Jean-Charles Naouri assume na sexta o posto de Abilio Diniz no
comando do Pão de Açúcar
Um
intelectual francês que chegou ao varejo relativamente tarde em sua carreira
deve se tornar o novo chefão da indústria no Brasil, um dos maiores e de mais
rápido crescimento mercados do mundo.
Na
sexta-feira, Jean-Charles Naouri, o presidente do grupo francês Casino,
vai assumir o controle da maior rede de varejo do Brasil, o grupo Pão de Açúcar,
no auge de uma estratégia para criar uma gigante do setor em mercados
emergentes.
Para
o executivo de 63 anos, a chegada ao comando do Pão de Açúcar virá com um gosto
de revanche sobre o parceiro Abílio Diniz,
atual presidente do conselho do grupo brasileiro que no ano passado tentou
romper um acordo com o Casino ao propor uma fusão da companhia brasileira com o
arquirrival do grupo francês, o Carrefour.
A
vitória de Naouri na ferrenha disputa que se seguiu é emblemática sobre a forma
como ele construiu um império de varejo que fatura 34 bilhões de euros (R$
87,51 bilhões) por ano e que se espalha por 10 territórios. O executivo assumiu
participações minoritárias em companhias com problemas e então passou a
aumentar a influência do Casino quando a recuperação estava garantida.
"Ele
não inicia disputas. Elas surgem porque os empresários não aceitam vender suas
companhias quando chega a hora", disse o estrategista de negócios Alain
Minc, que assessora Naouri.
Em
22 de junho, Naouri, nascido na Argélia, vai se tornar presidente do conselho
da holding controladora do grupo Pão de Açúcar conforme descrito em um acordo
acertado em 2005 com Diniz. Apesar do empresário brasileiro reter o título de
presidente do conselho do Pão de Açúcar, seu peso na tomada de decisões será
bastante reduzido.
O
Casino investiu pela primeira vez no Pão de Açúcar em 1999, quando resgatou o
grupo de dificuldades. Atualmente o Brasil é o segundo maior mercado para o
Casino no mundo depois da França e é um pilar importante na expansão do grupo
francês em mercados emergentes em um momento de fraqueza na Europa.
Depois
que o Casino assumir o controle, o Brasil vai representar 44% das vendas
estimadas do grupo, de quase 54 bilhões de euros (R$ 138 bilhões), e 53% do
lucro operacional estimado em 2,6 bilhões (R$ 6,7 bilhões) para 2013, segundo
analistas da Oddo Securities.
Origem
Filho
de um médico e de uma professora de inglês, Naouri se graduou na Ecole Normale
Superieure e na Ecole Normale d'Administration (ENA), berços das elites
política e de negócios da França.
Ele
iniciou sua carreira em ministérios do governo francês, incluindo o de Finanças,
onde ele foi chefe de equipe do ministro socialista Pierre Beregovoy, na década
de 1980, antes de ir para o setor privado e ingressar no Banque Rothschild em
1987.
"Ele
é quatro vezes mais rápido que as pessoas mais espertas que eu conheço",
disse Serge Weinberg, diretor da Weinberg Capital Partners e seu amigo desde os
anos na ENA.
Pessoas
próximas de Naouri o descrevem como um perfeccionista e como um homem complexo
e reservado, que não se mistura muito nos círculos de negócios da elite
francesa.
"Ele
é muito intenso, um erudita que é interessado em questões fundamentais",
acrescentou Weinberg. Um fã de ópera que grego e latim, Naouri montou seu
próprio fundo Euris em 1987.
Ele
migrou para o varejo por meio do Rallye, um grupo de investimento que hoje
controla 49,9% do capital do Casino.
Em
poucos anos Naouri enfrentou sua primeira batalha, ajudando o Casino a se
defender em 1997 de uma oferta do grupo francês Promodes, que mais tarde foi
adquirido pelo Carrefour.
Desde
que se tornou presidente-executivo do Casino em 2005, Naouri é considerado como
responsável pela recuperação do grupo, eliminando operações deficitárias e
abrindo unidades em mercados de rápido crescimento como Brasil, Vietnã,
Colômbia e Tailândia.
Naouri
é descrito como um chefe exigente que pode ser duro com a equipe. "Se ele
recebe uma resposta vaga, você pode perder o emprego muito rapidamente",
disse um ex-funcionário do Casino pedindo para não ser identificado.
O
executivo é pai de três filhos, o mais velho, Gabriel, 30, dirige os hipermercados
do grupo na região de Paris.
Com
as relações azedadas entre Naouri e Diniz, os grupos têm discutido alternativas
ao acordo de acionistas que possam permitir que sigam caminhos diferentes. Mas
um acordo tem sido difícil.
No
mês passado, Naouri acertou os ponteiros com os que ele julga o terem traído.
Ele afastou tanto Diniz quanto Philippe Houze, presidente da varejista Galeries
Lafayette, do conselho do Casino.
Por
Dominique Vidalon e Pascale Denis
Fonte:
Portal iG
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