Rafael Correa: “Estamos diante de
uma guerra não convencional”
Rafael Correa a Carta
Maior, Página/12 e La Jornada: “Estamos diante de uma guerra não convencional”
Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, o presidente
do Equador, Rafael Correa analisa o que considera ser um dos principais
problemas do mundo hoje: o poder das grandes corporações de mídia que agem como
um verdadeiro partido político contra governos que não rezam pela sua cartilha.
“Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não
convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.
Rio de Janeiro – Representante de uma
nova geração de líderes políticos da esquerda latinoamericana, o presidente do
Equador, Rafael Correa, foi lançado para a linha de frente do cenário político
mundial com o pedido de asilo político feito, em Londres, pelo fundador do
Wikileaks, Julian Assange. Há poucas semanas, Assange entrevistou Correa e os
dois conversaram, entre coisas, sobre um tema de interesse de ambos: as
operações de manipulação conduzidas pelas grandes corporações midiáticas.
Agora, durante sua passagem pela Rio+20, Rafael Correa voltou com força ao
tema.
Em uma entrevista especial concedida à Carta Maior e aos jornais Página/12, da Argentina, e La Jornada, do México, analisa este
que considera ser um dos principais problemas do mundo hoje: o poder das
grandes corporações de mídia que, na América Latina, agem como um verdadeiro
partido político contra governos que não rezam pela cartilha desses grupos.
“Essa é a luta, não há luta maior. Estamos diante de uma guerra não
convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste”.
Na entrevista, Correa fala sobre o pedido de
asilo de Assange, relata o debate sobre uma nova lei de comunicações no Equador
e faz um balanço pessimista sobre os resultados da Rio+20.
Há um argumento segundo
o qual a liberdade de imprensa é propriedade dos meios de comunicação
empresariais. Imagino que essa não seja a sua opinião.
Correa: Não nos enganemos.
Desde que se inventou a impressora a liberdade de imprensa, entre aspas,
responde à vontade, ao capricho e à má fé do dono da impressora. Devemos lutar
para inaugurar a verdadeira liberdade de imprensa que é parte de um conceito
maior e um direito de todos os cidadãos, que é a liberdade de expressão, que
defendemos radicalmente. No entanto, o poder midiático que faz negócios com o objetivo
de ter lucro, até isso quer privatizar. Então, se eles têm tanta vocação para
comunicar, como dizem, que o façam sem finalidades lucrativas, porque para mim
isso é uma contradição.
Este é um grande problema na América Latina e
também em nível planetário. Tenho tomado conhecimento que existem posições
semelhantes às nossas, mas houve um tempo em que nos sentíamos muito sozinhos,
quando fomos vítimas de um ataque tremendo por não abaixar a cabeça diante de
um negócio muitas vezes corrupto e encoberto sob a capa da liberdade de
expressão. Essa é a luta, não há luta maior.
Presidente, nestes dias
foram divulgados telegramas pelo Wikileaks onde apareceram jornalistas
equatorianos que eram considerados informantes pela embaixada dos Estados
Unidos. Isso confirma as hipóteses levantadas quando você foi vítima de um
golpe de Estado.
Correa: As mentiras deles
sempre acabam sendo derrubadas. Entidades que financiam esses empórios
midiáticos, certas organizações que, em nome da sociedade civil, nos denunciam
ante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a SIP, ante todos os lados.
Agora vemos que esses senhores são identificados via Wikileaks como informantes
da embaixada (estadunidense). Wikileaks que nunca é publicado pela maioria da
imprensa comercial. Não é só isso. Essa gente é financiada pela USAID, que
vocês conhecem. A USAID financiou com 4,5 milhões de dólares a estes supostos
defensores da liberdade de expressão, supostamente para fortalecer a democracia
e a ação cívica. Na verdade, para fortalecer a oposição aos governos
progressistas da América Latina e os povos da região tem que reagir contra esse
tipo de prática.
Independentemente da solicitação do senhor
Assange – ele solicitou asilo político -, ele disse que quer vir para o Equador
para seguir cumprindo sua missão em defesa da liberdade de expressão sem
limites, porque o Equador é um território de paz comprometido com a justiça e a
verdade. Isso que o senhor Assange disse é mais próximo da realidade do Equador
do que as porcarias que o poder midiático publica todos os dias.
Sabemos que o senhor
ainda não tomou uma decisão sobre a situação que está atravessando alguém que
revelou informações secretas sobre conspirações dos Estados Unidos e está
pagando com a prisão por ter trabalhado pela liberdade de imprensa.
Correa: Se, no Equador,
alguém tivesse passado a centésima parte do que passou Assange, nós seríamos
chamados de ditadores e repressores, mas como o que Assange divulgou afeta as
grandes potências e isso evidencia uma moral dupla e como os Estados nos tratam
por meio de suas embaixadas, então é preciso aplicar todo o peso da lei contra
Assange. E o chamam de violador.
Eu não quero antecipar minha decisão. Recebemos
o pedido de asilo, analisaremos as causas desse pedido e tomaremos uma decisão
quando for pertinente. Ele está em nossa em nossa embaixada em Londres sob a
proteção do Estado equatoriano.
É claro que há aqui uma dupla moral, uma para
os poderosos e outra para os débeis, uma para os que querem manter o status quo
e para sua imprensa, e outra para os governos que querem mudar esse status quo
e para a imprensa alternativa. Todos os dias há julgamentos em países
desenvolvidos contra jornais. Neste caso não há problema, porque isso é
civilização, mas, processar em nosso país um jornal ou um jornalista é
qualificado como barbárie. E não é verdade que nós criminalizamos a opinião,
pois em nosso país todos os dias publicam tudo, todos os dias publicam que há
falta de liberdade de expressão. Qualquer um pode dizer que o governo é bom ou
mau, que é competente ou incompetente. Mas o que não pode se dizer em um meio
de comunicação é que o presidente, ou qualquer cidadão, é um criminoso de lesa
humanidade e que ele disparou sem aviso prévio contra um hospital, porque isso
é difamação, isso é delito em qualquer país.
O caso Assange pode dar
origem a uma tensão diplomática entre Equador e Grã-Bretanha?
Correa: Isso é a última coisa
que queremos, mas nós não vamos pedir permissão a nenhum país para tomar
decisões soberanas. O Equador não tem mais alma de colônia nem alma de vassalo.
Se dar asilo, refúgio ou residência a fugitivos da justiça provocasse
deterioração, a relação da América Latina com os Estados Unidos estaria
deterioradíssima. Porque, provavelmente, Argentina, Brasil, México e outros países
não devem estar de acordo que qualquer fugitivo que viole a justiça. Esse não é
o caso do senhor Assange, mas sim de corruptos como os banqueiros que quebraram
o Equador em 99 e fugiram para os Estados Unidos, onde gozam hoje de uma vida
bastante cômoda.
Vocês têm um Murdoch no
Equador?
Correa: No Equador, temos
seis famílias que representam heranças familiares, não é propriedade
democrática, um capitalismo popular onde há 10 mil acionistas em um empório. Os
meios de comunicação no Equador são manejados por meia dúzia de famílias, que
decidem o que os equatorianos devem saber e conhecer. Vocês se dão conta da
vulnerabilidade que temos como sociedade? A informação depende dos interesses e
dos caprichos de meia dúzia de famílias. Mas se um governo soberano e digno não
as chama para consultar sobre o nome dos ministros ou sobre a indicação de
embaixadores, como ocorria antes, vão com tudo para cima desse governo porque
ele não se submete aos seus caprichos. É um problema mundial, mas em outros
países é atenuado com participação, profissionalismo muito profundo, uma ética
muito forte, tudo o que brilha por sua ausência aqui no Equador.
Presidente, um
funcionário da Usaid acaba de dizer que eles estão ajudando as oposições a
estes governos.
Correa: Franqueza anglo-saxã.
Impunidade?
Correa: Impunidade e
arrogância.
Essa ideia nos fala de
um tempo da informação como arma de guerra e a América Latina sofre uma
verdadeira invasão dessas fundações como a USAID, a NED, o IRI. Isso não torna
muito perigosa a nossa situação? A presença das ONGs destas fundações não é
perigosa para o Equador?
Correa: Oxalá consigamos
despertar os povos latino-americanos para essa situação. As direitas, os grupos
de poder, sabem que nas urnas não conseguirão nos derrotar. Daí as campanhas contínuas
de desgastes, de propaganda, de difamação, de enfraquecimento e
desestabilização. Nós vivemos isso desde os primeiros dias de governo. Desde o
primeiro dia de governo. O mesmo ocorre na Venezuela, na Bolívia, na Argentina
e em todos os governos progressistas da região. Sofremos as campanhas desses
meios que são a vanguarda do capitalismo, do status quo dos partidos
tradicionais de direita que se afundaram por seus próprios erros, para difamar,
para distorcer a verdade com a cumplicidade de veículos da mídia internacional.
Essa é a contradição de que fala Ignacio
Ramonet. Na Europa hoje há desemprego, estagnação, resgate de milionários,
resgate de bancos e não de cidadãos, e os jornais dizem que isso é necessário,
que é sério, técnico e correto. Que as pessoas morram de fome, precisamos
salvar o capital! Enquanto isso, em países como o Equador, que é um dos que
mais crescem na América Latina, que reduziu a pobreza, gerou mais emprego, tem
a taxa de desemprego mais baixa da região e da história, todos os dias nos
dizem que isso é populismo e demagogia, que é preciso mudar de governo.
Estamos ante uma campanha propagandística para
defender os poderes fáticos que sempre dominaram nossos países. A direita
perdeu as eleições nos Estados Unidos e agora chegam essas organizações para
financiar esses grupos na América Latina. Estamos diante de uma guerra não
convencional, mas guerra, de conspiração, desestabilização e desgaste.
Por isso pergunto sobre
o tema da informação como arma de guerra, como a arma letal antes do primeiro
disparo.
Correa: Estou convencido
disso. Alguns ainda imaginam a imprensa, sobretudo na América Latina, como o
quarto poder nascente, que floresceu quando chegaram as democracias, quando
ocorreram avanços técnicos e se multiplicaram as publicações, quando se avançou
na alfabetização e as grandes massas passaram a poder ler. Esse poder impediria
que o poder político, o poder do Estado, ultrapasse certos limites. Assim
chegou a desinformação. Lembremos, por exemplo, do affair Dreyfus na França,
quando por racismo e xenofobia se acusou um capitão judeu, como denunciou Emile
Zola em seu famoso editorial “Eu acuso”. Essa imprensa limitava os excessos do
poder político, mas esse vigoroso e ingênuo cachorrinho, bem intencionado, que
lutava pelos interesses dos cidadãos, converteu-se de repente em um mastim
feroz, com um poder ilimitado, raivoso, que não só tenta encurralar o Estado
como também os próprios cidadãos.
O poder midiático na América Latina, como
ocorre no Equador, é frequentemente superior ao poder político. Precisamos
tirar certos estereótipos de cena ou do ambiente de certa burocracia
internacional como alma de ONG, como a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos que fala de pobrezinhos jornalistas e de malvados políticos. Isso não é
certo. Os políticos são, muitas vezes, patrióticos. A antipatia que certos
jornalistas alimentam, desfiando seus ódios e amarguras, acaba fazendo com que
se metam inclusive em questões pessoais, com a família, etc. Então, vejamos a
realidade. Trata-se de tabus e nos ensinaram a ter medo de criticar esses
negócios, como se, criticando-os, estaríamos criticando a liberdade de
expressão. Esses são os negócios da má imprensa.
Presidente, viremos a
página e passemos à crise
Correa – É que esse tema (da
mídia) me apaixona. É um tema acadêmico que me apaixona, ao qual dedicarei meu
tempo quando sair da presidência. Pretendo me dedicar a ele, investigar e
escrever porque se trata de um problema gravíssimo, porque estamos nas mãos de
um poder midiático que superou inclusive o poder financeiro e político, e
domina o mundo.
Você resumiu ontem em
uma palavra o documento final da Rio+20, classificando-o como “lírico”…
Correa – É assim. Não há
compromisso concreto. Podem verificar. Onde há um compromisso em cifras, por
exemplo, com o limite de emissões de gases, compensações, acordos, acordos
vinculantes como seria uma declaração de direitos da natureza em um tribunal
internacional do meio ambiente, como propôs o Equador. Não há nada disso.
Fala-se de cuidar melhor do planeta, mas não há um compromisso concreto. O
avanço é muito pequeno.
A que atribui a
ausência dos Estados Unidos e da Alemanha? Elas podem ter contribuído para essa
falta de compromissos concretos?
Correa – Vai mais além. O
problema não é técnico. Todo mundo sabe qual é o problema, todo o mundo sabe
quais são as respostas. O problema é político. Quem gera os bens ambientais e
quem consome esses bens ambientais? Se os países ricos ou os países em
desenvolvimento podem consumir gratuitamente um bem que outros geram por que é
que vão se comprometer a compensar e cuidar. Não farão isso a não ser que
esteja em perigo evidente sua própria existência ou seus próprios interesses.
Então, o problema é político, é a relação de
poder. Imagine que a situação fosse a inversa, que a Floresta Amazônica, por
exemplo, estivesse nos Estados Unidos e que eles fossem geradores de bens
ambientais e que nós dos países em desenvolvimento fôssemos os consumidores. Já
teriam nos invadido em nome dos direitos humanos, da justiça, da liberdade,
etc., para exigir compensações. Então, esse é um problema de poder. Enquanto
não mudarem as relações de poder, muito pouco se irá avançar.
Considera então que o
saldo provisório da Rio+20 é um fracasso?
Correa – Sim. Não se
conseguiu avançar quase nada. Não há compromisso concreto, nada concreto. Nem
sequer dinheiro. Houve uma reunião do G-20 no México e a maioria, 80% dos que
estavam lá, regressaram para suas casas. Não vieram para a Rio+20. Não
interessa. Apenas alguns poucos vieram para a Cúpula, sobretudo
latino-americanos.
Houve também a Cúpula
dos Povos, um encontro muito interessante.
Correa – Quisemos participar,
mas não foi possível, estava muito longe. Infelizmente foi um problema de
logística. Mas vamos ter um evento de direitos da natureza, paralelo à Cúpula,
nos mesmos locais da Cúpula, para o qual convidamos 400 dirigentes de
organizações sociais alternativas, progressistas de esquerda que buscam a
justiça de nossa América e do mundo inteiro. O presidente Evo Morales também
participará dessa conferência.
Eu queria perguntar-lhe
sobre o que representam estas alianças como a do Pacífico (Colômbia, Chile,
Peru e México) e o anúncio feito pelo presidente Felipe Calderón do
Transpacífico, que é algo novo. Isso pode ser visto como uma ameaça à integração
e à unidade da América Latina?
Correa – Bom, o maior
problema em essência sobre o tema do cuidado com o meio ambiente e que também
está na base da crise da Europa e dos Estados Unidos é que tudo foi
mercantilizado. Eles não querem ver isso porque afeta os interesses dominantes.
O mercado é uma realidade econômica que não podemos negar, mas o grande desafio
da humanidade é que a sociedade deve conseguir dominar o mercado. O que temos
hoje é o mercado dominando a sociedade e as pessoas, mercantilizando tudo. Como
o mercado só se interessa pelo que é mercadoria, pelo que tem preços
explícitos, não administra adequadamente bens públicos como o meio ambiente.
Por isso pode consumir irresponsavelmente bens ambientais, bens públicos
globais, depredar a natureza, etc., porque não têm preços explícitos, porque
não são mercadoria.
Então, quanto mais se ampliar essa lógica do
mercado, mais esses problemas se agravarão e os perigos serão ainda maiores
para a conservação do planeta. Eu diria que nós somos muito críticos destes
tratados de livre comércio, somos muito críticos da mercantilização da vida e
da humanidade em geral. Esse é um dos grandes desafios que enfrentamos.
Insisto, o mercado é um fenômeno econômico irrefutável, mas o grande desafio é
fazer com que as sociedades dominem o mercado e não o contrário.
Senhor presidente, que
medidas os países da América Latina deveriam tomar para não perder o rumo da
histórica na direção de uma integração regional soberana e progressista. Como
vê os avanços no Mercosul, na Unasul e na Comunidade Andina de Nações (CAN)?
Correa – Avançou-se como
nunca antes. Isso não quer dizer que estejamos bem. Teremos que avançar muito
mais rápido. Creio que há uma vocação concreta e uma posição integracionista
sincera, não uma integração mercantilista como havia antes. O Mercosul nasceu
na noite neoliberal dos anos 90. A CAN nasceu a todo vapor e depois diminuiu. A
integração mercantilista não quer fazer grandes sociedades de nações, mas sim
grandes mercados, não fazer cidadãos de nossa América, mas sim consumidores. A
concepção da Unasul é diferente. Nós temos uma concepção integral, onde uma
parte é comercial, que sempre é importante, mas não é o mais importante, e as
outras partes tem a ver com conectividade, nova arquitetura financeira
regional, harmonização de políticas, políticas de defesa. Oxalá consigamos
avançar também em políticas trabalhistas para que nunca mais caiamos na América
Latina na armadilha de competir para atrair investimentos, deteriorando e
precarizando as forças de trabalho. Ao invés de atrair capitais na base do suor
e das lágrimas de nossos trabalhadores, pensamos em outro mundo. Como disse,
creio que avançamos, mas precisamos ir muito mais rápido.
O senhor tocou de
passagem o tema do Conselho de Defesa Sulamericano, que está objetivamente
estancado, e seu país sofreu um ataque estrangeiro em 2008. Na sua avaliação,
com a chegada do presidente Santos na Colômbia, a hipótese de tensões entre
Colômbia e Equador está completamente dissipada?
Correa - As relações bilaterais
entre Equador e Colômbia gozam de um extraordinário momento. Há uma grande
coordenação com o governo do presidente Santos. A Colômbia sempre foi o vizinho
com o qual tivemos a melhor relação em nossa história. Infelizmente, essa
história, séculos de irmandade, foi rompida pela traição de um presidente como
Uribe. Mas, graças a deus, com o governo do presidente Santos isso foi superado
e creio que ele também tem uma vocação integracionista muito profunda e apoia –
de fato, tem apoiado – a proposta do Conselho de Defesa.
O Conselho de Defesa
teve seus primeiros estremecimentos com o anúncio da radicação de tropas dos
Estados Unidos na Colômbia. Essa possível radicação de tropas norte-americanas
na Colômbia está definitivamente abortada?
Correa – Não tenho maiores
conhecimentos a respeito desse assunto. Até onde sei há uma estreita
colaboração norteamericana com o pretexto da luta antidrogas e oxalá que a
ajuda se concentre aí. Mas temos que fazer um esforço de bastante ingenuidade
para nos convencermos disso porque muitas vezes se fazem outras coisas com
essas supostas ajudas, sobretudo com governos que não sigam a linha de
Washington.
A pergunta anterior
está associada a outras situações graves como a remilitarização com novas bases
no Panamá e outros três centros operacionais do comando Sul , uma base nova no
Chile e nas Malvinas o grande problema é a base britânica ali instalada. Toda
esta expansão dos Estados Unidos não é ameaçadora para a região?
Correa – Nós queremos nos
convencer que com Barack Obama, que acreditamos ser uma boa pessoa, a política
internacional dos EUA mudou, mas as evidências nos mostram que não é assim, que
tudo continua lamentavelmente igual, sobretudo no que diz respeito à América
Latina, cujos governos comprometidos com justiça, dignidade e soberania
passaram a ser vistos como uma ameaça para seus interesses. Devemos estar muito
atentos a essa presença das forças armadas norte-americanas em nossa América e
a esse processo de rearmamentismo que está ocorrendo nesta época tão difícil e
complexa.
Fonte: Vi o Mundo
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