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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Touro Indomável (Ranging Bull)



" Tudo que sei é isto": antes eu era cego, agora posso ver." João IX, 24-26

Direção: Martin Scorsese
Elenco: Robert DeNiro, Joe Pesci, Cathy Moriarty
País: EUA
Gênero: drama
Ano: 1980


Se existem atores que dão certo com determinados diretores, então esse é o caso de Robert DeNiro. Parceiro de Martin Scorsese em diversas outras produções, em “Touro Indomável” o ator americano mais uma vez consegue criar um personagem intenso e único, ao mesmo tempo em que emprega um tom dramático impressionante, numa história de ascensão e queda de um ídolo americano do boxe.

“Touro Indomável” é a história do lendário lutador de boxe Jake LaMotta (DeNiro), que começa como um mero lutador do bairro do Bronx em NY e passa a ser um dos maiores esportistas do país na sua modalidade, embora em vários momentos Jake enfrente problemas com mulheres e jogo, tudo ao lado do seu irmão Joey (Joe Pesci).

Scorsese adota uma narrativa simples e usual, somente escolhendo o preto e branco na fotografia para dar uma tom mais clássico e documental ao longa. É uma ótima estratégia, já que é interessante ver o cotidiano do tradicional bairro novaiorquino dessa ótica – cidade, aliás, fetiche para o diretor, que já rodou por lá diversos outros filmes. Na condução da história, vemos um Jake partindo de baixo, enfrentando adversários fracos e sem importância, porém mesmo nessa época, já se constatava a genialidade do lutador e a capacidade incrível dele aniquilar seus adversários. Em um tempo em que o boxe não era tão institucionalizado nem tão profissional, o amadorismo do esporte dá uma crueza mais intensa ao filme, uma vez que em diversas lutas é possível sentir realmente o combate mais com uma briga de rua ou um acerto de contas entre dois adversários.

A trajetória de LaMotta é mais uma história entre tantas parecidas na América. Infância razoavelmente pobre, num bairro sem lei e educado nas ruas, inúmeros lutadores americanos surgiram nesse contexto. É com essa bagagem, então, que acompanhamos LaMotta já com cerca de 20 anos, tão voraz na hora de comer quanto na hora de tratar as mulheres. O astro não aceita resposta das mulheres, não aceita ser contrariado, não cogita em nenhum momento ser encarado por uma mulher; as trata como animais, o que é contraditório em sua personalidade também animalesca. Em vários momentos o touro do Bronx perde a cabeça, mesmo nas situações mais banais do dia a dia. DeNiro, nesse ponto, é genial ao conseguir impor em seu personagem uma veia extremamente violenta, mesmo fora dos ringues. É o tipo de personagem que não leva desaforo para casa e que não dá nada para fugir de uma briga.

Sua reputação cresce com o tempo e também suas inúmeras lutas pelo país, num tempo em que o boxe era tratado com mais amor – e muito jogo, intrigas e confrontos nos bastidores. O roteiro, no entanto, não foca sua atenção nessas questões extra-ringue, e sim joga luz sobre LaMotta, um ser que, em contraposição a tudo que já foi dito sobre ele, é um homem extremamente solitário e infantil. Esse traço de sua personalidade é evidenciado com a relação dele com o irmão, Joey, numa interpretação mais uma vez magistral de Joe Pesci. Ele influencia de todas as maneiras LaMotta, muito embora seja o irmão mais novo. Mesmo assim, é ele quem gerencia a carreira do irmão, quem arruma as lutas e, principalmente, o único laço familiar do campeão de boxe. Esse ponto, aliás, é especialmente importante para entender o drama e as razões pelas quais LaMotta age de forma violenta e desprezível em relação a todos. O irmão é seu maior exemplo de vida, é a quem segue, é a quem confia as decisões da carreira, mesmo que em diversos momentos não ache que é a correta. A ausência do pai, evidenciada numa cena magnífica e simples de Scorsese, é (talvez) a chave para a compreensão da figura de Jake LaMotta.
O filme segue a carreira de LaMotta do início ao fim, com todo esse panorama como enquadramento principal da narrativa. As lutas são, na verdade, um pano de fundo – muito bem filmado e executado por Scorsese, com cenas de luta bastante convincentes – para que o roteiro trate um drama tão comum aos americanos daquele bairro e talvez tão usual também em qualquer parte do mundo.

Fonte: Café Com Pop

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