

A nota segue: "A Secretaria da Educação avalia que a nota do Ideb afixada na escola vai dar às famílias o direito de conhecer a qualidade do ensino que seu filho está recebendo. Também despertará nelas o interesse sobre o que representa aquela nota e o que fazer para que ela aumente. E então já teremos aí um dos fatores apontados por estudos nacionais e internacionais como um dos mais importantes no desenvolvimento escolar do estudante: o envolvimento de sua família, o acompanhamento de seus pais, o estímulo e a atenção daqueles que são os precursores daquilo que a escola deve oferecer mais adiante, uma boa formação. A Secretaria da Educação naturalmente não deixaria de lado a mobilização social como uma das ferramentas para apoiar o trabalho de elevar a qualidade da Educação no Estado. Com o acompanhamento de todos, inclusive dos professores, que certamente lutarão para que seu trabalho na escola atinja os melhores resultados, e com as ações que desde o começo deste ano estão sendo implementadas por este governo, muito em breve as placas com a nota do Ideb serão motivo de orgulho para todas as escolas estaduais e para toda a comunidade escolar."
Fonte: Portal iG


terça-feira, 30 de agosto de 2011

O sentido politico da “faxina” de Dilma

Ao agir de modo aberto contra corrupção, presidente pode deixar direita sem discurso. Mas até onde ela levará sua ofensiva?

Por Felipe Amin Filomeno*, colaborador de Outras Palavras e editor de blog pessoal


O que a “faxina” que a presidente Dilma Rousseff está realizando nos ministérios tem a dizer sobre a conjuntura social do Brasil contemporâneo? Num sentido amplo, é um fenômeno político implicado na trajetória de crescimento econômico com equidade social promovida desde 2003 pelas administrações do PT. Ao longo desta trajetória, as forças sociais conservadoras foram esvaziadas de um discurso crítico sobre política econômica e social, tendo que concentrar seus esforços em ataques à corrupção. Por outro lado, à medida em que a democracia se fortalece e problemas sócio-econômicos são minimizados, segmentos politicamente conscientes da sociedade tendem a apresentar novas demandas ao Estado, tal como o combate à corrupção.

A novidade de Dilma pode ser a passagem de uma estratégia defensiva para outra de ataque, capaz de enfraquecer ainda mais as forças conservadoras. A “social democracia globalizada” de Lula trouxe aumento da massa salarial e do nível de emprego, redução das desigualdades e incorporação de milhares de brasileiros à classe média. Como estratégia politicamente moderada de desenvolvimento, envolveu a criação de uma ampla coalizão de centro-esquerda, tendo PT e PMDB como componentes principais. Para os intelectuais de esquerda e movimentos sociais mais radicais, a agenda meramente reformista de Lula foi uma decepção. O que estes talvez não tenham percebido é que foi justamente a “moderação” de Lula uma das principais causas de uma grande vitória da esquerda brasileira: a anulação do Democratas, principal representação partidária do neoliberalismo no país. O reformismo de centro-esquerda de Lula atraiu a classe média, trouxe benefícios aos pobres e, num momento de prosperidade, deixou a oposição sem um discurso que veiculasse um projeto alternativo ao país.

Na falta de uma estratégia focada em políticas econômicas e sociais, à oposição restou o ataque à corrupção. Isto não foi fácil. Em primeiro lugar, era preciso convencer a sociedade de que a corrupção era um traço distinto da administração do PT, ao invés de uma prática arraigada no Estado brasileiro que, por séculos, foi comandado por aquelas mesmas forças conservadoras em benefício das elites do país. Em segundo lugar, era preciso que tais ataques enfraquecessem não apenas o governo ou o partido, mas Lula, pessoalmente. Não funcionou. Apesar do mensalão, Lula derrotou Geraldo Alckmin.

Entretanto, não era nem o Democratas, nem o PSDB, o grande articulador da estratégia conservadora focada no ataque à corrupção. Foi a grande mídia tradicional, através de reportagens baseadas em versões e boatos, e de uma cobertura tendenciosa e desproporcional dos fatos. Seja em sua forma partidária ou em sua versão midiática, o ataque conservador à corrupção contribuiu mais para gerar crises de governabilidade do que para combater este terrível problema. Afinal, o ataque era muito mais fruto do oportunismo das forças sociais conservadoras do que de um compromisso com a ética no serviço público. Fosse isto teriam expurgado a corrupção do aparato estatal durante os 500 anos em que governaram o país, certo?

Bom, mas há um lado positivo nisso tudo. À medida em que o brasileiro se acostuma com a democracia, consegue emprego formal, obtém aumento salarial, e alcança um padrão de consumo de classe média, outros problemas – como a corrupção – passam a ganhar mais destaque em sua “agenda de preocupações”. Isso provavelmente aconteceria mesmo sem a pressão da mídia e me remete a algo que o Fernando Henrique chamou uma vez de “pedagogia da democracia”. É a este aspecto do problema que a administração de Dilma deve se voltar. Mais especificamente, é salutar que deixe a estratégia defensiva adotada no governo Lula (de tentar “blindar” o governo sem promover uma “faxina”) para uma estratégia ofensiva (promovendo de fato a “faxina”).

As dificuldades da nova estratégia estão na manutenção do apoio ao governo no Congresso, pois lideranças políticas envolvidas em casos de corrupção acabam afastadas da administração federal, e na perda do foco em outras prioridades do Estado (como o enfrentamento da crise mundial através de ajuste fiscal e política industrial). Por outro lado, seus benefícios estão em satisfazer demandas genuínas do eleitorado contra a imoralidade no serviço público, em aprimorar a gestão pública, e em esvaziar o conservadorismo do único discurso que lhe restou (o do combate a corrupção).


Felipe Amin Filomeno é sociólogo e economista, doutorando em Sociologia pela Johns Hopkins University, com apoio da CAPES/Fulbright. Tem artigos publicados nas revistas Economia & Sociedade, História Econômica & História de Empresas, e da Sociedade Brasileira de Economia Política.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Magistério e piso salarial nacional

Novo capitulo da luta pelo piso
Esta semana foi marcada por mais um capítulo na luta para que o magistério tenha efetivamente um piso salarial nacional. Finalmente o STF publicou o Acórdão da Decisão tomada em 27 de abril deste ano, quando julgou improcedente a ADIN 4167 que tentava derrubar a lei do piso.

Os professores de vários estados fizeram greves (como no Rio de Janeiro), outros continuam em greve (Ceará e Minas Gerais são bons exemplos) e em alguns estados existem greves agendadas para inicio de outubro (Pará é um desses estados). Essa mobilização congrega professores estaduais e municipais.

A pauta de reivindicação é bastante semelhante: os professores querem o cumprimento o pagamento do valor do piso sobre o vencimento inicial de suas respectivas carreiras e a garantia de que os professores com habilitações acima do nível médio continuem recebendo salários diferenciados, ou seja, que as carreiras não sejam destruídas para poder pagar o piso.

Os salários dos professores são, em media, apenas 65% dos salários de outros profissionais de igual formação universitária, situação que desestimula as novas gerações a abraçarem o magistério como profissão.

Caso as metas do novo PNE sejam cumpridas no decorrer da próxima década, o Brasil precisará contratar pelo menos 250 mil novos professores.

Caso as metas que dizem respeito aos professores também sejam cumpridas, ao final de dez anos todos os professores terão um curso superior e metade deles pelo menos uma especialização. Tudo isso significa mais necessidade de oferecer carreiras profissionais atrativas e estimulantes.

O primeiro desafio é fazer cumprir a lei do piso. Os governantes que estavam descumprindo a norma utilizando como argumento a falta de publicação do Acórdão perderam o argumento esta semana.

O segundo desafio é impedir que as carreiras do magistério sejam jogadas na lata do lixo.

E o terceiro e maior desafio é obrigar o governo federal, ente federado que fica com 57% de tudo que pagamos de impostos e contribuições, tenha maior participação no financiamento deste processo de valorização do magistério. Nesta batalha o movimento dos educadores, os gestores estaduais e municipais enfrentarão adversários poderosos. Especialmente se posicionarão contra um aumento de gastos federais na educação os credores de nossa divida pública, principais beneficiários da política de superávit primário. E estes senhores possuem muito espaço ma mídia do pais e contam também com muito espaço no governo.

Bem, mas nada que o povo brasileiro conquistou veio de mão beijada. Por isso ainda veremos muita greve, muita passeata, muita pressão sobre o Congresso e sobre o governo.

domingo, 28 de agosto de 2011

Debate de lançamento de defesa do marxismo, de José Carlos Mariátegui

A Boitempo realizará no dia 30 de agosto (terça-feira), na Universidade de São Paulo, um debate sobre o próximo lançamento da editora, o livro Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos, do jornalista, teórico e dirigente revolucionário peruano José Carlos Mariátegui (1894-1930). Participam do debate o historiador e professor da FFLCH/USP, Lincoln Secco, o historiador Luiz Bernardo Pericás e o tradutor e organizador de Defesa do marxismo, Yuri Martins Fontes.

Considerado um dos principais expoentes da filosofia contemporânea, somente neste novo século Mariátegui começou a ocupar nos meios editorial e acadêmico o espaço que sua obra lhe designou. Em Defesa do marxismo, o leitor encontra além dos 16 tópicos que compõem esse ensaio outros 6 escritos inéditos em português em que o autor se atém a algumas das mais importantes questões filosóficas e políticas do conturbado período entre a Primeira Guerra Mundial e a Revolução de Outubro. O idealismo de Mariátegui – à semelhança dos também heterodoxos Antonio Gramsci e Caio Prado Jr. – o levaria a um duro embate contra o revisionismo na Europa Ocidental.

O evento é gratuito e não há inscrição prévia.
Durante o evento, que será tuitado ao vivo através do perfil da editora no Twitter, serão vendidos livros da Boitempo Editorial com descontos.
Serviço
30/08 18h30 – São Paulo (SP)
Anfiteatro do departamento de Geografia – FFLCH/USP
Av. Professor Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, São Paulo/SP

Sobre Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos

A obra do jornalista, teórico e dirigente revolucionário peruano José Carlos Mariátegui vem ganhando destaque nos meios editorial e acadêmico, quase um século depois de ter sido escrita. Marxista da práxis, para quem a vida teórica e a prática militante eram inseparáveis, Mariátegui é um dos principais expoentes da filosofia contemporânea. Discutiu temas históricos, políticos e culturais, desvendando a memória de seu país, o contexto latino-americano e até aspectos da geopolítica mundial em ensaios originais que priorizavam a comunicação com as massas, acima de tudo. Seus escritos, elaborados principalmente na década de 1920 e apoiados nos alicerces do materialismo-histórico, foram acusados de irracionalistas na época por absorverem as essências conceituais libertárias de Georges Sorel, Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche.

Em Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos, agora publicado em português pela Boitempo Editorial, o leitor encontra esse ensaio, composto de dezesseis artigos, e outros seis escritos inéditos em que Mariátegui se atém a algumas das mais importantes questões filosóficas e políticas do conturbado período que colidiu com os horrores da Primeira Guerra Mundial e, por outro, com a Revolução de Outubro. “Sua técnica de dissecar experiências da discussão socialista e equívocos dos revisionistas ou, ainda, iluminar personagens importantes no jogo dos poderes e ideias não se limita a um abstracionismo esquerdista ou a uma emotiva história política – é antes uma plataforma tática de onde se ergue para enxergar o porvir humano no instável pós Guerra”, afirma o jornalista, estudioso e tradutor do livro, Yuri Martins Fontes, na introdução.

Com uma tradução cuidadosa e texto de orelha do filósofo Carlos Nelson Coutinho, a edição preserva o estilo eloquente e cativante do autor, mantendo a contundência das repetições, seu ritmo de pontuação e sua escolha de termos que exigem conceituação precisa.

Sobre o autor

Nascido em 1894 no Peru, José Carlos Mariátegui trabalhou com jornalismo de 1908 até 1919, passando por publicações como La Prensa e El Tiempo. Publicou poemas e revistas de humor e arte, mas a partir de 1918, voltou-se ao socialismo e dedicou-se a viajar pela Europa, escrevendo como correspondente. Retorna à sua terra natal três anos depois e cria muitas publicações com forte conteúdo de crítica social, entre elas, a célebre revista Amauta, palavra quéchua que significa “sábio, sacerdote”, e que se tornou uma espécie de alcunha do próprio Mariátegui. No Peru, fundou em 1928 o Partido Socialista Peruano, escreveu reportagens e artigos sobre a situação européia, e deu início ao seu trabalho de investigação da realidade peruana sob um olhar marxista. Morto em 1930, sua obra teórica e sua visão sobre a formação social e étnica da indo-américa influenciaram desde a revolução cubana e Che Guevara até os zapatistas de Chiapas, e seguem inspirando movimentos que lutam pela igualdade e pela emancipação em toda a América Latina. Dentre os vários livros que escreveu, destacam-se Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana e La escena contemporánea. Dele a Boitempo publicou também Do sonho às coisas (2005).

(*) Divulgação Boitempo editorial.
Fonte: Fazendo Média

Forbes: A iminente guerra de classes

CRISE GLOBAL A iminente guerra de classes

tradução de Alexandre da Rocha, no blog do Lotsemann
John Kotkin, para a revista “Forbes”

Os distúrbios que atingiram Londres e outras cidades inglesas na semana passada têm potencial para ir além das Ilhas Britânicas. A fúria de classes não é exclusiva da Inglaterra; na verdade, representa parcela de um crescente abismo mundial entre classes que ameaça enfraquecer o próprio capitalismo.

O enrijecimento das divisões de classe vem ocorrendo há uma geração, inicialmente no Ocidente mas cada vez mais em países onde o desenvolvimento está acelerado, como a China. O aumento do fosso entre as classes radica-se na globalização, que tem tirado empregos do proletariado e agora também da classe média; na tecnologia, que permite aos indivíduos e companhias mais ligeiros e ricos mudar de operações em grande velocidade para qualquer local; e a secularização da sociedade, que minou os valores tradicionais sobre trabalho e família que serviram de fundamento ao capitalismo de base desde os seus primórdios.

Todos estes fatores podem ser observados nos motins da Grã-Bretanha. Raça e relações policiais tiveram seu papel nos episódios, mas entre os motineiros havia muito mais do que minorias ou gângsters. Como apontou o historiador britânico James Heartfield, os participantes dos distúrbios espelham uma falha mais ampla no “sistema social” do país, especialmente no “sistema de trabalho e recompensa”.

Nas primeiras décadas do século 20, jovens das classes menos favorecidas poderiam aspirar a empregos na vibrante economia industrial do Reino Unido e, mais tarde, no crescente setor público, financiado, em grande medida, tanto pelos lucros da City [centro financeiro de Londres] quanto pelo crédito. Hoje, o setor industrial é uma sombra do que foi. A crise financeira global enfraqueceu o crédito e a capacidade do governo de bancar o Estado de Bem-Estar Social.
Com menos oportunidade de trabalho que tenha sentido e valha a pena — particularmente no setor privado — as perspectivas de sucesso das classes trabalhadoras foram reduzidas a carreiras essencialmente fantásticas no entretenimento, no esporte ou, com demasiada frequência, no crime. Entrementes, os partidários do Primeiro-Ministro David Cameron localizados na City podem ter se aproveitado de pacotes de resgate vindos do Banco da Inglaterra, ao passo que desapareceram as oportunidades de ascensão social, ainda que modesta, para a maioria das demais pessoas.

A grande noção britânica da ideia de trabalhar duro e ser bem sucedido com base na determinação pura — ideia que está inculcada nas antigas colônias do Reino Unido, como os EUA — foi, em larga medida, desvalorizada. Dick Hobbs, especialista da Escola de Economia de Londres, diz que esta desmoralização atingiu de forma mais específica os londrinos brancos. Muitos imigrantes prosperaram trabalhando com engenharia e construção civil e também na prestação de serviços às elites endinheiradas da capital.

Hobbs, um nativo da East London, sustenta que o ambiente industrial tinha grandes vantagens, a despeito de suas deficiências. Ele tinha foco principal na produção e recompensava a acumulação de competências. Por outro lado, de acordo com algumas estimativas, a “indústria do ‘pub and club’” tem sido a maior fonte de geração de empregos no setor privado da Londres pós-industrial, um fenômeno ainda mais presente em regiões menos prósperas. “Há regiões de Londres onde os pubs são a única atividade econômica”, observa.

Hobbs afirma que a atual cultura “pub and club”, com seu “potencial violento e ênfase deliberada no aspecto físico da existência”, não faz mais que celebrar o consumo até, não raro, ao ponto do excesso. Talvez não seja surpresa que os saques tenham impelido o caos.

Qual é a lição a se extrair disto? Os ideólogos não parecem ter as respostas. A repressão aos criminosos — resposta preferida pela direita britânica — é necessária mas não aborda os problemas fundamentais do desemprego e da desvalorização do trabalho. De modo similar, a panaceia favorita da esquerda, a ressurreição do Estado de Bem-Estar Social, deixa de atacar a questão central da redução das oportunidades de progressão na escala social. Há agora pelo menos 1 milhão de jovens desempregados no Reino Unido, mais do que em que qualquer outro momento em uma geração, e a pobreza infantil na Londres interior, mesmo durante o regime do ex-prefeito Kenneth Livingstone, o “Ken Vermelho”, na década passada, permaneceu nos 50% e pode muito bem estar pior do que isto agora.

Esta questão fundamental de classe não está presente apenas na Grã-Bretanha. Tem havido várias irrupções de violência urbana, inclusive na França e na Grécia. Pode-se esperar mais ocorrências em países como Itália, Espanha e Portugal, que agora terão de impor a mesma espécie de medidas de austeridade adotadas em Londres pelo governo Cameron.
E quanto aos Estados Unidos? Muitas das mesmas forças estão em ação aqui. O desemprego juvenil atualmente passa de 20%; em Washington, está acima dos 50%. Entre as cidades particularmente vulneráveis estão Los Angeles e Nova Iorque, as quais estão cada vez mais divididas entre ricos e pobres. Cortes em programas sociais, embora necessários, podem tornar as coisas piores, tanto para as minorias de classe média que conduzem estes programas quanto para os pobres pelos quais são responsáveis.

Um possível prenúncio desta desordem, nota o autor Walter Russell Mead, pode ser o recente aumento da criminalidade ocasional, não raro de matiz racial, em cidades como Chicago, Milwaukee e Filadé

De qualquer modo, com mais de 14 milhões de desempregados no país, as perspectivas não são exatamente promissoras para as classes baixa e média dos EUA. Esta dor é sentida em toda parte, sobretudo por trabalhadores mais jovens. Segundo uma pesquisa da Pew Research, cerca de 2 em cada 5 americanos estão desempregados ou fora da força de trabalho, a maior proporção em três décadas.

Perspectivas limitadas — aquilo que muitos especialistas saúdam como o “novo normal” — agora defrontam ampla parcela da população. Um indício: a expectativa de ganhar mais dinheiro no ano que vem caiu para o menor nível em 25 anos. Os salários vem caindo não apenas para os trabalhadores com ensino médio, mas também para aqueles com ensino superior. Mais de 43% dos brancos sem educação universitária se queixam de que estão descendo na escala social.
Diante disto, é difícil ver outra tendência no ressentimento de classe nos EUA que não seja a de crescer ao longo dos anos. O presidente do banco central, Ben Bernanke, afirmou ainda em 2007 que ele estava preocupado com o aumento da desigualdade no país, mas as suas políticas simpáticas a Wall Street e às corporações não lograram melhoram a economia cotidiana.

As probabilidades de um maior conflito de classes são grandes mesmo na China, onde a desigualdade social está entre as mais graves do mundo. Não chega a surpreender o resultado de uma pesquisa realizada pela Academia de Ciências Sociais de Zhejiang: 96% dos entrevistados “tem ressentimento contra os ricos”. Enquanto nos EUA membros do Tea Party e esquerdistas deploram o capitalismo de conspiração do regime Bush-Obama-Bernanke, o proletariado e a classe média chineses enfrentam uma classe dominante hegemônica composta de funcionários públicos e capitalistas ricos. O fato de que isto se dê sob o pálio de um regime supostamente marxista-leninista é tão irônico quanto obsceno.

Esta guerra de classes em crescimento gera conflitos políticos mais intensos. À direita, o Tea Party — assim como pequenos partidos de protesto europeus ora em ascensão em paragens tão improváveis quanto a Finlândia, a Suécia e a Holanda — cresce sobre a convicção de que a estrutura de poder, as corporações e o governo trabalham juntas para prejudicar a grande classe média. A militância de esquerda tem também um viés de classe, uma vez que os progressistas vão sendo alienados pelas políticas aristocráticas da administração Obama.

Vários são os conservadores — nos EUA como no resto do mundo — que rejeitam o imenso papel das classes. Para eles, riqueza e pobreza ainda refletem níveis de virtude, e as barreiras à ascensão social são apenas um inibidor leve. Contudo, a sociedade moderna não pode se conduzir de acordo com o credo individualista de Ayn Rand; para serem críveis e socialmente sustentáveis, sistemas econômicos precisam dar resultados para a ampla maioria dos cidadãos.
Se o capitalismo não puder fazer isso, é de se esperar mais episódios de violência e maior alienação política — não só na Grã-Bretanha mas em todos os principais países do globo, inclusive os EUA.
http://www.forbes.com/sites/joelkotkin/2011/08/15/u-k-riots-global-class-war/
Fonte: Vi o Mundo

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Nobel: Classe C segura o tranco no Brasil e na China

Stiglitz: o Brasil é um exemplo

Saiu na Folha online:
Brasil e China devem resistir à crise devido à demanda interna, diz Nobel

CAROLINA MATOS
DE LINDAU (ALEMANHA)

O Brasil e a China devem continuar crescendo, apoiados nas demandas internas, mesmo no cenário de crise econômica na Europa e nos EUA, importantes mercados consumidores dos produtos exportados pelos dois BRICs.


A avaliação foi feita por Joseph Stiglitz em entrevista a jornalistas nesta tarde durante o “4º Lindau Meeting on Economic Sciences”, em Lindau, na Alemanha, que reuniu economistas premiados com o Nobel.


Stiglitz, ganhador do Nobel em 2001 e que foi vice-presidente do Banco Mundial de 1997 a 2000, disse que Brasil e China “têm um grande mercado interno que deve continuar dando suporte å economia”.


O economista citou várias vezes o Brasil como “exemplo de sucesso” na estabilização econômica.


“O país não apenas controlou a inflação, mas também está reestruturando toda a economia, o que é fundamental para um crescimento sustentável”, afirmou, ao criticar, referindo-se aos EUA e à Europa, “políticas econômicas que têm foco apenas na inflação e se esquecem da estabilidade financeira.” “Agora as autoridades [que agiram dessa forma] percebem que foi um erro”, completou.


Stiglitz destacou ainda que “o maior problema para um governo não é o tamanho do deficit, mas a forma como o dinheiro é gasto.”


CRISE


Durante as apresentações no seminário, o economista defendeu que os modelos macroeconômicos adotados “fracassaram” por não terem previsto a crise financeira de 2008 que “as autoridades monetárias permitiram o crescimento de bolhas concentrando as atenções apenas na inflação, em parte porque os modelos sugeriam que manter a inflação baixa era quase suficiente para eficiência econômica e crescimento.”


“O incrível é que ainda existam defensores dessas teorias macroeconômicas, embora o mundo hoje seja outro”.


Em tempo: os números do emprego divulgados nesta quinta-feira revelam que, apesar dos urubólogos, o emprego em julho é o mais alto desde quando o IBGE começou a medi-lo, dessa forma, em 2002. E melhor: a grana no bolso do trabalhador engordou:



Rendimento

O rendimento médio real habitual dos ocupados ficou em R$ 1.612,90, o valor mais alto para o mês de julho desde 2002, e apresentou alta de 2,2% na comparação mensal e de 4% frente a julho do ano passado
Fonte: Conversa Afiada

Mau desempenho em matemática começa nos primeiros anos

Prova aplicada ao 3º ano traz dados alarmantes. Para pesquisadores, família e escola precisam dar mais atenção à disciplina

A Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) traçou um perfil inédito da qualidade da alfabetização, em português e matemática, de estudantes de escolas públicas e particulares de todas as capitais brasileiras. Os resultados de matemática foram os mais baixos e mais alarmantes.

O mínimo esperado nesta fase é que as crianças efetuem operações de adição e subtração de números com um ou dois algarismos, resolvam problemas com notas de dinheiro, moedas e unidades de um litro e meio litro, identifiquem os lados de um polígono, completem sequências numéricas de múltiplos de 3 e leiam as horas em um relógio digital, relacionando 20 horas com 8 horas da noite, entre outras tarefas.
Segundo os critérios definidos pelos elaboradores da Prova ABC, desempenhar essas funções significa atingir 175 pontos na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), utilizada em diversas avaliações educacionais. A pontuação média do Brasil foi de 171, com grandes diferenças entre as regiões e as redes pública e privada.

Matemática teve a maior diferença de desempenho na Prova ABC. A melhor média obtida foi a da rede particular da região Sul (224,9) e a pior foi registrada na rede pública do Norte (145,4), uma diferença de 79 pontos. Na porcentagem de alunos com aprendizagem dentro do esperado, a distância entre as duas .realidades é de 64 pontos percentuais.

Ler: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/mau+desempenho+em+matematica+comeca+nos+primeiros+anos/n1597177675668.html

Exclusão da educação começa nos primeiros anos

Resultados de prova aplicada no início da vida escolar mostram que desempenho da rede particular é superior logo nos primeiros anos

Pela primeira vez o Brasil aplicou uma avaliação para medir a qualidade da alfabetização dos estudantes e diagnosticar problemas logo no início da vida escolar. Os resultados são alarmantes e mostram que as desigualdades entre as redes pública e privada começam desde cedo.

Em Matemática, apenas 32,6% dos alunos de escolas públicas alcançaram o resultado esperado, enquanto 74,3% atingiram os objetivos desejados na rede privada. A diferença se repete em Português, que teve provas de interpretação de texto e uma redação. Em Leitura, 79% dos estudantes de escolas particulares aprenderam o que era esperado, enquanto 48,6% tiveram o desempenho ideal na rede pública. Na escrita, 82,4% das crianças que estudam em escolas particulares estão no nível desejado; já nas públicas, 43,9% alcançaram o mesmo resultado.

A prova batizada de ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) foi aplicada pelo movimento Todos Pela Educação, que tem como uma das metas que toda criança seja alfabetizada até os 8 anos de idade. Para Priscila Cruz, diretora-executiva da entidade, a diferença entre as redes e entre as regiões tende a se ampliar ao longo da vida escolar, por isso o diagnóstico precoce das defasagens é importante.

O exame foi aplicado a 6 mil alunos que concluíram o 3º ano (2ª série) do ensino fundamental em 250 escolas públicas e particulares localizadas em todas as capitais do País e no Distrito Federal. "Mesmo as melhores notas não são boas, pois 100% das crianças deveriam ter atingido o mínimo esperado", reforça Priscila.

A avaliação seguiu a escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e teve como média 175 pontos – aprendizado ideal para a etapa da educação avaliada. Em Leitura, era esperado que os alunos conseguissem identificar temas de uma narrativa, localizassem informações explícitas, identificassem características de personagens e percebessem relações de causa e efeito, entre outras tarefas. Em Matemática, atingir no mínimo 175 pontos significa que os alunos têm, por exemplo, domínio da adição e subtração e conseguem resolver problemas simples.

Na redação, foram avaliadas três competências: adequação ao tema e ao gênero; coesão e coerência e registro (grafia das palavras, adequação às normas gramaticais, segmentação de palavras e pontuação). Para isso, as crianças foram solicitadas a fazer uma carta com no máximo 10 linhas. Em uma escala que vai de 0 a 100 pontos, o desempenho esperado dos alunos avaliados era de pelo menos 75 pontos - a medida foi criada especialmente para a Prova ABC, pois o Saeb não valia a escrita.

Cada aluno respondeu também a 20 questões de múltipla escolha de Leitura ou de Matemática – as crianças tiveram que responder a prova de apenas uma das disciplinas e todas fizeram a redação. A avaliação é uma parceria do movimento Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro /IBOPE, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Ler:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/exclusao+da+educacao+comeca+nos+primeiros+anos/n1597175985508.html

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Fotos de La vía de la Plata


























Como ser brasileiro, mas não demais, no exterior

*Seth Kugel
É bem difícil um turista chegar ao Brasil e não se apaixonar pela paisagem, pela música, pela comida. Mas é o povo que deixa a melhor impressão. Vocês são charmosos, otimistas, sorridentes, hospitaleiros. E as qualidades são contagiantes. O estrangeiro chega e entra na mentalidade brasileira. Como dizem, quando em Roma, faça como os romanos…
Mas o que acontece quando o romano sai de Roma? Ou seja, agora que muitos brasileiros estão viajando pela primeira vez para o exterior é preciso pensar em quais “brasilidades” funcionam, e quais não, além das fronteiras brasileiras.

Sorrir muito e ter uma atitude positiva são qualidades que sempre ajudam

Sorrir muito e ter uma atitude positiva sempre vão dar certo. Outros costumes… nem tanto. Seguindo a tradição da coluna, fiz uma lista de sete, ou seja Seth, erros para o brasileiro evitar no exterior. (Um esclarecimento para o leitor. Deve ser irônico receber conselhos de comportamento de alguém dos Estados Unidos, país que produz talvez o turista mais chato e irritante do mundo – o famoso “ugly American”. Mas é que meu povo já é um caso perdido. Há séculos que nós viajamos pelo planeta fazendo besteiras, e cachorro velho não aprende truques novos. Para vocês, ainda há tempo.)

1) FALAR COM O POLEGAR. É talvez a “brasilidade” mais comentada pelos americanos que visitam o seu país pela primeira vez: esse sinal de levantar o polegar (ou até os dois) para dizer “ok”, ou “não tem problema”, ou “de nada”, ou “pode passar” ou até simplesmente “bom dia”. O brasileiro não inventou o “thumbs up” (como se diz em inglês), mas é de longe o país que mais usa. Por exemplo, tenho um amigo que cada vez que viaja ao Brasil conta quantos “thumbs up” recebe por dia. Dois polegares ao mesmo tempo valem dois, óbvio.
Tudo bem dentro do Brasil. Mas em muitos outros países, é esquisito – até brega – fazer isso. (E em alguns países é vulgar: Bangladesh, por exemplo.) Para nós, nos Estados Unidos, é coisa do passado. Lembra muito o personagem “The Fonz” do seriado “Happy Days”, um cara cool demais… só que nos anos 50.

2) TOMAR BANHO. E OUTRO. E MAIS UM. Os brasileiros são, sem dúvida, o povo mais limpo do mundo. Às vezes acho que nos dias mais quentes do verão vocês passam mais tempo debaixo do chuveiro do que fora. Eu não admito aos amigos brasileiros que nem sempre tomo banho antes de dormir, por medo de perder a amizade ou talvez até meu visto.
Mas quando for viajar, lembre que o Brasil tem 14% da água doce do mundo, e só 3% da população do planeta. Em muitos países a água é escassa, em outros o custo para aquecê-la é alto. Quando eu estudava em Paris, hospedado com uma família francesa, minha “mãe” reclamava muito quando eu passava mais de cinco minutos no chuveiro. Num hotel, pelo menos, ninguém vai saber que você está gastando demais os recursos naturais do país. Mas se você ficar na casa de amigos, tente se limitar a um banho curto por dia. Não se preocupe: que eu saiba ninguém nunca morreu por ficar pouco tempo no banho, nem mesmo na França.

Em muitos países, o tamanho dos biquínis brasileiros vão atrair olhares estranhos
3) USAR SUNGAS E BIQUÍNIS BRASILEIROS. Não é que não pode. É que você só deve ficar ciente das repercussões. Queridas brasileiras, eu conheço vocês, e vocês adoram comentar quando uma gringa aparece na praia de Ipanema com um desses biquínis feios que cobrem a bunda toda. Agora se preparem para uma revanche. Se vocês andarem com um biquíni brasileiro ¬– desses que tapam talvez 10% da sua bunda – em muitos países vão atrair alguns olhares estranhos das mulheres locais. (Os homens vão gostar, com certeza, mas só porque o biquíni lembra um pouco a roupa de uma stripper.)
Quanto à sunga, em alguns países, tudo bem. Em outros, como é o caso do meu, se considera bem esquisito e meio vulgar. Exemplo: num episódio do programa americano Curb Your Enthusiasm, o personagem principal (o comediante Larry David) enxerga o psiquiatra dele na praia… de sunga. Fica horrorizado e decide desistir da terapia.
4) LIXO NO LIXO. O mundo está dividido em duas partes: a que tem sistema de esgotos que permite jogar o papel higiênico na privada, e a que não tem. E, desculpe a intimidade, mas no mundo com sistema de esgotos que permite, se considera muito nojento jogar papel usado no
lixo.
Fora do Brasil as pessoas não costumam se beijar tão apaixonadamente em público
5) BEIJAR À VONTADE. O problema do beijo de cumprimento é bem documentado, não vou perder seu tempo falando de quantas vezes se beija em cada cidade do mundo. O problema é o beijo na boca, que no Brasil é muito mais aceitável em público do que em outros países. Ou seja: nas ruas, nos parques, nas mesas de bares e restaurantes, até na fila para entrar no cinema. Por isso eu sempre digo que o lema oficial do Brasil deveria ser “Get a room!”. Essa frase, que em tradução livre seria algo como “Arrume um motel!”, é o que se fala quando um casal está expressando sua afeição de forma… exagerada.
Juro que em nenhum outro país do mundo (que eu conheça) os casais se beijam tão aberta e apaixonadamente em público quanto no Brasil. E pior, ao lado dos amigos. Eu não estou contra, e até faço também quando a situação se justifica… no Brasil. Mas em outros países, na maioria das situações, é preciso se controlar para não constranger os outros. Existem exceções: no cinema, até pode, mas pelo amor de Deus só se estiverem sozinhos, e não ao lado de um casal de amigos. Na balada ou numa festa, ok, não precisa arrumar um motel para se beijar. Mas arrume um cantinho escuro pelo menos.
Cheque no guia de viagem quanto se deve dar de gorjeta em cada país, mas nunca deixe de dar
6) ESQUECER A GORJETA. Em Nova York, os garçons odeiam os estrangeiros. Por quê? Porque um garçom nos EUA não ganha quase nada de salário – recebe até menos de um salário mínimo, porque vive das gorjetas. Até os estrangeiros que sabem disso acham justo deixar 10% ou 12%. Não é. É 15% se você é chato (ou se o garçom foi chato) e 18% ou 20% se não. E sem reclamar. Em outros países, a gorjeta varia muito, por isso você sempre deve dar uma olhada no sua guia de viagem ou procurar na internet. (Eu não conheço um bom site em português mas em inglês existem muitos – bota “tipping by country” no Google.
7) PEDIR CERVEJA COMO SE ESTIVESSE NO BRASIL. Uma vez fui jantar em Nova York com uma família de brasileiros. O pai acabava de chegar ao país e tentou explicar à garçonete (em português, que ela não entendia) que queria a cerveja com dois dedos de colarinho. Quando a bebida chegou sem espuma nenhuma, ele reclamou e tentou explicar de novo. A garçonete falou para nós: “Explique para ele que entendo o que ele quer, mas o negócio do chope não funciona assim.” E é verdade: colarinho na cerveja é um fenômeno brasileiro que é difícil de encontrar na maioria de países (fora a cerveja Guinness).

Não espere cerveja muito gelada em todos os países. A baixa temperatura não ajuda a sentir o sabor
Quanto à cerveja gelada, o mundo está mais dividido. Normalmente, pessoas de países tropicais gostam de cervejas fracas e bem geladas, para se refrescar num dia quente. Esse é o caso do Brasil. Mas em muitos outros países se acredita que o sabor é mais importante, e é fato que cerveja muito gelada perde o sabor. Um dia, na Bolívia, eu estava jantando com um casal de brasileiros que reclamou à garçonete que a cerveja estava quente. Tentei explicar para eles: “não vai ter mais gelada, aqui se toma assim.”
Nossa, já chegamos a sete? Então preciso colocar um bônus especial para meus queridos paulistanos:
7 – B) MATAR PEDESTRES À VONTADE. Não sou advogado, mas segundo observo nas ruas de São Paulo, a lei local determina que um motorista que vê um pedestre atravessar a rua e não tenta matá-lo vai preso. Mas quando você alugar um carro em outro país, preste atenção: o pedestre tem algo que se chama “direitos.” Em alguns países da Europa, da Ásia e estados dos Estados Unidos, a lei até exige parar o carro quando alguém pisa na faixa de pedestres.
Agora, a boa notícia. O brasileiro é tão querido no mundo – pelos jogadores de futebol, pela música, pela atitude – que até pode cometer os erros e ninguém vai reclamar. Bom, talvez o pedestre, se é que ele sobrevive.
* jornalista norte-americano que divide seu tempo entre São Paulo, Nova York e o resto do mundo. Além do Viagens, ele registra suas experiências na coluna Frugal Traveler, do The New York Times
Fonte: Portal iG

Camino de la Plata

Camino de la Plata, Camino de las Campanas... Andar Andar (Diego Muñoz)

domingo, 21 de agosto de 2011

Sebastião Rocha: Cansado de ver cadeiras vazias fundou uma escola debaixo do pé de manga

por Redação As Boas Novas

Esse texto faz parte da coleção “Histórias que mudam o mundo”, criada e mantida pelo Museu da Pessoa. Nela, encontram-se grandes e pequenas histórias de mudanças que acontecem todos os dias ao nosso redor, transformando vidas e fazendo do mundo um lugar mais justo, mais bonito e mais feliz.
Quando eu saí da universidade, vi que precisava criar um espaço de aprendizagem. Há 21 anos resolvi, com um grupo de amigos, criar o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, o CPCD. Nós tínhamos um monte de perguntas, de dúvidas. A primeira pergunta que a gente se fez foi se era possível educar sem escola, porque a gente via muito menino na rua querendo aprender, e que ia pra escola e era expulso. Repetia um, dois anos e saía fora. Havia muito projeto de construção de escolas, e no fim, as salas ficavam vazias.
Então eu fui para a Rádio Clube de Curvelo (MG) e falei: “Vai ter uma reunião das pessoas interessadas pra discutir uma educação sem escola, uma escola debaixo do pé de manga”. Sentamos numa roda e começamos a falar disso. Depois de uma semana de conversa eu vi que a gente não falava de uma escola que a gente gostaria de ter, a gente falava de uma escola que a gente gostaria de não ter. E aí eu transformei aquelas informações num negócio que eu chamei de Não Objetivos Educacionais. O que nós não queremos que aconteça.
Eu mandei pra uma fundação em São Paulo, a Fundação Kellog. O Marcos Kisil viu aquilo, me ligou e falou: “Olha, eu recebi um projeto aqui meio estranho. Não tem objetivos, ele tem não objetivos”. Eu falei: “Mas é isso mesmo, professor”. Ele falou: “Mas com não objetivos você vai ter não financiamento”. Eu falei: “E o senhor vai ter não resultado e não vai dar certo”. Ele falou: “Isso é uma ideia muito maluca. Vou criar um banco de ideias, vou deixar isso cozinhando aqui pra ver se um dia a gente conversa a respeito”.
Passado uns dois meses ele me chamou: “Se você nos convencer de que isto é interessante, nós vamos entrar com você nessa empreitada”. Eu consegui convencê-los e montamos a primeira experiência nossa, o Projeto Sementinha.
O que a gente desenvolveu nesses anos todos foram quatro grandes pedagogias. Uma é a pedagogia da roda, em que tudo o que a gente faz é numa roda e com todo mundo se vendo. A roda produz consensos e não produz eleições. A outra é a do brinquedo, em que é possível aprender matemática, história, geografia, ética, generosidade, solidariedade e sexualidade, jogando e brincando prazerosamente. Outra é a pedagogia do abraço, que constroi as relações de autoestima e de solidariedade. E a última é a do sabão, quer dizer, do aproveitamento dos recursos, do conhecimento ancestral para a construção de coisas.
Cada uma delas foi construída e é construída diariamente com a meninada. E desde essa época eu comecei a defender uma ideia que vai na contramão do discurso oficial, que falava que lugar de menino é na escola. É na escola só se for aprendendo, porque se não for aprendendo é chato demais. Lugar de menino é na rua, na praça, no coreto, no shopping. Não temos que tirar os meninos da rua, temos que transformar a rua num espaço de solidariedade. Para nós, solidariedade é construída, não é por decreto. As pessoas não nascem solidárias.
* Publicado originalmente no site As Boas Novas.
Fonte: Envolverde

sábado, 20 de agosto de 2011

Quem quer uma escola mais interessante

por Bernardete Toneto*
Na cidade paraense de Santarém, situada na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, uma tradicional comemoração muda a rotina escolar, todo mês de setembro. As turmas do ensino fundamental da rede pública se envolvem no estudo do Sairé, a mais antiga manifestação cultural popular da Amazônia. Durante o período da festa, os rituais com elementos cristãos e indígenas, a encenação da luta dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, e todo o impacto de mais de cem mil turistas que chegam à cidade de 297 mil habitantes viram temas de pesquisa e debate nas salas de aula. Porém, não há uma linha sequer sobre esse assunto nos livros utilizados por professores e alunos da região. Em compensação, eles encontram cinco páginas sobre a imigração japonesa em outra ponta do país, a cidade de São Paulo. E, na mão inversa, não será surpresa que alunos paulistanos desconheçam a riqueza dos 300 anos de história do Sairé. Isto é o que acontece quando redes públicas de ensino adotam um padrão curricular fechado e distante das realidades locais.

Situação oposta acontece no Paraná, primeiro Estado a produzir e distribuir gratuitamente livros didáticos. O material é desenvolvido no âmbito do Projeto Folhas, criado em 2004 pela Secretaria de Estado da Educação. Dentro do projeto, o Livro Didático Público combina os conteúdos das disciplinas curriculares com a realidade de professores e alunos. Em seis anos, foram produzidos 297 livros, com participação do professor-autor, orientadores e colaboradores. O material é considerado pioneiro entre as iniciativas governamentais de produção e circulação de Recursos Educacionais Abertos (REA).

Sete anos depois do Folhas, iniciativas inovadoras como a do Paraná começam a se disseminar pelo Brasil. Em 7 de junho, o município de São Paulo colocou na internet, sob licença Creative Commons, todos os materiais didáticos produzidos pela Secretaria de Educação. No mesmo mês, entrou em tramitação na Câmara Federal um projeto de lei que determina licenciamento e disponibilização à sociedade, em licenças livres, de qualquer obra resultante do trabalho de servidores públicos, incluindo professores e pesquisadores. Também em junho, a Assembleia Legislativa de São Paulo acolheu o seminário “Material Didático Digital”, sob coordenação do deputado Simão Pedro (PT-SP). O parlamentar defende que o governo do Estado, nos seus protocolos de compra de material didático, coloque o conteúdo para acesso livre na internet. A justificativa: os REA, além de ampliar recursos orçamentários, introduzem o compartilhamento de conhecimento na rede de educação e permitem a interação entre conteúdos organizados pelos professores em diálogo com os alunos.

O Projeto Brasileiro sobre Recursos Educacionais Abertos (Projeto REA-Brasil) acompanha de perto essa movimentação. “Há várias obras educacionais abertas e pouquíssimas políticas públicas nesse campo. Mas um caminho está sendo aberto”, avalia a jornalista Bianca Santana. Uma das ativistas do REA-Brasil, integrante da Comunidade que congrega cerca de 120 pessoas, e da Casa da Cultura Digital, ela reconhece que o conceito é novo e ainda não foi incorporado no campo da educação. Mas é um caminho sem volta, principalmente por tratar do compartilhamento de conhecimento, “que é a essência da educação, principalmente a educação pública”.

O conceito de recursos educacionais abertos foi cunhado pela Unesco em 2002, no Fórum sobre o Impacto do Open Courseware para Instituições de Ensino Superior nos Países em Desenvolvimento: “provisão de recursos educacionais abertos, ativada por tecnologias de informação e comunicação (TIC), para consulta, utilização e adaptação por uma comunidade de usuários para fins não comerciais”. Classificam-se como REAs as obras, as ferramentas educacionais e os recursos para sua implementação oferecidos livre e abertamente. Nessas categorias estão incluídos livros e materiais didáticos, cursos completos, tópicos de um conteúdo, temas de aprendizagem, coleções e periódicos, softwares para auxiliar a criação, entrega, uso e melhoria do conteúdo de aprendizagem aberto, comunidades de aprendizado online e licenças livres de propriedade intelectual.

No Livro Verde dos REA, a advogada Carolina Rossini, da coordenação do Projeto REA-Brasil, escreveu que existem três pilares relativos à intersecção das TIC com a política educacional para melhorar o retorno dos investimentos públicos. O primeiro é que “os materiais educacionais de financiamento público, tanto os de ensino como os resultantes de pesquisa, devem ser considerados bens públicos e disponibilizados sob as definições internacionais dos REA”. O segundo trata da transparência: dados, estatísticas e avaliações com relação ao êxito da política de REA devem estar facilmente disponíveis a todos. O terceiro diz respeito ao envolvimento e à colaboração dos educadores, que devem ser incentivados a, junto com as comunidades, se engajar na elaboração e recombinação de conteúdos “a fim de aproveitar ao máximo a combinação de tecnologia e conteúdo aberto”.

Diferença de liberdades

“O sistema de ensino brasileiro ainda precisa de avanços”

por Larissa Seixas, do EcoD
Gov-Ba + Instituto Unibanco
A educação no Brasil se encontra em frente ao espelho, em um momento de avaliações e debates sobre o sistema de ensino e a qualidade do serviço oferecido às crianças desse país. Estudos do Ipea mostram que 48,7% dos brasileiros acham que a educação melhorou, enquanto para 27,3% não houve mudanças e 24,2% acredita que o sistema piorou.
Ao mesmo tempo, um depoimento de desabafo de uma professora pública, quanto às condições de ensino, ganhou destaque nos principais veículos de comunicação do Brasil e milhares de depoimentos nas redes sociais via internet.


Para entender mais sobre a situação da educação brasileira, o portal EcoDesenvolvimento.org conversou com a gerente de projeto do Instituto Unibanco, Valéria de Souza, que trabalha com o incentivo na gestão de escolas públicas de ensino médio.

EcoDesenvolvimento.org: O governo federal indicou algumas melhorias na educação nacional, mas ao mesmo tempo, temos acesso a pesquisas que destacam precariedades do ensino no país. De uma forma geral, como você avalia a educação brasileira?

Valéria Souza: A gente acredita que houve melhoras no Brasil, principalmente na universalização do ensino fundamental, mas no ensino médio ainda precisa melhorar muita coisa. Tem que pôr a mão na massa. Está na hora. Está atrasado, e tem que começar.
O ensino médio é estratégico para a formação e a inserção das novas gerações no mercado de trabalho. Portanto, tudo o que contribuir para a sua melhoria tem um impacto muito grande no desenvolvimento sustentável do país. Ele é fundamental.
Quando você tem um grande número de alunos que desiste do ensino médio, a possibilidade de desenvolvimento tem problemas. Para haver desenvolvimento econômico é importante quebrar o ciclo intergeracional de pobreza. E só se consegue isto com a conclusão do ensino médio, pois os jovens que o concluem têm mais chances de competir no mercado de trabalho.

Você pode nomear os principais problemas que a educação brasileira enfrenta? Talvez a qualidade da infraestrutura?

A questão da infraestrutura é um problema sério, mas não é fundamental. O que a gente considera que é um problema bastante grande é a questão da gestão da escola. Isto sim é fundamental. Se você tem um bom gestor, ou seja, um gestor voltado para ações que façam os alunos aprenderem, o papel da escola está cumprido.
O que a gente quer que aconteça na escola? Que o aluno tenha acesso à escola, que ele permaneça, que o professor não falte e que o menino aprenda. Para isto é preciso uma gestão comprometida, tudo tem que estar voltado para essas necessidades.
O depoimento da professora Amanda Gurgel, da rede estadual do Rio Grande do Norte, ganhou o país com críticas ao sistema brasileiro de ensino. Você comunga das mesmas ideias de Amanda?
A questão salarial dos professores é um ponto importante, mas não é só isto. As condições de trabalho vão além da questão salarial. Ela como professora focou em um aspecto que é importante para a vida pessoal e profissional dela – o próprio salário como trabalhadora. Mas como sistema de ensino, a questão é muito mais profunda. Porque, qual garantia teremos de que exclusivamente o aumento salarial fará impacto na educação? Pensar nos outros aspectos é fundamental.
O que eu quero dizer é que há outros pontos que podem fazer com que aconteça realmente uma qualidade de ensino. E nós acreditamos que a gestão é um deles.

De que forma hoje são avaliados o crescimento e a melhoria do ensino?

O Brasil mudou muito nesses últimos anos, e hoje temos como quantificar esse aprendizado e dizer se um sistema de ensino ou uma escola está melhorando e se os meninos estão aprendendo. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um avanço, é fundamental para colocar os parâmetros.
Os Estados também estão avançando mais nessa questão de monitoramento do aprendizado, de avaliação do sistema pensado como uma política pública, tanto da secretaria quanto da própria escola. Porque não adianta avaliar, se esse resultado da avaliação não servir para ser pensado a partir de uma proposta, de um programa, de uma ação. Na medida em que você tem isto nas secretarias e nas próprias escolas, você tem um avanço muito grande, porque consegue saber como está o ensino público e até particular no Brasil inteiro. Isto é inovador e um passo fundamental.

Exames como o Enem, Enade e a Prova Brasil são importantes?

São importantíssimos e diferentes. As avaliações de sistema de ensino Prova Brasil e Saep são provas importantes para a construção do Ideb, junto com o fluxo. O Enem também é um parâmetro importante, não dá para pensar em uma avaliação de sistema com o Enem, mas ele é importante para pensar como é que o aluno conclui o ensino médio. Ele é uma avaliação importante, inclusive como acesso à universidade.
No mês de abril, o MEC divulgou que o Enade será substituído pelo Enem para quem ingressou na faculdade. Isto é um ponto positivo?
Isto é importante, porque passa a pensar no Enem como um avaliador de um ciclo de 12 anos de estudo, e isto também é um avanço.

Quais são os bons exemplos e as referências de gestão da educação aqui no Brasil?

O Instituto Unibanco tem uma tecnologia que vemos como importante, que é o Jovem de Futuro. A ideia desta tecnologia é fazer com que a escola tenha um projeto de gestão escolar para resultados e oferecer um apoio técnico financeiro. A gente acredita que a escola pode e consegue chegar lá sabendo que todo o apoio deve estar voltado para a aprendizagem desses meninos.
A ideia da escola melhorar com resultados não é milagre. Essa história de que a escola precisa de uma revolução, a escola não precisa. Ela precisa de coisas básicas: que o aluno frequente a escola, que ele aprenda, que o professor ensine e que o aluno conclua o segmento de ensino em que ele está. Não é uma revolução, é um arroz com feijão muito bem feitinho.

Qual o papel da família na educação desses meninos?

A família tem um papel importante. A gente sabe que na família onde há um acompanhamento do aprendizado do aluno há diferença na escolaridade. Mas não podemos só responsabilizar a família. Aquele discurso “a família é ausente, a família não faz, portanto, a escola não pode fazer nada” não funciona.
Quando a família é presente, quando a família apoia, isto é muito bom e é o que a gente espera, mas a escola também tem responsabilidade. Naqueles casos em que a família não está, o próprio sistema de ensino tem a sua responsabilidade sobre a educação desses alunos. Esta responsabilidade não pode ser transferida para ninguém a não ser para o sistema de ensino.
http://youtu.be/yFkt0O7lceA

Prova Brasil e Saeb – São dois sistemas de avaliação complementares que compõem o Sistema de Avaliação da Educação Básica. O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizado pelo Inep/MEC, abrange estudantes das redes públicas e privadas do país localizadas em área rural e urbana, matriculados na 4ª e 8ª séries (ou 5º e 9º anos) do ensino fundamental e também no 3º ano do ensino médio. Neste exame são aplicadas provas de português e matemática e a avaliação é feita por amostragem. Os resultados são apresentados para cada unidade da Federação e para o Brasil como um todo.
Já a Prova Brasil é realizada com características de censo para alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental público, nas redes estaduais, municipais e federais, de área rural e urbana, em escolas que tenham no mínimo 20 alunos matriculados na série avaliada. Os resultados são oferecidos por escolas, municípios, estados e país.
Enem – O Exame Nacional do Ensino Médio tem o objetivo de avaliar a educação dos alunos que concluem o ensino médio e é usado como parte do processo seletivo de centenas de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e privadas. Não tem caráter censatório e o estudante se inscreve voluntariamente.
Enade – O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes é um exame obrigatório para alunos que ingressam e terminam o ensino superior. Cada curso participa das provas em um sistema de rodízio, de três em três anos. Com o Enade é possível avaliar o trabalho desempenhado pelas IES e saber se elas seguem os padrões exigidos pelo MEC.
* Publicado originalmente no site EcoD.
Fonte: Envolverde

Ascensão da classe média

Estudo revela abismo educacional entre classes média e alta
*João Fellet
Com a adesão de cerca de 40 milhões de pessoas na última década, a classe média tornou-se majoritária no Brasil, englobando 52% da população. Mas a ambição do grupo por novas chances de ascensão pode ser bloqueada pelo abismo educacional que o separa da classe alta, segundo uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE).
Feito com base na última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), de 2009, o levantamento revela que, embora os índices educacionais da classe média tenham avançado bastante nos últimos anos, seguem distantes dos da classe alta: ao passo que 87% dos brasileiros mais ricos concluem o ensino médio, apenas 59% da classe média alcançam o mesmo estágio.
O grupo também fica muito atrás quanto a anos de estudo e gastos com educação. Enquanto cada membro da classe média despende, em média, R$ 52 com educação por mês, entre os mais ricos, o gasto chega a R$ 220.
Batizada de A Classe Média em Números, a pesquisa traça os perfis das três faixas de renda brasileiras (baixa, média e alta) conforme critérios educacionais, habitacionais e regionais e define como classe média os brasileiros com renda familiar mensal entre R$ 1.000 e R$ 4.000.
Segunda faixa mais numerosa, a classe baixa representa 34% da população; já a classe alta é engloba 12% do total dos brasileiros.

Acesso às universidades

Para o secretário de Assuntos Estratégicos da SAE, Ricardo Paes de Barros, "o acesso à educação é a grande diferença entre as classes média e alta".
Segundo ele, o levantamento mostra que a classe média dá crescente importância à educação - o grupo vem investindo quantias cada vez maiores com os estudos.
Para reduzir a distância que a separa da classe alta, porém, Paes de Barros diz ser necessário dar maior ênfase à qualidade do ensino médio público e ampliar o acesso da classe média às universidades e ao ensino técnico.
O acesso à cultura também se mostra uma grande barreira entre os dois grupos: enquanto cada integrante da classe média gasta R$ 37 por mês com recreação e cultura, os mais ricos gastam R$ 127.
Nesse caso, o secretário afirma que a classe média tem a desvantagem de crescer mais em cidades médias e pequenas, onde a oferta de bens culturais é menor. "Precisamos ver como levar cultura até eles", disse à BBC Brasil.

Bens e serviços

A pesquisa revela ainda disparidades entre os grupos populacionais quanto ao acesso a bens e serviços.
Apenas 30% da classe média tem acesso à internet em casa, índice bem inferior ao da classe alta (72%). O telefone fixo está presente em 48% dos domicílios de classe média e em 81% dos lares mais ricos.
Há ainda diferenças significativas no acesso a saneamento adequado (76% na classe média, 92% na alta) e gastos com saúde (R$ 135 por mês por pessoa na classe média, R$ 438 na alta).
*BBC Brasil –
Fonte: Portal Cenpec

A feminização da economia


por Rosa Alegria*, especial para o Sesi

Uma das notícias que mais me impactou no início do novo século saiu na revista britânica The Economist em abril de 2006, quando me chamou a atenção o título: “Esqueça China ou Índia. Hoje, o principal motor de crescimento econômico são as mulheres”.

Na ocasião, os dados que saíram na matéria eram tão objetivos quanto os fundamentos que sempre pautaram as cartilhas da economia dominada pela cultura patriarcal, que até 30 anos atrás subvalorizava a presença feminina na contabilidade das nações e que, até hoje, ocultam muito do que valem as atividades naturalmente femininas, como o cuidado da casa, dos filhos, dos pais, o trabalho voluntário nas comunidades e tantas outras contribuições que impactam a vida de toda a sociedade.
Na matéria, a revista listava uma série de vantagens competitivas das mulheres sobre os homens, desde há tempos evidenciadas por vários estudos, mencionando que elas tiravam as melhores notas nas escolas, e na maior parte dos países ricos, a presença era predominantemente feminina nas universidades.
Mas o que realmente surpreendeu foi a conclusão de que nas últimas duas décadas, as mulheres contribuíram mais para o crescimento do PIB mundial do que as novas tecnologias, além de serem mais importantes para a economia do planeta do que a China ou a Índia.
Para ter uma ideia da representatividade feminina nos cálculos do PIB, segundo o relatório da Cedaw (Committee on the Elimination of Discrimination against Women), cerca de 40% das mulheres economicamente ativas no Brasil são chefes de família.
Passados cinco anos desde que li essa matéria, o fenômeno está em pleno vapor com a expansão de novos setores que fazem a roda da fortuna girar em favor das mulheres, e que têm contribuído para a feminização da economia, como o setor de serviços, a expansão do empreendedorismo e a emergência da economia social, sem contar com toda a riqueza qualitativa envolvida no crescimento do terceiro setor.
No entanto, nem tudo são flores nesse jardim de constatações econômicas. As mulheres ainda ganham menos, continuam enfrentando as dificuldades de múltiplos papéis herdados, tanto na dimensão biológica (como a maternidade) quanto na dimensão sociocultural (a responsabilidade pelas tarefas domésticas e o cuidado da família), e ainda são absoluta minoria nos postos de poder de qualquer setor, principalmente na política. Enquanto no mundo a média de participação de mulheres no poder público é de 19%, o Brasil ainda apresenta o índice vergonhoso de 9%.
Essa ascensão assimétrica em diferentes setores se explica pela própria natureza das mulheres em sua ancestralidade marcada por valores bem diferentes dos valores masculinos, como o cuidado, a cooperação, a intuição, a visão holística da realidade e sua capacidade natural de preservar as futuras gerações. Tudo isso ainda não conta no PIB das nações, nem nas avaliações de desempenho da maior parte das empresas.
No entanto, com a falência de tudo aquilo que direcionou a velha economia, e o chamado da sobrevivência, que ainda se define por sustentabilidade, novos ventos sopram e fazem mudar a direção da economia desse novo século. Já se inserem nas agendas dos governos mundiais novos valores econômicos que são genuinamente femininos. Novos indicadores econômicos pouco a pouco fazem com que medidas como o PIB passem a não fazer mais sentido.
Qualidade de vida, bem-estar, felicidade, vitalidade comunitária, qualidade do tempo, preservação ambiental, valorização cultural são alguns dos novos indicadores que passam a tornar a economia mais feminina. Isto significa que muitas mudanças ainda estão por vir e surpreender o mundo. Novos estilos de liderança devem ser criados para que possam se adaptar aos estilos matrísticos de poder, que não é poder como fim, mas como meio de se alcançar objetivos que incluam em vez de excluir, que preservem em vez de devastar, que qualifiquem em vez de somente quantificar.
Uma das grandes revoluções que está por vir é o esvaziamento do estilo masculino de liderança, pautado na competição e no ganha-perde. Com o aumento de mulheres-líderes, que se deixam pautar pela sua própria natureza, novos modelos econômicos vão definir o rumo do Século 21, como a economia solidária, a economia criativa, a economia verde, o empreendedorismo econômico e social.
Nessas áreas, aliás, o Brasil tem tido destaque. Uma pesquisa realizada recentemente pelo instituto GEM (Global Entrepreneurship Monitor) indica que as mulheres brasileiras estão em quarto lugar no ranking mundial de empreendedorismo, à frente de emergentes como Chile e de potências como Estados Unidos e França.
E se começarmos a observar alguns sinais ainda sutis de mudança, o impensável começa a acontecer. Depois de décadas lutando pela igualdade de direitos com os homens, as mulheres estão virando donas de casa novamente. E são mulheres com formação universitária, empregos bem remunerados e com relações afetivas estáveis. Hoje, uma boa porção das que vivenciaram os mais altos postos da hierarquia das organizações estão levando os filhos ao colégio, ao parque ou ao inglês, administrando o orçamento familiar e preparando com prazer pratos que sempre sonhou preparar, mas que não tinham tempo, pois os livros de receita ficavam empoeirados nas suas prateleiras repletas de livros de administração e teorias organizacionais.
Claro que esse número de dissidentes é ainda reduzido, mas diversos estudos indicam que cresce o número de mulheres que priorizam a realização pessoal em vez da realização profissional como uma década atrás.
A unidade de inteligência econômica da revista The Economist (The Economist Intelligence Unit) criou o “Índice de Oportunidades Econômicas para as Mulheres” (The Women’s Economic Opportunity Index), que é um esforço para monitorar leis, políticas públicas, práticas e atitudes que afetem as mulheres trabalhadoras. São 26 indicadores selecionados e validados por um painel de especialistas que analisam cada aspecto da cadeia de valor social e econômica própria para as mulheres, desde a fertilidade até a aposentadoria.
Com as novas medidas, passa a ser mais fácil visualizar os conflitos e desafios enfrentados pelas mulheres. Logo, a reorganização dos orçamentos públicos voltados para as necessidades femininas, assim como a criação de leis específicas para as mulheres, tem mais impacto social e, inevitavelmente, econômico.
Para a economista e futurista Hazel Henderson, que criou o conceito da “economia do amor” (a economia do cuidado e da natureza), se essas atividades produtivas – que vão além da competitividade e valorizam mais a cooperação e o ganha-ganha – fossem contabilizadas, perfariam 50% da economia mundial e do trabalho produtivo.
Ainda é difícil de responder o que vai acontecer com todos esses novos fenômenos que apontam para a feminização da economia, e também não sabemos quais modelos de liderança passarão a vigorar.
Mas o que realmente importa nesse momento é que se criem marcos regulatórios e políticas públicas favoráveis à natureza da mulher, abrindo a ela a oportunidade de inserir-se na economia por uma nova ótica: mais humanizada, colaborativa e sustentável.
* Rosa Alegria é futurista, graduada em Letras pela Universidade de São Paulo e mestre em Estudos do Futuro pela Universidade de Houston, Clear Lake, copresidente do núcleo brasileiro do Projeto do Milênio, vice-presidente do NEF (Núcleo de Estudos do Futuro) da PUC-SP. É idealizadora da pesquisa mundial Millennia 2015 – Estudo Prospectivo sobre o Futuro da Mulher e um Novo Modelo de Desenvolvimento, sob a responsabilidade do Projeto do Milênio. Representa a América Latina em várias redes de pesquisa prospectiva do mundo.
** Conteúdo gentilmente cedido pelo Sesi (Serviço Social da Indústria).
*** Publicado origunalmente no site Mercado Ético.
Fonte: Envolverde

Mulheres igualam homens na abertura de novas empresas no Brasil


Pesquisa mostra que elas representam 49,3% dos novos empresários; em Nova York, número de negócios criados por elas cresceu 58%

Em 1997, a empresária paulista Sarah Chofakian decidiu abrir uma loja de sapatos. Naquele momento, ela seguia uma tendência nova-iorquina – e não nas cores e materiais dos calçados. Um estudo feito pela American Express revela que, desde aquele ano, o número de empresas que pertencem a mulheres cresceu 58% em Nova York. No Brasil, elas praticamente já igualam os homens no quesito empreendedorismo, uma vez que representam 49,3% das pessoas à frente de negócios com menos de 42 meses de existência.

Foto: Divlugação
A empresária Sarah Chofakian: "Quando elas fazem, fazem com paixão"

A informação vem de uma pesquisa divulgada hoje pelo Sebrae. O dado se torna mais relevante na medida em que existe apenas um país no mundo – Gana, na África – onde elas são maioria nesse índice. “Temos uma cultura empreendedora no Brasil, na qual a mulher tem se destacado muito, principalmente no comércio varejista”, afirma Luiz Barreto, presidente da entidade. “Elas têm grande presença em ramos como lojas de roupas e salões de cabeleireiro”, diz Barreto.

“Nem todas as mulheres têm a obrigação de ter um trabalho, mas quando elas decidem trabalhar é porque têm paixão pelo o que fazem”, acredita Chofakian, que se tornou parte dessas estatísticas movida justamente por essa vontade de fazer o que gostava. “Sempre quis ter uma carreira na qual pudesse fazer o que eu gosto. Trabalhar com sapatos sempre foi uma paixão e abrir um negócio relacionado a isso foi a realização dessa paixão”, conta.

A pesquisa americana calcula que existam hoje 8,1 milhões de empresas comandadas por mulheres nos EUA, que geram 7,7 milhões de empregos e somam US$ 1,3 trilhão em receita. Isso significa 4% da receita e 6% das vagas de todas as companhias americanas – um índice que cresceu 50% desde 1997, ou uma vez e meia a média americana.

A pesquisa do Sebrae mostrou ainda que a maioria dos novos empresários brasileiros gastou menos de R$ 10 mil para abrir o negócio. De cada 100 empreendedores, 18 gastaram menos de R$ 2 mil para iniciar a atividade. Apenas em 18,9% dos casos foi necessário um gasto superior a R$ 30 mil.
Fonte: Portal iG

Empreendedorismo no Brasil supera países desenvolvidos

Em 2010, 21,1 milhões de brasileiros abriram negócios; Brasil superou países como China e EUA

A vontade de empreender do brasileiro é cada vez maior. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada nesta terça-feira pelo Sebrae, a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) do Brasil foi de 17,5%. Esse percentual indica que 21,1 milhões de brasileiros exerceram atividade empreendedora no ano passado. A elevada participação foi a maior entre os países membros do G20 (grupo que integra as maiores economias do mundo) e BRIC (grupo que reúne os emergentes Brasil, Rússia, Índia e China).

O resultado conseguido ultrapassou marcas representativas como as taxas da China (14,4%) e Argentina (14,2%), ambos do G20. A TEA brasileira também foi maior do que a de países como Austrália (7,8%) e Estados Unidos (7,6%). Até mesmo entre os BRICs, o País superou todos os integrantes. Em 2009, a taxa de empreendedorismo do Brasil havia sido de 15,3%, ocupando a segunda posição no grupo dos G20, abaixo da China com taxa de 18,8%.

Dos empreendedores brasileiros que participaram do levantamento, 5,9% correspondem a empreendimentos nascentes (desde a fase de planejamento e estruturação até três meses de atividade) e a maioria, 11,7%, a empreendimentos novos (que possuem entre três meses e três anos e meio de atividade, considerando como início o pagamento de salários). “Para que os negócios das MPEs avancem mais é preciso que haja também incentivo nas escolas, com disciplinas criadas para desenvolver o espírito empreendedor nas pessoas”, diz Luiz Barreto, presidente do Sebrae.

Para compor o levantamento no País, nos meses de maio a julho de 2010 foram entrevistadas duas mil pessoas com faixa etária de 18 a 64 anos. No mundo, mais de 180 mil pessoas foram ouvidas no ano passado.
Fonte: Portal iG

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nova classe média abre filão para pequenas empresas



Classe C gasta o dobro da A, sobretudo em higiene e alimentação; estratégia para chegar a cliente envolve crédito e distribuição

Os cabelos crespos de Heloísa Assis lhe renderam verdadeira fortuna. Sócia fundadora do Instituto Beleza Natural, Zica, como é conhecida, lidera uma rede de salões de beleza especializada em cabelos crespos, com foco em clientes da classe C. O faturamento das atuais 11 unidades chegou a R$ 78 milhões em 2009. Foto: Divulgação

Foco em cabelos crespos gerou faturamento de R$ 78 milhões ao Beleza Natural em 2009
No início da década de 1990, Zica e seus três sócios – o marido, o irmão e a cunhada – iniciaram um negócio despretensioso. Abriram, em 1993, um salão de beleza na Tijuca, Rio de Janeiro. A iniciativa se transformou num caso de sucesso mundial. Dezessete anos depois, o Instituto Beleza Natural é referência em seu segmento e tem projetos ambiciosos de crescimento no curto prazo.

Atualmente, a rede de Zica conta com nove lojas no Rio de Janeiro, uma em Vitória (ES) e a mais recente, inaugurada no início do ano, em Salvador (BA). O Beleza Natural conta, ainda, com um centro de treinamento em Jacarepaguá, para garantir a padronização das técnicas e procedimentos em todos os salões.

Embora seja voltado para classe C (95% das clientes vêm desta camada social), as unidades do instituto procuram reforçar uma imagem luxuosa: têm televisores de LCD, amplo espaço decorado e atendimento especializado. “Em três anos, tivemos crescimento de 150%”, diz Anthony Talbot, diretor-geral do Beleza Natural, contratado em 2006 para profissionalizar a gestão dos negócios. Naquele ano, o faturamento da empresa foi de R$ 32 milhões.

Com gastos médios de R$ 116,28 por cliente, o Beleza Natural desenvolve produtos específicos para cabelos crespos, que respondem por 35% do faturamento do grupo. Novos produtos são desenvolvidos com base em pesquisas na casa das clientes e em redes sociais, como o Orkut. Para 2011, a rede estuda a abertura de mais lojas na capital baiana e uma possível chegada a São Paulo.

Gigante despertado

Os planos da rede de Zica têm uma base sólida: o crescimento latente da classe C no Brasil. Em cinco anos, o mercado consumidor brasileiro ganhou mais de 32 milhões de pessoas. Nada menos que 49% da população nacional (cerca de 97 milhões de pessoas), hoje, compõem a classe média, um gigante que acordou para o consumo.

O País tem aproximadamente 35,5% da população com acesso à Internet, mais de 53 milhões de televisores vendidos, 23 milhões de máquinas de lavar, 2,5 milhões de veículos novos emplacados por ano e 150 milhões de telefones celulares. “É um mercado muito grande para os segmentos de alimentação e bebida. Quando olhamos para bens de consumo, higiene e beleza também têm um gasto significativo”, diz a antropóloga Luciana Aguiar, sócia da Plano CDE, consultoria especializada no estudo da classe média brasileira.

Os gastos médios da classe C com alimentação foram de cerca de R$ 70 bilhões em 2007, praticamente o dobro dos R$ 35,8 bilhões da classe A. No segmento higiene e cuidados pessoais, a proporção é parecida: R$ 7,3 bilhões da classe C e R$ 4,2 bilhões da A.

Luciana afirma que as empresas devem ter projetos mais específicos para atender a demanda da classe média. “Em geral, as empresas simplificam produtos em busca de redução de custo para melhorar o preço", diz. "Mas elas deveriam pensar em uma estratégia mais ampla, vendo todos os processos.”

Gastos por camada social

Classe C encabeça despesas com alimentação e higiene, e torna-se filão mais interessante que classe A
(em R$ bilhões)
Ler na íntegra: http://economia.ig.com.br/financas/seunegocio/nova+classe+media+abre+filao+para+pequenas+empresas/n1237615414180.html
Fonte:Portal iG

Classe média alcança metade da população de todo o País

Cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C entre 2008 e 2009

Pela primeira vez na história do País mais da metade da população de todo o território nacional passou a compor a classe média. Cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C entre 2008 e 2009. Com isso, 94,9 milhões de pessoas compunham a classe média no ano passado, num total de 50,5% da população. Em 2008, o percentual era de 49,2%.

As informações constam da pesquisa A Nova Classe Média: o Lado Brilhante dos Pobres, do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A entidade considera a classe C famílias com renda mensal de R$1.126 a R$4.854; classe B de R$4.854 a R$6.229, e no topo da pirâmide social (classe A) rendimentos acima deste valor.

“A classe média era um pouco mais de 1/3 (37%) da população há apenas oito anos. Agora ela é metade da população. 2009 definitivamente não foi um ano de crise nas estatísticas sociais”, afirmou o autor da pesquisa, Marcelo Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas.

Pesquisas anteriores baseadas em dados das maiores capitais brasileiras já mostravam o crescimento da classe média num ritmo acelerado. Mas é a primeira vez que a FGV capta uma classe média com mais de 50% da população a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Até então isso só havia ocorrido nas seis metrópoles investigadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME).

A pobreza, representada pela classe E com 28,8 milhões de pessoas, recuou 4,34% em plena crise. Um milhão de pessoas cruzaram a linha da miséria em 2009. A classe D, com renda mensal familiar de R$ 705 a R$ 1.126, por sua vez, encolheu 3%.
Também alargaram espaço na pirâmide social as classes B (3,49%) e a A (0,18%). A transferência dos mais pobres para os extratos de renda mais abastados da pirâmide retrata, segundo Neri, crescimento econômico combinado com distribuição de renda.

Se por um lado o Produto Interno Bruto (PIB) não cresceu em 2009, a renda média do trabalhador brasileiro ficou 2% maior. Acontece que as Contas Nacionais, que resultam no cálculo do PIB, consideram o setor externo na hora de medir o conjunto de riquezas do País. A economia dependente do setor externo foi mal, mas a demanda doméstica e outras variáveis ligadas ao mercado interno continuaram crescendo.

Segundo o pesquisador, o movimento de ampliação da classe média é sustentável tanto pelo pontencial de geração de renda quanto pela capacidade cada vez maior de consumo dos brasileiros. Ainda segundo Neri, o potencial de consumo aumentou 22,6%, entre 2003 e 2008, enquanto a capacidade de geração de renda subiu 31,2%.
29 milhões em seis anos

Num balanço dos últimos sete anos, a pesquisa mostra que 29 milhões engrossaram a classe média, o que equivale a um crescimento de 34,3%. Para a classe AB, no mesmo período, migraram 6,6 milhões, num salto de 39,6%. E as classes menos favorecidas encolheram, refletindo diretamente a redução da miséria. Cerca de 20,5 milhões de brasileiros deixaram a pobreza, segundo a linha estimada em cerca de R$ 144 pela FGV.
Fonte; Portal iG