Periodista
Tradução: ADITAL
A
crise alterou a agenda e o calendário de muitas famílias. Pessoas que até agora
viviam bem, tinham trabalho, casa, seus filhos, sua hipoteca... e que, hoje,
têm que buscar ajuda junto a organizações como a Cáritas ou a Cruz Vermelha,
para poder dar de comer a seus filhos. Um milhão e setecentas mil famílias
espanholas estão com 100% de seus membros em situação de desemprego, e seiscentas
mil famílias não dispõem de nenhuma fonte de renda. As organizações da
sociedade civil espanhola já vinham alertando sobre a situação que poderia
atingir a Espanha. "A crise trouxe à tona as coisas que estavam aí, mas
parece que não eram vistas: desigualdades, injustiças...”, explicam membros da
Cáritas. Relatórios de antes de 2008, quando a crise estava no começo, falavam
que a Espanha não estava reduzindo os índices de pobreza. E essa era época de
bonança! Hoje, colhemos o que foi plantado. Se crescia, havia trabalho...;
porém, eram empregos precários e de baixa qualificação.
A
infância e a terceira idade são os grupos mais vulneráveis em qualquer crise; e
também no caso espanhol isso se repete. Segundo a Unicef, mais de dois milhões
de crianças vivem em famílias cujo salário não chega ao fim do mês; recortaram
sua lista de compras; não podem arcar com os gastos da lista de material
escola. Porém, o pior, segundo os especialistas, ainda está por vir; e explicam
que a pobreza infantil ainda pode crescer mais. Há uns dois anos, o perfil de
pobreza infantil era o de uma crianças de classe baixa, de famílias
desestruturadas ou unifamiliares. Atualmente, isso mudou. São crianças de
classe média, que viviam bem, tinham de tudo...; porém, seus pais perderam o trabalho
e enfrentam uma realidade difícil.
Na
Cáritas explicam que muitas crianças que sofrem fracasso escolar passam por
isso como um reflexo do fracasso social e familiar em que vivem. No entanto, a
partir das organizações ressalta-se que não se trata de um fracasso do
indivíduo, mas de um fracasso coletivo, do conjunto da sociedade, que não soube
criar as redes suficientes para que as famílias não caiam no vazio.
Para
muitas famílias, as pensões dos avós são a única entrada que recebem. Os avós
voltam a exercer o papel de pais de família; os pais, o de filhos mais velhos;
e os netos passam a ser filhos caçulas. Para os avós, essa é a quarta crise
grave que viveram em democracia. São pessoas que trabalharam durante toda a sua
vida e, hoje, voltam a ser o suporte da família; pagam as hipotecas dos filhos;
ajudam a pagar o carrinho de compras...
A
Cruz Vermelha alerta que 23% das famílias não podem comer nenhum tipo de
proteína na semana; nem frango e nem embutidos. Muitas famílias não podem ligar
a calefação, nem usar água aquecida.
O rosto da pobreza mudou nos últimos anos. Hoje, finalmente, percebemos que
qualquer um de nós pode estar sujeito a fazer fila para receber alimentos da
"caridade”. O egoísmo, a avareza, o individualismo, um capitalismo levado
ao extremo... nos trouxe uma sociedade onde as desigualdades crescem. Estamos
colhendo o que vou plantado. Porém, ainda podemos mudar as coisas. Vamos nos
unir para que a voz do povo seja escutada, porque queremos outra Europa, outra
sociedade, outra maneira de fazer política e de viver. E hoje, mais do que
nunca, porque é necessário.
Fonte: ADITAL
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