*Otaviano
Helene |
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A resposta é não, por várias razões. Uma delas
é que os investimentos em educação têm altas taxas de retorno, ou seja, se
pagam em pouco tempo. Portanto, aumentar esses investimentos não apenas não
compromete a economia como, ao contrário, contribui para dinamizá-la. Outra
razão é que, apesar das nossas limitações econômicas, há margens para
aumentar os investimentos, em especial em um período de crescimento da
produção acima do crescimento populacional, como tem ocorrido nos últimos
anos. Vamos ver essa segunda razão.
O financiamento público da educação em
outros países
...o Brasil ocupa uma posição
intermediária, a qual não seria confortável nem mesmo para um país sem
grandes contingentes de crianças e jovens e sem atrasos como os nossos. Se continuarmos
nessa posição, continuaremos mantendo nossa atual situação educacional:
precária e insuficiente até mesmo para garantir as condições necessárias para
uma real e permanente soberania nacional.
Embora haja algumas poucas exceções, os países
que apresentam bons indicadores educacionais, ou que os têm melhorado
significativamente, estão no grupo daqueles que fazem investimentos mais
altos em educação. Também estão nesse grupo aqueles países que apresentam
condições sociais melhores do que outros com as mesmas possibilidades
econômicas. Cuba, Dinamarca e Suécia são os três que mais esforços investiram
em educação naquele período. No conjunto com menores taxas de investimento em
educação estão aqueles países que apresentam as piores situações, não apenas
educacionais como sociais em geral: Camboja, Emirados Árabes Unidos (2) e
República Dominicana são, entre aqueles cujos dados estão representados na
figura, os três que menos investiram.
Se ficarmos onde estamos, não iremos superar as
barreiras que impedem o aumento da produção econômica, nem promover o
desenvolvimento social, enfrentar as desigualdades de renda e recuperar,
ainda que em parte, nossos atrasos. Se nos deslocarmos na direção à direita
do gráfico, iremos nos aproximar de países totalmente dependentes e/ou que
apresentam indicadores sociais terríveis. Não podem restar dúvidas da direção
que devemos nos deslocar naquele gráfico.
Existem fontes de recursos
Há muitas possíveis fontes para viabilizar o
aumento dos recursos destinados à educação pública.
Comparando a arrecadação
de impostos sobre propriedade no Brasil com a realidade tributária em outros
países capitalistas, inclusive tributos sobre grandes fortunas (3), o IPEA
(4) aponta a possibilidade de um aumento dos recursos públicos em até 2,7%.
Como aqueles países capitalistas não iriam tomar decisões que pudessem
prejudicar suas economias, a pergunta óbvia é: por que não fazemos o mesmo?
O mesmo documento do IPEA aponta que a não
supressão de impostos e a redução das renúncias e dos subsídios poderiam
gerar outros 3,7% do PIB. Além dessas possibilidades, cada 1% de redução na
taxa básica de juros geraria mais 0,6% do PIB em recursos públicos para a
União, os estados e os municípios.
Correções de alíquotas dos diversos impostos ou
o enfrentamento da sonegação poderiam aumentar ainda mais as possibilidades
de financiamento do setor público, colocando-nos em uma situação mais próxima
daquela ocupada pelos países mais organizados. E todas essas correções não
apenas não afetariam negativamente a economia do país como, ao contrário,
poderiam ter impactos sociais muito positivos.
Mais e melhor educação cabem no PIB
Outra maneira de verificar que é possível o
aumento dos recursos para a educação pública é analisar a evolução recente da
economia nacional. Ao longo dos últimos oito anos, o PIB brasileiro cresceu
perto de 25% acima do crescimento populacional, ou seja, o crescimento foi
suficiente para absorver o aumento da população e, além disso, aumentar da
quarta parte o valor econômico da produção por pessoa. Se uma fração desse
aumento da produção fosse destinada à educação, poderíamos atingir
investimentos significativamente mais altos do que os atuais sem afetar
negativamente outras atividades nacionais. Ao contrário, dependendo da forma
que o aumento da produção per capita for transferido para a educação
e outras áreas de interesse social, pode haver ganho nos dois lados:
melhoram-se os níveis educacionais da população ao mesmo tempo em que se
inibe um consumismo doentio e destrutivo.
É necessário lembrar que, ao se transferir
parte do aumento da produção econômica para a educação, não se a estaria
reduzindo ou se desfazendo dela: a indústria da construção civil seria
aquecida mais intensamente na forma de reformas e construções de equipamentos
escolares; o número de empregos formais também cresceria, com maior
concentração na forma de trabalhadores em educação; a renda pessoal também
cresceria, mas na forma de melhores remunerações para professores; haveria
aumento da produção de veículos para atender à demanda gerada pelo setor
educacional, incluindo aí seus trabalhadores. Da mesma forma, o aumento do
consumo de eletricidade ou de equipamentos elétricos, eletrônicos e de
informática também ocorreria, mas mais concentradamente pelos trabalhadores
da educação e pelas instituições educacionais.
Enfim, tendo em vista a realidade de outros
países, considerando as possibilidades de transferências de recursos para o
setor público e, ainda, a realidade da produção econômica, vemos que é
totalmente viável aumentar os investimentos em educação pública, bem como em
outros setores de interesse social. O que nos impede de fazer isso? Será por
ignorância, ou há um propósito pouco nobre por trás de tais decisões?
Notas:
1) Unesco Institute for Statistics. Sítio
consultado em abril/2012.
2) Os Emirados Árabes Unidos, apesar de terem
uma renda per capita mais do que quatro vezes superior à brasileira, da ordem
de 48.000 dólares pelo critério da paridade de poder de compra, têm taxas de
analfabetismo quase exatamente iguais às nossas, apresentando talvez o maior
desencontro entre as possibilidades econômicas e o padrão educacional.
3) Nos EUA, as grandes fortunas são taxadas no
processo de herança. Quando John D. Rockefeller morreu, em 1937, 70% do
patrimônio foi recolhido na forma de imposto sobre bens herdados (New York
Times, 8/6/2010, Legacy for One Billionaire: Death, but No Taxes).
Após algumas décadas de recuo, a alíquota máxima do imposto sobre grandes
heranças naquele país foi reduzida a 35%, devendo subir para 55% em 2013.
Veja, p. ex., o verbete Estatetax in the United States da Wikipedia.
4) Financiamento da Educação: necessidades e
possibilidades, Comunicados IPEA no 124, dezembro/2011,
acessível por internet.
Fonte: Correio da Cidadania
*Otaviano Helene,
professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
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Espaço para leitura, reflexão e debate sobre as várias facetas que compõem a totalidade da existência.
Quem sou eu
- Maria,viajante do Universo de passagem pelo planeta Terra
- "Quando começares a tua viagem para Ítaca, reza para que o caminho seja longo, cheio de aventura e de conhecimento...enquanto mantiveres o teu espírito elevado, enquanto uma rara excitação agitar o teu espírito e o teu corpo." ...Konstantinos Kaváfis,trad.Jorge de Sena in Ítaca
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Por ser muito antigo o quadro de comentário do blog, ele ainda apresenta a opção comentar anônimo, mas, com a mudança na legislação
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quinta-feira, 21 de junho de 2012
Mais recursos para a educação: nada a perder e muito a ganhar
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